sexta-feira, 20 de junho de 2008


Uma bomba que ninguém quis escutar

O Observatório da Imprensa, de 28/09/2004, publicou matéria de seu editor-responsável, Alberto Dines, sob o título acima, que pode contribuir para a atual discussão da modalidade de tributo sobre movimentação financeira. Segundo Dines, não mereceu chamada na primeira página, mas a matéria do repórter Josias de Souza na Folha de S.Paulo de 19/9 é uma peça clássica de jornalismo investigativo. Uma "bomba" de alto teor: "Novo Presidente da FIESP é um ‘sem-indústria’".

Paulo Skaf, atual presidente da poderosíssima Federação das Indústrias do Estado de S.Paulo, é um empresário sem empresa, na tradição do velho peleguismo patronal dos tempos de Vargas. Skaf deve à Previdência, à Receita Federal e aos antigos funcionários. Sua fonte de renda é o aluguel do maquinário de antiga indústria têxtil. Dines acha a revelação estarrecedora: “Implacável radiografia da mais importante organização empresarial brasileira”, bastião da nossa “renovação política e econômica”.

Mais surpreendente do que a burla curricular sobre quem “deveria ser o industrial-modelo é a constatação de que o grosso da imprensa brasileira continua rigorosamente incapaz de investigar qualquer coisa que não venha empacotado como "dossiê" secreto, grampo ou disquete surrupiado”. Para Dines “esta dependência dos vazamentos retirou de nossos grandes veículos não apenas a sua curiosidade”, “mas a capacidade de satisfazer a curiosidade dos leitores”. Ou o interesse público. [1]

Recordemos texto do Boletim H S Liberal, de 19/11/2007, com informações de Mônica Bérgamo: “O ex-ministro da Saúde Adib Jatene ganhou mais notoriedade no debate sobre a CPMF, ao passar um pito no presidente da FIESP...” À frente da poderosa entidade... Skaf “está em campanha pelo fim da CPMF”. O médico Adib, ''pai'' da CPMF, falou alto e de dedo em riste: ''No dia em que a riqueza e a herança forem taxadas, nós concordamos com o fim da CPMF. (...) Os ricos não pagam imposto e por isso o Brasil é tão desigual. (...) Os ricos têm que pagar para distribuir renda''.

Skaf tenta rebater: ''Mas, doutor Jatene, a carga no Brasil é muito alta!''. E Jatene: ''Não é, não! É baixa. Têm que pagar mais. Por que vocês não combatem a Cofins (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social), que tem alíquota de 9% e arrecada R$ 100 bilhões? A CPMF tem alíquota de 0,38% e arrecada só R$ 30 bilhões''. Skaf desconversa: ''A Cofins não está em pauta. O que está em discussão é a CPMF''. E Jatene, certeiro: ''É que a CPMF não dá para sonegar!''. Estava coberto de razão em seu diálogo acalorado com Skaf. Ele pôs o dedo na ferida com precisão cirúrgica. [2]

Mudando o Brasil, pra sempre.

Não é recomendável ter a mesma confiança do presidente Lula suficiente para tornar Delfim Netto seu conselheiro informal, embora concorde que ele tem uma mente lúcida a serviço do debate, conforme o classifica a Carta Capital da última semana. Na revista, Delfim considera ridículo se imaginar que FHC tenha produzido alguma política econômica. Esclarece que havia uma política econômica implícita no programa do real produzida por profissionais de alta qualidade, anda no governo Itamar.

Para Delfim, o resultado foi razoável do ponto de vista do combate à inflação, mas não evitou que o Brasil quebrasse em 1998, véspera do segundo mandato. E, sob a ótica do crescimento, o programa foi o pior de todos. Gerou uma situação externa insolúvel. Tanto que o Brasil teve de correr ao FMI e conseguir um empréstimo importante. Naquele momento, o Fundo salvou o País e a reeleição de FHC. Pressão de Bill Clinton, pelo perigo Lula. E quem passou a ditar as regras da nossa política econômica foi o FMI.

