quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Relações promíscuas

1. O milionário mercado do livro didático vem sofrendo assédio de oligopólio transnacional com preciosa ajuda do deputado e ex-ministro Paulo Renato. O mesmo tucano que nesta semana foi flagrado pela Folha de São Paulo, de calças na mão, acolitando o Bradesco, contra o Banco do Brasil.
2. As duas caras de Zé Dirceu pela ótica da sua ex-mulher: A cara verdadeira, de quem o conhece, com suas falhas e virtudes, com seus acertos e erros, com suas qualidades e imperfeições. “Há, porém, uma outra cara: uma cara inventada pelos seus adversários...”
3. A “flexibilização” da legislação trabalhista, mundo afora, foi um dos apanágios da “modernidade” e da “globalização” que os macacos de imitação ecoavam com louvor em todos os recantos. Tempos de neoliberalismo predatório. Anos fernandinos.
4. A Boitempo Editorial realiza: três lançamentos, semana de debates e mesa-redonda para marcar os 90 anos da Revolução de 1917. Tem convidados de peso.


1. O livro didático, sob o risco da desnacionalização. A denúncia de doutrinação ideológica em livro didático distribuído pelo MEC, feita pelo diretor de jornalismo da TV Globo, Ali Kamel, parece ter trazido a público muito mais do que pretendia o autor: o jogo bruto de interesses financeiros em que se digladiam as grandes editoras pelo controle do mercado nacional de livros didáticos. Sem querer, Ali Kamel, presta um desserviço à oposição ao governo Lula, da qual é membro militante, levantando inadvertidamente a ponta do véu que encobre a promiscuidade entre gente tucana e o capital estrangeiro, pela desnacionalização do setor.

Em artigo do jornal O Globo – reproduzido por outros jornais – Ali Kamel condena a coleção didática Nova História Crítica, de Mário Schmidt, por “contrabando ideológico nas escolas públicas”. Também insinua que o MEC “incentiva” a adoção da obra. Mostra assim desconhecer que livros didáticos são antes avaliados por especialistas, em sistema de rodízio, nas universidades públicas. O MEC limita-se a reunir tais avaliações, imprimi-las e distribuí-las aos professores, sob a forma de Guia do Livro Didático, para facilitar o trabalho de seleção. E lembre-se de que a escolha do livro didático é prerrogativa inalienável dos professores.

A atual polêmica sobre o conteúdo do livro foi amplificada pela grande mídia em razão de seu suposto potencial de mobilização contra o governo Lula. O Brasil conta com um dos melhores sistemas de avaliação de livros didáticos do mundo. Adotado em 1996, é criticado pelas grandes editoras, constituídas em oligopólio multinacional, que alegam risco de “controle ideológico”. É que a liberdade atual de que desfruta o mercado de livros didáticos, com o apetitoso orçamento de R$ 620 milhões, já não permite a investida sorrateira e centralizada do lobby pela conquista do butim, como vinha ocorrendo no passado.

A investida de Kamel contra uma coleção didática de grande sucesso de vendas é uma ação orquestrada, repercutida em grande escala pela grande mídia. Em especial, pelo jornal espanhol El País e pelo ex-ministro tucano da Educação, o deputado Paulo Renato de Souza. Ocorre que El País é propriedade da empresa Santillana, que controla a editora Moderna – uma das que mais interesse tem no mercado brasileiro de livro didático. Ocorre, também, que a Santillana conta em seu corpo de consultores com o ex-ministro tucano. Promiscuidade que fez de Mônica Messenberg, braço direito do tucano no MEC, diretora lobista da editora Moderna.

Leia muito mais no esclarecedor artigo do deputado e jornalista Rui Falcão.

2. O maledicente autor de Duas Caras. Clara Becker, ex-mulher de José Dirceu, tornou pública carta que fez a Aguinaldo Silva - autor da novela Duas Caras. Clara rebate o novelista e diz que o ex-ministro Dirceu nunca foi vilão. O estopim da carta foi uma entrevista maledicente de Aguinaldo à Folha de S.Paulo. Ele declarou que a história de Dirceu e Clara inspirou a criação do protagonista da novela - que se casa por interesse, foge com o dinheiro da mulher e faz plástica para mudar de vida. "Uma pessoa que faz isso é capaz de qualquer coisa...”, disse o novelista, descontextualizando por completo as razões para as atitudes históricas de Dirceu.

Caçado pela ditadura militar, Dirceu fez plástica em Cuba para mudar de rosto e, de volta ao Brasil, casou-se usando falsa identidade para fugir do regime. Com a anistia, revelou à mulher sua atitude. Hoje, decepcionada com o autor da novela, pela comparação caluniosa, Clara reclama: "Se o senhor não gosta do político José Dirceu, se tem uma impressão negativa dele, esse é um direito sagrado que respeito integralmente". "Agora, por favor, não extravase sua raiva ou preconceito contra ele, falando de coisas que não são de seu conhecimento, como a relação que tivemos. Pois isso não atinge apenas a ele: atinge a mim e, sobretudo, a verdade".

Leia a matéria com a íntegra da carta de Clara Becker no Portal Vermelho.

3. A lenta morte dos direitos trabalhistas. O processo de alterações legislativas e jurisprudenciais dos últimos anos disfarça um caráter e um cunho nitidamente fascista, que consagram não só a perda dos direitos dos trabalhadores, como também o ensaio geral da grande ofensiva do cartel oportunista e revisionista contra as garantias trabalhistas (conquistadas) ao longo de décadas de luta. Em primeiro lugar, destacou-se o método de dividir para dominar, isto é, a escolha de atacar uma categoria de trabalhadores de cada vez, isolando-a das demais e jogando a sociedade contra ela. Uma das mais atingidas foi a dos trabalhadores de base.

Em termos de medidas de caráter geral que atingiram o conjunto da força de trabalho, o governo FHC impôs aos trabalhadores uma grande perda. A primeira delas foi introduzida pela Lei nº 9.601, de 1998, que se traduz na permissão de horas extras não-remuneradas. O famigerado banco de horas foi recebido pelos patrões como uma dádiva dos céus. Porém, para os trabalhadores, trata-se de um estelionato. Também foi criado o meio mais eficaz para o esvaziamento da Justiça: as chamadas comissões de conciliações prévias, através das quais, os trabalhadores passaram a ter a opção de dirimir suas questões frente a árbitros. Uma só faca, dois gumes.

Leia aqui íntegra da matéria da advogada trabalhista Sylvia Romano para o DIAP.

4. Três lançamentos da Boitempo. Para comemorar os 90 anos da Revolução Russa: O ano I da Revolução Russa, de Victor Serge; A Revolução de Outubro, de Leon Trotski; e uma edição especial da revista Margem Esquerda – Ensaios Marxistas. Também em outubro, a editora promove uma semana de debates sobre os impactos da Revolução de 1917. Vai ser realizada na PUC-SP, em parceria com o Centro Acadêmico de Ciências Sociais, entre os dias 16 e 19. A Boitempo também organiza, no dia 18, uma mesa na USP. Nos eventos, intelectuais de diferentes países analisam a importância histórica e a atualidade da Revolução Russa.

Roteiro da programação e resenhas dos lançamentos, clique aqui.

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