segunda-feira, 29 de julho de 2013

A bicicleta ideológica



Ouso fazer algumas reflexões sobre o texto a seguir de um incansável militante do bem, e poeta.
 “Quem foram os Vândalos e o que fizeram para entrarem para a história de modo tão jocoso? Teriam feito algo ainda mais aterrador que os Romanos ao destruírem Jerusalém no ano 70 d.C.? Seriam mais furiosos e insanos que os Hunos sob o comando de Átila? Pilharam mais que os espanhóis ao império Inca? Teriam tido mais desprezo pela humanidade que os comunistas nas ordens de Stalin ou Mao Tsé-Tung?
A relação do nome Vândalo com vandalismo se deu por causa da invasão de Roma em 455. Por duas semanas eles atacaram a cidade destruindo, principalmente, obras de artes. Muitas delas frutos dos saques a Jerusalém e Grécia pelos romanos. Tal foi agressão à cidade, às obras, muitas delas jamais foram restituídas, que chamou a atenção do Império Romano do Ocidente em franca decadência e demais povos da época, notadamente o Império Romano do Oriente.”
Convém lembrar, caro poeta, como consideração primeira, que nosso mundo ocidental civilizado e cristão copiou muitas práticas predatórias dos Vândalos. Basta ver milhares de peças pilhadas de antigas civilizações que hoje ornam os grandes museus de Londres, Paris, Nova York, Berlim. Foram, no entanto, duas preocupações que diante do texto acima assaltaram de minha mente, quem sabe, justificadamente ressabiada. Primeiro, que a as referências aos Vândalos não venha a ser utilizada de forma oportunista para condenar movimentos legítimos de trabalhadores e do povo na rua em luta por melhores condições de trabalho e de vida. Movimentos estes que nos enchem de esperança de que o povo volte com mais frequência a vibrar nas ruas e praças. E torço para que o movimento social continue passando ao largo das tediosas pautas genéricas, do tipo ‘cansei’ ou ‘contra a corrupção’, e outras do surrado varejo midiático, que nada reivindicam e nada propõem. A não ser evitar uma discussão mais profunda das nossas mazelas. Que continue a ser a esperança dos militantes do bem, e dos poetas. E, claro, de milhões de brasileiros que começam a ver a ‘água nova brotando’, do dizer do poeta.
Em segundo lugar, costumo ficar de pé atrás quando se menciona certo ‘desprezo pela humanidade’, que vez por outra se atribui, desde o começo da Guerra Fria até os dias de hoje, seletivamente, a dois importantes personagens de meados do século passado, Mao Tsé-Tung e Josef Stalin. E quais teriam sido os crimes desses senhores, ainda hoje celebrados em seus países de origem?
A propósito, permita-me lembrar a história de um cidadão, fronteiriço entre dois países, que diariamente passava na alfândega e cujo bagageiro da bicicleta trazia grande quantidade de coisas sem o menor valor fiscal, tralha, trecos enfim. Para encurtar a história ou para antecipar sua conclusão aos que ainda não sabem dela, descobriu-se, anos depois, o fronteiriço já muito bem situado, que sua riqueza provinha do contrabando de... bicicletas. Temo, pois, caro poeta, que muitos dos nossos mais cuidadosos textos, e não somente os nossos, possam involuntariamente servir como tralhas e trecos para encobrir bicicletas, ops, contrabandos. Isso também acontece e muito de modo voluntário, como instrumento ideológico, na grande mídia hegemônica mundial. Pois é mais que sabido que não é somente no Brasil que os donos da informação, donos do que deve ser dito ou escondido ou manipulado, são apenas meia dúzia de famílias. No mundo, também são meia dúzia de corporações que detêm o poder sobre mais de 90% de livros, revistas, jornais, TVs, rádios, internet... É justamente nesse arsenal midiático onde trafegam os fronteiriços, os marginais de todas as fronteiras do mundo, a pedalar suas insuspeitas bicicletas, levando em seu bagageiro uma tralha de informações cada vez mais massificada, a esconder o verdadeiro contrabando que fortalece seu oculto interesse ideológico.
Voltando à política do século passado, é por demais conhecida a guerra de informações e contra informações do período da Guerra Fria entre Ocidente e Oriente, entre as lideranças polarizadas de Washington e Moscou sobre o mundo. As informações em lados opostos dominadas pela CIA e pela KGB. Nós ocidentais fomos cobertos pelo sagrado manto da informação do lado de cá da famosa Cortina de Ferro, a assimilar somente a mitologia ocidental. Porisso, ainda hoje pouco sabemos sobre o que se convencionou chamar de ‘os crimes de Stalin e de Mao Tsé-Tung’, pois fomos impedidos por décadas de acessar informações do lado de lá. Ou as conhecemos pela versão passada, ainda hoje, pelo lado de cá. No entanto, tanto num lado como no outro, temos muita clareza dos estarrecedores crimes do mesmo período praticados pelo nazifascismo, que encheram campos de concentração, fornos crematórios e valas comuns de corpos de mortos-vivos, de cristãos e de comunistas, de judeus e de negros, de todos os credos e bandeiras. Crimes somente comparados ao despejar de bombas atômicas sobre importantes cidades japonesas, a botar abaixo tijolos, pedras e lajes de Hiroshima e Nagasaki. E a atingir populações inteiras pela morte, pela doença nuclear, passada de geração a geração. Uma ação, caro poeta, que o mundo civilizado ocidental e cristão, o lado de cá, portanto, praticou e que parece ter conseguido fazer o mundo esquecer sua autoria, como se fosse apenas uma tragédia inevitável, que certo dia apenas caíra do céu. E certamente vai ser esquecido enquanto continuarmos a colocar, em seu lugar, repetitivas histórias ainda mal contadas em suspeitosos bagageiros do tempo.

