terça-feira, 30 de junho de 2009

Retrocesso

O golpe de Honduras e a mídia brasileira

“O presidente violentamente sequestrado durante a madrugada por militares encapuzados, seguindo ao pé da letra o que indica o Manual de Operações da CIA e a Escola das América para os esquadrões da morte; uma carta de renúncia apócrifa que foi divulgada a fim de enganar e desmobilizar a população — e que foi de imediato retransmitida para todo o mundo pela rede CNN, sem confirmar previamente a veracidade da notícia;

a reação do povo que, consciente da manobra, sai às ruas para deter os tanques e os veículos do Exército com as mãos limpas e exigir o retorno de Zelaya à presidência; o corte da energia elétrica para impedir o funcionamento da rádio e da televisão e semear a confusão e o desânimo.” Foi assim que
Atilio A. Boron, Diretor do Programa Latino-americano de Educação a Distancia em Ciências Sociais, de Buenos Aires, descreveu o golpe hondurenho.

“O que aconteceu em Honduras põe em evidência a resistência que provoca nas estruturas tradicionais de poder qualquer tentativa de aprofundar a vida democrática”, disse mais Boron, lembrando que é o mesmo modelo do golpe de 2002 contra Chávez, na Venezuela, e da abortada tentativa contra Evo Morales, no ano passado. Devemos acrescentar que há desejos latentes muito semelhantes aqui no Brasil, na Argentina, no Equador...

A reação dessas estruturas tradicionais, de que fala Boron, pode ser conferida hoje (30/6) na fala de Miriam Leitão, na Rede Globo, e em editorial da Folha de S Paulo. Ao tempo em que condenam o golpe, eles também procuram justificá-lo pela tentativa do presidente Zelaya de modificar a constituição hondurenha, pela via da consulta popular. “Os dois lados erraram”, diz Miriam, “ao estilo Chávez”, completa a Folha. Fica, pois, justificado o golpe.

Não se vê a nossa mídia preocupada em informar os conteúdos de modernização dos instrumentos democráticos que encerram essas propostas de revisão constitucional. Nem o caráter amplo de representatividade dessas consultas. As informações pinçam apenas um dos itens da proposta, a possibilidade de reeleição do presidente, para condenar o texto que desconhecem. Os leitores, ouvintes, expectadores merecem mais respeito.

“É a fórmula consagrada pelo venezuelano Hugo Chávez”, diz a Folha. Pode ser. Mas, ela ganhou força nos anos do primeiro mandato de FHC, sem recorrer à via democrática de uma consulta popular. Muito pior: contando com a mais desbragada compra de votos de parlamentares já havida no Congresso Nacional, a inviabilizar qualquer reação oposicionista e a facilitar a mobilização das estruturas tradicionais, sob total silêncio da mídia.

O governo gasta muito e gasta mal?

"A indústria financeira dos países desenvolvidos recebeu em um ano quase dez vezes mais recursos do que todos os países pobres em quase meio século, segundo análise feita por especialistas da Campanha da ONU sobre as Metas do Milênio". É o que o experiente jornalista Clóvis Rossi, da Folha de S Paulo (26/6), diz ter lido no O Globo desta semana, na certa um texto perdido entre muitos que cobriam os suspeitos tumultos do Irã.

Em números, US$ 2 trilhões em 49 anos para os pobres e US$ 18 trilhões nos últimos 12 meses para os bancos. Para estes, garante-se a volta triunfante dos bônus milionários sem controle. Para aqueles, o aumento da fome crônica. E, segundo Rossi, a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) garante alimentar todos os famintos do mundo com apenas 1% do dinheiro dado aos “brancos de olhos azuis”.

A incompetência da humanidade em conter o avanço das desigualdades elevou o número dos cronicamente famintos pela primeira vez acima de 1 bilhão ( mais de 5 Brasis). São números de abril deste ano do jornal britânico
Financial Times que, equivocadamente, atribui o fato à persistência da crise dos alimentos do ano passado agravada com o desequilíbrio da economia mundial. E não à falta de investimento social.

“A situação atual lembra mais o aumento lento e impiedoso de uma maré, gradualmente arrastando mais e mais pessoas para as fileiras dos desnutridos”, diz o Financial Times de 7 de abril de 2009. Como se esse avanço gradual e incontido da fome fosse um fenômeno recente, atual. Como se o lucro – a base de sustentação do sistema capitalista – fosse fruto do cultivo da terra e não da eterna e exploração do homem pelo homem.

