sábado, 30 de maio de 2009

Ligações perigosas

Álvaro Uribe, presidente da Colômbia


À semelhança da Gestapo

" – Boa tarde, me chamo Rodrigo Rosenberg Manzano; se você está vendo ou ouvindo esta mensagem é porque fui assassinado. Foi mesmo, mas esse respeitado advogado deixou registrado no vídeo o nome dos assassinos: o presidente da República, Álvaro Colón, sua mulher e um de seus ministros, tudo, segundo Rosenberg, para encobrir irregularidades em um banco público e ligações com o crime organizado”.

Assim relatou o jornalista Clóvis Rossi na Folha de S Paulo nesta sexta-feira, 29/5, não sem antes se incomodar pelo fato de a mídia brasileira tratar pouco da atual crise guatemalense. Não sem lhe parecer “evidente que o crime organizado estendeu seus tentáculos à política e ao aparelho de Estado, como já o havia feito na Colômbia e, agora, no México”. Assuntos completamente alheios aos brasileiros, por conta da mídia.

Colonizada, a nossa imprensa se “tranquiliza”, pelo fato de Colón afirmar que “o vídeo era parte de uma conspiração para desestabilizar seu governo”. Claro, claríssimo! Na Colômbia só pode ser parte da estratégia midiática das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, FARC. No México, onde operações do Exército e da Polícia Federal prenderam quase trinta prefeitos, “excesso de zelo” dos que combatem o narcotráfico.

Errado. Esses fatos, principalmente no que se refere à mídia, não deveriam surpreender a quem, como Rossi, sabe das entrelinhas do poder da nossa imprensa e da imprensa internacional. Veja-se o caso dos testes nucleares da Coréia do Norte: um corre-corre da “comunidade internacional” que nem de longe foi visto quando – mesmo proibidos por acordos multilaterais – a França, o Paquistão e a Índia pipocaram seus artefatos letais.

Nem pelo fato de estar tão perto de nós, a Colômbia incomoda os donos da notícia. Ali, Jorge Noguera, ex-diretor do DAS (principal agência de inteligência colombiana), homem de confiança do presidente Uribe Vélez, será julgado pela Corte Suprema de Justiça pelos assassinatos de sindicalistas, políticos da oposição e militantes de direitos humanos, que denunciaram o pacto entre o para-militarismo e a cúpula do poder.

As informações são da Agência de Notícias Nova Colômbia – ANNCOL – que, ao mesmo tempo, denunciou a participação do procurador geral, Alejandro Ordóñez, e da grande imprensa nacional, no processo de manobras de ordens jurídica e midiática para ocultar o terrorismo de estado. Fato que preocupa tanto à oposição interna quanto instituições internacionais, como a Organização Internacional do Trabalho, OIT.

À semelhança da Gestapo, polícia política hitlerista, o DAS uribista prepara listas de opositores a serem eliminados com base em espionagem ilegal que atinge quase todos os setores sociais da Colômbia. O terror do governo Uribe pouco a pouco preocupa e horroriza instituições humanitárias do mundo inteiro, por isso o interesse da ONU como de múltiplas associações de advogados em acompanhar de perto o processo colombiano.

Somente o leitor suficientemente forte deve abrir o link abaixo. Uma das cenas do que hoje acontece na Colômbia.

http://anncol-brasil.blogspot.com/2009/05/gestapo-colombiana.html

Tão perto de nós, tão longe da nossa imprensa.

“Um dos mais poderosos chefes do narcotráfico na Colômbia afirmou ter financiado a campanha eleitoral do presidente colombiano, Álvaro Uribe, alegando que era a única maneira de livrar o país da "ameaça comunista". Diego Murillo, conhecido como "Don Berna", foi condenado na quarta-feira por uma corte dos Estados Unidos a 31 anos de prisão e ao pagamento de US$ 4 milhões em multas pelo crime de narcotráfico”.

É o que reportou a BBC Brasil em 23/04/2009. E mais: “Após ser condenado, ‘Don Berna’ disse que fez campanha a favor de Uribe e que vendia drogas ‘para ajudar a seu povo’. ‘O acusado apoiou a eleição do presidente Uribe em 2002, doou grandes quantidades de dinheiro à sua campanha, fez campanha a seu favor (...) porque acreditava que a paz era importante’, disse Margaret Shalley, advogada de Murillo’”.

