terça-feira, 30 de outubro de 2007

Assalto ao Céu

1. Jô Soares exercita seu habitual preconceito amparado na reengenharia neoliberal do conceito de “liberdade de imprensa”. 2. Multinacional contribui para ampliar as estatísticas do assassinato de trabalhadores brasileiros no campo. 3. “Democratas”, que defendem o trabalho escravo, e “Socialistas”, que são a asa direta do tucano, querem seus infiéis de volta. Afinal, quem traiu quem? 4. O Ministério Público do Principado de Mônaco acatou documentos que vão trazer de volta o banqueiro fujão Cacciola. Pânico no tucanato! 5. Há noventa anos homens e mulheres tomaram o céu de assalto.

Jô Soares passa dos limites em programa racista e pedófilo. Enviado pelo Movimento de Mulheres Negras do Rio de Janeiro, o link de recente programa do Jô Soares mostra a entrevista um sujeito que atende pelo nome de Rui Moraes e Castro, que relaciona o penteado das mulheres negras de Angola com as suas vaginas. Entre outras coisas o tal mostra um corte de cabelo, que segundo ele foi armado com bosta de boi e fala que aquela mulher quer mostrar que está “mais apertada”. Em resumo: “como o negro começa sua relação sexual com seis, sete anos e essa mulher já tem 20, 21 anos ela está velha, acabada, larga”.

Então ela fez uma operação no clitóris a sangue frio, com uma faca de sapateiro, e fica mais fechada. “Com esse cabelo ela está dizendo ao homem que voltou a ficar fechada e que vai dar tanto gozo ao homem como uma garota de sete ou oito anos...”. Sabe o que o Jô fez? Divertiu-se a beça com a história. E continuou a entrevista com preconceitos e histórias horrorosas assim por mais uns cinco minutos. Os produtores do Jô, e o próprio, conhecem bem as regras do jogo: Não é permitida ao concessionário de sinal televisivo ou de rádio a divulgação de informação ou programação que incentive o preconceito de cor, raça ou credo.
Leia e veja o vídeo preconceituoso na revista Fórum.

Pistoleiros executam agricultor no Paraná em defesa da multinacional Syngen. Milícias armadas que agiam em defesa da multinacional Syngenta Seeds no estado do Paraná, mataram o agricultor Valmir Mota e deixaram mais cinco trabalhadores gravemente feridos neste domingo (21). Os camponeses ligados a Via Campesina foram surpreendidos em um ataque realizado em um acampamento no campo de experimento da multinacional no município de Santa Tereza do Oeste (PR). Aproximadamente 40 pistoleiros invadiram o local e abriram fogo contra os trabalhadores. Os agricultores também foram espancados.

A ação foi realizada depois que os agricultores reocuparam a área da multinacional, buscando dar continuidade à denúncia do cultivo ilegal de reprodução de sementes transgênicas de soja e milho realizado pela multinacional. A ONG Terra de Direitos aponta por meio de imagens, que na hora da ocupação dos agricultores os seguranças deixaram o local e, quatro horas depois, retornaram em um micro-ônibus com os pistoleiros, o que segundo a ONG, confirma que a ação já estava planejada. Há denúncia da existência de um consórcio entre a Syngenta e associações de produtores rurais para realizarem ações como esta em conflitos agrários.
Leia matéria integral de Gisele Barbieri para Radioagência NP.

DEMO e PPS, os incríveis partidos que encolheram. Ranier Bragon e Felipe Seligman informam na Folha de S. Paulo de 18 de outubro que dirigentes do DEMO e do PPS vão recorrer à Justiça para que os que abandonaram suas fileiras devolvam seus mandatos. Isso porque, além de um desempenho pífio nas últimas eleições, quando encolheram para caber na Kombi dos ressentidos, eles ainda perderam alguns dos que conseguiram se eleger, especialmente prefeitos – eleitos em 2004, portanto, antes da tsunami do ano passado que quase matou os dois partidos. "Vamos buscar o que é nosso”, afirmou o demo-deputado Rodrigo Maia.

"Vou sim buscar o cargo de todos os que saíram do PPS", reage Roberto Freire. Pergunta Mello, o bloguista: - E quando quem muda é o partido? Como ficam aqueles que se elegeram pelo PFL e de repente se viram transformados em DEMOS? Como ficam aqueles camaradas do Partido Comunista (para os que não se lembram, o PPS nasceu do antigo PCB) que viram seu partido se transformar a tal ponto, que hoje é apenas a asa direita dos tucanos? E se alguém gritar “Eu quero meu PFL de volta! Quero de novo meu PCB!”, como é que fica? Quem tem que recorrer à Justiça para segurar seus filiados é porque já perdeu o bonde da História.
Com informações do blog do Mello.

Mais Do blog do Mello. Cacciola, o banqueiro que deu um prejuízo de R$ 1,5 bi ao país, vem aí e já disse que vai abrir o bico. A turma tucana é que não deve estar gostando nada da brincadeira. Para quem não se lembra, na época de sua prisão Cacciola chegou a tentar um acordo com a Polícia Federal. Ele disse que contaria tudo o que sabia sobre o esquema, em troca de um abrandamento da pena. Só que ele fugiu antes, logo após uma providencial liminar concedida pelo ministro Marco Aurélio Mello. Se vários integrantes do BC do governo FHC foram condenados pela operação, sem que Cacciola abrisse o bico, imagine o leitor...

O ano I do assalto ao céu. Noventa anos depois da vitória da Revolução Russa, parece difícil reconstruir o que foi o ano de 1917 para a História posterior. Basta dizer que naquele ano os EUA, depois de terem teorizado seu isolacionismo, distanciando-se da guerra na Europa, deram uma virada drástica e seu governo resolveu mobilizar a opinião pública para intervir no conflito bélico. Entrariam para decidir a guerra e, principalmente, debilitar o concorrente imediato à sucessão da Inglaterra decadente como nova potência hegemônica. Ao mesmo tempo, a Rússia, com a vitória bolchevique, se retirava da guerra.

