quarta-feira, 12 de agosto de 2009

D e s l e a l d a d e

"Cachorro mordido por cobra tem medo até de linguiça". A frase de Marco Aurélio Garcia, assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, embora pareça chula, dá a dimensão exata do que se pode esperar de sete bases militares ianques encravadas em nosso continente. A justificativa alegada pela Colômbia e pelos EUA, o combate ao narcotráfico, esbarra nas estreitas relações do governo da Colômbia com produtores e traficantes de drogas.

É bom lembrar que o Obama candidato, atendendo aos apelos de centrais sindicais dos EUA, barrou a entrada da Colômbia na Alca. Motivo: os assassinatos sistemáticos de lideranças sindicais e populares pelo governo de Álvaro Uribe. E mais: a aliança do governo colombiano com forças paramilitares e narcotraficantes cuja representação parlamentar de mais de 60 congressistas foi processada e/ou trancafiada pela Suprema Corte colombiana.

O cenário que desponta nesses acordos militares reproduz a estrutura consagrada no outro lado do mundo, onde o Império se associa militar e politicamente a Israel, um estado belicoso por excelência, para fazer frente ao “terrorismo” palestino. Aqui, o Império é o mesmo, e o sócio, por sua natureza nazi-fascista, não é diferente. Se não há as famosas armas de destruição em massa, servem os lança-foguetes suecos em mãos das Farc.

É, portanto, feliz e responsável a posição brasileira de não aceitar a versão dos Estados Unidos, por seu assessor de Segurança Nacional, general Jim Jones, sobre as bases militares que o país quer usar na Colômbia. Trata-se, é bom estarmos alerta, do país de perfil histórico mais agressivo e arbitrário que se conhece e de maior insubmissão às decisões de organizações multilaterais como a Organização das Nações Unidas. Pergunte-se ao Iraque.

Onde os Estados Unidos põem as botas, vidas, culturas, tradições são destroçadas em nome do ultrapassado “american way of life”, ou da falsa superioridade da cultura ocidental cristã. Por isso, o povo colombiano e da nossa América não pode deixar de temer que as bases de Malambo, Palanquero, Apiay, Tolemaida, Larandia, Cartagena e Bahía Málaga sejam transformadas em
uma grande Guantánamo espalhada pelas terras da Colômbia.

O consenso condenatório dos governos sul-americanos a essa suspeita parceria tem base em dossiê divulgado em abril, em seminário militar. No documento, a Força Aérea dos EUA defende o uso de uma base no centro da Colômbia como plataforma de longo alcance. O fato preocupa por contradizer a versão “franciscana” dos dois paises envolvidos de que não há objetivos estratégicos para aumentar a
presença intimidativa no continente.

Razão tem o ex-presidente cubano Fidel Castro ao qualificar dedeslealdadeo acordo de Uribe. Para Fidel, é “um insulto à inteligência” do povo latino-americano os argumentos esgrimidos por Colômbia e EUA, pois “o verdadeiro objetivo é o controle dos recursos econômicos, o domínio dos mercados e a luta contra as mudanças sociais”. Senão, para que tanto navio da IV Frota e tanto avião moderno de combate, como pergunta o velho líder.

domingo, 2 de agosto de 2009

Um bode na sala

Outros trinta e nove senadores maculam, igualmente ao Sarney, suas biografias. Alguns são alvos de inquéritos autorizados pelo Supremo Tribunal Federal, réus em ações penais e/ou envolvimento com nepotismo e atos secretos nos últimos anos. Este é o levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo que, seletivamente, reduziu sua pesquisa a apenas 30 membros do Conselho de Ética do Senado.

Explicando: cerca de quarenta senadores foram amplamente citados (depois, convenientemente esquecidos) por toda a mídia nacional no início da crise do Senado, hoje crise do Sarney. Todos envolvidos com os atos secretos que enlameiam o Senado. Todos igualmente condenáveis por terem praticados atos de igual gravidade. Se menos praticaram, é por que tiveram menos poder e oportunidade da prática malsã.

O senador Cristovam Buarque tem ato secreto nomeando a esposa para cargo público; Artur Virgilio confessou haver bancado, com patrocínio (“meu, seu, nosso”, como costuma dizer a mídia) do Senado, um comensal do seu gabinete por quase dois anos na Espanha; Virgilio também usou indevidamente dez mil dólares para tratamento de pessoa da sua família em Paris; Demóstenes Torres, Heráclito Fortes e Eliseu Resende têm seus nomes em boletins sigilosos ou casos de nepotismo.

Efraim Morais deveria responder por 52 servidores do Senado que batem ponto na belíssima e prazerosa cidade de João Pessoa e por ordenar pagamentos de horas extras a servidores do seu gabinete em pleno gozo de recesso parlamentar. Tasso Jereissati acha normal fretar jatinhos pelas burras do Senado. Outro tucano, Flexa Ribeiro, apoderou-se de uma rua (!!!) na prazerosa e belíssima Belém para um projeto imobiliário privado.

Quase todos têm usado indevidamente verbas indenizatórias, como o senador Agripino Maia as usou para pagamento de condomínio em morada de alto luxo em praia do Nordeste. É o mesmo que pagar com cartões corporativos despesas com tapioca ministerial ou com um pênis de borracha para dona Ruth Cardoso usar no seu projeto social. (fato que fez nossa mídia encerrar o assunto da crise que criou para os cartões corporativos).

É diferente nomear a esposa ou afilhado de nomear o namorado da neta? É menos ético o ato antiético praticado em menor quantidade? Pensando bem: Lula não teria razão para titular essa turma de pizzaiolos? Pois bem: Com a caça ao Sarney, prepara-se uma pizza gigante no Senado, com ajuda da grande imprensa. Assim, serão preservados de investigação os senadores que costumam afagar a mídia. Tira-se o bode da sala, salva-se a República.

O Manifesto