terça-feira, 27 de maio de 2008

Quem luta, acerta e erra. Quem não luta, só erra


Complexo de vira-lata.

Vez por outra, o fantasma de Nelson Rodrigues invade os muitos palcos do teatro Brasilis. Em seus alforjes, a volta de uma frase famosa: O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a auto-estima. Neste domingo, um dos editoriais da Folha de S. Paulo acusa a União de Nações Sul-Americanas, recém criada em Brasília, de ter um sentido puramente retórico. Neste aspecto, o jornal contraria os participantes, 12 presidentes das nações vizinhas e dezenas de correspondentes estrangeiros, que viram no resultados do encontro um importante passo para uma sonhada integração regional.

O editorial reduz o fato de o novo fórum nascer independente em relação aos EUA a um simples “certo nacionalismo”. Embora saiba que, por causa desse estorvo, e de alguns de seus países títeres, as decisões da Organização dos Estados Americanos (OEA), por exemplo, sempre prioriza os interesses de Washington. Ora, os assuntos internos sul-americanos serão resolvidos melhor por uma representação soberana tão somente dos povos desta região. A Folha confunde xenofobia, a que reduz o nacionalismo brasileiro, com soberania. Soberania é uma boa iniciação ao tratamento digno do nosso histórico complexo de vira-lata que costuma exibir, sem nenhum pudor, o jornal paulista. [1]

Dificuldades há. A maior, a que resulta da forte submissão da Colômbia aos interesses econômicos, militares e políticos dos EUA. Mas, como na União Européia, que levou mais de uma dezena de anos para acertar seu passo, uma posição divergente, aqui ou acolá, terá seu tratamento adequado. “Uma institucionalidade está sendo criada", disse o ministro Celso Amorim, o que foi interpretado pela Folha como “nebuloso otimismo diplomático”. Será que nossa imprensa trafega por aquilo que Mino Carta chama de incompetência raivosa dos medíocres, como a oposição demo-tucana? Parece haver uma incômoda ausência de pauta política que possa colocar o governo contra a parede.

Para não fugir do complexo rodriguiano, o segundo editorial da Folha, no mesmo dia, ataca o acordo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa que tornou realidade a isonomia ortográfica da língua portuguesa, finalmente ratificado pelo parlamento luso. O jornal brasileiro acusa o acordo de trazer modificações “cosméticas”, “ociosas” e não justificáveis para a descomunal energia a ser gasta para assimilação das novas regras. Novamente se revela a mediocridade da nossa imprensa em não compreender o alcance da medida que, antes do número de alterações lingüísticas a serem processadas, reforça-se uma importante unidade de integração de nove países mediada pela mesma língua.

Tanto a criação de um organismo sul-americano soberano quanto um acordo para disciplinar o uso comum da língua de Camões integram e aproximam povos, além de coroar um grande esforço institucional brasileiro. Seria motivo de júbilo para nossa mídia dividir com seus leitores brasileiros. Mas, não é. Daí, o susto de quem chega ao Brasil. As informações que aqui lê ou ouve contradizem o que lê ou ouve lá fora. No New York Time de 24/05, por exemplo, lê-se: “Os consumidores nos Estados Unidos estão apertando o cinto; os brasileiros estão gastando como se não existisse palavra em português para recessão”. Constatação elogiosa que soa esquisito por aqui. [2]

O jornal dos EUA ainda faz referência a um novo patamar brasileiro de prosperidade econômica, com aumento do emprego e da renda e uma vitalidade “cada vez menos acorrentada à sorte dos Estados Unidos”. Outras mídias, como a revista alemã Der Spiegel, os jornais El País, espanhol, Le Monde, francês, Financial Times, de Londres, vez por outra fazem referências positivas sobre um novo desenho distributivo da riqueza em nosso país. E uma santa previsão de tempos ainda melhores. Mas, a mídia brasileira segundo a máxima rodriguiana, cospe na própria imagem, como um narciso às avessas. E não consegue encontrar nenhum pretexto para a auto-estima. [3] [4]

“Quem luta, acerta e erra; quem não luta, só erra”.

