quarta-feira, 30 de junho de 2010

O dossiê satânico

charge: Alpino

O cenário político nacional resgatou um antigo personagem, fruto da criatividade, esperteza e oportunismo de alguns dos nossos políticos: a ameaça do dossiê. Uma encenação que favorece a contenção e blindagem ante os prenúncios de denúncias de envolvimentos, digamos, não republicanos. Nesse ponto, os políticos envolvidos têm contado com valiosa ajuda da imprensa brasileira. A discussão passa a ser apenas sobre a existência ou não do dossiê. Ninguém fica sabendo do que afinal o político ou seu grupo é acusado. O que, quem, quando, onde e por que... nada. Fica-se sabendo apenas que um fantasma ronda o cenário político: um monstro, um demônio, um... dossiê.


A satanização do dossiê teve origem na briga explícita entre Antonio Carlos Magalhães, o famoso Toninho Malvadeza, e o não menos famoso Jader Barbalho. Ambos, em seus feudais poderes, aliados do Planalto nos tempos de FHC. No duelo final, as armas eram o dossiê de cada um contra o outro. No entanto, conteúdo desses dossiês poderia transformar a ópera bufa dos contendores em tragédia política para o governo. Em tempos de aprovação de novo mandato presidencial, estava dada a largada para a compra de votos de parlamentares necessários para aprovar a emenda constitucional correspondente. Dentro dos dossiês, sabe-se hoje, estavam provas dessas negociações não republicanas.


Pazes feitas por ordens palacianas, os dossiês foram recolhidos como coisa do diabo. E sua aura satânica permanece até hoje. É o caso dos dados levantados pela Casa Civil, dos tempos de Dilma Rousseff, sobre os cartões corporativos durante o governo FHC. Uma espécie de comparação com os gastos correspondentes questionados ao atual governo. O levantamento, logo chamado de “dossiê”, substituiu a tapioca ministerial no atual governo por um pênis de borracha para uma organização social dirigida pela primeira-dama no governo anterior. Pênis e tapioca justificados, restou o interesse político-eleitoral na suposta participação da ex-ministra e pré-candidata na feitura do tal “dossiê”. Tão somente.


Outro caso ruidoso foi o da compra por opositores do candidato a governador de São Paulo, José Serra, do famoso “dossiê das sanguessugas”. Pessoas supostamente ligadas ao candidato opositor Aloísio Mercadante teriam comprado um dossiê que ligava políticos do PSDB à Operação Sanguessuga. A operação da Polícia Federal que descobriu uma máfia de superfaturamento de ambulâncias que envolvia políticos e funcionários do Ministério da Saúde. A Comissão Parlamentar de Inquérito recomendou a cassação de 72 parlamentares. O tratamento do caso como “falso dossiê” abafou um exemplar tratamento para o fato. Só importou a exploração eleitoral da suposta compra do dossiê.


Nova ameaça, novo “dossiê”. Foi o que ocorreu com o preparo do livro do jornalista Amaury Ribeiro Júnior. O livro promete mostrar os beneficiários das privatizações da era FHC e as atividades contravencionais do candidato Serra e sua filha Verônica. Um outro capítulo deverá mostrar a usina de arapongagem montada no Ministério da Saúde de Serra, ao custo de R$ 1,8 milhão. Objetivo: bisbilhotar opositores à sua futura candidatura presidencial. Os assuntos relacionados pelo jornalista foram imediatamente substituídos pelos aliados do ex-ministro, com ajuda unânime da mídia, por um satânico factóide a que denominaram de “dossiê anti-Serra”.


O preparo do livro de Amaury representa um grande perigo para o projeto tucano e de outros setores ligados à mídia nacional. Incomoda a todos a continuidade da independência da atual política externa governo em relação ao expansionismo de Washington. Como incomoda a continuação do foco interno do governo na superação do fosso social brasileiro. A encenação do atual “dossiê” falhou por falta de um mínimo de consistência e seriedade, apesar do grande esforço serrista-midiático. No entanto, seu objetivo imediato alcançou pleno êxito: afastar temporariamente a sujeira que prometia detonar de vez a candidatura tucana.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Pega, ladrão!