Começava a se desenhar o mundo bipolar da segunda metade do século naquele duplo movimento. Hoje, o clima instalado após o fim da URSS torna quase impossível imaginar o impacto que a Revolução Russa representou para a História da humanidade. Em 1917 se instalava o primeiro governo que se proclamara operário-camponês, que rompia com o capitalismo e o bloco de potências imperialistas. O livro de Victor Serge, O ano I da Revolução Russa, publicado em belíssima edição pela Boitempo, permite a melhor reconstrução daquele momento mágico de “assalto ao céu”, em que todas as utopias andavam soltas.

(...). Hoje, o destino do capitalismo e do socialismo continua aberto. Os tempos heróicos descritos por Victor Serge servem para sentirmos de perto os sonhos, os dramas e os impasses que um processo revolucionário contém no seu bojo. São os momentos em que a história está mais perto de ser definida pela ação consciente dos homens. Não por acaso a Revolução Francesa, a Revolução Russa, a Revolução Chinesa, a Revolução Cubana foram incorporadas definitivamente ao acervo dos maiores momentos da História da humanidade. Momentos em que os homens e as mulheres puderam tomar o céu por assalto.
Leia o texto inteiro de Emir Sader no blog do Emir.

BRINDE:

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

A mídia, um polêmico ator político.

1. A mídia perdeu seu protagonismo e converteu-se em polêmico ator político. Por seu lado, a Venezuela propõe outro conceito: a mídia já não é um poder em seu sentido clássico. É uma concessão pública de informação e comunicação.
2. Virginia Vallejo revela que o atual presidente colombiano, quando foi diretor da Aeronáutica, de 1980 a 1982, “concedeu dezenas de licenças para pistas de pouso para os aviões... com os quais se construiu toda a infra-estrutura do narcotráfico”.
3. O problema não é o presidente ter tido um filho não assumido publicamente, mas saber até que ponto a Globo tinha ligação com o Planalto. E porque mandaram a jornalista para a Europa, de onde em 11 anos ela não mandou uma única matéria.
4. La izquierda parece haber perdido la batalla de las ideas. Porque su experiencia gubernamental la llevó a bloquear salarios, cerrar fábricas, eliminar empleos, liquidar las cuencas industriales y privatizar parte del sector público.

1. Quarto poder. Mas, que poder? O jornal Página 12, de 17 de setembro, publicou texto de Dario Pignotti sob o título “O Presidente enfrenta a rede Globo de televisão no Brasil”. Por ele, os argentinos ficaram sabendo que o casamento ideológico/econômico entre Marinho e os militares golpistas de 64 resultou na constituição do maior império da informação na América do Sul e garantiu aos milicos uma defesa permanente da mais longa e perversa ditadura da nossa história. Após 20 anos de ditadura, a Globo ainda pregava uma abertura “lenta, gradual e segura”, a despeito de o povo já estar nas ruas exigindo “Diretas Já”.

Os argentinos e os que não sabiam também ficaram sabendo que a sabotagem informativa foi o tratamento dado pela Globo aos protestos que levaram milhões de manifestantes às ruas em 1983 e 1984. E que, já em 1989, para impedir uma provável vitória do candidato Lula, a Globo construiu um candidato novelesco, o Collor, filho da velha oligarquia alagoana, que o marketing global transformou em “caçador de marajás”. A destreza desinformativa dispensada à época inspirou um documentário da BBC intitulado Muito Além do Cidadão Kane. A dinastia Marinho não era apenas um grupo influente, mas um partido político de fato.

Em outubro de 2006 o presidente Lula se permitiu afrontar a Globo e não participar do seu debate. Mais que um gesto ousado, uma sinalização política. “A vitória de Lula marcou um fato sem precedentes na história eleitoral recente: foi o primeiro candidato que se impôs contra a vontade explícita dos senhores da informação”, diz Pignotti. (...) Hoje, o grande fosso erguido pelos meios de comunicação priva o cidadão do direito fundamental de ser informado. Não mais o compromisso com a verdade, com a diversidade da opinião: abolido o caráter informativo, sobra o editorialismo mono-ideológico, a matéria opinativa pura.
Leia inteiro teor da matéria de Sidnei Liberal no Boletim HSLiberal e no Portal Vermelho.

2. Um narcopresidente. Em janeiro/2007 o blog do Bourdoukan informou que abaixo-assinado de intelectuais colombianos solicitava ao seu presidente, Álvaro Uribe, que detivesse sua política de aniquilação das forças opositoras. Não conseguiram sensibilizá-lo. Na ocasião havia denúncias, como sempre ignoradas pela mídia, de que o pai de Uribe, ex-sócio e amigo de Pablo Escobar, foi quem criou os grupos paramilitares para combater e eliminar opositores. O envolvimento de Uribe com o narcotráfico é revelado pela George Washington University. Agora, nove meses depois o jornal espanhol El País, revela esse imbróglio uribista.

Refugiada nos EUA à espera de asilo político, a apresentadora de TV, repórter, modelo e atriz, Virginia Vallejo, há muito desaparecida de cena, é uma testemunha incômoda para os políticos colombianos. O presidente Álvaro Uribe refuta suas acusações. "O narcoestado sonhado por Pablo Escobar hoje está mais vivo que nunca na Colômbia", diz a diva dos anos 1980. "Os narcotraficantes prosperaram na Colômbia não porque foram gênios, mas porque era muito barato comprar os presidentes", diz Vallejo, que menciona três nomes como "narcopresidentes": Alfonso López Michelsen, Ernesto Samper e Álvaro Uribe.
Leia a postagem completa do blog do Bourdoukan.