Da excelente entrevista do ministro Franklin Martins à revista Fórum, destacamos:
Em 1968, o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, estudava Economia. Mas, como parte dos estudantes à época, participou ativamente dos movimentos que começavam a contestar de forma mais veemente a ditadura. Martins assegura que a ação dos estudantes não foi somente reflexo do que acontecia em outros países, embora o turbilhão internacional tenha produzido um caldo de cultura propício para o surgimento e o crescimento do movimento no Brasil. Lembra, porém, que as primeiras grandes manifestações no Rio ocorreram bem antes do Maio francês ou da Primavera de Praga.


Franklin revela que a explosão daquele ano foi fruto de quatro casamentos e um divórcio. Primeiro, entre os estudantes politizados e a massa dos estudantes que queria apenas uma boa formação acadêmica. A partir de 1967, entretanto, percebeu-se que do projeto da ditadura para a Universidade constava privatizar o ensino superior, adotar currículos ligados às demandas das empresas, diminuir o espaço para a crítica e a pesquisa científica, abolir a autonomia universitária. Ou seja, o confronto entre ditadura e estudantes se dava também nas questões concretas que afetavam o cotidiano dos alunos dentro das salas de aula. Isso deu corpo e unidade ao movimento.

O segundo casamento aconteceu entre dois segmentos da classe média: o que havia se oposto ao golpe de 64 e o que o havia apoiado. A luta pelas reformas de base durante o governo João Goulart dividira a classe média. Uma parte dela, minoritária, vira na mudança das estruturas o caminho para a modernização do país e para a diminuição das injustiças sociais. A outra, majoritária, reagira contra a bandeira das reformas e, através de suas lideranças, batera às portas dos quartéis pedindo a deposição do presidente constitucional. Sua expectativa era que, afastado Jango, as Forças Armadas entregassem aos políticos de direita o comando do país. Não foi o que aconteceu.

O terceiro casamento foi o enlace em escala planetária das diversas lutas estudantis em curso no mundo, em Paris, em Praga, em Tóquio. E o último, o que se deu entre o nosso movimento estudantil e o impulso de renovação dos valores da sociedade, num sentido mais amplo, em todo o mundo: dos costumes, da moral, dos padrões artísticos, dos modos de pensar e de se comportar. Por último, o divórcio: a explosão de 68 foi fruto também de uma profunda ruptura entre a juventude e a política tradicional. Respirava-se uma hostilidade generalizada contra os políticos, de direita ou de esquerda, e mais intensa ainda contra as instituições políticas criadas ou toleradas pela ditadura. (...) [5]

Em outra entrevista à revista do Correio Braziliense deste domingo, o ministro foi outra vez didático sobre o suposto erro da luta contra a ditadura e disse: “O maior erro naquela época era apoiar a ditadura. Eu lutei contra a ditadura, estava do lado certo”. (...) “Muita gente que critica – às vezes são jornais – apoiou a ditadura. Só deixaram de apoiar quando a ditadura começou a patinar”. (...) Para Franklin, é difícil quem não se opôs à ditadura, quem não sofreu debaixo dela e, muitas vezes, quem se beneficiou dela entender em toda sua extensão: ditadura, terrorismo de estado, tortura, assassinatos, seqüestros. “Eles não viveram isso, estavam do outro lado”.

BRINDE: ROSA DE HIROSHIMA, DE VINICIUS DE MORAES E GERSON CONRAD NUMA BELÍSSIMA INTERPRETAÇÃO DE NEY MATOGOSSO. E A PAZ, DE GILBERTO GIL E JOÃO DONATO. Clique em pausa para carregar e espere alguns segundos.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Esqueletos e fantoches

1. No último dia do BBB da TV Globo, um dos senadores, da augusta tribuna do Senado da República, cabalava votos para uma candidata, sua conterrânea, no inútil programa. Quando se vê algumas figuras no nosso senado, compreende-se melhor Calígula. E se faz concessões ao respeito que ele devotava à Incitatus.