A mídia nem percebeu que é com ela o prudente 'alerta' do papa.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

FIO DESENCAPADO

Caro Renaldi. Você não era ainda nascido. Chovia e eu, menino dos meus sete anos, com meu pai e alguns pessedistas, ouvia atento um rádio à válvula. Contava-se nos dedos de uma mão os rádios existentes na nascente cidade de Tabira (aqui, cito a tecnologia de válvula para lembrar que naquelas distâncias ouvíamos mais ruídos que os comícios de Cristiano Machado para presidente da república, do velho PSD mineiro, no tempo em que essas três letras, como as outras, mereciam mais respeito. Descaminhos da política, no entanto, pra desespero de Seu Vino, avô de Savio e Semiramis, bisavô de Yuri, fez a disputa polarizar-se entre o Brigadeiro, UDN, e Getúlio, PTB. Acho que em política você já ouviu falar do termo ‘cristianização’, foi essa a primeira. Uma pequena digressão: Seu Vino saía lá da rua de Cima, vizinho que era de Zequinha Pires, udenista e dono de outro rádio, de vávulas, penso que o terceiro era de Caneca ou de Otacílio, também para ouvir sobre política e os jogos da copa de 50, disputada no Brasil, nossa grande decepção. Bom, Seu Vino, com suas conhecidas sandálias de rabicho, vinha pra nossa sala, na rua de Baixo, para escutar o nosso rádio, de válvulas, não sem antes dizer “- Eita, radiozinho udenista, aquele de Zequinha!”. É que o dono do rádio preferia as transmissões dos comícios do Brigadeiro. E além disso, a mídia daquele tempo, diferentemente da de hoje, não tinha vergonha de dizer de que lado estava). 
Voltando à nossa audiência radiofônica coletiva: um raio acabara de produzir os maiores ruídos que já ouvíramos naquele rádio, como em todos os rádios à válvula, e seria ótimo que fosse apenas esse o problema. Foi bem além e derrubou um poste de energia com fio desencapado na rua lamacenta, entre nossa casa e o bangalô de Miguel Batista, ou a casa de Severino Pires com muita água descendo a rua, agora totalmente escura. Cena rápida em minha lembrança de criança: duas mocinha mortas, um soldado bêbado, talvez por isso mesmo com o corpo apenas chamuscado por descargas elétricas. E o pior: o desespero de uma mãe pela tragédia das filhas. Diz Marcílio que inda hoje, sessenta anos depois, ela mora saudosa na rua da Granja. 
Anos depois, eu mais grandinho, à época meio assanhado quando via uma menininha bonita, fiquei doido quando vi a beleza de Salomé, menos 15 anos, eu um pouco mais, ela dos Leite, de Tuparetama (ainda se chamava Bom Jesus?). O problema é que outros dois meninos que, para efeito didático lhes daremos os nomes Carlos e João, também se assanharam pela beleza da menina. Pra encurtar, mais atrevido que era, ganhei a parada, além do namoro mais ingênuo e a menina mais linda de todo o universo. Pouco tempo depois, acho que logo após as férias, voltando ao internato em Pesqueira e Caruaru, Carlos, João e eu, recebemos, atônitos, a notícia da igualmente fulminante e trágica morte de Salomé, por descarga elétrica de fios desencapados nas ruas de Tuparetama. 
O sentimento de tragédia, da noite de ontem, a morte prematura de um jovem advogado, no Recife que se quer moderno, trouxe-me essas lembranças dos tempos de menino. Quando e onde somente havia rádios à válvula e uma rua de Cima, outra de Baixo. Onde percorriam, descuidadas, as meninas mais lindas do mundo.

