segunda-feira, 28 de abril de 2008

Fanfarronices

Ministro fanfarrão
A concorrida posse do novo presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, foi uma festa para a mídia e para as oposições que enxergaram em seu discurso um puxão de orelha no governo e a abertura de uma nova trincheira contra o presidente Lula. A mesma mídia e a oposição, que por vezes se confundem, fazem de conta que a fanfarronice do ministro é uma vestalina preocupação de um novo herói, ao estilo “caçador de marajás”, de Collor, que desembarca na corte para cuidar bem da coisa pública.


A identidade da fala novo presidente com a mídia começa com a criminalização dos movimentos sociais, com ênfase para o MST e respingo nos estudantes de São Paulo e de Brasília. Com a oposição, uma identidade mais antiga. Ele cospe no prato que comeu, ao reclamar de algumas práticas nada diferentes das do governo anterior. Como se sabe, o ministro-presidente serviu com desvelo na Advocacia da União do governo tucano e, por isso, foi elevado à categoria de ministro. Não consta que, como membro do governo FHC, o novo “paladino” da República tenha feito o menor esforço contra o excesso de medidas provisórias que somente agora, no governo Lula, vê imobilizar o legislativo.

Independentemente de seus eventuais méritos, a eleição de Gilmar seguiu a tradição da Casa de eleger quem ocupa a vice-presidência, segundo a edição 512 de revista “Época”. Acusado de participar das famosas “blindagens” durante o governo FHC, o ministro causou grande polêmica no Supremo com procuradores da República quando da sua intervenção em defesa de seus ex-colegas do governo, o ministro Raul Jungmann e outros, todos respondendo por lesão ao patrimônio público e à probidade administrativa. Na pauta imediata do Supremo, agora sob presidência correligionária tucana, serão julgadas matérias de interesse político do PSDB contra o governo Lula. O próprio ministro é o relator.

General falastrão.
Não menos fanfarrão, um aloprado general Augusto Heleno, bramindo loas preconceituosas sobre a questão indígena, que tratam os índios como cidadãos de segunda classe, e delirando paranóias sobre a segurança nacional, vem destilando aleivosias contra a acertada política indigenista oficial. Lançados no mercado os papeis de uma falsa crise militar, verificou-se uma frenética corrida de investidores, entre civis antilulistas e milicos de pijama, alguns quase mumificados, ou dirigentes de empoeirados clubes militares. Para Janio de Freitas, em sua coluna na Folha de S. Paulo desta quinta-feira, os papéis têm muito mais aplicadores civis do que supõem os otimistas da Democracia.


Teme o experiente jornalista que, ante tal iniciativa incendiária dos comandos do demo-tucanato, a oposição ao governo se confunda com oposição à ordem institucional. “No mínimo, é um ato irresponsável de desespero... incapacidade de encontrar políticas inteligentes de oposição”, diz Janio. Somente a irresponsabilidade justifica a oposição tucana à iniciativa do atual governo sobre a homologação da reserva Raposa Terra do Sol, vez que ela foi uma decisão do governo FHC, precedida de quase trinta anos de discussão democrática entre os setores envolvidos. Só a posição do tinhoso Demo é justificada, por sua origem histórica de escora política da ditadura militar.

Jânio identifica a “figura polêmica” do general com a velha linha dura. E revela que durante as investigações que levaram à condenação o famoso ex-juiz Nicolau dos Santos Neto, cerca de 100 telefonemas de “Lalau” foram para o general. Em 2004, o general assumiu o comando das tropas da ONU no Haiti. Nove meses depois, diz Jânio, foi lançado nos EUA e na Suíça o relatório "Mantendo a paz no Haiti?", do Centro de Justiça Global e da Universidade Harvard, com críticas severas envolvendo o comando do general brasileiro. As tropas da ONU davam cobertura à campanha de terror da polícia nas favelas de Porto Príncipe. E violações de direitos humanos eram praticadas pela própria tropa.

Ao tempo em que atrai insolentes, quase ingênuas, manifestações “patrióticas” em nome do “sagrado dever de defender a soberania e a integridade do Estado brasileiro”, o general protege, na realidade, os interesses de meia dúzia de arrozeiros ilegais, grileiros das terras da União. Tem razão Francisco Loebens, do Conselho Indigenista Missionário: a não demarcação é “uma estratégia ardilosa de condenação dos índios, para confiscar-lhes suas terras”. “Não difere muito da forma utilizada durante o período colonial, quando, para justificar a chamada “guerra justa”, se acusava os índios de praticarem delitos, toda vez que existia o interesse de avançar sobre suas terras e de buscar mão-de-obra escrava”. [1]


Diferentes visões sobre o Tibete
A mídia ocidental quer apresentar os tumultos do Tibete como insurgência espontânea de uma população submetida a anos de opressão religiosa e cultural por um regime impiedoso. Não é a opinião que os repórteres do “Financial Times” (FT), Richard McGregor e Jamil Anderlini, colheram dentro da China, onde se sabe que os manifestantes tibetanos são manipulados pelo dalai-lama para tentar dividir o país. Na opinião do FT, que entrevistou, entre outros, cidadãos chineses instruídos, artistas e empresários bem-sucedidos de Pequim, este conflito de opiniões ameaça prejudicar as Olimpíadas 2008 de Pequim.


Na Universidade Renmin, por exemplo, a convicção é de que a China, passados os primeiros anos de regime comunista, fez grandes esforços para desenvolver o Tibete e garantir liberdade religiosa. E que os países ocidentais preferem ignorar esses avanços, favorecendo uma visão "romântica" de remoto reino no Himalaia. A posição nada romântica do governo, que considera o dalai-lama um "monstro de face humana e coração de animal", não parece exagerada aos chineses entrevistados. Para eles, enviar o exército foi "a única reação" possível.

Mais grave é a denúncia do escritor estadunidense Gary Wilson. Em dois artigos recentes (“Por Trás da Campanha Anti-Olimpíadas na China” e “O Tibete e a Celebração do Levante da CIA”), ele revela que o que hoje ocorre no Tibete vem sendo preparado há tempo. Segundo Wilson, o “Movimento Popular pelo Levante do Tibete”, com foco nas Olimpíadas, marcou para 10 de março a data inicial do levante, em cuja preparação houve grande movimentação entre o embaixador estadunidense na Índia e o dalai-lama. Wilson revela ainda uma intensa participação de membros da CIA, a atenta inteligência dos EUA, no caso.

Some-se a isso o papel exercido pela NED, National Endowment for Democracy, agência de apoio ao expansionismo dos EUA, no financiamento do grupo do dalai-lama e de outras organizações tibetanas no exílio. A NED também é importante base de apoio financeiro, em diferentes regiões do planeta, ao grupo Repórteres Sem Fronteiras (RSF). Não sem razão, muitos protagonistas dos atos que marcaram o acendimento da tocha, na Grécia, e outros episódios de seguimento do símbolo olímpico por outros países, têm sido identificados pela polícia como cidadãos ligados à RSF. Esses fatos, somados às informações do jornal inglês “Financial Times”, ajudam a desmistificar a ingênua “visão ocidental” do Tibete.

BRINDE: DE CHICO BUARQUE, TANTO MAR E A REVOLUÇÃO DOS CRAVOS.

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