terça-feira, 28 de agosto de 2007

Prioridade Agrícola 1

por Sidnei Liberal

Matéria de Jonathan Wheatley, no Financial Times de 3 de julho de 2007, sob o título Doce atração pelos biocombustíveis do Brasil, informa que a transnacional Noble Group acaba de comprar sua usina brasileira e já está duplicando o seu tamanho, pretendendo investir US$ 200 milhões. Outros grupos de investidores, internos e externos, já estão montando seus portfólios com base na cana-de-açúcar.

A ADM, estadunidense, está construindo uma usina em Mato Grosso e visa o negócio do açúcar e etanol. A Odebrecht se prepara para gastar até R$ 5 bilhões ao longo dos próximos cinco anos nesta área. Espera-se que o número de usinas em operação aumente das atuais 335 para algo em torno de 425 em 2012, cujos investimentos poderão totalizar US$ 15 bilhões.

Lembra Wheatley que o primeiro objetivo é o mercado brasileiro. Porque é a 10ª para 8ª maior economia do mundo; um dos maiores consumidores do etanol combustível; mais de 3/4 dos carros novos podem rodar a etanol, gasolina ou mistura dos dois combustíveis e a gasolina automotiva tem um quarto de etanol. E taxa anual de crescimento tendendo a 5%, o dobro dos crescimentos europeu e estadunidense, permite a manutenção da atual produção de veículos. O mercado internacional está cada vez mais entusiasmado, principalmente depois da intenção do presidente George W. Bush de aumentar o consumo de etanol para sete vezes a atual produção estadunidense até 2017.

Em matéria anterior o Financial informava que vários líderes nas Américas – o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) e o irmão do presidente Bush, Jeb Bush, que preside a Comissão Interamericana do Etanol - começaram a compartilhar do entusiasmo do presidente Lula, argumentando que a cooperação entre o norte sedento por energia e o sul rico em tecnologia poderiam formar a base de uma integração maior e de relações políticas mais saudáveis através do hemisfério. Em março, a Comissão Européia, o braço executivo do grupo de 27 países, estabeleceu que pelo menos 20% de toda a energia consumida pelo bloco devem ser provenientes de fontes renováveis até 2020.

E quais são as preocupações se o sonho de muitos investidores é que o Brasil se torne uma "Arábia Saudita verde", fornecendo ao mundo uma nova alternativa aos combustíveis fósseis?

Recente estudo divulgado pela FAO – o órgão das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – sugere que a crescente demanda por biocombustíveis está levando a uma alta dos preços internacionais de alguns alimentos. Leia aqui matéria da BBC Brasil sobre o assunto. Segundo Abdolreza Abbassian, um dos autores do estudo, “A produção brasileira ainda é maior que a demanda. Mas isso vai mudar a partir do momento em que as nações desenvolvidas decidirem liberalizar o mercado de etanol e eliminarem as tarifas sobre o álcool brasileiro”.

Ainda com informações da BBC-Brasil, o jornal espanhol El Mundo diz que a União Européia não quer "etanol sujo" do Brasil. Referência à desconfiança em relação às práticas de cultivo, vistas por líderes europeus como potencialmente danosas ao meio-ambiente. De Londres, o Financial Times também centrou sua matéria nas conseqüências ambientais. "A cana também não seria cultivada na Amazônia por razões climáticas, embora críticos digam que as plantações podem substituir culturas como a soja, e estas penetrariam na floresta amazônica." Produtores de cana de açúcar já estão avançando sobre o cerrado no Brasil, e plantadores de soja já estão destruindo a floresta amazônica.

Da Itália, La Republica lembra a recente libertação de 1.106 trabalhadores forçados de uma fazenda de cana-de-açúcar no Pará. "A operação de maquiar as condições de trabalho nas plantações de cana-de-açúcar indica que o presidente Lula precisa enfrentar as críticas contra a solução do etanol, que se tornou o próximo grande negócio da economia brasileira." "Nas plantações de etanol, milhares de camponeses emigrados do nordeste vivem da miserável paga de um euro por tonelada de cana, sujeitos aos abusos dos patrões e da precariedade”. Ainda estão longe de serem resolvidos: condições precárias de trabalho, conflitos violentos por terra, mortes e graves problemas de saúde devido à utilização de produtos químicos e ao desflorestamento.

Para complicar os passos do importante projeto brasileiro, Pablo Uchoa informa de Londres, pela BBC (clique e leia), que cerca de 200 organizações ambientalistas assinaram uma carta aberta em que qualificam de "grave ameaça disfarçada de verde" a idéia de elevar a produção e o consumo de biocombustíveis no mundo. "Ainda que isto pareça uma grande oportunidade para as economias do sul, a realidade demonstrou que as monoculturas para biocombustíveis, como de palmeiras, soja, cana-de-açúcar e milho, conduzem a uma maior destruição da biodiversidade e do sustento da população rural."