3. Cada um com seus problemas. A jornalista Miriam Dutra, da TV Globo, deixou Barcelona depois de 11 anos na cidade. Ela foi transferida para Londres, onde passa a integrar a equipe de Marcos Losekan. Alguém lembra qual foi a última matéria realizada pela jornalista para a TV Globo? Para quem não sabe, Miriam Dutra é mãe de um menino chamado Tomás cujo pai é Fernando Henrique Cardoso. A imprensa brasileira achou um horror que Renan Calheiros tenha usado um amigo lobista para pagar a pensão alimentícia de sua filha com Mônica Veloso. Mas nunca deu um pio sobre a “força” dada ao caso FHC pelo amigo Roberto Marinho.
Leia mais no Portal Vermelho.

4. Sarkozy, lições para as esquerdas. “...segue na França a incrível fascinação midiática pelo presidente Nicolas Sarkozy. Uma admiração fora do normal, reverenciosa, estática, obsequiosa, obscena. Neste país de revoluções, motins e insurgências, que se dispõe a celebrar... Maio de 68, semelhante servilismo resulta inaudito e nauseabundo. Não há precedente”. “...só poderia comparar-se com a atmosfera de domesticação vergonhosa que a Itália conheceu nos anos de Sua Eminência Berlusconi e com a época da vil rendição jornalística, nos Estados Unidos, posterior aos atentados de 11 de setembro de 2001”.

“...las izquierdas padecen una atracción fatal por medidas que son genéticamente de derechas: desmantelar los regímenes de protección social, ...acusar a gran parte de los pobres de no ser mas que una clase parásita que impide a los demás de avanzar mas rápido. Pensando y actuando así, las izquierdas le hacen la cama a las derechas, pues aceptan una misión histórica contraria a su esencia: adaptar las sociedades a la globalización, modernizarla a expensas de los asalariados. Ése es el origen de su actual debilidad intelectual. Una situación de la que sólo saldrá recuperando las cuestiones fundamentales. Y poniéndose a refundar”.
Leia matéria completa de Ignacio Ramonet, director de Le Monde Diplomatique, Paris.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Quarto poder. Mas, que poder?

Por Sidnei Liberal

O jornal argentino Página 12, do dia 17 de setembro, publicou texto do seu correspondente Dario Pignotti sob o título “O Presidente enfrenta a rede Globo de televisão no Brasil”. Por ele, os argentinos ficaram sabendo que Tancredo Neves, um democrata moderado, defendia uma posição concessiva em relação a Roberto Marinho “para garantir o futuro das instituições”. Ficaram sabendo que o casamento ideológico e econômico entre Marinho e os militares golpistas de 64 resultou na constituição do maior império da informação na América do Sul e garantiu aos milicos uma defesa permanente da mais longa e perversa ditadura da nossa história.

Após 20 anos de ditadura, a Globo ainda pregava uma abertura “lenta, gradual e segura”, a despeito de nessa época o povo já estar nas ruas exigindo “Diretas Já”. A sabotagem informativa foi o tratamento dado pela Globo aos protestos que levaram milhões de manifestantes às ruas em 1983 e 1984. Impedindo a divulgação de massivas concentrações, a emissora tentava obstruir o caminho brasileiro para uma democracia plena. Já em 1989, para impedir uma provável vitória do candidato Lula, a Globo construiu um candidato novelesco, o Collor, filho da velha oligarquia alagoana, que o marketing global transformou em “caçador de marajás”.

A destreza desinformativa dispensada à época inspirou um documentário da BBC intitulado Muito Além do Cidadão Kane. Da mesma forma que Tancredo em 1985 Lula percebeu, em 1989, que a dinastia Marinho não era apenas um grupo de comunicação influente, mas um partido político de fato. Em outubro de 2006 o presidente Lula se permitiu afrontar a Globo e não participar do seu debate. Mais que um gesto ousado, uma sinalização política. “A vitória de Lula marcou um fato sem precedentes na história eleitoral recente: foi o primeiro candidato que se impôs contra a vontade explícita dos senhores da informação”, diz Pignotti.

Parece que não é somente no Brasil que acontece o implacável e progressivo enfraquecimento da grande imprensa. Conforme revela a BBC, as tiragens reduzidas, a fragmentação do mercado, o distanciamento entre veículos e público, são as várias razões para o enfraquecimento do poder da imprensa. Em julho, The New York Times defendeu em editorial a saída das tropas do Iraque. O impacto foi mínimo, como se governo e sociedade pouco ligassem para o que pensa o mais importante jornal do país. O poder de influenciar é muito menor numa era em que pressões políticas parecem vir de canais de notícias de TV a cabo e da internet.

Em junho deste ano, El País publicou texto de Ignacio Ramonet, de Le Monde Diplomatique, sob o título Meios de Ódio, onde revela que na Venezuela, antes da não renovação da concessão à Rádio Caracas Televisão (RCTV), onde 80% das estações de televisão eram utilizadas pelo setor privado, a absorção dos meios de comunicação pelas grandes empresas foi convertendo o direito de informar em um privilégio empresarial, mais que em um legítimo direito cidadão. Ao ponto de organismos independentes, como o Observatório Global dos Meios (MGW), identificarem provas de conjura midiática que propiciou o golpe de estado de 11 de abril de 2002.

A grande mídia venezuelana, mediante envenenadas manipulações, difundia falsidades e calúnias destinadas a fomentar a execração e a ojeriza contra o presidente Chávez e seus partidários. Para Ramonet, um típico “meio do ódio”, incutindo na opinião pública instintos primários, exercitando e promovendo uma violência que poderia desembocar em guerra civil. Paradoxalmente, na contramão do grande movimento midiático, o presidente Chávez tem sido exaustivamente aprovado em sucessivos embates democráticos onde a presença de observadores internacionais tem sido uma regra. O último embate: Chávez reeleito por quase dois terços.

