sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Encurralados

( antes: espremido em pequena faixa)

(depois: em rosa, ocupação de Israel em já minúsculo território de Gaza)

Poodles brasileiros na corte de Bush/Obama

A quase totalidade da mídia nacional brasileira é ideologicamente domesticada não somente para os interesses imperiais dos EUA. Mostra-se igualmente inclinada a reverenciar desejos de outros governos de mesma afinidade imperial. É o caso da adesão incondicional a uma “causa” do governo italiano, que quer porque quer modificar um ato soberano do governo brasileiro. O caso Battisti.

Do mesmo modo, essa mídia não consegue disfarçar sua histórica simpatia pela causa do sionismo, seja quando se sensibiliza pela queda de um rojão aloprado do Hamas nos quintais de cidades israelitas surrupiadas aos palestinos, seja pela pouca sensibilidade em face da destruição 1.400 vidas palestinas, mais da metade civis (cerca de 300 crianças), mais de 5.000 feridos e 80.000 sem teto.

É a mesma mídia que tenta transformar em tsunami uma crise reflexa, de responsabilidade dos EUA, que por aqui provavelmente ficará reduzida a uma marola e circunscrita ao primeiro semestre, segundo as mais equilibradas previsões. Uma tentativa midiática de criar na população um temor pelo futuro e de creditar antecipadamente uma irreal inaptidão administrativa ao governo brasileiro.

Com o mesmo propósito, quer diminuir o excelente resultado de um menor índice de desemprego desde 2002 e um aumento da renda médio do trabalhador brasileiro no ano de 2008, comemorados nesta quarta-feira. É que o resultado desmoraliza a tese do desastre iminente.

De outro lado, a mídia não resiste a vender uma imagem de salvador dos povos para Barack Obama. Mesmo sabendo, como lembra Clovis Rossi, na Folha de S Paulo desta quinta-feira, que os Estados Unidos são um império... e agem como tal, para o bem ou para o mal. Seja quem seja o entronizado.

Da azia à má digestão

O jornalista Mair Pena Neto, da agência Reuters, analisou nesta quarta-feira, no blog Direto da Redação, a reação da mídia diante da justificada “azia” que os jornais causam ao presidente Lula e que provocou intensa “indigestão” na imprensa, a vomitar suas habituais críticas.

“Por mais inadequada que tenha sido a declaração do presidente Lula de que não lê jornais para não ter azia, a reação de boa parte da imprensa, visivelmente incomodada com a ironia, foi de desqualificação e rancor, quando deveria suscitar a reflexão sobre a relevância dos jornais, se são, de fato, ignorados pelo presidente”, disse Mair. Ou pelos leitores de visão crítica, acrescentemos.

Para ele, o “vômito” da imprensa foi focado em suposta inaptidão para o cargo de alguém que afirma não ler jornais. Impossível para mais de 80% de brasileiros, dos mais variados níveis sociais, culturais, econômicos, etários, geográficos e de escolaridade, que lhe atestam aptidão. Sem falar do seu reconhecido envolvimento no debate de todas as grandes questões mundiais da atualidade.

Pena Neto constata que a imprensa não tolera crítica e reage corporativamente: Há algo errado no fato de um presidente que não lê os jornais ser considerado um líder tão importante. “Talvez Lula não veja nos jornais a pluralidade e o debate importante da realidade brasileira, que poderia ajudar em suas decisões”. Talvez a oposição sistemática a ele o faça recorrer a outras fontes.

Os jornais são, em geral, uniformes, tendenciosos e preconceituosos na visão do atual governo. Para o jornalista, o sal de frutas para a “azia” poderia ser uma revisão da cobertura política, com análise profunda, para que os jornais voltem a ser leitura indispensável de qualquer líder político.


Outras mídias, outros ares

O semanário Brecha, de Montevidéu, publicou, na última sexta-feira, 16/1, artigo de Eduardo Galeano sob o título “Operação Chumbo Imune”. Ele dedicou o texto aos seus “amigos judeus assassinados pelas ditaduras latino-americanas que Israel assessorou”.

Segundo Galeano, “para se justificar, o terrorismo de Estado fabrica terroristas: semeia ódio e coleciona pretextos. Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo seus autores quer acabar com os terroristas, logrará multiplicá-los”.

“Desde 1948, os palestinos vivem condenados a humilhação perpétua. Não podem nem respirar sem permissão. Perderam sua pátria, suas terras, sua água, sua liberdade, seu tudo. Nem sequer têm direito a eleger seus governantes. Quando votam em 'quem não devem votar', são castigados. Gaza está sendo castigada. Converteu-se em uma ratoeira sem saída”, diz Galeano, com razão.

E diz muito mais: (...) “encurralados em Gaza, disparam bêbados rojões sobre as terras que foram palestinas e que a ocupação israelita usurpou. E o desespero, no limite da loucura suicida, é a mãe das bravatas que negam o direito à existência de Israel. Gritos sem a mínima eficácia, enquanto a eficiente guerra de extermínio vem negando, há anos, o direito à existência da Palestina”.

“E pouca Palestina resta. Passo a passo, Israel a está apagando do mapa. Os colonos invadem e, atrás deles, os soldados vão corrigindo as fronteiras. As balas sacralizam o despojo, em legítima defesa. Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. (...) A devoração (de terras palestinas) se justifica pelos títulos de propriedade que a bíblia outorgou... e pelo pânico que geram...”.

Leia o artigo inteiro do autor de “As veias abertas da América Latina” e muito mais

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