No começo deste mês de maio, a senadora colombiana Piedad Córdoba esteve no Brasil a convite do Senado, que logo descartou sua audiência conforme havia aprovado. É que se descobriu a tempo que a senadora não viria falar mal das FARC, mas sim do governo Uribe e de suas relações com os paramilitares e narcotraficantes. E das cerca de 70 prisões de parlamentares da base de apoio a Uribe, sustentáculos do crime na Colômbia.

O governo nega tanto o apoio de “Don Berna” quanto suas relações com os grupos paramilitares, responsáveis por milhares de assassinatos e outros crimes relacionados com o narcotráfico. Os grupos foram criados em 1980 com o financiamento de líderes de direita e de latifundiários, sob o pretexto de combater as guerrilhas. Eles também expulsaram milhares de camponeses e se apoderaram de suas pequenas propriedades.

No momento, congressistas governistas tentam aprovar uma reforma constitucional e um projeto de referendo para aprovar a candidatura de Uribe a um terceiro mandato presidencial. Tarefa difícil face ao número de parlamentares uribistas atrás das grades. Como os senadores Zulema Jattin e Jaime Alberto Llano, presos no último dia 11/5, acusados vínculos com grupos paramilitares de extrema-direita, segundo a BBC Brasil.

Também foi preso o senador Mario Uribe, primo e chefe do partido do presidente. Ele é mais um membro da “parapolítica”, grupo de congressistas da base do governo. Todos citados por chefes paramilitares das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), como “Don Berna” e Salvatore Mancuso. Todos acusados de fazerem acordos com os paramilitares e de receberem deles financiamento e apoio logístico para suas campanhas políticas.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Nazisionismo?


Projeto imobiliário em terras palestinas usurpadas fulmina a Paz.

“Há anos Israel promete que não haverá novas construções em terras expropriadas dos palestinos na Cisjordânia. O presidente Shimon Peres reiterou essa promessa recentemente ao primeiro-ministro tcheco, Mirek Topolanek, atual ocupante da presidência da União Europeia. Topolanek, em consequência, prometeu trabalhar para melhorar as (esgarçadas) relações entre Israel e a Europa”.

A informação acima é de Daphna Golan, professor de direito da Universidade Hebraica de Jerusalém. Segundo Golan, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu certamente iria repetir a Barack Obama mentiras iguais. (Leia íntegra no jornal Haaretz.com, de Israel, de 5/4). A despeito das promessas, os jornais de Jerusalém continuam a oferecer com apoio oficial, vantagens para quem quiser investir nas terras palestinas usurpadas.

O tom entre Israel e Europa tornou-se mais ríspido, conforme analisa Bettina Marx, do jornal alemão Deutsche Welle, de 08/5: “Ministro israelense (das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman) é recebido com frieza em sua primeira viagem diplomática à Europa. Se Israel não quer solução justa para o Oriente Médio, Europa deveria repensar estreita cooperação com Israel”.

A relação de Israel com a Europa tem sido “de crescente irritação”, desde o final da ocupação bélica da faixa de Gaza. Segundo Bettina, quando do encontro de ministros do Exterior, em Bruxelas, do qual participou a ministra israelense Tzipi Livni, “exigiu-se que Israel repense sua política de bloqueio com relação aos palestinos na Faixa de Gaza”. A Europa quer de Israel a solução de dois Estados.

Nesta segunda-feira (25/5), Juan Miguel Muñoz, de El Pais, dizia que o “Governo israelense de extrema-direita desafia a Europa”. Segundo ele, Israel desafia tanto Bruxelas quanto o governo Obama que exigem de Israel deter a construção nas colônias da Cisjordânia e a demolição de casas palestinas em Jerusalém Oriental, além de aceitar a negociação com os palestinos sobre a base dos dois Estados independentes.

