segunda-feira, 5 de maio de 2008

Vôo do condor

EUA buscam fragmentar a Bolívia
O embaixador de Washington na Bolívia, Philip Goldberg, foi escolhido para o cargo por sua larga experiência, como diplomata e depois embaixador, no desmembramento territorial e extermínio étnico na antiga Iugoslávia. O objetivo de agora é provocar divisões na Bolívia. É o que revelou à agência EFE o embaixador boliviano no México, Jorge Mansilla, durante a realização de um ato no qual recebeu manifestações mexicanas em apoio às reformas promovidas pelo presidente Evo Morales e contra o referendo separatista deste domingo no departamento de Santa Cruz. Tem razão o embaixador boliviano. A quem interessaria menos que aos EUA tão grave fragmentação de poder do governo? [1]


De onde vieram tamanhos recursos para tão rica campanha do sim pelo separatismo ilegal e inconseqüente, condenado tanto pelo Tribunal Superior Eleitoral quanto pela Organização dos Estados Americanos? Afinal não há nenhuma lei no país que permita que um governo regional realize uma consulta popular à revelia do governo central. A autonomia pretendida quer destituir a Corte Superior de Justiça como última instância da Justiça para assuntos dos departamentos, passando-os ao judiciário local. Maurício Ochoa, advogado constitucionalista e presidente da Associação Boliviana de Juristas, em entrevista à Carolina Juliano de UOL, não descarta uma tentativa séria de golpe de Estado. [2]

Para além dos desejos de Washington, com dificuldades na Colômbia pela relação do seu presidente com narcotraficantes e assassinos paramilitares, e tendo recém perdido os governos fantoches do Equador e do Paraguai, há um outro perigo não menos preocupante: o preconceito da eterna oligarquia predatória, que resiste com seus privilégios em torno do departamento de Santa Cruz. Mas não resiste ao “atrevimento” do indígena Evo Morales a propor na ONU, dia 22/04, segundo o jornal espanhol El País, sob aplauso veemente de cerca de 3000 delegados ao Foro Permanente para Assuntos Indígenas da ONU, a erradicação do capitalismo para combater o aquecimento global e salvar o planeta. [3]

Bienvenido, Fernando Lugo!
Dia 23 de abril, na “Folha de S. Paulo”, o jornalista Elio Gaspari acertou mais uma. Segundo ele, Itaipu não é o problema, é a solução. E dá a receita: “Juntos, Fernando Lugo e Lula poderão limpar as cavalariças da corrupção colorada”. Tem razão. O que menos importa na eleição de Fernando Lugo para a presidência do Paraguai é sua legítima intenção de renegociar o contrato de Itaipu, carro-chefe da campanha eleitoral. Revisões são sempre possíveis entre países, como entre empresas, principalmente agora em razão de um novo cenário de poder e uma nova correlação política regional favorável a uma integração. Que mal há em sentarem à mesma mesa, diplomatas e técnicos do setor?


O mais importante é a vitória de Lugo que quer "fazer com que o Paraguai seja conhecido por sua honestidade e não por sua corrupção". É o começo do fim da oligarquia sanguessuga, há décadas no poder por meio do Partido Colorado, que transformou o país em sua propriedade privada com feição de paraíso do contrabando, da lavagem de dinheiro, do banditismo. Sempre com a ajuda da oligarquia mafiosa brasileira, entranhada nas malhas do poder, notadamente promíscua nos anos de ditadura militar. Hoje, não é só tempo de limpar as cavalariças, também é de exorcizar fantasmas de 1864-1870. A ajuda brasileira ao Paraguai que Lugo quer é parte de uma dívida que vem de longe. [4]

O vôo do condor.
Escondido por mais de 12 horas na embaixada da Costa Rica, em Bogotá, onde viu recusado seu pedido de asilo, o ex-senador colombiano Mario Uribe Escobar, primo e aliado político do presidente Álvaro Uribe Vélez, foi preso na noite de 22/04, acusado de ligação com organizações paramilitares. Algumas horas mais tarde, o próprio presidente, antecipando-se à mídia, revelou ter sido ele mesmo denunciado pela Corte como participante, junto com o ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, e o vice-presidente Francisco Santos, dos preparativos para o massacre de El Aro, onde militares e paramilitares torturaram e assassinaram 15 camponeses, saquearam e queimaram suas habitações. [5]


Segundo a BBC, outros 32 congressistas e ex-congressistas da base política do governo já estão atrás das grades e outros 30 são investigados na Corte Suprema pelo mesmo crime do primo Mário. Na última semana mais três importantes aliados de Uribe, a presidenta do Senado Nancy Gutiérrez, o presidente do PU, Carlos García e o senador Ricardo Elcure também começaram a ser investigados pela Corte. O jornalista Ramiro Bejarano, de El Espectador, crê que a prisão de Mário é muito grave para o presidente porque abre as portas para que se revise todo seu passado político. Para o ex-senador Rafael Pardo, "aprofunda de maneira muito grave a crise, porque atinge aliados muito próximos do governo”. [6]

Esses dados, que a imprensa brasileira escondeu, fortalecem as denúncias dos vínculos familiares e pessoais do presidente Uribe com o narcotráfico e com os grupos armados ilegais que desde os anos 70 perseguem, torturam e assassinam lideranças sociais e populares. Virgínia Vallejo, ex-mulher do famigerado líder do cartel de Medellín, Pablo Escobar, revelou ligações do narcotraficante com o pai do presidente na década de 90. Como a comprovar, o relatório de 1991 da Agência de Inteligência da Defesa descreveu o atual presidente da Colômbia como estreito colaborador do cartel e “amigo próximo" de Pablo Escobar. Hoje, o país tem a maior taxa de assassinatos de sindicalistas no mundo. [7]

A história política pregressa e atual do presidente colombiano tem trazido muitas inconveniências a Washington, que vem investindo pesadamente na Colômbia como possibilidade única de estabelecer o QG sul-americano do seu expansionismo econômico. A pretensão de Bush de incorporar o país ao bloco da Alca, por exemplo, esbarra na forte oposição do Congresso dos EUA, pressionado pelos maiores sindicatos de lá. Motivo: o assassinato de milhares de lideranças sindicais colombianas pelo Exército e pelos grupos paramilitares aliados de Uribe. Aliança que fez o Parlamento Europeu também condenar o (narco-) para-presidente. [8]

BRINDE: MERCEDES SOSA [*] CANTA, NA SUIÇA, "DUERME, DUERME, NEGRITO" (BELÍSSIMA CANÇÃO DE NINAR). (Deixe alguns segundos na posição pausa para carregar).

Nenhum comentário:

O Manifesto