2. Pérolas da reunião ministerial que decidiu pela instituição do AI-5, o golpe dentro do golpe, citadas por Zuenir Ventura em 1968 – o ano que não terminou: "Eu confesso que é com verdadeira violência aos meus princípios e idéias que adoto uma atitude com esta." (general-ditador Costa e Silva). "Às favas, senhor presidente, todos os escrúpulos de consciência" (coronel Jarbas Passarinho). Estava inaugurado o caminho das trevas.

3. Chefes de estado do mundo inteiro estão reunidos esta semana na Europa. Na pauta, a abolição das bombas de múltipla fragmentação. Ausentes, por serem contra, além da Rússia, os EUA e três dos seus habituais títeres. Entre eles, Israel. Em nossa lembrança, uma menina correndo pelas estradas do Vietnã, o corpo queimado pelo napalm.

Ainda ecoam os tiros da rua Toneleros

Os esqueletos deveriam estar bem guardados nos armários e os fantasmas engolidos pelo tempo. Será? Não para a oposição demo-tucana e seu porta-voz, a mídia nativa, que ainda ouvem o eco dos tiros da rua Toneleros, na Copacabana de 54 anos atrás. Os tiros contra o maior adversário do governo constitucional de Getúlio Vargas, jornalista Carlos Lacerda. Um o atingiu no pé, outro matou seu acompanhante, o major Vaz, da Aeronáutica. Lance crucial de uma crise que crescia desde o início do governo Vargas, combatido em duelo ao último sangue, sobretudo por sua política nacionalista que rendeu ao país Volta redonda e a Petrobras. Além de uma avançada legislação trabalhista, para a época.

Tio Sam sempre contou com magníficos advogados na Terra Brasilis. E ainda conta. A tocaia da Toneleros e a campanha liderada pelo aristocrata tribuno da UDN, a denunciar desmando e corrupção no governo Vargas, ganhou fôlego e substância. O Palácio do Catete, sede do governo, fora submergido por um “mar de lama”, segundo Lacerda. A tragédia tropical encerra-se com um tiro no coração e o povo chorando muito o suicídio do seu presidente. Os planos do golpe da elite foram adiados para 10 anos depois, em 1964. Feito por raposas mais espertas. Os intérpretes da pantomima dos dias de hoje, 54 anos depois, não figuram na família das raposas, embora arroguem nascer do conúbio entre estas e os lobos.

Não existe, porém, um único personagem na oposição demo-tucana que se pareça em talento com Lacerda, nem mesmo vagamente. Tampouco há mínima semelhança entre os tiros da Toneleros e o chamado dossiê anti-FHC, que devora as energias da oposição na tentativa de manter o assunto nas primeiras páginas. Como se deu em outras ocasiões em que se pretendeu mostrar que um mar de lama invade o Palácio do Planalto. Patéticas expectativas de se criar uma situação capaz de derrubar o presidente Lula e que acabaram por se esvair em suas próprias fragilidades. No caso atual, falam de chantagem, sem que haja chantagista ou chantageado. E trafegam pela incompetência raivosa dos medíocres.

Na Carta Capital o texto original de Mino Carta. Uma boa leitura nas bancas. [1]

Ministério Público move ação civil contra oficiais torturadores.

Semana passada, deu entrada na 8ª Vara Federal de São Paulo uma ação civil contra o Exército e dois de seus oficiais, já recolhidos à reserva: Carlos Alberto Brilhante Ustra e Audir Santos Maciel. A dupla comandou, entre 1970 e 1976, a usina de tortura, mortes e desaparecimentos que a ditadura instalou nos porões do famigerado DOI-CODI, em São Paulo. A ação, assinada por seis procuradores da República, contém demandas judiciais inéditas no país: pede à Justiça que declare a responsabilidade dos dois oficiais pelos crimes praticados sob seu comando. E requer que ambos sejam condenados a arcar solidariamente com o ônus financeiro das indenizações pagas pela União às vítimas da ditadura.