Em entrevista ao Le Monde Diplomatique, Noam Chomsky debate o papel da mídia, outrora a grande fábrica de consensos, na preservação do capitalismo, o desgaste do governo Bush e o papel do Estado numa nova sociedade. A primeira pergunta foi sobre a questão da mídia, posto que na França, por ocasião do referendo sobre o Tratado da Constituição Européia, a maioria dos meios de comunicação era partidária do “sim”. No entanto, 55% dos franceses votaram “não”. Ao que parece, contrariando o poder de manipulação da mídia. Pergunta do LMD: Esse voto dos cidadãos representaria um “não” também aos meios de comunicação?

No Brasil, a injeção de 325 milhões de dólares, de movimentações mercadológicas próprias – os populares perpetual bonds – tapou, temporariamente o rombo falimentar da Globo. Revigorada, a empresa passou a liderar esforços da mídia brasileira e da oposição pela candidatura tucana. Esforços que resultaram em levar a disputa ao segundo turno. Não conseguiu mais que isso e perdeu uma vez mais. Em seu estágio falimentar, o governo FHC não conseguiu completar seu processo de salvamento via BNDES e Lula, o sucessor petista, não se interessou. No primeiro caso, tempos de quebradeira. No segundo, incompatibilidade ideológica.

Já estamos há uma boa distância dos tempos do afável Tancredo que se rendia ao baronato da mídia com excessiva mesura. Também já é peça de museu a ameaça à segurança institucional, figura de retórica que mascarava a espúria parceria na órbita do poder. A Globo de hoje está escorada na ciranda financeira e em 60% dos seus “reclames” empresariais nacionais, que já se mostram exíguos para manter sua folha de pagamentos e para enfrentar a concorrência que já está em seus calcanhares. Hoje sem as generosas verbas de antigas e promíscuas relações com o poder, sem a generosa da unanimidade popular dos tempos de Roque Santeiro.

Nossos tempos são marcados por um grande fosso erguido pelos meios de comunicação que priva o cidadão do direito fundamental de ser informado. A grande mídia transformada em instrumento de venda: a notícia é a mercadoria. O cidadão, simples consumidor. Não mais o compromisso com a verdade, com a diversidade da opinião: abolido o caráter informativo, sobra o editorialismo mono-ideológico, a matéria opinativa pura. Democracia às favas, a credibilidade, também. Que fazer? A Venezuela mostra um caminho: lá, a mídia já não é um 4º poder em seu sentido clássico. A mídia é o que deve ser: uma concessão pública de serviços.

sábado, 20 de outubro de 2007

Estranhos contubérnios

1. Como o pedágio da Dilma é 5 a 7 vezes menor, fica o tucanato paulista numa enrascada. Tem no colo um pacote de cinco leilões de rodovias estaduais num modelo que produziu os pedágios mais caros do país, produto de muita patifaria no setor.
2. O ex-ministro da Educação, deputado Paulo Renato de Souza, está de volta às nossas páginas. Não por combater a CPMF, que é uma bandeira dos sonegadores, dos mal-informados e do Demo. Esta é outra história de, digamos, estranha mancebia.
3. Eloqüente o silêncio da mídia e da oposição a respeito de revelações factuais. O silêncio de quem tem culpa no cartório. Os jornalões, mal informaram as cassações de 623 políticos e sua ocorrência por estado, omitindo a ocorrência por partido.
4. O tom de voz sobe entre Washington e Moscou. A Rússia retoma pesquisas de novas armas nucleares. Putin aventou para a possibilidade de que elas seriam de efeitos espetaculares. Bem-vindos, todos nós, a esta nova versão da Guerra Fria.


1. Dilma detonou a privataria dos pedágios. Neste outubro concluiu-se na Bolsa de São Paulo uma vitória da competência administrativa sobre os interesses da privataria promíscua. O governo federal leiloou as concessões de sete estradas (2,6 mil km). Para se ter uma medida do tamanho do êxito, o pedágio na via Fernão Dias será de R$ 1,42 para cada 100 km rodados. Quem quiser viajar na via Dutra (Rio-SP), pagará R$ 7,58 pelos mesmos 100 km. Não há no mundo maior disparidade. Na “modernidade” de um bom pedaço do empresariado não se vende gato por lebre: é gato por gato mesmo. Habituais interesses escusos foram feridos.
(Leia todo o revelador texto de Elio Gaspari transcrito de O Globo por Ricardo Noblat).

2. Flagrado ex-ministro de calças na mão. O ex-ministro da Educação nos dois mandatos do governo FHC, deputado tucano Paulo Renato de Souza enviou um artigo para o jornal Folha de S. Paulo criticando a intenção do governo federal de passar o Banco do Estado de Santa Catarina para o controle do Banco do Brasil. “...O texto foi enviado ao jornal por e-mail. Por engano, o corpo da mensagem trouxe uma correspondência eletrônica anterior, na qual o parlamentar submete seu texto ao presidente do Bradesco, Márcio Cypriano: ‘Em anexo, vai o artigo revisto. Procurei colocá-lo dentro dos limites do espaço da Folha”.

Segue o deputado tucano: “Por favor, veja se está correto e se você concorda, ou tem alguma observação. Muito obrigado, Paulo Renato Souza". O mais estranho de tudo isso é que aqui na redação da Fórum, quando a gente escreve para alguém algo como: “em anexo vai o artigo revisto. Procurei colocá-lo dentro dos limites do espaço da revista”, a gente quer dizer que o artigo do interlocutor foi editado. Mas a gente sabe que o deputado Paulo Renato de Souza não assinaria um artigo de Márcio Cypriano e enviaria assinando-o para um jornal. Mas que é estranho é, não é deputado?
(Leia este assunto na íntegra na revista Fórum).