Na contramão da conveniente justificativa do Financial Times para o aumento da fome crônica no mundo estão significativos estudos do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) sobre a pobreza no Brasil, como divulgou a agência
Reuters (19/5). Pelos dados, 316 mil brasileiros foram alçados da linha da pobreza nos últimos 6 meses. São números pequenos, porém significativos por se tratar dos meses mais fortes da atual crise.

Os 316 mil vêm engrossar os mais de 30 milhões de brasileiros que saíram do andar de baixo nos últimos anos. Resultado que em nada atrapalha os bons resultados nas contas públicas – índices melhores que os exigidos pela União Europeia de seus membros, conforme dados do Correio Braziliense deste domingo (28/6). E reflete investimentos em políticas sociais que a mídia e políticos de oposição insistem serem “mau gasto do governo”.
O BOLETIM H S LIBERAL ESTARÁ DE FÉRIAS DURANTE O MÊS DE JULHO

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Laboratório iraniano da CIA


Operação Ajax

A notícia de uma suposta fraude eleitoral espalhou-se em Teerã como um rastilho de pólvora e levou às ruas os partidários do aiatolá Rafsanjani contra os do aiatolá Khamenei. Este caos foi ardilosamente tramado pela CIA (1) e resulta da inundação de mensagens SMS (2) contraditórias entre os iranianos. O analista político Thierry Meyssan relata de Paris essa nova experiência de guerra psicológica no Iran.

Não é a primeira vez, lembra Meyssan, que a CIA transforma o Iran em campo de experimentação de métodos inovadores de subversão. Agora tem uma nova arma: o domínio dos telefones móveis. Em março de 2000 a Secretária de Estado Madeleine Albright admitiu que em 1953 a mudança de regime no Iran teve o patrocínio do governo Eisenhower. Fato também reconhecido por Obama semanas atrás no Cairo.

O fato referido por Albright e por Obama foi a Operação Ajax, tramada pela CIA com apoio britânico, que resultou na destituição do governo do nacionalista do primeiro-ministro Mohammad Mossadegh que, com a ajuda do aiatolá Abou Kachani, havia nacionalizado os recursos petrolíferos do Iran. Na operação, a CIA forja um cenário que simula um levante popular quando se trata de uma operação bem planejada e secreta.

Desta vez, não foi diferente. Após a reeleição de Mahmoud Ahmadinejad, por previsível maioria, vastas manifestações opõem nas ruas de Teerã os partidários de Ahmadinejad e do aiatolá Khamenei, de um lado, aos partidários do candidato perdedor Hossein Mousavi e do ex-presidente aiatolá Rafsanjani, do outro. O fato traduz uma profunda divisão entre ampla maioria proletária nacionalista e uma pequena e média burguesia pró-ocidental.

Não é sem razão o apoio ostensivo dos EUA, França, Reino Unido e da grande imprensa ocidental, a “comunidade internacional”, à nova Operação Ájax que tenta pesar nos acontecimentos para remover o presidente reeleito e tentar acabar com a revolução islâmica. Uma interferência nos assuntos internos de um país soberano como não se viu nem de longe quando do massacre de milhares de palestinos indefesos na Faixa de Gaza pelo exército de Israel.

Pela rede de imprensa não alinhada VoltaireNet.org o leitor poderá ler inteiro teor do artigo de Thierry Meyssan sob o título “De Mossadegh a Ahmadinejad, a CIA e o laboratório iraniano”. O analista internacional demonstra a eficácia do SMS, moderno e prático instrumental de comunicação; como ele vem sendo utilizado na ocupação do Iraque, Afeganistão e Paquistão. E como a CIA acaba de aplicá-lo no processo iraniano.

(1) Central Intelligence Agency (CIA), em português Agência Central de Inteligência, é um serviço de inteligência (serviço de informações) dos Estados Unidos da América.

(2) Serviço de Mensagens Curtas ou Short Message Service (SMS) é um serviço disponível em telefones celulares digitais que permite o envio de mensagens curtas entre estes equipamentos e outros dispositivos de mão ou mesmo telefones fixos.