A ação civil, de 150 folhas, traz 64 nomes de pessoas mortas ou desaparecidas nos desvãos da máquina repressiva militar. Entre elas o jornalista Vladimir Herzog e o operário Manoel Fiel Filho. Pela ação, todos os 64 casos (...) foram reconhecidos pela Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos da Presidência da República, originando o pagamento de indenizações pela União aos parentes das vítimas, na forma prevista na Lei nº 9.140/956. Pede-se à Justiça que reconheça as atrocidades, declare a responsabilidade dos acusados e, em conseqüência, condene-os a responder pela reparação financeira dos crimes. A co-responsabilidade criminal do Exército é por sonegar documentos.

Leia no blog de Josias de Souza, da Folha de São Paulo, as informações completas. [2]

Palestinos exilados revelam o outro lado dos 60 anos de Israel

Dezenas de manifestações na Cisjordânia, Gaza, Síria, Jordânia e Líbano comemoram a Nakba (Catástrofe), a outra face do aniversário israelense. "Como vamos esquecer, se Israel nos lembra nossa história com suas matanças de cada dia?" Omar Suleiman Turk, 62 anos, nascido em Haifa e expulso para o Líbano em 1948, ainda bebê, junto com seus pais e uma irmã, resume sua vida miserável no campo de refugiados de Chatila, em Beirute: "Nunca conheci vários de meus irmãos maiores. Creio que um deles vive no Egito. Sei que outro morreu lutando com o exército jordaniano. Dos outros, não sei nada". É uma das muitas histórias ouvidas nos países árabes em torno de Israel.

Nesta quinta-feira (15/05) os palestinos comemoraram a Nakba: o desterro maciço de mais de 700 mil pessoas de sua terra na antiga Palestina e depois no recém-fundado Estado de Israel. Hoje são 4,5 milhões de refugiados que saíram às ruas em dezenas de manifestações. Chaves que simbolizam as casas das quais foram expulsos, sirenes e discursos moderados e incendiários salpicaram os atos em memória de sua tragédia, enquanto o presidente George W. Bush falava no parlamento israelense sobre o "terrorismo e a maldade".

"Já é hora de acabar com o desastre do povo palestino", pede o presidente palestino, Mahmud Abbas, que negocia com Israel um emperrado acordo de paz. O Hamas segue outro caminho. "Não reconhecemos Israel", diz o líder islâmico Mahmud Zahar. Sessenta anos depois, 1,5 milhão de habitantes de Gaza – ocupada pelo Egito até 1967 – vive hoje o assédio brutal de Israel, condenado pela totalidade das organizações de direitos humanos. A Cisjordânia sofre uma ocupação militar que transformou suas cidades e povoados em cárceres militares.

Matéria completa de Juan Miguel Muñoz para El País, somente assinantes UOL. [3]

BRINDE: NO III FESTIVAL INTERNACIONAL DA CANÇÃO DE 1968 OS VENCEDORES FORAM TOM JOBIM E CHICO BUARQUE COM A MÚSICA S A B I Á . A DITADURA NÃO PERCEBEU O CARATER REBELDE DA MÚSICA. UM BRINDE NAVOZ DE ELIS REGINA (Clique em “pausa” por alguns segundos, para carregar).

terça-feira, 13 de maio de 2008

A Távola Redonda

Mercadores da morte
São 17% os deputados ligados ao "lobby da cerveja", revela pesquisa da Folha de S. Paulo divulgada neste sábado. Realizada a partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral, a pesquisa mostra que quase um em cada cinco deputados – são 87 deputados federais – tem concessão de rádio e televisão e/ou receberam em 2006, da indústria de bebidas e de comunicação, mais de 2 milhões de reais em doações de campanha. Na semana passada, o projeto que restringe a propaganda de bebidas com baixo teor alcoólico, inclusive a cerveja, entre 6 e 21 horas em rádio e televisão, foi retirado da pauta de votações. Como são poderosos os mercadores da morte. [1]


Há mais de um mês, finórios membros da indústria de cerveja e de emissoras de rádio e TV, vão ao Congresso quase diariamente para fazer lobby contra o projeto de regulamentação. Ou seja, para manter a terra de ninguém em que se tornou a questão da propaganda de bebidas alcoólicas, que favorece o lucro de quem fabrica e de quem divulga. E, confirma-se agora, engorda o caixa de deputados. Este lucro com a cerveja deixa sempre capenga qualquer possibilidade da mídia de discutir com seriedade a principal causa de acidentes e mortes no trânsito. Como enfrentar Brahma, Skol, Kaiser, Antártica, Globo, Record, SBT, Band e o bando dos deputados?