PANO RÁPIDO: 
Avenida Visconde de Jequitinhonha - Recife - 11/06/2013
Leia aqui: Uma tragédia inaceitável
 

domingo, 2 de junho de 2013

 SUPREMA HUMILHAÇÃO
 por Leandro Fortes
O destempero de Joaquim Barbosa, o histórico de Gilmar Mendes, a pressa para Cézar Peluso poder votar, a omissão de todos os demais - tudo isso contribui para que o Brasil assista, atônito, o festival de vaidade e loucura que se instalou no STF a partir do julgamento do "mensalão".

A decisão de "fatiar" o julgamento, tomada sem base legal alguma, a partir do voluntarismo do ministro relator e também para se adequar à sanha da mídia, levou os advogados a apresentar, agora de manhã, uma petição ao tribunal para que, enfim, se esclareça em que tipo de Estado de Direito estamos vivendo, afinal.

Já passou da hora de se rever os métodos de indicação e permanência dos ministros do STF, muitos dos quais indicados apenas por questões políticas, boa parte sem o conhecimento jurídico e a capacidade formal para atuar como juiz.
 Os ministros Cármem Lúcia e Joaquim Borbosa, no décimo 
primeiro dia de julgamento do mensalão. Foto: Agência Brasil

Do blog do Leandro Fortes: http://www.cartacapital.com.br/blogs/leandro-fortes/suprema-humilhacao

quarta-feira, 22 de maio de 2013

19 de maio de 1890: nascimento de Hồ Chí Minh !
"O velho Tio Ho, como o chamavam as crianças e os jovens do Vietnã, marcou o século 20 e ganhou a admiração e o respeito do mundo com sua figura proeminente de revolucionário que se pôs à frente de seu povo para derrotar dois poderosos agressores, primeiro os franceses, depois os norte-americanos."
trecho de artigo de Luiz Manfredini, no Portal Vermelho.