A América Latina seria a região do globo mais atingida por um eventual aumento de preços em conseqüência da produção acelerada de biocombustíveis, segundo o jornal americano The Christian Science Monitor. A indústria de frangos vê subir os preços das rações e consumidores mexicanos vêem dobrar, de um salto, o preço do tradicional pão de milho. Os ambientalistas preocupados com a quantidade de fertilizantes necessária às colheitas extras questionam se o etanol vai beneficiar ou prejudicar as economias latino-americanas. Segundo o jornal da cidade de Boston, a demanda por matérias-primas de biocombustível elevou em quase 50% o preço do milho no país entre agosto e dezembro do ano passado.

Em uma conferência internacional sobre biocombustíveis em Bruxelas, o presidente Lula procurou convencer a audiência européia de que o Brasil inspecionará seu etanol de exportação, para certificar que o produto respeita critérios ambientais, sociais e trabalhistas. Não parece uma tarefa fácil, posto que um verdadeiro cipoal de preocupações vem mobilizando personalidades e instituições no mundo inteiro, secundando uma das mais dramáticas reflexões do presidente Fidel Castro. Resulta emblemático que para se manter intocável a indústria automobilística – mesmo sabendo-se que cada veículo automotor corresponde a uma pessoa com desnutrição crônica, num total de 800 milhões – tende-se a trocar o alimento pelo combustível na prioridade agrícola global.

Prioridade Agrícola 1 publicada no Portal Vermelho

Cansados ...e sem povo.


Charge de Bira e Claudia. Ótimo registro.

EEUU, território sagrado?

IMPÉRIO: Decidida a construir um “escudo anti-mísseis” que poderia tornar o país potência nuclear única, a Casa Branca volta a agitar o cenário internacional. Mas a proposta é antiga, de eficácia duvidosa, e pode estar baseada numa visão messiânica sobre o papel dos EUA no mundo

Em um relatório de informações parlamentares, a Assembléia Nacional Francesa analisou os projetos norte-americanos de defesa anti-míssil. Publicado seis meses antes da destruição das torres gêmeas de Nova York, o documento interpretou tais projetos como algo baseado mais em uma “teologia política” do que em uma “análise estratégica”. Essa teologia seria dotada de uma trindade que podia ser identificada como: o fantasma da segurança absoluta dos Estados Unidos, o mito da fronteira (no caso, a fronteira tecnológica); uma dicotomia bons-maus.
O relatório denunciava: “O império do mal não é mais um Estado chamado União Soviética, mas uma categoria relativamente flutuante de Estados: hoje a Coréia do Norte, o Iraque ou o Irã; amanhã, talvez outros”.
No início de 2007, o anúncio da próxima instalação de elementos do programa norte-americano “Missile Defense” (Defesa contra mísseis) na Europa reintroduziu as especulações sobre o significado do programa. Os interceptores da Polônia e os radares tchecos levaram Moscou a reagir, inquietaram os “velhos europeus” e marginalizaram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), deixando-a repentinamente em situação muito embaraçosa.

Leia aqui a matéria de Olivier Zajec (Consultor da Companhia Européia de Inteligência Estratégica, Paris) para Le Monde Diplomatique, Julho 2007. Tradução de Wanda Brant.

