domingo, 2 de janeiro de 2011

Uma tarefa para Lula

Uma tarefa para Lula

Lula não deixará a política. Nem tem este direito. A política brasileira já não prescinde da sua presença. Fica menor. Agora, mais livre, ele poderá enfrentar questões que a liturgia do cargo que até aqui ocupava lhe impedia de enfrentar. A começar pelo “mensalão”, termo usado pela maléfica “genialidade” marqueteira de Roberto Jefferson e habilmente consagrado pela oportunista mídia nacional, ávida por um grave tropeço de Lula que lhe impedisse a reeleição. Não é demais nem se configura uma indelicadeza tentar oferecer-lhe algumas reflexões que a observação crítica e pretensiosamente fértil de um estudante de jornalismo pôde amealhar. Principalmente em tempos de vacas magras para o Jornalismo, cada vez mais subordinado aos interesses imediatos dos donos de jornal.

O termo “mensalão”, com seu significado de quantia supostamente paga mensalmente, ou com outra periodicidade, a deputados para votarem a favor de projetos de interesse do poder executivo, tem por origem a compra de votos de deputados resistentes a votar a emenda que deu ao presidente FHC a oportunidade da reeleição. Caso comprovado à época por confissões públicas dos próprios beneficiários. Embora diferentes, nem um nem outro fato é mais nem menos condenável do que o outro. Os procedimentos que envolveram deputados da base de apoio ao presidente Lula, alguns do seu próprio partido, têm relação com diversas formas de financiamento de partidos e candidatos diante do processo eleitoral. Foram chamados de “mensalão”, embora nenhum dos fatos relacionados em processos próprios tivesse pagamentos parcelados, mensais ou não.

A diferença serve apenas para mostrar o nível de envolvimento político da grande mídia, que, mesmo ciente da sua impropriedade, resolveu adotar o termo jocoso de Jefferson. Apesar de o deputado ter tido seu mandato cassado justamente porque a Comissão de Ética da Câmara dos Deputados não acolheu sua tese do “mensalão”, atribuída ao seu acuamento por ter-se envolvido pessoalmente com corrupção nos Correios. Os resultados da CPI, encaminhados pelo Ministério Público Federal ao Supremo, resultou no indiciamento de 39 pessoas, entre as quais sete são deputados filiados ao partido do presidente Lula. A maioria das “provas” é fruto do denuncismo oposicionista e forte alarido midiático.

Os recursos do “mensalão” são, na realidade, o tradicional caixa 2, consagrado pela prática deletéria dos partidos brasileiros. Há os recursos de origem conhecida, mas não declarada por grandes doadores, por conveniências suspeitas ou injustificáveis. Aqueles que têm origem em contratos com práticas de superfaturamento de obras, prática que coloca as grandes construtoras entre as instituições corruptoras mais visíveis. Odebrecht, Camargo Correa, OAS... A Alstom, processada por práticas nocivas em alguns países europeus, foi importada para o Brasil pelo governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB). Produziu algumas contas em bancos suíços. Outros têm origem em operações sofisticadas casadas com instituições oficiais ou mistas. Como as que supostamente foram comandadas por Marcos Valério, desde a eleição de Eduardo Azeredo (PSDB) para o governo de Minas Gerais. Retomadas no “mensalão”.

A ainda suposta participação de alguns petistas, e outros da base de apoio ao governo Lula, não dá razão a nossa mídia de alardear que o governo e o PT foram levados às barras da justiça. Nem que o PT transigiu com sua tradicional postura de defensor da ética. Por quê? Porque o governo Lula é muito maior que uma meia dúzia de supostos transgressores da boa prática republicana. Porque o PT é muito mais que meia dúzia de envolvidos: São mais de 900 mil filiados que continuam a encontrar no seu partido o espaço de sua militância ética. Coisa de dar inveja a outros partidos, principalmente do campo oposicionista, de pífia ou nenhuma capacidade política militante.

Esquece ou omite a nossa mídia que os fatos chamados de “mensalão” vieram a público por iniciativa de instituições do próprio governo. Polícia Federal, Ministério Público, Controladoria Geral da União, são órgãos federais que deram transparência à administração Lula. Que mostraram e tomaram a s providências que deveriam ser tomadas. Diferentemente de governos anteriores, campeões de CPIs engavetadas, de escândalos jogados para baixo dos tapetes do Planalto. Uma história que merece uma melhor apuração, longe das paixões militantes da mídia decadente e da indigente oposição brasileira. Uma tarefa para Lula, agora livre. Mãos livres, sentimentos livres.


Sidnei Liberal

O Manifesto