3. O Demo (Democratas), ex- PFL, ex-PDS, ex-Arena, lidera corrupção. É o partido campeão de cassações por corrupção nos últimos sete anos, segundo estudo feito pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), que conta com o apoio de entidades de representação da sociedade civil e organizações sociais e religiosas. O estudo foi divulgado dia 4 de outubro e contabiliza 623 cassações de mandatos políticos, englobando quatro eleições. Todos por utilização de bens ou vantagens para alterar a vontade dos eleitores. Nesse número, não estão incluídos políticos que perderam cargos em virtude de condenações criminais.

Governadores e vices, senadores e suplentes, deputados federais e estaduais, 508 prefeitos e vices, e vereadores. O ranking é liderado pelo Democratas, com 69 casos, ou 20,4% do total. Em 2º lugar, o PMDB, com 66 casos, ou 19,5%, enquanto o PSDB aparece em 3º lugar, com 58 ocorrências, ou 17,1% dos casos. O PP, 26 casos, seguido pelo PTB, 24 casos e PDT, 23 ocorrências. O PT aparece em 10º lugar, com 10 casos, ou 2,9%. Como detalhe importante, as oposições e a mídia se calaram diante de dados tão contundentes: os dois principais partidos de oposição contribuíram com 37,5 % enquanto que o PT tem menos de 3% de cassados.
(Clique em http://por1novobrasil.blogspot.com/ e veja muito mais).

4. Decididamente a Guerra Fria está de volta. Ainda que numa versão diferente da dos tempos da extinta União Soviética. Menos ideologia, mais pragmatismo e novos alinhamentos. Em junho deste ano o primeiro ministro russo Vladimir Putin manifestou seu descontentamento diante da iniciativa de Washington de oferecer novas bases militares para a Polônia e a República Tcheca. Ofertas recebidas com entusiasmo, mas não por Moscou. Bush declarou que as bases tinham por objetivo cercar o Irã. Mas nas proximidades de uma coisa e da outra estão fronteiras da Rússia e também de algumas antigas repúblicas da finada União Soviética.

Putin ofereceu a Bush a alternativa de usar bases da Rússia dos tempos de URSS, para criar frentes militares comuns para vigiar o Irã. A proposta era o que parecia: uma alternativa para ganhar tempo. Agora o tom subiu. Diante do reconhecimento rotundo do fracasso das intervenções no Afeganistão e no Iraque, e diante do também fracasso do governo norte-americano em isolar o Irã, o primeiro ministro iraniano Mahmoud Amadinejad sentiu-se forte o suficiente para desafiar o desafeto em sua própria casa e nos arredores: foi aos Estados Unidos e até a Bolívia, onde desenvolveu propostas de acordo em torno de questões energéticas.

Tinha razão: num salto estratégico, Putin fortaleceu-o. Visitou o Irã e comprometeu-se com a construção de uma usina nuclear no Golfo Pérsico, e declarou que a Rússia se opõe a uma intervenção militar na região, leia-se, uma invasão do Irã pelos Estados Unidos e/ou aliados. E incluiu, nesta declaração protetora, o Cazaquistão, o Azerbaijão e o Turcomenistão, dando mostras para Washington de que ainda é o “capo” na região. A resposta veio rápida: Bush deu entrevista dizendo que se o Irã conseguir armas nucleares, isso pode levar à Terceira Guerra Mundial. Uma volta à Guerra Fria, agora sob nova administração?
(Leia inteiro teor da matéria de Flávio Aguiar para a Agência Carta Maior).

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Relações promíscuas

1. O milionário mercado do livro didático vem sofrendo assédio de oligopólio transnacional com preciosa ajuda do deputado e ex-ministro Paulo Renato. O mesmo tucano que nesta semana foi flagrado pela Folha de São Paulo, de calças na mão, acolitando o Bradesco, contra o Banco do Brasil.
2. As duas caras de Zé Dirceu pela ótica da sua ex-mulher: A cara verdadeira, de quem o conhece, com suas falhas e virtudes, com seus acertos e erros, com suas qualidades e imperfeições. “Há, porém, uma outra cara: uma cara inventada pelos seus adversários...”
3. A “flexibilização” da legislação trabalhista, mundo afora, foi um dos apanágios da “modernidade” e da “globalização” que os macacos de imitação ecoavam com louvor em todos os recantos. Tempos de neoliberalismo predatório. Anos fernandinos.
4. A Boitempo Editorial realiza: três lançamentos, semana de debates e mesa-redonda para marcar os 90 anos da Revolução de 1917. Tem convidados de peso.


1. O livro didático, sob o risco da desnacionalização. A denúncia de doutrinação ideológica em livro didático distribuído pelo MEC, feita pelo diretor de jornalismo da TV Globo, Ali Kamel, parece ter trazido a público muito mais do que pretendia o autor: o jogo bruto de interesses financeiros em que se digladiam as grandes editoras pelo controle do mercado nacional de livros didáticos. Sem querer, Ali Kamel, presta um desserviço à oposição ao governo Lula, da qual é membro militante, levantando inadvertidamente a ponta do véu que encobre a promiscuidade entre gente tucana e o capital estrangeiro, pela desnacionalização do setor.

Em artigo do jornal O Globo – reproduzido por outros jornais – Ali Kamel condena a coleção didática Nova História Crítica, de Mário Schmidt, por “contrabando ideológico nas escolas públicas”. Também insinua que o MEC “incentiva” a adoção da obra. Mostra assim desconhecer que livros didáticos são antes avaliados por especialistas, em sistema de rodízio, nas universidades públicas. O MEC limita-se a reunir tais avaliações, imprimi-las e distribuí-las aos professores, sob a forma de Guia do Livro Didático, para facilitar o trabalho de seleção. E lembre-se de que a escolha do livro didático é prerrogativa inalienável dos professores.