Trava-se, pois, uma verdadeira batalha entre o Ministério da Saúde, de um lado, e o Congresso Nacional, a indústria de bebidas e a “indústria” da mídia, do outro. Nessa, conforme revela surpreendente matéria de capa do Jornal do Brasil desta segunda-feira: “o Brasil gasta mais de R$ 33 bilhões anuais com problemas decorrentes do álcool. Somam-se aí as despesas com acidentes rodoviários e assistência às vítimas, além dos custos do SUS com o tratamento direto a pacientes de alcoolismo. Segundo o governo federal, faltam dados mais precisos sobre casos que chegam às áreas de cardiologia e neurologia nos hospitais públicos”. [2]

Tucanos ainda menores
Morreu Artur da Távola, rara figura de homem público. Ex-senador, jornalista e escritor, Paulo Alberto Monteiro de Barros, faleceu no Rio aos 72 anos, nesta sexta-feira. O mínimo que se pode dizer dele foi dito pelo governador de Minas, Aécio Neves, para quem Artur foi uma referência, um formulador consistente. Um homem público diferenciado, que soube conciliar uma militância política expressiva com uma densa e profunda atividade cultural. Para a Direção do PSDB, seu partido, o Brasil perde um homem digno, um patriota, que soube conciliar política, honra e verdade. Nada mais correto. No entanto, talvez tenha sido Artur o último dos tucanos com essa plumagem.


Um outro viés: o senador também tucano Marconi Perillo e o governador Alcides Rodrigues (PP) foram mentores e principais beneficiários de um esquema de captação ilícita de recursos, utilização de notas fiscais frias, pagamento de despesas de campanha por meio de laranjas e outras fraudes eleitorais. É o que diz a denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernandes de Souza, oferecida ao ministro Ricardo Lewandowski do STJ. O documento do Ministério Público indicia os dois políticos goianos por formação de quadrilha, fraude processual e crime eleitoral. Esta matéria, da Agência Estado, de 09/05, não foi repercutida nos mais atentos jornalões. Por que será? [3]

Tampouco repercutiu o envolvimento do governo tucano de Yeda Crusius, do RS, com fraudes no Detran da ordem de R$ 5 bilhões. Já há 13 pessoas presas e outras 39 indiciadas pela Polícia Federal, revela a revista Carta Capital desta semana. [4] Outro assunto de corrupção que envolve dezenas de milhões de euros que parece não ser do agrado e interesse da grande mídia, embora interesse a todos os paulistanos. Trata-se da investigação internacional sobre pagamentos de propinas pela Alstom, a gigante empresa francesa de infra-estrutura. O esquema envolve licitações para o Metrô de São Paulo durante os governos tucanos Mário Covas e Geraldo Alckmin. [5]

EUA estimulam a divisão da Bolívia
O presidente boliviano, Evo Morales, acusou neste sábado os EUA de apoiar a divisão do seu país, atitude que ficou evidente na reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA), semana passada, quando o representante de Washington foi o único a não denunciar como inconstitucional a autonomia pretendida pelo departamento de Santa Cruz. Todos os demais países-membros da OEA manifestaram formalmente o entendimento de que o estatuto sobre a autonomia atenta contra a legalidade. [6] Por seu turno, não sem razão, o presidente Chávez, da Venezuela, acusa seu colega da Colômbia, de preparar uma guerra entre os dois vizinhos, estimulado pelo governo dos EUA. [7]