Ricos Jogam Fora Mais de 30% da Comida

Ricos jogam fora mais de 30% da comida que compram

Famílias de países ricos jogam no lixo mais de 30% dos alimentos que compram, segundo um estudo apresentado na World Water Week, a conferência mundial sobre água que terminou na sexta-feira (17) em Estocolomo, na Suécia.
Esse desperdício coletivo significa também a perda de milhões de toneladas de água usadas para produzir os alimentos, disse o professor Jan Lundqvist, diretor do Comite Científico do Instituto Internacional da Água de Estocolmo (SIWI).
De acordo com o estudo, na Suécia, considerando-se apenas as famílias com crianças pequenas, 25% da comida comprada vai parar na cesta de lixo.
Nos Estados Unidos, os números mais recentes indicam que as famílias jogam fora cerca de meio quilo de comida por dia, o que equivale em media a 40% dos alimentos.
No Reino Unido, o desperdício é estimado entre 30% e 40%, num prejuízo avaliado em 20 bilhões de libras (cerca de R$ 82 bilhões) por ano.
"Comida é água"
"É preciso compreender que comida é água", afirma Lundqvist. "Nós bebemos um ou dois litros de água por dia, mas "comemos" toneladas de água todos os dias."
Segundo ele, a produção de um quilo de carne, por exemplo, exige de 10 a 15 toneladas de água. Para um quilo de arroz, são necessárias de uma a duas toneladas de água - ou mais, dependendo da região de cultivo.
Comer um prato de bife com batatas fritas significa "beber" de 1,5 a 2 toneladas de água, ou seja, a água usada para produzir esta porção de comida, diz o pesquisador.
O desperdício de alimentos e água ocorre tanto no mundo desenvolvido como nos países em desenvolvimento, afirma o cientista sueco. Mas, segundo ele, há uma distinção básica.
"Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, o problema do desperdício está mais concentrado no campo, com uma taxa média de 30% de perdas relacionadas ao armazenamento e transporte dos alimentos, especialmente nos países de clima mais quente e úmido. Na Europa e nos EUA, técnicas e mão-de-obra especializadas significam que o problema maior não está no campo, e sim nos lares."
Conforme o cientista, considerando-se o total jogado fora por consumidores, restaurantes e supermercados dos países ricos, assim como as perdas na cadeia de produção, a proporção do desperdício de alimentos no mundo desenvolvido é calculada entre 30% e 50%.
"Mudança de valores"
Ao ser questionado sobre o motivo desse desperdício, Lundqvist afirma que "é uma conjunção de fatores, que representa também uma mudança de valores em relação aos alimentos".
"Na nossa parte do mundo, ficou barato comprar comida. Os preços caíram, o poder de consumo aumentou. Os subsídios à agricultura significam que o preço da comida nas lojas é distorcido, e não reflete a realidade. As pessoas compram mais, e se não usam, simplesmente jogam fora. Minha geração foi ensinada a não desperdiçar comida, mas houve uma mudança de percepção nesse sentido", diz ele.
Segundo o cientista, outra razão do desperdício desnecessário de alimentos é a obediência cega aos rótulos dos fabricantes, que indicam na embalagem a data máxima aconselhada para o consumo.
"É ridiculo", afirma. "Se passar um dia da data indicada na embalagem para o consumo do leite, por exemplo, as pessoas dizem "oh, meu Deus" e jogam o leite fora. Ora, basta cheirar o leite para saber se de fato está estragado. No caso do leite, pode-se consumir mesmo uma semana após a data indicada na embalagem. É só cheirar para verificar. Com outros alimentos é a mesma coisa: basta provar."
Promoções do tipo "compre 2 e leve 3" também aumentam o volume do lixo doméstico. "As pessoas acabam comprando mais do que necessitam, e acabam jogando fora", diz o cientista. As pessoas também estão comendo demais, afirma o professor. "O mundo tem hoje 1,1 bilhão de pessoas obesas e acima do peso, de acordo com estatísticas da Organização Mundial de Saúde. Essas pessoas comem mais do que deveriam, e muitas delas tambémm jogam muita comida fora. É preciso lembrar que há 850 milhões de pessoas subnutridas no mundo. E que é também fundamental preservar a água do planeta."

matéria publicada em 18/08/2007 no Portal Vermelho

O Trabalho Mata Em Silencio

Provocar o suicídio de outrem é punido com três anos de prisão e 45 mil euros de multa, quando a provocação tiver sido seguida do suicídio ou de uma tentativa de suicídio (Código penal francês, artigo 223-13)
Triste recorde para a França, na liderança dos países nos quais o suicídio – especialmente entre os homens ativos – está crescendo continuamente, desde 1975. Foram 11 mil mortes por esta causa, em 2000, ‘‘ou seja, mais de um por hora’’, apontaram os sociólogos Christian Baudelot e Roger Establet. No livro, tão preciso quanto inquietante, afirmaram: ‘‘Em toda parte e como sempre, são contradições graves entre as exigências da vida social e o destino individual [1]”. Segundo dados recentes fornecidos pelo Instituto Nacional da Saúde e da Pesquisa Médica (Inserm, em francês), o número de mortes por suicídio estabilizou-se em cerca de 12 mil casos por ano.
Criar e proteger: prazeres que matam, quando viram obsessão; Câncer provocado pelo trabalho: um caso clássico de subestimação; Em duas décadas, dobra a incidência do mal: que conclusões tirar? Vasta série de possíveis agentes cancerígenos nunca pesquisados; Estranha invisibilidade de câncer profissional na sociedade. São abordagens pontuais desta interessante matéria do Diplô (agora em forma impressa, em português, nas bancas brasileiras).