A atual polêmica sobre o conteúdo do livro foi amplificada pela grande mídia em razão de seu suposto potencial de mobilização contra o governo Lula. O Brasil conta com um dos melhores sistemas de avaliação de livros didáticos do mundo. Adotado em 1996, é criticado pelas grandes editoras, constituídas em oligopólio multinacional, que alegam risco de “controle ideológico”. É que a liberdade atual de que desfruta o mercado de livros didáticos, com o apetitoso orçamento de R$ 620 milhões, já não permite a investida sorrateira e centralizada do lobby pela conquista do butim, como vinha ocorrendo no passado.

A investida de Kamel contra uma coleção didática de grande sucesso de vendas é uma ação orquestrada, repercutida em grande escala pela grande mídia. Em especial, pelo jornal espanhol El País e pelo ex-ministro tucano da Educação, o deputado Paulo Renato de Souza. Ocorre que El País é propriedade da empresa Santillana, que controla a editora Moderna – uma das que mais interesse tem no mercado brasileiro de livro didático. Ocorre, também, que a Santillana conta em seu corpo de consultores com o ex-ministro tucano. Promiscuidade que fez de Mônica Messenberg, braço direito do tucano no MEC, diretora lobista da editora Moderna.

Leia muito mais no esclarecedor artigo do deputado e jornalista Rui Falcão.

2. O maledicente autor de Duas Caras. Clara Becker, ex-mulher de José Dirceu, tornou pública carta que fez a Aguinaldo Silva - autor da novela Duas Caras. Clara rebate o novelista e diz que o ex-ministro Dirceu nunca foi vilão. O estopim da carta foi uma entrevista maledicente de Aguinaldo à Folha de S.Paulo. Ele declarou que a história de Dirceu e Clara inspirou a criação do protagonista da novela - que se casa por interesse, foge com o dinheiro da mulher e faz plástica para mudar de vida. "Uma pessoa que faz isso é capaz de qualquer coisa...”, disse o novelista, descontextualizando por completo as razões para as atitudes históricas de Dirceu.

Caçado pela ditadura militar, Dirceu fez plástica em Cuba para mudar de rosto e, de volta ao Brasil, casou-se usando falsa identidade para fugir do regime. Com a anistia, revelou à mulher sua atitude. Hoje, decepcionada com o autor da novela, pela comparação caluniosa, Clara reclama: "Se o senhor não gosta do político José Dirceu, se tem uma impressão negativa dele, esse é um direito sagrado que respeito integralmente". "Agora, por favor, não extravase sua raiva ou preconceito contra ele, falando de coisas que não são de seu conhecimento, como a relação que tivemos. Pois isso não atinge apenas a ele: atinge a mim e, sobretudo, a verdade".

Leia a matéria com a íntegra da carta de Clara Becker no Portal Vermelho.

3. A lenta morte dos direitos trabalhistas. O processo de alterações legislativas e jurisprudenciais dos últimos anos disfarça um caráter e um cunho nitidamente fascista, que consagram não só a perda dos direitos dos trabalhadores, como também o ensaio geral da grande ofensiva do cartel oportunista e revisionista contra as garantias trabalhistas (conquistadas) ao longo de décadas de luta. Em primeiro lugar, destacou-se o método de dividir para dominar, isto é, a escolha de atacar uma categoria de trabalhadores de cada vez, isolando-a das demais e jogando a sociedade contra ela. Uma das mais atingidas foi a dos trabalhadores de base.

Em termos de medidas de caráter geral que atingiram o conjunto da força de trabalho, o governo FHC impôs aos trabalhadores uma grande perda. A primeira delas foi introduzida pela Lei nº 9.601, de 1998, que se traduz na permissão de horas extras não-remuneradas. O famigerado banco de horas foi recebido pelos patrões como uma dádiva dos céus. Porém, para os trabalhadores, trata-se de um estelionato. Também foi criado o meio mais eficaz para o esvaziamento da Justiça: as chamadas comissões de conciliações prévias, através das quais, os trabalhadores passaram a ter a opção de dirimir suas questões frente a árbitros. Uma só faca, dois gumes.

Leia aqui íntegra da matéria da advogada trabalhista Sylvia Romano para o DIAP.

4. Três lançamentos da Boitempo. Para comemorar os 90 anos da Revolução Russa: O ano I da Revolução Russa, de Victor Serge; A Revolução de Outubro, de Leon Trotski; e uma edição especial da revista Margem Esquerda – Ensaios Marxistas. Também em outubro, a editora promove uma semana de debates sobre os impactos da Revolução de 1917. Vai ser realizada na PUC-SP, em parceria com o Centro Acadêmico de Ciências Sociais, entre os dias 16 e 19. A Boitempo também organiza, no dia 18, uma mesa na USP. Nos eventos, intelectuais de diferentes países analisam a importância histórica e a atualidade da Revolução Russa.

Roteiro da programação e resenhas dos lançamentos, clique aqui.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Direito à informação

1. A revista Veja vai à justiça e questiona ato protegido por seu próprio conceito de liberdade de imprensa. O princípio da pimenta nos olhos dos outros.
2. “Pra que serve o Senado? Pra nada”. Esse é o título do artigo que venho tentando escrever há algum tempo. Cada vez que tento voltar ao assunto, vem à minha mente a figura de Incitatus.
3. Na Venezuela descobriu-se que não existe o chamado 4º poder. Lá a mídia já não é mais poder. O mundo precisa aprender que a mídia é uma concessão de Estado para atender ao principio do direito do cidadão à informação, à cultura, ao entretenimento.
4. A "Teoria Kamel" posta em prática: "testando hipóteses"... Que a Associated Press chama, com propriedade, de lorotas. Velha prática golpista da Globo. Agora contra a Bolívia.
5. O Che, pelos 40 anos da sua morte, foi matéria de capa da última Veja. O que esperar de Veja? Melhor as palavras do poeta Pablo Milanês: “Não porque caístes/ Tua luz é menos alta./ Um cavalo de fogo/ Sustenta a tua escultura guerrilheira...”


