Egoísmo coletivo (*)
O jornalista Mateus Soares de Azevedo é mestre em história das religiões pela USP e autor dos livros "Homens de Um Livro Só: O Fundamentalismo no Islã e no Pensamento Moderno" (Best Seller, 2008) e "A Inteligência da Fé: Cristianismo, Islã e Judaísmo" (Record, 2006).
Na Folha de S Paulo desta quarta-feira (14/1) ele reduz o sionismo à sua verdadeira dimensão de totalitarismo ultranacionalista. “Quem são os sionistas? Filosoficamente, o sionismo constitui uma das faces modernas da busca sempre perseguida e jamais realizada de um "absoluto" terreno. Busca que é crescentemente explosiva e destrutiva”, como se vê mais claro hoje, diz Azevedo.
Para ele, o sionismo representa, pelo lado religioso, um rompimento revolucionário com a tradição judaica. Uma renegação do judaísmo, um desvio profano do messianismo. Pelo lado político, trata-se de uma ruptura com a tradição judaica, uma perversão nacionalista e xenófoba do judaísmo. O sionismo é um tipo de "egoísmo coletivo": “Para nós, tudo; para os outros, nada”, explica.
Sderot, em Israel era, até 1948, um vilarejo palestino. Seus habitantes foram expulsos antes da criação de Israel e confinados numa estreita faixa de terra, a faixa de Gaza, com 35 km de comprimento por 10 km de largura, espremida entre o mar, Israel e o Egito.
Em Gaza, a maioria de seus 1,5 milhão de habitantes é de refugiados e seus descendentes. Eles foram expulsos de cerca de 350 cidades e vilarejos palestinos riscados do mapa por grupos terroristas judaicos, como o Irgun, o Haganá, a gangue Stern e, depois, pelo Exército israelense. Os instrumentos brutais de uma limpeza étnica levada ao extremo pelo sionismo “judaico”.
Punição coletiva (*)
Israel controla o espaço aéreo de Gaza e suas fronteiras terrestres e marítimas. Esse bloqueio ficou ainda mais rigoroso depois da vitória eleitoral do Hamas, há dois anos. Isso aumentou ainda mais as já terríveis adversidades de seus habitantes: saúde deteriorada, carestia, desemprego de mais de 50% da população masculina. Gaza sofre o que racistas não chamavam de "punição coletiva".
Quanto ao massacre militar, que a mídia teima em chamar eufemisticamente de "conflito", os números são eloquentes. Mais de 1000 seres humanos, a maior parte de civis, incluindo quase 300 crianças, já perderam a vida em Gaza. Mais de quatro mil feridos. A crer no ódio que corre nas veias de muitos israelenses e seus apoiadores no mundo, outras vidas mais estão para ser ceifadas.
Do lado israelense, 14 mortos, quase todos militares (a metade deles, por “fogo amigo”). Isso dá uma proporção de 1 para 100. Como escreveu Gideon Levy no jornal israelense "Haaretz", "é como se o seu sangue valesse cem vezes menos do que o nosso, reconhecendo nosso racismo”.
Muitos questionam o que os brasileiros fariam caso o Hamas lançasse seus foguetes contra nós. Afinal, argumentam, "Israel tem o direito de se defender". Antes disso, devemos perguntar o que faríamos se tivéssemos sido expulsos de nossas terras e comprimidos num exíguo território.
O que os brasileiros fariam se tivessem confinados por mais de um ano, sem receber alimentos ou medicamentos, proibidos de ir e vir? Falando pelos americanos, Takis Theodoracopulos, editor do site Taki's magazine, respondeu: "O que faríamos nessa situação seria muito mais duro e eficaz do que os oprimidos, mas não vencidos, palestinos têm feito com seus (foguetes) Qassams".
(*) Textos baseados no artigo do jornalista Mateus Soares de Azevedo.
Bem-vindo à liberdade, caro Cesare Battisti!
Ela é concedida a ti pela generosidade do povo brasileiro que, por seus representantes, fez constar na Constituição essa possibilidade de se dar um basta na tua longa caminhada de perseguido político em tua terra. És ex-terrorista da década de 70? Então és dos bons. Pois conheço os ex-terroristas da mesma época em nosso país. Sei da legitimidade daquela luta. Os tempos eram assim...
Não tinhas a mesma ditadura terceiro-mundista que nós, mas tinhas um governo nazi-fascista disfarçado e opressor. Uma praga que vez por outra retorna à Itália, incorporada em figuras lastimáveis como a do atual mandatário Silvio Berlusconi, um dos poodles de Bush.
Vais encontrar aqui algumas vozes discordantes. Não te apoquentes. Elas são poucas e vêm de setores que sempre se beneficiaram material e socialmente do estado de exceção daqueles anos. Vozes que não se importam em deixar em liberdade os gerentes das usinas de torturas, assassinatos e desaparecimentos de patriotas brasileiros na mesma década de 70.
Essas vozes são entreguistas e vergonhosas, preferem a submissão dos colonizados que Nelson Rodrigues chamava de “complexo de vira-latas”. Preferiam que o governo brasileiro tivesse atendido à convocação de Bush para mandar tropas “aliadas” ao Iraque. Ou que a economia brasileira fosse atrelada à sinistra ALCA, como queriam os Lampreia, os Malan.
As vozes amigas são muitas. As vozes dos acordos internacionais soberanos. As vozes da “antiga tradição de País acolhedor, que dá abrigo e oportunidade”, como lembra o eminente jurista Dalmo Dallari. Deves, entretanto, um favor ao mundo: de jamais abandonar a luta, nos limites do teu justo refúgio.