A coisa Berlusconi (*)

“Não vejo que outro nome lhe poderia dar. Uma coisa perigosamente parecida a um ser humano, uma coisa que dá festas, organiza orgias e manda em um país chamado Itália. Essa coisa, essa enfermidade, esse vírus ameaça ser a causa da morte moral do país de Verdi se um vômito profundo não consegue arrancá-lo da consciência dos italianos antes que o veneno acabe corroendo as veias e destroçando o coração de uma das mais ricas culturas europeias”.

“Os valores básicos da convivência humana são pisoteados todos os dias pelas patas viscosas da coisa Berlusconi que, entre seus múltiplos talentos, tem uma habilidade funambulesca (excêntrica, extravagante) para abusar das palavras, pervertendo-lhes a intenção e o sentido, como no caso do “Pólo da Liberdade”, que assim se chama o partido com que assaltou o poder”.

“Chamei delinquente a esta coisa e não me arrependo. Por razões de natureza semântica e social que outros poderão explicar melhor que eu, o termo delinquente tem na Itália uma carga negativa muito mais forte que em qualquer outro idioma falado na Europa. Foi para traduzir de forma clara e contundente o que penso da coisa Berlusconi que utilizei o termo na acepção (sentido) que a língua de Dante lhe vem dando habitualmente, embora seja mais do que duvidoso que Dante o tenha utilizado alguma vez”.

“Delinquência, no meu português, significa, de acordo com os dicionários e a prática corrente da comunicação, ‘ato de cometer delitos, desobedecer a leis ou a padrões morais’. A definição assenta na coisa Berlusconi sem uma prega, sem uma ruga, a ponto de se parecer mais a uma segunda pele que à roupa que se põe em cima”.

“Há anos a coisa Berlusconi vem cometendo delitos de variável mas sempre demonstrada gravidade. Para cúmulo, não só tem desobedecido a leis como, pior ainda, as tem mandado fabricar para salvaguarda dos seus interesses públicos e privados, de político, empresário e acompanhante de menores, e quanto aos padrões morais, nem vale a pena falar, não há quem não saiba em Itália e no mundo que a coisa Berlusconi há muito tempo que caiu na mais completa abjeção (baixeza, aviltamento, degradação)”.

“Este é o primeiro-ministro italiano, esta é a coisa que o povo italiano por duas vezes elegeu para que lhe servisse de modelo, este é o caminho da ruína para onde estão a ser arrastados os valores de liberdade e dignidade que impregnaram a música de Verdi e a ação política de Garibaldi, que fizeram da Itália do século XIX, durante a luta pela unificação, um guia espiritual da Europa e dos europeus. É isso que a coisa Berlusconi quer lançar para a cesta de lixo da História. Permitirão os italianos?”

(*) Texto do escritor português JOSÉ SARAMAGO, Nobel de Literatura, divulgado no jornal espanhol El País do último dia 6 de junho.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Perdas e danos



Estragos na Petrobrás

Estragos produzidos na Petrobrás, pelo governo FHC, visando desnacionalizá-la”. Foi como o presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET), Fernando Siqueira, descreveu as ações contra o Sistema Petrobrás nos anos do príncipe das privatizações. O artigo foi publicado no site da AEPET em abril/2009 quando os tucanos, por falta de discurso político, criaram uma CPI contra a Petrobrás. Em resumo:

As ações deletérias começaram quando FHC, ainda ministro, fez um corte de 52% no orçamento da Petrobrás previsto para o ano de 1994, sem nenhuma justificativa técnica. Prosseguiram com manipulações para menor da estrutura de preços: desvio de 3 bilhões de dólares anuais para o cartel internacional. Em 1995, a proibição de informações de estatais ante o Congresso Nacional facilitou as manipulações da imprensa privatista. (...)

Também em 1995, FHC deflagrou o contrato e a construção do Gasoduto Bolívia-Brasil, o pior contrato que a Petrobrás assinou em sua história. Atendeu aos interesses das estrangeiras Enron e Repsol, donas do gás da Bolívia. Para isso, suspendeu a construção de 15 hidrelétricas e provocou o “apagão” do setor no Brasil. Um contrato totalmente prejudicial aos interesses dos governos do Brasil e da Bolívia. (...)