E segue Delfim: Era a política canônica que existe no mundo inteiro hoje: relativo equilíbrio fiscal, política de controle de inflação por meio de metas e câmbio flutuante. Hoje há uns 150 países que usam o mesmo tipo de política. O que Lula fez na verdade? Primeiro, radicalizou essa política canônica, porque em 2002 o Brasil estava falido de novo. Basta olhar o seguinte: entre 1998 e 2002, a dívida externa crescia a 6% ao ano e a exportação, a 4%. Não é preciso ser físico quântico para saber que estava quebrando.

(...) Na transmissão do cargo de FHC para Lula, a inflação rodava a 30% ao ano. E as reservas, excluídos os recursos do FMI, eram de apenas 17 bilhões de dólares. Era uma falência programada. O câmbio subiu porque o Brasil tinha quebrado. O presidente aumentou a taxa de juros, como as pessoas não imaginavam que ele fosse fazer, e elevou o superávit primário. É preciso dizer que, nos primeiros anos do governo FHC, o superávit primário foi zero. No segundo, foi de 3,8%, por exigência do FMI.

(...) A exportação no governo FHC crescia entre 4% e 4,5% anuais. No primeiro ano de Lula, aumentou 22% e continuou nesse ritmo até o ano passado. Foi isso que colocou o Brasil numa situação muito mais tranqüila e permitiu a acumulação das reservas internacionais. Nesta quinta-feira, o programa em rede nacional do PSDB era, como seu bordão, uma risível propaganda enganosa: “o partido que mudou o Brasil, pra sempre”. Leia o inteiro teor da entrevista de Delfim Neto na edição 500 da Carta Capital. [3]

A curiosa ética do Demo (ex-PFL).

Um processo ético-disciplinar no mínimo curioso é movido pela alta cúpula nacional do Demo (ex-PFL) contra um dos seus pares, o vice-governador do Rio Grande do Sul, Paulo Feijó. O ato “anti-ético” do político gaúcho é ter revelado uma conversa gravada em que o chefe de gabinete da governadora tucana Yeda Crusius lhe expôs a caixa-preta da relação promíscua entre os caixas de campanha dos políticos aliados com as empresas estatais da governadora.

A curiosidade não é o fato de o Demo (ex- PFL) historicamente não ter afinidades com a Ética. Ou talvez seja esse um dos motivos pelos quais o camaleônico partido atabalhoe-se com o trato desse milenar bem da Humanidade e queira inverter seu conceito. Pois, em vez de tratar o uso de fundos públicos para suprir “caixinhas” de candidaturas, uma prática há décadas consagrada pela sua “classe” política, como o núcleo de sua preocupação ética, o Demo (ex-PFL) quer condenar apenas a revelação da falcatrua.

Já o demo-senador José Agripino quer punir seu aliado pela "forma como a denúncia foi feita" que "destrói o componente fundamental da relação política que é a confiança". Como é que o senador, um dos cardeais do Demo (ex-PFL), quer que se revele a delinqüência do tucanato gaúcho? Outra pérola da subversão do conceito de Ética partiu de outro demo-senador, Heráclito Fortes: o problema que lhe causou indignação foi o rompimento da “convivência civilizada” do seu correligionário com o governo Yeda. Ah, bom.

O BRINDE:
GUERNICA DE PICASSO EM 3D
O QUADRO MAIS FAMOSO DE PICASSO, GUERNICA, DE 1937, REPRESENTA O BOMBARDEIO SOFRIDO PELA CIDADE ESPANHOLA GUERNICA, EM 26 DE ABRIL DE 1937, POR AVIÕES ALEMÃES.
A ARTISTA NOVA-IORQUINA LENA GIESEKE CRIOU ESTA VERSÃO EM 3D, QUE MOSTRA TODOS OS DETALHES DO QUADRO COM REALISMO IMPRESSIONANTE.
(Clique em pausa para carregar e espere alguns segundos).

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