Impassível, Netanyahu conra-ataca: "Não tenho a intenção de construir novos assentamentos, mas não faz sentido pedir para que não atendamos as necessidades geradas pelo crescimento natural de nossa população e interrompamos todas as construções", disse ele ao gabinete de ministros neste domingo. "Não vou dizer para que as pessoas não tenham filhos ou forçar os jovens a viver longe de suas famílias." Leia em BBC Brasil.

A posição do gabinete sionista contraria interesses tanto de palestinos (74%) quanto de israelenses (78%) que também desejam dois Estados, lado a lado, em paz. Assim revela uma pesquisa do One Voice Movement, conduzida por Colin Irwin, da Universidade de Liverpool, Nader Said, do Mundo Árabe para Pesquisa e Desenvolvimento na Cisjordânia e Mina Zemach, do Instituto Dahaf, em Tel-Aviv. Leia em Estadão.com.

A paz não interessa ao sionismo no poder

A conjuntura acima parece dar razão a Amira Haas, do jornal Haaretz.com (11/5). Para ela, “a paz não interessa a Israel”. Ela explica que os sucessivos governos israelenses, desde 1993, “sabiam o que faziam cada vez que não fizeram a paz com os palestinos”. Eles concluíram “que a paz implicaria graves prejuízos aos interesses nacionais israelenses". Esta parece a lógica do “moderno” sionismo, intolerante, belicoso.

Com efeito, a indústria da segurança é importante item na pauta de exportações de Israel. Armas, munições e refinamentos que são testados em Gaza e na Cisjordânia. Proteger as colônias também exige desenvolver a indústria da segurança. Alem disso, manter a ocupação e o estado de beligerância cria empregos para milhares de israelenses. Cerca de 70 mil pessoas são empregadas na indústria da segurança.

Segundo Amira, a cada ano, dezenas de milhares de israelenses concluem o serviço militar obrigatório e saem treinados para usar algum talento especial. Esse treinamento é o início de sua carreira profissional: soldados profissionais, agentes de espionagem, consultores, soldados mercenários, comerciantes de armas. A paz, portanto, faria sumir muitas carreiras num estrato social que tem enorme influência no governo.

Pela tese, a Paz prejudica a qualidade de vida, pois exigiria distribuição equitativa dos parcos recursos hídricos em todo o país (do rio ao mar) entre judeus e palestinos. Prejudica também para o bem-estar social, pois as colônias oferecem às pessoas comuns o que jamais teriam se dependessem dos salários para viver: terra barata, casas confortáveis, benefícios, subsídios, espaços abertos, paisagens.

Para a jornalista, a paz também eliminará o pretexto “de segurança” que justifica a segregação contra os árabes-israelenses, seja na distribuição de terras, dos recursos de desenvolvimento, educacionais, de saúde ou dos direitos humanos. “Gente que se tenha habituado aos privilégios próprios da discriminação étnica vê a justa distribuição de direitos como assalto a seus direitos adquiridos e ao seu próprio bem-estar”, diz Haas.

A busca da não-paz parece fazer soldados israelenses exibirem camisetas com imagens de bebês palestinos mortos e mesquitas destroçadas pelos bombardeios de Israel. Uma das camisetas, a da foto acima, de um soldado do exército de ocupação em Gaza, mostra o ventre de uma mulher palestina grávida na mira de um fuzil e a legenda emblemática: “Um tiro, dois mortos”. (Ler matéria do Haaretz.com, de 20/3) (7).

segunda-feira, 18 de maio de 2009

O petróleo é nosso

Barata tontice: Petrobras versus Petrobrax.

“Maus motivos levaram a um recurso parlamentar legítimo. Mas CPIs nascem (...) com um tema preciso e, depois, em geral o que menos prevalece é sua finalidade originária. Se isso ocorrer também agora, será mais do que possível uma virada da CPI contra a oposição. E, mais importante, será a oportunidade, nunca tardia, do exame das inúmeras barbaridades na Petrobras durante o governo Fernando Henrique”.

Sábias as palavras de JANIO DE FREITAS, na Folha de S Paulo deste Domingo (17/05). Para ele, “A Petrobras foi transformada pelo PSDB em arena das disputas preliminares da sucessão presidencial. Surrada pelo prestígio de Lula e incompetente por seu próprio demérito, a oposição conduzida pelo PSDB virou a velha barata tonta”. Janio acredita que tanto governo quanto oposição têm bons argumentos contra ou favor da CPI da Petrobras, à parte os motivos reais que os levem a defendê-los e exagerá-los.