Clique aqui: http://diplo.uol.com.br/2007-07,a1687 e leia matéria de Annie Thebaud-Mony, tradução de Elisabete de Almeida, para Le Monde Diplomatique, Edições Mensais de Julho/2007

A Enciclopedia Contemporânea da América Latina e do Caribe ganha o Jabuti 2007

SÃO PAULO - A Enciclopédia Contemporânea da América Latina e do Caribe, publicada pela Boitempo Editorial e coordenada por nosso articulista Emir Sader e por Ivana Jinkings, ganhou o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, na categoria Ciências Humanas. O prêmio Jabuti, que tem curadoria de José Goldfarb, é dos mais antigos em atividade no Brasil, e dos de maior prestígio.
A Enciclopédia tem cerca de 1400 páginas, e quase mil verbetes sobre os mais variados assuntos, de política a gastronomia, de literatura a esportes, e assim por diante. Trata da América Latina e do Caribe a partir de 1950, embora em seus verbetes haja referências históricas anteriores.
Ela contou com 120 colaboradores de muitos países, entre eles vários colaboradores ou redatores da Carta Maior, como Ana Esther Ceceña, Atilio Boron, Flávio Wolf de Aguiar, Francisco de Oliveira, Gian-Carlo Delgado Ramos, Gilberto Maringoni, Marcel Gomes, Marcio Pochmann, Pablo Gentili, Ricardo Antunes. No seu Conselho Consultivo estão Boaventura de Souza Santos, Eduardo Galeano, István Mezsáros, Marilena Chauí, Michael Löwy e Pablo González Casanova.
“É dessa América Latina, que emerge como um conjunto para si, por meio de caminhos próprios, que este volume trata. Como um instrumento fundamental de auto-conhecimento e de divulgação de um espaço geográfico, histórico, cultural muito maior que a submissão com a qual foi historicamente identificado" (Ivana Jinkings).

AQUI a notícia completa escrita por Flávio Aguiar para Carta Maior

Questão de Prioridades

Impressiona até os desavisados o poderio esportivo de Cuba. A pequena ilha do Caribe possui em torno de 11 milhões de habitantes, 20 vezes menos que o Brasil, mas mesmo assim consegue resultados extraordinários em quase todos os esportes. (...) fruto de uma política pública que promove maciçamente a aproximação de todos os cidadãos com a atividade física e com o esporte. As conseqüências são várias. Além de terem se tornado uma potência mundial na área esportiva, melhorias da saúde na população e capacitação educacional são os pontos mais relevantes.
(...) Somos uma nação mais rica, com vocação para os mais diversos esportes, não estamos sob bloqueio econômico, como os cubanos estão desde a revolução de 1959, e temos acesso ao que há de mais moderno em relação a equipamentos...
(...) Nossas perspectivas são muito mais viáveis que as deles, que, no entanto, se mostram muito mais competentes e com resultados muito além dos que conseguimos historicamente. Para dar uma idéia das condições que os cubanos possuem para desenvolver o seu potencial, mostrarei o que lá vi quando visitei a Ilha, há alguns anos. Conhecer Cuba é um misto de vários estímulos que se misturam indefinidamente, criando sensações únicas...

Leia aqui a matéria inteira do Doutor Sócrates na Carta Capital do último 8 de agosto.

Colômbia sofre de "genocídio" sindicalista

A situação dos sindicalistas do país não passou despercebida entre senadores democratas nos EUA, que dizem que o governo de Bogotá deve fazer mais para reprimir esses assassinatos. A questão tornou-se importante obstáculo ao fechamento de um acordo de comércio bilateral com Washington, descarrilado por escândalos internos e violações de direitos humanos. "A Colômbia ainda é o país com maior número de sindicalistas mortos no mundo, e isso é preocupante", diz Harry Reid, líder da maioria do Senado.
A Federação de Sindicatos Central da Colômbia, maior confederação trabalhista do país, acredita que as preocupações democratas são bem fundadas: “Membros do sindicato enfrentam perseguição diária pelo país e são impedidos de desempenhar atividades legais do sindicato...” A Anistia Internacional concorda. "Os sindicalistas da Colômbia estão recebendo uma mensagem clara: não reclamem das condições de trabalho nem façam campanha para proteger seus direitos porque vocês serão silenciados, a qualquer custo".
Desde 1987, mais de 2.500 sindicalistas foram assassinados na Colômbia – um genocídio. Um recente relatório da Anistia Internacional salienta que seis entre cada 10 sindicalistas assassinados no mundo são colombianos. Até agora neste ano, 20 membros de sindicatos foram mortos no país, na maioria professores e funcionários da saúde.

Está aqui a matéria integral de Anastásia Moloney, tradução de Deborah weinberg. Fonte: Comitê de Solidariedade ao Povo Colombiano

O Manifesto