Leia aqui: Texto completo
 

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Em busca de um discurso

sidnei pires

Vi essas cenas mais de uma vez.  Soube depois que se tratava de uma rotina quase semanal nos primeiros tempos. Senhores elegantes, às vezes senhoras, a desembarcar das classes executivas e a sair pelas áreas vips do aeroporto Juscelino Kubistchek.  Três a quatro carros pretos reluzentes, ladeados de batedores militares, em modernas Harley-Davidson. Um tratamento de conforto e segurança digno dos grandes chefes de estado que, naquele tempo muito menos, costumam nos visitar. A caravana não se dirigia ao Supremo, tampouco ao Congresso Nacional, muito menos ao Itamarati ou ao Planalto. O seu ansiado destino era muito mais importante, para eles e para a época: o Ministério da Fazenda. A sua origem, Washington, D, C., onde fica a sede do Fundo Monetário Internacional, o famigerado FMI.

Sobre o assunto, escrevi um texto para o Portal Vermelho, em março de 2010, ano da disputa Dilma x Serra. Naquela época, como nesta semana, na posse de Aécio Neves na presidência de PSDB, em reunião do tucanato de alta plumagem, o partido discutia o que vem discutindo desde 2002: qual a melhor forma de se apresentar ao eleitorado brasileiro, por falta de um projeto para o Brasil. Ainda na dúvida se faz o velho discurso elitista para as classes A e B ou se adquire algum cacoete para conseguir chegar e falar às classes C e D. 

Agora, o mais provável candidato traz uma vez mais a velha e duvidosa proposta de mostrar o partido com a cara das realizações de FHC. E qual seria esse discurso tão sedutor? 


Seria do "grampo do BNDES", as escutas telefônicas ilegais que mostravam FHC e ministros discutindo o leilão da Telebrás? Seria o da venda da Vale do Rio Doce aos amigos do tucanato, por cerca de um décimo do valor? Ou o de outras tantas privatarias, de amplo domínio público? Ou, quem sabe, o da habilidosa conquista de um segundo mandato mediante compra de votos parlamentares?  


Voltemos ao Ministério da Fazenda e aos agentes do FMI. Corria os fins dos anos 90 e esses agentes eram autorizados a, sem a menor cerimônia, remexer gavetas, fichários e pastas, onde estivessem as contas de Pedro Malan, o todo poderoso ministro da Fazenda de FHC. Eles queriam saber se estávamos seguindo os rigores de suas normas de proteção para os capitais e lucros dos seus não poucos investimentos no País. Precisavam checar se estávamos aplicando rigorosamente o Plano Real, o plano econômico criado por Rubem Ricupero durante o governo Itamar Franco. 


Esse cuidado e essa movimentação aumentaram muito, pouco antes da reeleição de FHC, como outro dia relembrou o atento Delfim Neto. O Brasil estava prestes a quebrar pela terceira vez sob o comando de FHC/Malan que insistiam em levar até as eleições a irresponsável equivalência do dólar com o real. Falência que não se concretizou por interferência direta de Bill Clinton, que, face o aumento do ‘perigo’ Lula, induziu o FMI reforçar o caixa brasileiro em mais quase uma centena de bilhões de dólares. Uma fortuna que, colocada em mãos quebradeiras, exigia o olho do dono e a humilhante bisbilhotice dos elegantes senhores e senhoras de Washington, D. C. Conhecemos o resto destaa história, desde o momento imediato à reeleição: o valor do real passou a ter a responsabilidade dos marcos e do espírito do Plano Real, sob as vistas estrangeiras constrangedoras, a cuidar do seu rico dinheirinho.


Inda bem que, mesmo de forma indireta e a custo de juros altíssimos, pagos pela economia do povo brasileiro, teve alguém para cuidar de significativa parte do patrimônio nacional. Um episódio da nossa história que barrou nosso caminho célere para as trevas em que se meteram Espanha, Grécia, Portugal, Irlanda, presas indefesas da voracidade do grande capital internacional.  


A história dos mandatos tucanos, pois, na presidência do País, seria um desastre para a construção de um discurso com um mínimo de credibilidade e de sedução do eleitor.


O Manifesto