“É verdade que a Petrobras tem deixado pelo caminho muitas práticas reprováveis. Muitas suspeitas”, daí a legitimidade do recurso oposicionista. Mas, “A oposição investiu na CPI (...) pelo motivo mais reprovável: o interesse meramente político”. E “Se o PSDB que agora clama pela CPI em defesa da "Petrobras que é um patrimônio do Brasil" tivesse, de fato, dedicação perceptível à coisa pública, seus congressistas não chegariam a condutas até sórdidas para impedir CPIs no governo Fernando Henrique”.

Dois dias antes, com a mesma argumentação, o jornalista Ronaldo Bicalho já desaconselhava “colocar a maior empresa brasileira ao sabor das veleidades político-midiáticas em um momento de profunda crise econômica mundial (...), intento óbvio de se criar dificuldade para o governo Lula, (...) clara manobra de enfraquecer a posição da empresa na negociação do novo marco regulatório para o pré-sal. (...) uma chantagem política cujo alvo não é o governo Lula, não é a Petrobras, mas o país”.

Tentando compreender a atitude impatriótica oposicionista, o sociólogo Emir Sader lembra que “os tucanos queriam privatizar a Petrobrás, como parte dos acordos assinados com o FMI. Trocaram o nome da empresa – orgulho e patrimônio nacional – para Petrobrax, para tirar essa marca de “Brasil”, negativa para eles. (Para) torná-la uma “empresa global”, a ser submetida a leilão no mercado internacional. Não conseguiram”.

Lembremos que o PSDB foi responsável pela quebra do monopólio do petróleo e também pela venda de mais de um terço das ações da Petrobrás na Bolsa de Nova York, por menos de 10% do seu valor real, como lamentou o presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras em entrevista ao Correio da Cidadania, em janeiro deste ano. Margem perdulária de mesma grandeza que da entrega da lucrativa Vale do Rio Doce.

Muito se especula, ainda, sobre a barata tontice do PSDB, que desonrou o acordo de líderes que subordinaria a criação da CPI a prévias explicações da Petrobras sobre as supostas irregularidades. Talvez, por mais confortável e menos comprometedor, fiquemos com a visão do presidente Lula de que se trata “briga de adolescentes”. Ou uma tentativa de desviar o foco da mídia da podridão espalhada pelo Senado.

Irresponsabilidade versus agenda positiva
“O que o PSDB gostaria é de privatizar a Petrobras” (Paulo Bernardo, ministro do Planejamento)

“Os dirigentes partidários percebem o crescente repúdio dos cidadãos ao comportamento da atual legislatura, que chegou ao nível mais baixo de quantas houve, desde a Assembleia Constituinte de 1823”, disse o consagrado escritor e jornalista Mauro Santayana. Não menos grave é a afirmação do mais longevo e dos mais lúcidos analistas políticos do Brasil, jornalista Villas-Bôas Corrêa: “É o pior Congresso que conheci”.

Daí, a temeridade e o inconveniente da CPI da Petrobras. Por que? Ouçamos, uma vez mais, JANIO DE FREITAS: “A ocasião da CPI é imprópria para a Petrobras por enfraquecer sua administração quando discute financiamentos internacionais, uma multidão de contratos com fornecedores estrangeiros, batalha contra pressões para entrega do pré-sal (descoberto com méritos e custos altíssimos da estatal) a concorrentes e a capitais privados”.

Mais: “Não há dúvida de que, sob uma CPI, a administração da empresa precisará desviar muita atenção das negociações e planejamentos em curso, e fará sob piores condições a continuação parcial desse trabalho. E o pré-sal, causa de toda essa ação atual na empresa, é estratégico não só para a Petrobras, porém ainda mais para o país”.

Em nada ajuda discutir o viés da falta de patriotismo como uma das possíveis causas do desespero tucano em desonrar um acordo de líderes e pouco se lixar para etapas prévias e necessárias, antes de se criar a CPI. Preferível elencar pequenas derrotas da oposição acumuladas nas últimas semanas, algumas emblematicamente omitidas pela grande imprensa, habitualmente generosa com os interesses de tucanos e demos.

