segunda-feira, 18 de maio de 2009

O petróleo é nosso

Barata tontice: Petrobras versus Petrobrax.

“Maus motivos levaram a um recurso parlamentar legítimo. Mas CPIs nascem (...) com um tema preciso e, depois, em geral o que menos prevalece é sua finalidade originária. Se isso ocorrer também agora, será mais do que possível uma virada da CPI contra a oposição. E, mais importante, será a oportunidade, nunca tardia, do exame das inúmeras barbaridades na Petrobras durante o governo Fernando Henrique”.

Sábias as palavras de JANIO DE FREITAS, na Folha de S Paulo deste Domingo (17/05). Para ele, “A Petrobras foi transformada pelo PSDB em arena das disputas preliminares da sucessão presidencial. Surrada pelo prestígio de Lula e incompetente por seu próprio demérito, a oposição conduzida pelo PSDB virou a velha barata tonta”. Janio acredita que tanto governo quanto oposição têm bons argumentos contra ou favor da CPI da Petrobras, à parte os motivos reais que os levem a defendê-los e exagerá-los.

“É verdade que a Petrobras tem deixado pelo caminho muitas práticas reprováveis. Muitas suspeitas”, daí a legitimidade do recurso oposicionista. Mas, “A oposição investiu na CPI (...) pelo motivo mais reprovável: o interesse meramente político”. E “Se o PSDB que agora clama pela CPI em defesa da "Petrobras que é um patrimônio do Brasil" tivesse, de fato, dedicação perceptível à coisa pública, seus congressistas não chegariam a condutas até sórdidas para impedir CPIs no governo Fernando Henrique”.

Dois dias antes, com a mesma argumentação, o jornalista Ronaldo Bicalho já desaconselhava “colocar a maior empresa brasileira ao sabor das veleidades político-midiáticas em um momento de profunda crise econômica mundial (...), intento óbvio de se criar dificuldade para o governo Lula, (...) clara manobra de enfraquecer a posição da empresa na negociação do novo marco regulatório para o pré-sal. (...) uma chantagem política cujo alvo não é o governo Lula, não é a Petrobras, mas o país”.

Tentando compreender a atitude impatriótica oposicionista, o sociólogo Emir Sader lembra que “os tucanos queriam privatizar a Petrobrás, como parte dos acordos assinados com o FMI. Trocaram o nome da empresa – orgulho e patrimônio nacional – para Petrobrax, para tirar essa marca de “Brasil”, negativa para eles. (Para) torná-la uma “empresa global”, a ser submetida a leilão no mercado internacional. Não conseguiram”.

Lembremos que o PSDB foi responsável pela quebra do monopólio do petróleo e também pela venda de mais de um terço das ações da Petrobrás na Bolsa de Nova York, por menos de 10% do seu valor real, como lamentou o presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras em entrevista ao Correio da Cidadania, em janeiro deste ano. Margem perdulária de mesma grandeza que da entrega da lucrativa Vale do Rio Doce.

Muito se especula, ainda, sobre a barata tontice do PSDB, que desonrou o acordo de líderes que subordinaria a criação da CPI a prévias explicações da Petrobras sobre as supostas irregularidades. Talvez, por mais confortável e menos comprometedor, fiquemos com a visão do presidente Lula de que se trata “briga de adolescentes”. Ou uma tentativa de desviar o foco da mídia da podridão espalhada pelo Senado.

Irresponsabilidade versus agenda positiva
“O que o PSDB gostaria é de privatizar a Petrobras” (Paulo Bernardo, ministro do Planejamento)

“Os dirigentes partidários percebem o crescente repúdio dos cidadãos ao comportamento da atual legislatura, que chegou ao nível mais baixo de quantas houve, desde a Assembleia Constituinte de 1823”, disse o consagrado escritor e jornalista Mauro Santayana. Não menos grave é a afirmação do mais longevo e dos mais lúcidos analistas políticos do Brasil, jornalista Villas-Bôas Corrêa: “É o pior Congresso que conheci”.

Daí, a temeridade e o inconveniente da CPI da Petrobras. Por que? Ouçamos, uma vez mais, JANIO DE FREITAS: “A ocasião da CPI é imprópria para a Petrobras por enfraquecer sua administração quando discute financiamentos internacionais, uma multidão de contratos com fornecedores estrangeiros, batalha contra pressões para entrega do pré-sal (descoberto com méritos e custos altíssimos da estatal) a concorrentes e a capitais privados”.

Mais: “Não há dúvida de que, sob uma CPI, a administração da empresa precisará desviar muita atenção das negociações e planejamentos em curso, e fará sob piores condições a continuação parcial desse trabalho. E o pré-sal, causa de toda essa ação atual na empresa, é estratégico não só para a Petrobras, porém ainda mais para o país”.

Em nada ajuda discutir o viés da falta de patriotismo como uma das possíveis causas do desespero tucano em desonrar um acordo de líderes e pouco se lixar para etapas prévias e necessárias, antes de se criar a CPI. Preferível elencar pequenas derrotas da oposição acumuladas nas últimas semanas, algumas emblematicamente omitidas pela grande imprensa, habitualmente generosa com os interesses de tucanos e demos.

Uma: Notícias de pesquisa de caráter nacional, citada por Jânio de Freitas, que eleva significativamente a intenção do brasileiro em votar em Dilma Rousseff para presidente.
Duas: A desmoralização da tese de que uma mexida necessária na caderneta de poupança seria prejudicial à poupança popular. Tese mentirosa e impatriótica que estimulou em parte ama corrida desnecessária e prejudicial da população aos bancos.

Três: O anúncio de viagem presidencial à Ásia com extensa lista de negociações favoráveis ao Brasil, entre elas o fortalecimento empresarial da Petrobras.
Quatro: O anúncio, que lemos no YAHOO! Notícias, de que a Petrobras acaba de se transformar na quarta empresa mais respeitada do mundo, segundo pesquisa divulgada pelo Reputation Institute, empresa privada de assessoria e pesquisa, com sede em Nova York.

Cinco: Pelas informações da AFP, via Portal Terra, a Unesco divulgou nesta quarta-feira a concessão ao presidente Luis Inácio Lula da Silva do “Prêmio de Fomento da Paz Félix Houphouët-Boigny 2008”. Entre os premiados anteriores, estão Mandela, Yitzhak Rabin, Shimon Peres, Yasser Arafat, Jimmy Carter e o rei Juan Carlos I da Espanha. A cerimônia de entrega do prêmio acontecerá em junho, em Paris. Que mais?

Um comentário:

CHarles Santos disse...

Realmente o Brasil precisa ser reinventado. O Congresso principalmente.

Duvido que fariam uma palhaçada dessas com a Petrobrás se o PSDB ou o DEM estivesse no topo. Duvido!

Pelo menos as falhas estão escancaradas para todos verem. Se fosse em época de um tal sociólogo...

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