São fatos sem conexão? Vejamos mais um: Foi revelado pelo jornal gaúcho Zero Hora deste domingo, 11/05, que a equipe de informação do consulado dos EUA, em São Paulo, produziu um dossiê, com o carimbo de “sensível”, sobre a ministra Dilma Rousseff, da casa Civil, quando da sua investidura no cargo, em junho de 2005. Enviado ao banco de dados do Departamento de Estado, em Washington, o texto tem oito tópicos com a ministra sendo virada do avesso. Trechos do documento consignam que Dilma foi capturada e presa pela ditadura por três anos. Segundo o dossiê, ela padeceu 22 dias de brutal tortura de eletro-choque. [8]

Mais: Em 1º de julho os EUA aumentarão sua força militar na América Latina e Caribe com a reativação da IV Frota, encarregada de patrulhar os mares da região, informa a BBC. O pretexto de Washington desta vez não é nenhuma novidade: combater o terrorismo e o narcotráfico. A IV Frota foi criada, durante a 2ª Guerra Mundial, para combater os alemães nas águas da América do Sul. Volta agora, segundo o Pentágono, pelo “compromisso dos EUA com seus aliados da região”. Há aí um recado direto ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e, indiretamente, a todos os governos populares que não se alinham com a política externa de Washington. A maioria. [9]

Pelo visto, sobram razões ao governo brasileiro de não permitir que a IV Frota navegue livre por nossas águas territoriais. “Aqui não entra", disse o ministro da Defesa, Jobim, após encontro com militares, no Rio, nesta sexta-feira. Em pauta a acusação do subsecretário do Departamento de Estado, Thomas Shannon, de que o Irã tenta influenciar a América Latina. Seria essa acusação sugestiva da existência de armas de destruição em massa, desta vez em nossa região? Seria o Irã uma influência pior para a América Latina que nossa velha conhecida influência de Washington? É bom acharmos conexões para os fatos acima narrados. Em comum, o fantasma do tio Sam. [10]

BRINDE: PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE FLORES. GERALDO VANDRÉ COMEMORA CONOSCO OS 40 ANOS DO ANO QUE NÃO TERMINOU

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Vôo do condor

EUA buscam fragmentar a Bolívia
O embaixador de Washington na Bolívia, Philip Goldberg, foi escolhido para o cargo por sua larga experiência, como diplomata e depois embaixador, no desmembramento territorial e extermínio étnico na antiga Iugoslávia. O objetivo de agora é provocar divisões na Bolívia. É o que revelou à agência EFE o embaixador boliviano no México, Jorge Mansilla, durante a realização de um ato no qual recebeu manifestações mexicanas em apoio às reformas promovidas pelo presidente Evo Morales e contra o referendo separatista deste domingo no departamento de Santa Cruz. Tem razão o embaixador boliviano. A quem interessaria menos que aos EUA tão grave fragmentação de poder do governo? [1]


De onde vieram tamanhos recursos para tão rica campanha do sim pelo separatismo ilegal e inconseqüente, condenado tanto pelo Tribunal Superior Eleitoral quanto pela Organização dos Estados Americanos? Afinal não há nenhuma lei no país que permita que um governo regional realize uma consulta popular à revelia do governo central. A autonomia pretendida quer destituir a Corte Superior de Justiça como última instância da Justiça para assuntos dos departamentos, passando-os ao judiciário local. Maurício Ochoa, advogado constitucionalista e presidente da Associação Boliviana de Juristas, em entrevista à Carolina Juliano de UOL, não descarta uma tentativa séria de golpe de Estado. [2]

Para além dos desejos de Washington, com dificuldades na Colômbia pela relação do seu presidente com narcotraficantes e assassinos paramilitares, e tendo recém perdido os governos fantoches do Equador e do Paraguai, há um outro perigo não menos preocupante: o preconceito da eterna oligarquia predatória, que resiste com seus privilégios em torno do departamento de Santa Cruz. Mas não resiste ao “atrevimento” do indígena Evo Morales a propor na ONU, dia 22/04, segundo o jornal espanhol El País, sob aplauso veemente de cerca de 3000 delegados ao Foro Permanente para Assuntos Indígenas da ONU, a erradicação do capitalismo para combater o aquecimento global e salvar o planeta. [3]