Uma: Notícias de pesquisa de caráter nacional, citada por Jânio de Freitas, que eleva significativamente a intenção do brasileiro em votar em Dilma Rousseff para presidente.
Duas: A desmoralização da tese de que uma mexida necessária na caderneta de poupança seria prejudicial à poupança popular. Tese mentirosa e impatriótica que estimulou em parte ama corrida desnecessária e prejudicial da população aos bancos.

Três: O anúncio de viagem presidencial à Ásia com extensa lista de negociações favoráveis ao Brasil, entre elas o fortalecimento empresarial da Petrobras.
Quatro: O anúncio, que lemos no YAHOO! Notícias, de que a Petrobras acaba de se transformar na quarta empresa mais respeitada do mundo, segundo pesquisa divulgada pelo Reputation Institute, empresa privada de assessoria e pesquisa, com sede em Nova York.

Cinco: Pelas informações da AFP, via Portal Terra, a Unesco divulgou nesta quarta-feira a concessão ao presidente Luis Inácio Lula da Silva do “Prêmio de Fomento da Paz Félix Houphouët-Boigny 2008”. Entre os premiados anteriores, estão Mandela, Yitzhak Rabin, Shimon Peres, Yasser Arafat, Jimmy Carter e o rei Juan Carlos I da Espanha. A cerimônia de entrega do prêmio acontecerá em junho, em Paris. Que mais?

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Outras mídias

O debate sobre o PIB: "estamos fazendo a conta errrada"

Quando o navio petroleiro Exxon Valdez naufragou nas costas do Alaska, foi necessário contratar inúmeras empresas para limpar as costas, o que elevou fortemente o PIB da região. Como pode a destruição ambiental aumentar o PIB? Simplesmente porque o PIB calcula o volume de atividades econômicas, e não se são úteis ou nocivas.

Na metodologia atual, a poluição aparece como sendo ótima para a economia, e o IBAMA vai aparecer como o vilão que a impede de avançar.

A análise é de Ladislau Dowbor

"Crescer por crescer, é a filosofia da célula cancerosa" - Banner colocado por estudantes, na entrada de uma conferência sobre economia.

PIB, como todos devem saber, é o produto interno bruto. Para o comum dos mortais que não fazem contas macroeconômicas, trata-se da diferença entre aparecerem novas oportunidades de emprego (PIB em alta) ou ameaças de desemprego (PIB em baixa). Para o governo, é a diferença entre ganhar uma eleição e perdê-la.

Para os jornalistas, é uma ótima oportunidade para darem a impressão de entenderem do que se trata. Para os que se preocupam com a destruição do meio-ambiente, é uma causa de desespero. Para o economista que assina o presente artigo, é uma oportunidade para desancar o que é uma contabilidade clamorosamente deformada.

Leia o texto integral de Ladislau Dowbor em Carta Maior (*)

Stiglitz: crise é resultado do pensamento da direita

“O pensamento da direita sobre a economia de mercado — provou-se agora — está errado”, disse o prêmio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, que participa em Portugal de debates sobre a crise econômica global.

Por Osvaldo Bertolino

“Não há dúvida sobre isso. A direita dizia que os mercados se regulariam por si, se ajustariam por si, que se houvesse algum problema os mercados arranjariam-se por si e muito rapidamente”, disse Stiglitz, acrescentando que também “havia a noção da sobrevivência dos mais fortes”.“Mas os bancos mais prudentes não sobreviveram — foram os bancos que arriscaram mais que sobreviveram”, recordou, sublinhando que por isso mesmo a crise “fragilizou todas as teorias da direita”.

“Os meus trabalhos sempre foram muito claros em afirmar que os mercados são em geral ineficientes quando a informação é imperfeita. E a informação é sempre imperfeita”, afirmou.“Os mercados financeiros têm tudo a ver com informação, por isso era óbvio que os mercados por si só não iriam funcionar bem”, sintetizou. Stiglitz prevê para os próximos tempos “uma economia global muito fraca”. “O cenário mais provável é o de crescimento negativo este ano e não-crescimento para o ano que vem”, disse.

