quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A República no colo do banqueiro


Operação salva dantas

"É um momento triste na história da República: ele mostra que Dantas conseguiu uma ampla influência no Judiciário, em três partidos políticos e em grande parte da mídia". É o que afirma o jornalista Luis Nassif, em entrevista à IHU On-Line. Para ele, recente matéria bombástica da revista Veja ofereceu forte munição de apoio ao banqueiro Daniel Dantas, dono do Opportunity.

A Veja da semana passada denunciou, sem provas, um suposto esquema de escutas que visariam tanto o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) como integrantes do palácio do Planalto. A suspeita provocou imediata reunião do presidente Lula com o ministro Gilmar Mendes, presidente do STF, e a suspensão de parte da direção da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

Para Nassif, trata-se de uma mal-disfarçada operação para livrar Dantas do processo que lhe movem a Polícia Federal o Ministério Público, por formação de quadrilha e delitos afins. Os objetivos da operação seriam a Abin e o delegado Paulo Lacerda, justamente os atores mais atuantes contra o banqueiro. No lugar de Lacerda, foi nomeado Wilson Trezza, um ex-subordinado ao Opportunity.

O jornalista destaca que há outro aspecto a ser levado em conta: a Operação Satiagraha foi muito abrangente. Ela entrou no seio da corrupção brasileira e desnudou pesados esquemas com envolvimento de magistrados, políticos e empresas jornalísticas.

Segundo Nassif, a estratégia jurídica do dono do Opportunity consiste em tentar comprovar que Paulo Lacerda havia interferido na Operação Satiagraha para poder anular o inquérito. Para ele, outro cacife de Dantas é a obcecada defesa assumida pelo ministro Gilmar Mendes.


Gilmar dá sempre um jeitinho

Para Fernando de Barros e Silva, na Folha de S Paulo de 1º de setembro, nem todos têm a OPPORTUNITY, como Gilmar Mendes, de ter uma conversa ilegalmente revelada, onde o conteúdo é conveniente para os dois grampeados. “É a primeira vez”, diz.

Diversos blogs políticos vêm divulgando um diálogo público em que o ministro Joaquim Barbosa flagra o seu colega Gilmar em constrangedor e habitual jeitinho. Foi esse mesmo talento para o jeitinho que rendeu ao atual presidente, como dizia o jurista Dalmo Dallari, o passaporte para o STF. Eram, então, anos tucanos.

Segundo Dalmo, Gilmar costumava "inventar" soluções jurídicas no interesse do governo FHC. Por isso, “não há exagero em afirmar que estarão correndo sério risco a proteção dos direitos no Brasil, o combate à corrupção e a normalidade constitucional”. Premonição? Para Nassif, Gilmar é obcecado na defesa do banqueiro Daniel Dantas.

Já no Supremo, o ministro causou grande polêmica com procuradores da República quando defendia seus ex-colegas de governo FHC, como o ex-ministro Raul Jungmann e outros, processados por lesão ao patrimônio público e à probidade administrativa.

Há poucos dias, membros do Ministério Público Federal e procuradores da República reafirmaram que “as instituições democráticas foram frontalmente atingidas pelas decisões liminares proferidas, em tempo recorde, pelo presidente do STF”. Eram liminares para soltar o famigerado banqueiro, dono do Opportunity. E do Brasil?



No jornal argentino Página/12 deste sábado, o jornalista venezuelano Modesto Emilio Guerreiro analisou o contexto político da precoce movimentação conspirativa contra a o presidente paraguaio Fernando Lugo. Para o jornalista, o fato desnuda uma realidade dos novos dos tempos: “os donos do poder estão ansiosos, já não suportam tanto governo independente no hemisfério”.

Ele relembra que a primeira conspiração contra Hugo Chávez esperou por três anos do seu mandato, iniciado em março de 1999. Já os presidentes Evo Morales e Rafael Correa, cujos mandatos começaram em 2006 e 2007, respectivamente, tiveram uma “carência” de cerca de nove meses para colher suas conspirações. Ao sacerdote terceiro-mundista Lugo deram apenas três semanas.

Segundo Emilio, trata-se de uma ação dinâmica e complexa bem articulada “onde as conspirações militares são apenas parte de um cardápio que inclui sinuosas manipulações diplomáticas, pressões financeiras, ofertas de investimentos, pactos semi-secretos de tratados de livre comércio (TLC) e tudo o que possa conduzir a um re-ordenamento de poder no hemisfério”.

Emilio explica que o grau de fragilidade do Estado, no Paraguai, resulta em parte da ausência de um poderoso movimento social e político organizado. Com isso, o protagonismo mafioso plantado nas estruturas políticas, militares e sociais do país vem desafiando o novo governo desde o primeiro dia.

A velha oligarquia teme as transformações que começam a avançar na América Latina, no direito social à posse da terra, na recuperação dos recursos naturais pátrios e no crescente movimento de independência em relação aos EUA. E uma “insuportável” tendência a uma integração regional.

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