O outro lado da corrupção
A corrupção tem dois vieses. Nossos mais barulhentos políticos costumam “esquecer” a velha lição. Belos discursos contra quem está no lado oposto ao seu campo político. Escondem sempre o viés corruptor, e contam com o aval da mídia.
O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) revelou que o relatório divulgado pelo Consórcio Via Amarela no último dia 18 de julho contém “inconsistências técnicas e apresenta uma visão incorreta das causas do acidente”. Refere-se à cratera do metrô de Pinheiros, que engoliu sete vidas, alguns veículos e o sossego da vizinhança. Políticos e mídia também “engoliram” a malandragem do consórcio.
O IPT revelou que a baixa qualidade do túnel deve-se a falta de ensaios no concreto, insuficiente uso de fibra de aço e menor dimensão das placas dos arcos de sustentação. Uma criminosa diminuição de custos, agravada com a liberalidade de gestão concedida ao consórcio pelo governo tucano.
A Via Amarela é constituída pelas construtoras Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Camargo Correa e Andrade Gutierrez, responsáveis pela fatídica obra. Juntas, também produziram a maior bancada (outra cratera?) no Congresso Nacional. Juntas, também participam, com enormes fatias, nas receitas publicitárias das empresas jornalísticas. Há algumas décadas.
Outra evidência desse conluio de dupla via é observada na resistência em se atribuir maior responsabilidade pela colisão com o avião da GOL ao transponder desligado no Legacy. O equipamento avisa, dez milhas antes, a vinda de outra aeronave em sentido contrário. Da mesma forma, não se fala mais no travamento do reversor de turbina do avião da TAM, o trágico vôo 3054, que fez acelerar e não frear o vôo fatal.
Carta de Pérez Esquivel a Evo Morales
“Quero expressar-lhe todo nosso apoio e solidariedade pela permanente luta em benefício do povo boliviano, por dignificar aos mais pobres e postergados do país, dar-lhes o lugar que lhes corresponde de vida e democracia com dignidade”. “Fazer realidade os direitos humanos, compreendidos em sua integridade”.
Lembra Esquivel que, durante muitas décadas, a Bolívia sofreu a dominação dos poderosos, “que sempre exploraram o povo e que não se resignam em compartilhar a riqueza”. Que, quando contrariados em seus interesses, “buscam todos os métodos perversos para manter seus privilégios”.
Reportando-se aos dias atuais, vésperas de um referendo que permitirá aos eleitores bolivianos decidir sobre a permanência do presidente e de oito dos nove governadores no poder, o Nobel argentino teme um golpe político. Tudo “com apoio dos meios de comunicação, cúmplices em tergiversar a verdade”, e aval da embaixada dos Estados Unidos.
“São traidores da pátria e preferem a colonização do império à liberdade e soberania da Bolívia”. Esquivel revela, entretanto, que muitas organizações na América Latina e no mundo vêem com preocupação a atual campanha de desestabilização do governo Evo e oferecem solidariedade e apoio. Mais: confiam na resistência e na consciência crítica do digno povo boliviano.
Uma barriga à meia-noite
Para Raúl Dellatorre, do jornal argentino Página/12, a má gestão de empresas públicas foi argumento convincente, durante os anos 90, para justificar as privatizações. “Ainda que essa má gestão resultasse de anos de gestões que buscavam seu esvaziamento ou deliberada ineficiência em cumprimento de seus objetivos”. Objetivos escusos.
Para ele, no caso da Aerolíneas Argentinas, foi preciso mentir, falsear os dados e a realidade de uma empresa que ganhava em eficiência, prestígio e mesmo em resultados de suas competidoras privadas.
Fez-se um grande esforço para esconder essa realidade, prometendo até que, com o capital privado, obter-se-ia mais conforto, maior freqüência, tarifas acessíveis, acelerando a entrada da empresa para o Primeiro Mundo. “A história real, que veio com a privatização, é mais conhecida”, diz Raúl. Faz lembrar a história da VASP.
Mais um “caos aéreo”, há poucas semanas, refletiu essa história real. O resultado do número de passagens vendidas em excesso. Que não é diferente da diminuição do espaço entre as poltronas, para aumentar, em ambos os casos, o lucro. Ou a “eficiência” da empresa privatizada.
Nesse episódio, não faltou um Boris Kasoy a querer atribuir o fato à conta da re-estatização, ainda não concretizada, da empresa. Uma barriga que nem a Rede Globo, sempre de má-vontade com os Kirchner, quis comprar.
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