Stiglitz não vê portas que possam conduzir a uma saída da crise tão cedo. “Anteriormente os países saíam das crises com exportações, mas quando temos uma desaceleração global e sincronizada, não há ninguém para quem exportar”, afirmou o economista, acrescentando que “o modelo que funcionou em 1997/1998 não vai funcionar agora”. Ele usa expressões duras como “depravação moral das instituições financeiras” para classificar o comportamento dos bancos que, na sua opinião, “roubaram os sonhos e o dinheiro de muitas pessoas”.

Leia texto integral de Osvaldo Bertolino no Portal Vermelho (*)

Os russos estão voltando

Flávio Aguiar

Quando a União Soviética se dissolveu, em 1991, houve uma repartição de poderes muito especial. Aos poucos, restaurou-se o espírito czarista, com estrutura e hierarquia religiosa e tudo, mas um czarismo renovado, adaptado às novas necessidades e circunstâncias de um capitalismo selvagem com predomínio no mundo inteiro.

“Os russos estão chegando!” é o título de uma excelente comédia de Norman Jewinson, de 1966, que ganhou dois Globos de Ouro em 1967: melhor comédia e melhor ator de comédia, com Alan Arkin. O roteiro é uma adaptação feita por William Rose, de um romance de Nathanael Benchley, “The Off-Islanders”, de 1961. No romance, eram alemães; no filme, são russos de um submarino que encalha à beira de uma ilha da Nova Inglaterra, nos Estados Unidos, em plena Guerra Fria.

O comandante russo envia um destacamento à terra, liderado pelo tenente Rozanov (Arkin), para conseguir barcos que ajudem o submarino a desencalhar. E daí vai-se a comédia, com o contraponto de uma tripulação russa apavorada e de habitantes da ilha que resolvem tomar nas mãos o “manifest destiny” de acabar com os então soviéticos.

Claro, não falta um clima de melodrama porque o marinheiro russo (John Phillpi Law) ensaia um namorico com a jovem norte-americana (Andréa Dromm), tudo supervisionado por um elenco de primeira.

Além de Arkin lá estão Jonathan Winters, Brian Keith, Eva Marie-Saint, Carl Reiner, gente de primeira, muito melhor do que os Reagan, Bush, Putin e outros de que teremos de tratar neste artigo. Não viu? Corra na locadora mais próxima, para matar as saudades dos bons tempos em que a Guerra Fria tinha colorações ideológicas.

É, porque a atual não tem. A atual virou uma disputa de posições como antes da Primeira Guerra Mundial. Como assim? Vamos lá.

Leia o texto integral de Flávio Aguiar no Pravda (*)

sábado, 2 de maio de 2009

O bem público


Bem privado, responsabilidade pública.

A partir de julho, a publicidade poderá sumir dos canais de rádio e de televisão públicas espanholas (RTVE). O plano, do ministério da Economia da Espanha, é inspirado na reforma francesa para o setor. O projeto não prevê um aumento das taxas para compensar as perdas de receitas. A informação é do Le Monde, desta quinta-feira, 30/4.

Na Espanha, as duas redes nacionais de televisão (TVE1, TVE2), os seis canais de TV digital terrestre e as cinco rádios públicas são financiadas em partes iguais pelo orçamento geral do Estado e pela publicidade. Para eliminar a publicidade e garantir ao setor audiovisual público e a seus 6.400 funcionários o orçamento anual de 1,1 bilhão de euros, o governo quer taxar os canais privados em até 3% de seu faturamento.

Projetos de semelhante teor já circulam pela burocracia brasileira tentando transpor as barricadas erigidas pelo setor privado no Congresso Nacional, onde parlamentares são ilegitimamente donos de mais de 60% do setor. Naquele bunker, tudo que a Carta Magna receita para o bem maior do direito da sociedade à informação e à cultura, é lançado na vala ampla de uma esperta “contrariedade” à liberdade de imprensa.

