quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Conspirata de pijama



Conspirata de pijama

Nesta terça-feira, o jornalista Clóvis Rossi, da Folha de S Paulo, esclareceu “duas confusões, que parecem pura má-fé, na equiparação que setores das Forças Armadas estão fazendo entre a ação dos que pegaram em armas contra o regime militar e a ação dos militares que os reprimiram”.

Rossi afirma com razão que os milicos de outrora, como agentes do Estado, não poderiam ter matado ou torturado para reprimir inimigos. Principalmente pelo fato de que tudo ocorreu fora do contexto da luta, do combate. Isso “é borrar a fronteira entre a civilização e a barbárie”, diz Rossi.

Como se sabe, igualmente aos que pegaram em armas contra a ditadura, muitos outros patriotas – como o jornalista Vladimir Herzog – que preferiram lutar com as idéias e o convencimento, também foram presos, torturados, assassinados nos porões do aparelho repressivo. Outros, foram exilados. Muitos ainda estão desaparecidos. Os familiares a espera para enterrar seus mortos.

Opositores da ditadura foram “legalmente” punidos, no marco da lei discricionária, ilegítima. Do outro lado, no entanto, ninguém foi punido. Muitos, ao contrário, foram promovidos. Para Rossi, “é inquestionável que os torturados foram punidos, e os torturadores, não”. Como é inquestionável que as novas gerações jamais perdoarão a impunidade aos facínoras que desonraram nossa história.

As distorções são parte da conspirata dos milicos de pijama, recém reunidos no Clube Militar, que outrora foi instrumento de acobertamento dos crimes de tortura. Saudosos dos tempos em que prendiam e arrebentavam, como se vangloriava para a imprensa o último dos ditadores. Hoje, querem esconder ou distorcer a verdade, sonegando às gerações seguintes o direito sagrado à sua história.

Hipocrisia da mídia global

Na mesma Folha de S Paulo, o jornalista Janio de Freitas acusa, com acurada sensibilidade, o cinismo com que o mundo assiste à hipocrisia das críticas de Bush à ferocidade bélica entre Rússia, Geórgia e Ossétia do Sul. “Como se ele não fosse o invasor e destruidor do Iraque, ainda ocupante do Afeganistão e ameaçador do Irã”.

Para o jornalista, “a pusilanimidade dos governantes pelo mundo afora está respaldada e é disseminada pelas insuficiências e pelos comprometimentos do jornalismo, cujos recursos inovadores... pouco ou nada se acompanham de nova essência”.

Janio esclarece que primeiro a Geórgia, armada e treinada com “ajuda” dos EUA, atacou e ocupou o enclave autônomo da Ossétia do Sul, onde três quartos da população é russa. Ele questiona os meios de comunicação internacionais que não suspeitaram nem perceberam a ação dos EUA, nem pressentiram a sua conseqüência.

Tendo Washington como exemplo de desrespeito aos contratos multilaterais, a Rússia optou por desprezar negociações e diplomacia estratégica. E repôs em prática a ferocidade herdada do czarismo. Por que a surpresa, agora, para o grande jornalismo?

O colunista da Folha lembra que as previsíveis vítimas civis, mulheres, crianças e idosos são objetos do sacrifício injustificável e impiedoso. Eles “mereceriam ao menos que o jornalismo se pusesse acima da pusilanimidade dos governantes”. E não reproduzir e disseminar cinismo com o silêncio de tudo o que sabe.

Para nos informarmos melhor

Em 17/02/2007, o blog do Emir, trouxe excelente reflexão relativa à ideologia da nossa imprensa. Para Emir Sader, “a mídia latino-americana é cada vez mais igual, de um país a outro: age como um bloco político e ideológico de direita, cada vez mais homogêneo. Faz oposição cerrada, em bloco, em países como o Brasil, a Argentina, a Bolívia, a Venezuela, o Equador”. Diferentemente do que ocorre, por exemplo, na Espanha, onde “quem quiser ler um jornal de esquerda compra o El País, quem quiser ler um jornal de direita compra o ABC”.

Para fugirmos da mesmice, Emir recomenda fontes alternativas de informação e discussão, como Carta Capital, Brasil de Fato, Caros Amigos, Fórum (*). E a leitura diária do que considera “o melhor jornal do continente”, La Jornada, do México, de acesso gratuito, especialmente por sua cobertura internacional e da América Latina, em particular. Ou do diário argentino Página 12, também de acesso gratuito. Quanto ao espanhol El Pais, diz Emir que, embora seja particularmente hostil aos governos venezuelano e cubano, é bastante útil como fonte.

Na internet há muitas páginas alternativas e Emir recomenda a leitura de Carta Maior e páginas de jornalistas como Paulo Henrique Amorim, Luis Nassif, Mino Carta, entre outros. Na mídia internacional, é indispensável a leitura do Le Monde Diplomatique e da revista estadunidense The Nation. Como revistas teóricas, Margem Esquerda, Crítica Marxista e New Left Review, esta também tem edição em castelhano. Vale conferir.

(*) Carta Capital, Brasil de Fato, Caros Amigos, Fórum.

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