Em 1995, o governo tentou desmoralizar o movimento sindical após 30 dias de greve, reprimida com tropas do Exército. Tentativa de calar a oposição às privatizações. No mesmo ano, cinco alterações profundas na Constituição incluíam o fim do monopólio da Estatal. Custo para o Congresso Nacional: barganha política, liberação de emendas, chantagens e compra de votos. Em 1996, outras manobras ampliam as ações privatistas. (...)

Em 1997, FHC criou a Agência Nacional do Petróleo e nomeou o genro, David Zylberstajn, que havia se notabilizado no governo de São Paulo pela desnacionalização de empresas de energia por preços irrisórios. Na sua posse, bradou no auditório repleto de estrangeiros: “O petróleo agora é vosso”. E passou a ser, como provam os generosos leilões de blocos de exploração cedidos à exploração do cartel internacional. (...)


1998, a Petrobrás é impedida pelo governo FHC de obter empréstimos baratos (6% ao ano) no exterior para tocar seus projetos, e de emitir debêntures que visavam à obtenção de recursos para os seus investimentos. No mesmo ano, FHC cria o REPETRO que libera as empresas estrangeiras do pagamento de impostos pelos seus produtos importados. Mas sem, contudo, dar a contrapartida às empresas nacionais. (...)

Isto, somado à abertura do mercado nacional iniciada por Fernando Collor, liquidou as 5.000 empresas fornecedoras de equipamentos para a Petrobrás, gerando desemprego e perda de tecnologias brutais para o País. A abertura do capital da Petrobrás à bolsa de Nova York resultou na desnacionalização de 30% das ações da empresa, vendidas por preços irrisórios (cerca de 10% do valor, como na venda/doação da Vale do Rio Doce). (...)

Um blog revolucionário

O movimento da mídia e de políticos da oposição em favor da CPI da Petrobrás não é somente uma manobra política oportunista, eleitoreira (por falta de um programa eleitoral para enfrentar o crescimento da aprovação ao governo). Também não é tão só uma jogada política de grupos de interesses que usa um senado por demais desmoralizado para tentar reaver antigos privilégios da grande empresa nacional.

É tudo isso, também, e muito mais. A CPI da Petrobrás é uma manobra urdida nos mesmos porões escusos da era FHC. O objetivo é tentar fragilizar a Estatal para desviar o foco das atuais discussões em torno de um novo marco legal que favorece o retorno do monopólio estatal sobre os combustíveis. Por que? A Petrobrás é, hoje, a quarta maior empresa do setor no mundo. É a primeira de maior credibilidade internacional.

Mais ainda: a Petrobrás é a única empresa do setor, em plena crise mundial, a manter seu cronograma de investimentos. Uma CPI, no entanto, pode ser prejudicial aos interesses da empresa e do próprio país, principalmente porque o sistema Petrobrás envolve amplos e diversos interesses corporativos. E, pelas manifestações prévias, teremos um festival de pirotecnia, bem ao gosto da mídia e políticos da oposição.

Para tentar barrar o comportamento habitualmente irresponsável da manipulação midiática e oposicionista no processo da CPI, a Petrobrás resolveu inovar: passará a dispor ao público todas as informações passadas à imprensa. Dessa forma, o leitor poderá conhecer as respostas da Petrobrás que a mídia e os políticos desprezam ou distorcem porque não atendem aos interesses de suas argumentações e pirotecnias.

Diante do revolucionário blog da Petrobrás, FATOS E DADOS (*) (inaugurado neste sábado, 6/06, e já obtendo quase 100 mil acessos), iram-se os principais jornais do país. Por que? Porque passam a perder o monopólio da informação e, consequentemente, o poder sobre os leitores. Porque permite aos leitores identificar o processo de manipulação com que usualmente se abusa das suas confianças e consciências críticas.

“A empresa tem o direito de se acautelar, através das informações que difunde no blog, contra as distorções em que os meios de comunicação têm incorrido, como a própria ABI registrou em matéria publicada da edição de 31 de maio de um dos jornais que agora se insurgem contra o blog da empresa”. É o que diz em carta a Associação Brasileira de Imprensa, que vê na reação dos jornais “inegável cunho político”.

(*) Leia aqui o blog Fatos e Dados: http://petrobrasfatosedados.wordpress.com/

O Manifesto