1. Veja e FHC: vínculos sorrateiros. A revista Veja, perdeu em primeira instância a ação indenizatória por danos morais movida contra o professor Emir Sader e a Carta Maior. Em março de 2006, referindo-se à resenha do livro “A arte da política: a História que vivi”, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, feita pelo Redator-chefe de Veja, Mário Sabino, o professor Emir Sader fez severas restrições ao livro, que traz calorosa defesa de todo o ideário conservador, com críticas sempre ácidas de qualquer pensamento à esquerda no espectro brasileiro, latino-americano e mundial. O autor da resenha se sentiu ofendido em sua honra.

Na justificativa, seus advogados destacaram a seguinte passagem do artigo como particularmente ofensiva: “Se você quiser saber dos vínculos sorrateiros de Veja com o ex-presidente, que deram – na única resenha na imprensa – capa do seu livro, apresentado por um escriba de plantão (...)”. O artigo, além de usar a palavra “sorrateira”, considerava a resenha “parcial” e “mentirosa”. Também considerada ofensiva a expressão “escriba de plantão”, que o situaria o redator de Veja como um “jornalista menor”. Em sua sentença, o juiz acolheu a tese da defesa, de “improcedência da ação”, não reconhecendo intenção de ofensa no artigo do professor.
Leia íntegra do texto do jornalista Flávio Aguiar para Carta Maior.

2. Um ovo na boca do senador nada filósofo. A Veja poderia investigar uma porção de políticos e ver que muitos deles cometeram os mesmos pecados de Renan. ...(menos o) de ser da base aliada de Lula e presidir uma casa importante como o Senado... Lançou um factódide com o Freud Godoy, não deu em nada. Tentou criar uma crise com o Vavá, não deu em nada, e ainda inventará o Vevé, o Vivi, a Vovó e o Vuvú... Quando os canibais brancos estavam com a faca e o queijo na mão, Renan usou a tática de morrer atirando e disse que abriria o bico contra os seus imaculados colegas. E aí? Aí que melou o voto e deixou a mídia a lamber os garfos.
O blog do Lelê Teles fala, ainda, do dia em que a mídia esteve ao lado de Fidel Castro.

3. “Não se preocupem. Não queremos controlar o mundo. Só queremos um pedaço dele”(Rupert Murdoch, dono do império midiático News Corporation, presente em 133 países). “Sim, eu uso o poder, mas eu sempre faço isso patrioticamente” (Roberto Marinho, ex-proprietário do maior conglomerado midiático do Brasil). A mídia hegemônica vive um paradoxo. Ela nunca foi tão poderosa no mundo e no Brasil, em decorrência dos avanços tecnológicos, do intenso processo de concentração e monopolização nas últimas décadas e da criminosa desregulamentação do mercado que a deixou livre de qualquer controle público.

Atualmente, ela exerce uma brutal ditadura, manipulando informações e deturpando comportamentos. Na crise de hegemonia dos partidos, a mídia hegemônica confirma uma tese do revolucionário Antonio Gramsci e transforma-se num verdadeiro “partido do capital”. Por outro lado, ela nunca esteve tão vulnerável e sofreu tantos questionamentos da sociedade. No mundo todo, cresce a resistência ao enorme poder manipulador da mídia, expresso nas mentiras ditadas pela CNN e Fox para justificar a invasão dos EUA no Iraque, ou na sua ação golpista na Venezuela ou na cobertura imparcial dos processos eleitorais.
Leia inteiro teor do didático artigo de Altamiro Borges publicado no Portal Vermelho

4. Tentativa de golpe também contra a Evo Morales. "O Globo, um dos maiores jornais do Brasil, deu credibilidade à lorota mais assustadora do ano. Citou uma autoridade estadual anônima de Santa Cruz dizendo que uma milícia anti-Morales, de 12 mil homens, estava escondida na floresta, esperando o momento certo. O repórter do jornal nunca viu a milícia e não apareceu nenhuma prova para confirmar a fofoca", escreveu um repórter da Associated Press (AP). A reportagem foi distribuída no mundo inteiro no último domingo (30/09) e reproduzida por veículos conceituados como a MSNBC (aqui).
Leia aqui matéria da redação do Comunique-se que tenta tirar a bronca da Globo.

5. Che, além da imagem, nos 40 anos de sua morte Mas como definir o humanismo de Che diante de alguém que, ao mesmo tempo, defende a “morte impiedosa do opressor”? Essa aparente contradição é feita reiteradas vezes principalmente por políticos ligados à direita que, em geral, vêem sentido em ditaduras alinhadas a sua postura política mas tratam do revolucionário como “terrorista”. Löwy não vê tal contradição já que, para o humanismo revolucionário, a guerra empreendida pelo povo é a única resposta necessária e a única possível dos oprimidos contra os opressores que patrocinam a violência institucionalizada.