A justeza da iniciativa espanhola é representada pela necessidade de se suprir a obrigação constitucional sonegada pelas empresas privadas que, lá como cá, não cumprem seu papel de oferecer o melhor da cultura ao cidadão. A não ser que se dê o nome de cultura a programas como Big Brothers, Fantástico, Novelas, Caldeirões de Hulk, de Ana Maria, Silvio, Gugu, Hebe. Nada há na TV aberta, pouco há na outra TV.

O que existe em nossa TV é um “processo de degradação a que está submetida a humanidade, a partir da família, pela qualidade das informações que recebemos pelos meios de comunicações 24 horas por dia", como afirmou o presidente Lula, durante o 3º Congresso Mundial de Enfrentamento da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, no Rio, em fins do ano passado. Preocupação que repercute a visão do mundo civilizado, e ante o que nosso empresariado midiático prefere silenciar.

Além de não ajudar no "processo de educação", a TV brasileira degrada a "estrutura da família". Como na expressiva fala presidencial: "Qual é o processo de educação que nós aprendemos quando ligamos uma televisão? Pelo contrário, o que nós assistimos, em muitos casos, é um processo de degradação da estrutura da família desse país". Nossa mídia prefere o conforto de considerar o fato como “mais uma crítica de Lula”. É claro.

A lição de casa

Carlos Menem, Alberto Fujimori e Fernando Henrique Cardoso são alguns dos governantes da América Latina dos anos 90 que certamente serão sempre lembrados por terem generosamente cedido aos apelos neoliberais do famoso Consenso de Washington. Uma sacação do Mercado para disseminar o culto ao Estado mínimo e o desmonte tanto irresponsável quanto nebuloso de grande parte do patrimônio nacional.

A maior parte da mídia brasileira costuma adular o sociólogo ex-presidente do Brasil atribuindo-lhe falsamente a autoria do Plano Real. Plano econômico concebido pelo então ministro Rubens Ricupero, no governo Itamar Franco, e ardilosamente utilizado como carro-chefe na a primeira eleição de FHC. Plano que foi conduzido com temerária demagogia até as vésperas da reeleição em 1998, um real valendo um dólar.

Temerária pelo risco de quebrar o País, em face das crises que espoucavam mundo afora. Tanto demagógico que, tão logo foi garantida a reeleição e a posse do príncipe, a economia nacional mudou de rumo e ganhou os contornos atuais, há tempos exigidos pelo FMI. Para proteger, é claro, seu vultoso investimento de quase U$ 100 bi, que evitou a falência do Brasil e, ao mesmo tempo, afastou o “perigo” da eleição de Lula.

Daí em diante, não mais um Plano Ricupero, mas um plano FMI. Como herança para os brasileiros, uma dívida imensa com o FMI, uma estratosférica taxa básica de juros, uma anêmica poupança em dólares, permanentemente comprometida com pagamentos de juros da dívida e uma grande desconfiança dos investidores internacionais. Hoje, não é necessário grande esforço para se perceber o quanto esse cenário mudou.

Vem daquela fase neoliberal a falsa premissa de que o investimento em políticas de interesse social está no rol dos “gastos do governo”. Hoje, a idéia conexa de “Inchaço da máquina pública”, tão alardeada pelos economistas ligados ao mercado financeiro, é outra falácia da retórica oposicionista. É o que atesta o jornalista Kennedy Alencar (KA). Testemunho insuspeito, visto habitual má-vontade dele com o governo Lula.

KA, na seção “Pensata” da Folha Online, de 18/04/2009, analisando os desdobramentos da crise gerada nos EUA, garante que “o Brasil fez a lição de casa” e que “Na economia, o governo Lula agiu com responsabilidade. Isso é um fato. O chamado inchaço da máquina pública é controverso.” Fundamentam sua opinião as despesas feitas com merenda escolar, os repasses a hospitais e os legítimos reajustes e recomposição da máquina, destroçada por irresponsável terceirização dos anos FHC.

Para KA, demonizar o gasto corrente é ideológico, em face da significativa redução da dívida pública. Que “foi possível porque o Brasil fez a lição de casa nos últimos anos. Não é mérito só de Lula, mas muito do mérito é do petista. Ele soube agir com responsabilidade na economia, equilibrando-se entres ações ortodoxas e heterodoxas.”

O Manifesto