quinta-feira, 5 de junho de 2008

Feridas abertas na floresta

Cumplicidade contra a vida.

“Nos últimos 40 anos, a Aracuz construiu um império no Espírito Santo. Nesse período desmatou florestas, ocupou áreas indígenas, represou rios e chegou a inverter o curso de um outro para abastecer uma de suas fábricas. Tudo com a conivência do poder público. A empresa sempre manteve fortes ligações com políticos. Somente nas três últimas eleições, doou R$ 6,5 milhões a candidatos do estado”. Este texto subscreve uma grande foto colorida de um flagrante de devastação florestal, na capa do Correio Braziliense do último domingo. Encerra o texto uma chamada para a reportagem que ocupa as três páginas seguintes, com o sugestivo título de “Feridas abertas na floresta”. [1]

O CB abre a reportagem com o subtítulo “Empresa de celulose represa e inverte curso de rios, seca nascentes e destrói mata nativa para plantar eucalipto no Espírito Santo e na Bahia, com a conivência do poder público”. A matéria de Lúcio Vaz, enviada de Aracruz (ES), revela as entranhas da construção do império empresarial que fez da Aracruz Celulose a maior produtora mundial de celulose de eucalipto. Vaz mostra a ligação da empresa, desde os anos 60, com o mundo político, a quem doou cerca de R$ 6,5 milhões só nas últimas eleições. E exibe o efeito devastador da Aracruz sobre o que ali resta da Mata Atlântica, sobre os rios e sobre as terras de índios e quilombolas.

O trabalho de Vaz amplia o que já se sabe da ação da Aracruz e outras no Rio Grande do Sul. Ali, a expansão das plantações de eucalipto e a implantação de novas fábricas de celulose vêm produzindo extensas áreas desertificadas. Hoje, a empresa mantém 203 mil hectares de plantio no Espírito Santo e na Bahia, onde se apropria de recursos hídricos, causando fortes danos ambientais. Estudo da Associação de Geógrafos do Espírito Santo revela que a quantidade de água consumida por dia pela Aracruz da Barra do Riacho, no processamento e branqueamento da celulose, ronda os 250 mil metros cúbicos, o que equivale ao consumo diário de uma cidade de 2,5 milhões de habitantes.

E o que se vê? Destruição de matas nativas, assoreamento dos cursos d’água, contaminação das águas por produtos químicos e por despejos sem tratamento (pelos povoamentos desordenados), represamento de águas, obstrução dos leitos por estradas de transporte de eucalipto, eliminação da vida. E nada disso é novo, desde a denúncia inicial do biólogo Augusto Ruschi em 1971, renovada anos a fio, por entidades de defesa do meio ambiente, publicações especializadas e diversos movimentos sociais. Desgraçadamente, não há nenhuma repercussão institucional ou midiática de peso. As barreiras, parece, estão nos financiamentos de campanha e nas verbas publicitárias.

A oposição e o seqüestro do futuro

Quando lemos que "Índio da Costa pedirá indiciamento de Dilma e Aparecido" ou que o "DEM fecha questão contra CSS" não estamos, apenas, diante de chamadas que expõem a agenda eleitoreira da grande imprensa para as próximas eleições presidenciais. O momento é demais expressivo para não fazermos outras reflexões. Retroagirmos a tempos recentes e extrairmos lições que precisam ficar vivas na memória é um exercício obrigatório. O que assusta a direita sem programa é um futuro que se anuncia demais promissor para que seja efetivado. O triste é saber que quem a acompanha nessa marcha se julga vanguarda quando, na verdade, faz papel de coro para a tragédia do atraso.

O que estamos presenciando no Brasil sinaliza uma dinâmica que esboça o desenho do país nos próximos anos. Os ineditismos apontam para mudanças que sedimentam novas bases para o capitalismo brasileiro. Apurar a visão para compreender que só lograremos a hegemonia se não a concebermos como sistema formal fechado, totalmente articulado e homogêneo é um belo primeiro passo. Distribuições específicas de poder, hierarquia e influência não ocorrem em um cenário vazio de contradições e processos difusos. Perscrutar mudanças moleculares é fundamental para não perdermos o foco do que desespera o conservadorismo brasileiro.

Como ignorar que a alta no preço dos alimentos no Brasil foi inferior à registrada em outros países do mundo por contas de políticas públicas de apoio à agricultura familiar? Em matéria publicada no Globo (1/6), dois agricultores são precisos: “A situação hoje é mais confortável do que há seis, sete anos. Naquele tempo, pobre não entrava em banco. Quando entrava, a liberação demorava tanto, que quando saía já havíamos colhido. Agora o dinheiro sai na época certa". Do que falam os homens do campo? Que a inflação está sendo combatida com garantia de abastecimento para o mercado interno. Isso é irrelevante? Para quem?

E o que dizer de uma economia estabilizada, com inflação baixa e contas externas minimamente ajustadas? Em abril, 4,18 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo tinham carteira assinada no setor privado. Isso equivale a 46,5% do total de ocupados, a maior taxa de empregos formais desde abril de 1992. Diante de tais dados, atribuir a popularidade do presidente e os índices de aprovação ao seu governo exclusivamente a uma liderança carismática não revela uma indigência analítica que mescla reducionismo e má-fé? (...) (...) Leia a análise completa, original, do sociólogo Gilson Caroni Filho em Carta Maior. [2]

Fim da Cofins tiraria 6,4 milhões de cidadãos da miséria

Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) a ser apresentado nesta quinta-feira, em audiência no Senado, revela que a eliminação da Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) resultaria em um ganho de renda para as camadas mais pobres da população. Com isso, ao menos 6,4 milhões de brasileiros deixariam a linha de pobreza. O levantamento mostra que uma transferência dos tributos chamados indiretos – embutidos nos bens de consumo – para uma cobrança direta, como o Imposto de Renda, reduziria a pobreza.

''O combate a desigualdade passa pela Justiça tributária. É uma experiência internacional. Todos os países que reduziram a pobreza ajustaram sua tributação'', afirma o economista Márcio Pochmann, presidente do Ipea. De acordo com o estudo, 32,5% dos brasileiros estão abaixo da linha da pobreza e têm renda de até meio salário mínimo per capita por mês. Sem a cobrança da Cofins, embutida em bens de consumo, a porcentagem desse grupo cairia para 29%, o que resultaria em 6,4 milhões de brasileiros superando a linha da pobreza.

A explicação para a diferença entre o peso dos impostos está na forma de cobrança. A base da arrecadação no Brasil é mais forte na chamada tributação indireta, ou seja, embutida em alimentos ou bens de consumo. Como o brasileiro mais pobre gasta a maior parte de sua renda nesses itens, paga mais impostos proporcionalmente. Portanto, a extinção da Cofins tornaria o consumo mais barato. (Nota do Boletim HSLiberal: o governo já propôs este caminho. A oposição torceu o nariz). (...) (...) Leia a matéria completa, com dados da Folha Online, no Portal Vermelho. [3]

BRINDE: HISTÓRICA GRAVAÇÃO DE TRAVESSIA, DE MILTON NASCIMENTO E FERNADO BRANT. (Clique em pausa para carregar e espere alguns segundos)

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