O jornalista Mateus Soares de Azevedo é mestre em história das religiões pela USP e autor dos livros "Homens de Um Livro Só: O Fundamentalismo no Islã e no Pensamento Moderno" (Best Seller, 2008) e "A Inteligência da Fé: Cristianismo, Islã e Judaísmo" (Record, 2006).
Na Folha de S Paulo desta quarta-feira (14/1) ele reduz o sionismo à sua verdadeira dimensão de totalitarismo ultranacionalista. “Quem são os sionistas? Filosoficamente, o sionismo constitui uma das faces modernas da busca sempre perseguida e jamais realizada de um "absoluto" terreno. Busca que é crescentemente explosiva e destrutiva”, como se vê mais claro hoje, diz Azevedo.
Para ele, o sionismo representa, pelo lado religioso, um rompimento revolucionário com a tradição judaica. Uma renegação do judaísmo, um desvio profano do messianismo. Pelo lado político, trata-se de uma ruptura com a tradição judaica, uma perversão nacionalista e xenófoba do judaísmo. O sionismo é um tipo de "egoísmo coletivo": “Para nós, tudo; para os outros, nada”, explica.
Sderot, em Israel era, até 1948, um vilarejo palestino. Seus habitantes foram expulsos antes da criação de Israel e confinados numa estreita faixa de terra, a faixa de Gaza, com 35 km de comprimento por 10 km de largura, espremida entre o mar, Israel e o Egito.
Em Gaza, a maioria de seus 1,5 milhão de habitantes é de refugiados e seus descendentes. Eles foram expulsos de cerca de 350 cidades e vilarejos palestinos riscados do mapa por grupos terroristas judaicos, como o Irgun, o Haganá, a gangue Stern e, depois, pelo Exército israelense. Os instrumentos brutais de uma limpeza étnica levada ao extremo pelo sionismo “judaico”.
Punição coletiva (*)
Israel controla o espaço aéreo de Gaza e suas fronteiras terrestres e marítimas. Esse bloqueio ficou ainda mais rigoroso depois da vitória eleitoral do Hamas, há dois anos. Isso aumentou ainda mais as já terríveis adversidades de seus habitantes: saúde deteriorada, carestia, desemprego de mais de 50% da população masculina. Gaza sofre o que racistas não chamavam de "punição coletiva".
Quanto ao massacre militar, que a mídia teima em chamar eufemisticamente de "conflito", os números são eloquentes. Mais de 1000 seres humanos, a maior parte de civis, incluindo quase 300 crianças, já perderam a vida em Gaza. Mais de quatro mil feridos. A crer no ódio que corre nas veias de muitos israelenses e seus apoiadores no mundo, outras vidas mais estão para ser ceifadas.
Do lado israelense, 14 mortos, quase todos militares (a metade deles, por “fogo amigo”). Isso dá uma proporção de 1 para 100. Como escreveu Gideon Levy no jornal israelense "Haaretz", "é como se o seu sangue valesse cem vezes menos do que o nosso, reconhecendo nosso racismo”.
Muitos questionam o que os brasileiros fariam caso o Hamas lançasse seus foguetes contra nós. Afinal, argumentam, "Israel tem o direito de se defender". Antes disso, devemos perguntar o que faríamos se tivéssemos sido expulsos de nossas terras e comprimidos num exíguo território.
O que os brasileiros fariam se tivessem confinados por mais de um ano, sem receber alimentos ou medicamentos, proibidos de ir e vir? Falando pelos americanos, Takis Theodoracopulos, editor do site Taki's magazine, respondeu: "O que faríamos nessa situação seria muito mais duro e eficaz do que os oprimidos, mas não vencidos, palestinos têm feito com seus (foguetes) Qassams".
(*) Textos baseados no artigo do jornalista Mateus Soares de Azevedo.
Bem-vindo à liberdade, caro Cesare Battisti!
Ela é concedida a ti pela generosidade do povo brasileiro que, por seus representantes, fez constar na Constituição essa possibilidade de se dar um basta na tua longa caminhada de perseguido político em tua terra. És ex-terrorista da década de 70? Então és dos bons. Pois conheço os ex-terroristas da mesma época em nosso país. Sei da legitimidade daquela luta. Os tempos eram assim...
Não tinhas a mesma ditadura terceiro-mundista que nós, mas tinhas um governo nazi-fascista disfarçado e opressor. Uma praga que vez por outra retorna à Itália, incorporada em figuras lastimáveis como a do atual mandatário Silvio Berlusconi, um dos poodles de Bush.
Vais encontrar aqui algumas vozes discordantes. Não te apoquentes. Elas são poucas e vêm de setores que sempre se beneficiaram material e socialmente do estado de exceção daqueles anos. Vozes que não se importam em deixar em liberdade os gerentes das usinas de torturas, assassinatos e desaparecimentos de patriotas brasileiros na mesma década de 70.
Essas vozes são entreguistas e vergonhosas, preferem a submissão dos colonizados que Nelson Rodrigues chamava de “complexo de vira-latas”. Preferiam que o governo brasileiro tivesse atendido à convocação de Bush para mandar tropas “aliadas” ao Iraque. Ou que a economia brasileira fosse atrelada à sinistra ALCA, como queriam os Lampreia, os Malan.
As vozes amigas são muitas. As vozes dos acordos internacionais soberanos. As vozes da “antiga tradição de País acolhedor, que dá abrigo e oportunidade”, como lembra o eminente jurista Dalmo Dallari. Deves, entretanto, um favor ao mundo: de jamais abandonar a luta, nos limites do teu justo refúgio.
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