foto ATTA


Dilma cresce 5 pontos e Serra cai 3 entre abril e maio, diz Ibope

Esta tem sido a forma como nossa mídia divulga os resultados das pesquisas nos últimos tempos. Ela dá ao eleitor/leitor certa medida da tendência do momento entre os candidatos. Uma chamada como “Dilma empata com Serra”, poderia ser a alternativa à idéia de movimento. No entanto, os principais jornais do país coincidentemente preferiram algo como “Continua o empate entre Serra e Dilma”. Essa forma passa a ideia que nada mudou e que, consequentemente, os resultados dos esforços de campanha dos dois candidatos são absolutamente iguais. No caso de Serra, facilitado pelos 75% usados na propaganda partidária do DEM(o) veiculada em rede nacional, no período.


A troca, que forneceu “argumentos” aos “especialistas/analistas”, da Folha, Estadão, O Globo e Veja, partiu de equivocada comparação dos dados do Ibope com os resultados de recente pesquisa do Datafolha. Equivocada em dois sentidos. Primeiro, porque aproxima no tempo uma e outra pesquisa, o que tende a mostrar resultados próximos. Segundo, porque cada instituto de pesquisas utiliza critérios técnicos de amostragem e de consolidação próprios, o que muitas vezes mostra resultados diferentes. Mas, as distorções provocadas pela forma de divulgação das pesquisas não param por aí.


Sobre a tendência dos candidatos nas diversas regiões do País, os jornalões preferem mostrar, estaticamente, a situação dos candidatos. Assim, Serra está à frente da petista no Sudeste e no Sul, enquanto Dilma supera o tucano nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Essa forma, não mostra que a candidatura Dilma cresceu, em relação à ultima pesquisa Ibope, nas cinco regiões brasileiras. Nem diz que Serra caiu em todas elas. Tentativas de manipulação? Coincidência? No entanto, os últimos resultados do Vox Populi, desta segunda-feira (07), desmoralizam a tese do congelamento. O instituto mostra a candidata governista ultrapassando o patamar de 40 pontos. Serra cai a 35. A informação é do Radar-On-line da revista Veja


Deputado tucano monta fábrica de dossiê contra PMDB


Esta manchete poderia perfeitamente substituir aquela que nossos zelosos jornalões unanimemente divulgaram neste fim de semana. Pensando em favorecer Serra, puxaram a ponta de um pavio que pode até detonar a candidatura tucana. É que o grupo do deputado tucano, delegado licenciado, Marcelo Itagiba, do PSDB-RJ, conforme divulgado no Correio Braziliense, montou em 2002 uma usina de arapongagem a serviço do então ministro José Serra. Dinheiro grosso (R$ 1,8 milhão) do Ministério da Saúde. Este mesmo grupo, depois de bisbilhotar Aécio, Dilma e Ciro Gomes, segundo o jornalista Amaury Ribeiro Júnior, está, hoje, levantando dossiês contra eminências do PMDB, partido que vai indicar o vice na chapa de Dilma Rousseff.


A entrevista que Amaury deu à Folha de São Paulo, desta segunda-feira, mostra outra má notícia para a campanha de oposição: não passa de um irresponsável factóide a denúncia tucana de que o comando da campanha de Dilma encomendou um dossiê contra Serra. A senha do factóide foi o desencontro das declarações do ex-delegado Onésimo de Sousa e do ex-sargento Idalberto Matias de Araújo à revista Veja e ao jornal O Estado de S. Paulo. Antigo participante da usina de dossiês de Itagiba, Onésimo se ofereceu a Luiz Lanzetta para bisbilhotar o trabalho do ex-companheiro Itagiba contra o PMDB. Lanzetta é dono da empresa que contrata mão-de-obra para a campanha de Dilma.


O ansioso bate-cabeça dos jornais levou o candidato tucano a responsabilizar Dilma por “produzir um novo dossiê anti-tucano”. Interpelado judicialmente pela direção do PT sobre a irresponsável acusação, Serra já adiantou (Folha de São Paulo desta terça-feira) sua resposta: “quem tem que dar explicação é a candidata”. Simples, não? Razões ao jornalista Luiz Carlos Azenha: “Serra bate a carteira e grita: pega ladrão!”

O Manifesto