domingo, 1 de março de 2009

Equívocos e preconceitos

(imagem Fábio Pozzebom.ABr)
Ilicitude em abstrato

"Por que o presidente do Supremo não diz nada sobre o financiamento público para fazendeiros e entidades ruralistas que mantêm trabalhadores em regime de escravidão, grilam terras públicas, desmatam e poluem o ambiente – ainda assassinam de freiras até fiscais do trabalho? Acho que Gilmar Mendes deveria ficar calado e pronunciar-se apenas nos autos de processos." (João Humberto Venturini).

Tem bastante significado o questionamento do leitor de Piracicaba na Folha de São Paulo deste sábado (28). É que o ministro falastrão vem mostrando crescente entusiasmo com os holofotes da mídia e tenta se arvorar em porta-voz da oposição ao governo Lula, assumindo uma tarefa que lamentavelmente foi desmoralizada pelo demo-tucanato e pela equivocada inclinação política da mídia brasileira.

A grande mídia tenta mostrar um Gilmar com a estatura de árbitro das grandes questões nacionais, logo ele que não consegue passar de um juiz provincial de boca torta, pelo vício do cachimbo de falcatruas quando servia ao governo FHC, amplamente denunciadas pelo professor Dalmo Dallari. Naquele tempo, dava os “jeitinhos”, recursos que ainda usa hoje, pelo que foi advertido por seu colega, ministro Joaquim Barbosa.

Ao condenar como “ilegal” o repasse de verbas públicas a entidades ligadas à reforma agrária, por suposto financiamento de ocupações de terras socialmente improdutivas ou griladas, o ministro Mendes deveria também condenar o grande despejo de verbas públicas, do INCRA, do FNDE e do MTE, para as entidades (OCB e SRB) ligadas aos grandes produtores rurais e à Confederação Nacional da Agricultura.

Os movimentos sociais acusam essas entidades de financiarem, com dinheiro público, a defesa do regime de escravidão no campo, grilagens de terras públicas, abrangendo agressões ao meio ambiente e assassinatos e ameaças a agentes governamentais e lideranças comunitárias ligadas à reforma agrária, fatos que vêm ocorrendo com preocupante freqüência. Violência inspirada na Ku klux klan dos anos 60 nos EUA.

Mas a grande mídia – como Gilmar – somente vê violência na ocupação das terras, que por conveniência omite o fato de serem griladas ou socialmente improdutivas. Chamam os grileiros de “fazendeiros” ou “arrozeiros”, e seus capangas de “seguranças”. Os trabalhadores sem-terra são invariavelmente tazados de “arruaceiros”, por exibirem instrumentos de trabalho, foice, enxada, pá, em suas manifestações.

Razões sobram ao ministro Paulo Vannuchi (Correio Braziliense deste sábado, 28) que viu com preocupações o ‘”convencimento equivocado” do presidente do Supremo sobre um movimento social como o MST. “Em tese, ele (Mendes) será chamado a proferir sentença neste tema”. E quem vai julgar não pode ter convencimento prévio e público da matéria. Qualquer juiz de aldeia sabe disso. Só não sabe Gilmar.

Agente duplo?

O ex-refém estadunidense das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Keith Stansell, denunciou nesta sexta-feira que sua companheira de cativeiro, a colombiana Ingrid Betancourt, incentivou e ajudou os guerrilheiros a revistar um grupo de sequestrados. Fato ocorrido, segundo Stansell, três dias antes da libertação do grupo. “Por que?”, pergunta o ex-refém. Quem informa é a Agence France-Press (AFP).

Stansell, resgatado na mesma operação militar de junho passado que permitiu a volta de Ingrid, três estadunidenses e onze militares e policiais para casa, declarou a uma rádio de Bogotá que os três foram revistados na frente de todos. "Entende como me senti, encurvado no chão, sendo revistado por um refém colaborando com os sequestradores? Isso é verdade. Todos foram testemunhas disso", desabafou Stansell.

Verdade ou não, ficaram no ar alguns incômodos ao governo colombiano: 1. Que faziam nas selvas da Colômbia três representantes de Bush, antes do sequestro? 2. Como é que Ingrid apareceu corada, bonita e saudável no dia de sua libertação, a ponto de merecer uma nada sutil “cantada” de Sarkosy dois dias após, se alguns dias antes um vídeo mostrava ao mundo uma refém completamente debilitada, quase agonizante?

Desinformação Global

Em “Caminho das Índias” a TV Globo tenta transferir para a cultura indiana sua habitual deturpação da sociedade brasileira, mostrada quase sempre pelo lado excepcional da relação promíscua, dos negócios escusos, da traição. Cada nova novela a superar os exemplos de desvio do comportamento social, sem nenhum objetivo pedagógico que estimule o debate nacional dos grandes temas.

Vez por outra, a Globo tenta maquiar sua (des)compostura apelativa com uma abordagem muito superficial e politicamente equivocada das minorias: do negro, da mulher, da homossexualidade masculina e feminina. No mais, a exibição diuturna de relações sexuais quase explícitas e práticas perniciosas de alguém a preparar e a cheirar drogas em público, como no idiotizante Big Brother Brasil.

Indianos radicados no Brasil começam a reclamar dos equívocos culturais e extemporâneos do drama de Glória Perez. Ela retrata, por exemplo, os dalits que, destituídos de qualquer casta social, estariam, na novela, em plena luta para obter direitos civis igualitários. Como a Agência Estado desta quinta-feira (26) expôs, “Os dalits (há muito) não são mais discriminados na Índia” e há muitas gírias equivocadas na novela.

A relação sexual entre os personagens de Juliana Paes e Márcio Garcia também é inaceitável diante de uma forte cultura de respeito a instituições como a família e o casamento. Para o ex-monge Bhuvana Mohandas, no Estadão, toda a novela é um exagero da realidade indiana e “mostra uma abordagem superficial do país e de sua cultura”. Como é superficial toda a agenda cultural da televisão tupiniquim.

Silvio Berlusconi, il Duce

Berlusconi dá mais um sinal de recrudescimento de sua política de orientação fascista, fruto de sua formação juvenil de idolatria a Benito Mussolini. Na primeira semana de fevereiro, fez aprovar no Parlamento uma medida que estimula os médicos a denunciar imigrantes ilegais que busquem os hospitais. A nova lei também criou patrulhas civis para caçar e coagir os imigrantes nas periferias urbanas.

Em resposta, o principal jurista do processo de combate às máfias italianas na década de 90, o político italiano Antonio Di Pietro, enviou uma carta ao presidente da Itália, Giorgio Napolitano, acusando Berlusconi de "seguir os passos do Partido Nacional-Socialista Alemão dos anos 30", distanciando-se da "democracia fundada no direito". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Revisão dos textos: Isa Jinkings

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