“Na atual conjuntura latino-americana, a luta armada só interessa aos fabricantes de armas e à extrema direita. No entanto, como princípio, defendido por Santo Tomás de Aquino e o papa Paulo VI na encíclica Populorum Progresio, ela é legítima, desde que não reste ao povo outro recurso para demover o tirano senão a legítima defesa das armas. Essa é uma interpretação humanista da tradição judaico-cristã, incorporada pelo marxismo”, entende Frei Betto. Um olhar além do mito de Che Guevara, nos 40 anos de sua morte. A violência extrutural, a revolucionária e a reacionária. A capa da edição 55 da revista Fórum e dez páginas discutem o tema.
Leia mais aqui. Na edição impressa da revista Fórum, a matéria completa de Glauco Faria.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Revelações inoportunas

1. Cardeais tucanos em polvorosa: frenética tentativa para isolar o senador Eduardo Azeredo e abafar a revelação da contaminação da campanha de FHC pelo valerioduto tucano de 1998.
2. Colômbia: mais amigos do presidente Uribe em apuros. Desta vez não é sua fiel base de sustentação parlamentar e empresarial constituída no narcotráfico.
3. Falcatruas dos donos da Veja a serem apuradas pela CPI da TVA/Telefônica são análogas à da transação entre a Net, da Globo e a Embratel, da poderosa Telmex, que a própria Veja denunciou.
4. Vale a pena ver de novo: Foi na Globo que se editou o debate do segundo turno entre Collor e Lula, um dos capítulos mais deprimentes da história da manipulação da informação.
5. Para Chomsky, as poucas pesquisas detalhadas sugerem que a influência das mídias é mais expressiva na parcela da população com maior escolaridade.


1. Tensão no ninho tucano: FHC não sabia de nada, afirmam líderes do PSDB. Lideranças tucanas correm para silenciar e isolar o senador Eduardo Azeredo, ex-presidente do PSDB, que envolveu o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em esquema de caixa-dois de sua campanha para o governo de Minas Gerais em 1998. As declarações do senador causaram um terremoto dentro do partido: Lideranças tucanas fizeram fila, quarta-feira, para rebater as revelações do senador mineiro. “O senador não poderia ter dito isso”, disse Arthur Virgílio, líder do PSDB no Senado. Para Tasso Jereissati, foi fruto de justificado transtorno mental.

(Leia texto integral de Marco Aurélio Weissheimer para Agência Carta Maior).

2. A chiquita não é bacana. No início da semana passada, um tribunal dos Estados Unidos condenou a Chiquita Brands International a pagar multa de 25 milhões de dólares por ter financiado paramilitares na Colômbia. A Chiquita pagou, entre 1997 e 2004, mais de 1,7 milhões de dólares, às Autodefesas Unidas da Colômbia, responsáveis por uma série de massacres e seqüestros no país. Até 2001, os Estados Unidos não se importariam muito com isso, mas depois do ataque às torres gêmeas, as AUC passaram a ser consideradas organização terrorista internacional, junto à Al Qaeda e outras. Nas costas, milhares de oposicionistas assassinados.

A Chiquita, fiel herdeira da United Fruit, é acusada de fornecer a logística de um porto sob seu controle para o desembarque de 3.400 fuzis AK 47 e munições para a AUC. A velha prática do expansionismo estadunidense na política da América Latina. A United Fruit, desde que desembarcou no continente, no fim do século 19, para construir o império bananeiro em vários países, elegeu e depôs presidentes de acordo com seus interesses. A revolução cubana expulsou a United Fruit do país. A bananeira ainda teve participação ativa na derrotada tentativa de assalto contra-revolucionário à cubana Baía dos Porcos, em 1961.

(A matéria completa do jornalista Mair Pena Neto está em Direto da Redação).

3. A Curundeia pagou US$ 178,5 milhões por parte da Editora Abril (a dona da Veja). Detalhe: o capital social da empresa é de R$ 878 mil. Segundo reportagem da Band, a MIH Brazil (com z) teria participado da venda da Abril. Mas, no endereço que consta no contrato, não há MIH Brazil alguma. A reportagem tentou descobrir alguma informação sobre ela, por intermédio do CNPJ declarado no contrato, mas descobriu que o número não pertence à MIH Brazil, mas a uma empresa chamada Curundeia. Outro detalhe: No endereço, onde funcionaria a tal Curundeia, o porteiro nunca ouviu falar dela. O lobby da Veja abafará a CPI?

(Veja no Blog do Mello inteira reportagem da Band. Participe da campanha pela CPI da Veja)

4. A democracia não pode ser prisioneira da mídia. A substituição de um império por outro não resolve o problema da dominação. Assim, caso a Globo fosse substituída por um outro grupo, nada teria mudado. Isso vale inclusive para o caso em que esse “grupo” viesse a ser estatal. A edição de setembro da revista Fórum trata da democratização da mídia, acreditando que o tema precisa ser priorizado pela sociedade civil organizada. E, ao mesmo tempo, por ter percebido que falta coragem ao governo federal atual para encaminhar esse debate para uma Conferência das Comunicações, o único caminho democrático para tratar a questão.

E por que a Globo como centro do debate? No dia 5 de outubro vencem as cinco concessões da TV Globo. Evidentemente, a não-renovação abriria uma “guerra” no Brasil e na comunidade internacional de proporções muito maiores do que a desencadeada na Venezuela por conta da não-renovação da concessão da RCTV. Mas, se sabemos disso, por que aproveitar a data para debater o tema? Pelo simbolismo. A Globo é responsável por muito do que o Brasil tem de ruim na sua história política recente. E também pelos maiores absurdos do ponto de vista do uso da sua concessão para fins privados.

(Leia na edição 54 da revista Fórum diversas matérias sobre o direito cidadão à informação).

5. A grande fábrica de consensos. Em entrevista ao Le Monde Diplomatique, o lingüista Noam Chomsky debate o papel da mídia na preservação do capitalismo, o desgaste do governo Bush e o papel do Estado numa nova sociedade. A primeira pergunta foi sobre a questão da mídia, posto que na França, por ocasião do referendo sobre o Tratado da Constituição Européia, a maioria dos meios de comunicação era partidária do “sim”. No entanto, 55% dos franceses votaram “não”. O poder de manipulação da mídia não parece, portanto, absoluto. Pergunta do LMD: Esse voto dos cidadãos representaria um “não” também aos meios de comunicação?

(Leia, na íntegra, a entrevista de Noam Chomsky ao Le Monde Diplomatique).

O Manifesto