Bienvenido, Fernando Lugo!
Dia 23 de abril, na “Folha de S. Paulo”, o jornalista Elio Gaspari acertou mais uma. Segundo ele, Itaipu não é o problema, é a solução. E dá a receita: “Juntos, Fernando Lugo e Lula poderão limpar as cavalariças da corrupção colorada”. Tem razão. O que menos importa na eleição de Fernando Lugo para a presidência do Paraguai é sua legítima intenção de renegociar o contrato de Itaipu, carro-chefe da campanha eleitoral. Revisões são sempre possíveis entre países, como entre empresas, principalmente agora em razão de um novo cenário de poder e uma nova correlação política regional favorável a uma integração. Que mal há em sentarem à mesma mesa, diplomatas e técnicos do setor?


O mais importante é a vitória de Lugo que quer "fazer com que o Paraguai seja conhecido por sua honestidade e não por sua corrupção". É o começo do fim da oligarquia sanguessuga, há décadas no poder por meio do Partido Colorado, que transformou o país em sua propriedade privada com feição de paraíso do contrabando, da lavagem de dinheiro, do banditismo. Sempre com a ajuda da oligarquia mafiosa brasileira, entranhada nas malhas do poder, notadamente promíscua nos anos de ditadura militar. Hoje, não é só tempo de limpar as cavalariças, também é de exorcizar fantasmas de 1864-1870. A ajuda brasileira ao Paraguai que Lugo quer é parte de uma dívida que vem de longe. [4]

O vôo do condor.
Escondido por mais de 12 horas na embaixada da Costa Rica, em Bogotá, onde viu recusado seu pedido de asilo, o ex-senador colombiano Mario Uribe Escobar, primo e aliado político do presidente Álvaro Uribe Vélez, foi preso na noite de 22/04, acusado de ligação com organizações paramilitares. Algumas horas mais tarde, o próprio presidente, antecipando-se à mídia, revelou ter sido ele mesmo denunciado pela Corte como participante, junto com o ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, e o vice-presidente Francisco Santos, dos preparativos para o massacre de El Aro, onde militares e paramilitares torturaram e assassinaram 15 camponeses, saquearam e queimaram suas habitações. [5]


Segundo a BBC, outros 32 congressistas e ex-congressistas da base política do governo já estão atrás das grades e outros 30 são investigados na Corte Suprema pelo mesmo crime do primo Mário. Na última semana mais três importantes aliados de Uribe, a presidenta do Senado Nancy Gutiérrez, o presidente do PU, Carlos García e o senador Ricardo Elcure também começaram a ser investigados pela Corte. O jornalista Ramiro Bejarano, de El Espectador, crê que a prisão de Mário é muito grave para o presidente porque abre as portas para que se revise todo seu passado político. Para o ex-senador Rafael Pardo, "aprofunda de maneira muito grave a crise, porque atinge aliados muito próximos do governo”. [6]

Esses dados, que a imprensa brasileira escondeu, fortalecem as denúncias dos vínculos familiares e pessoais do presidente Uribe com o narcotráfico e com os grupos armados ilegais que desde os anos 70 perseguem, torturam e assassinam lideranças sociais e populares. Virgínia Vallejo, ex-mulher do famigerado líder do cartel de Medellín, Pablo Escobar, revelou ligações do narcotraficante com o pai do presidente na década de 90. Como a comprovar, o relatório de 1991 da Agência de Inteligência da Defesa descreveu o atual presidente da Colômbia como estreito colaborador do cartel e “amigo próximo" de Pablo Escobar. Hoje, o país tem a maior taxa de assassinatos de sindicalistas no mundo. [7]

A história política pregressa e atual do presidente colombiano tem trazido muitas inconveniências a Washington, que vem investindo pesadamente na Colômbia como possibilidade única de estabelecer o QG sul-americano do seu expansionismo econômico. A pretensão de Bush de incorporar o país ao bloco da Alca, por exemplo, esbarra na forte oposição do Congresso dos EUA, pressionado pelos maiores sindicatos de lá. Motivo: o assassinato de milhares de lideranças sindicais colombianas pelo Exército e pelos grupos paramilitares aliados de Uribe. Aliança que fez o Parlamento Europeu também condenar o (narco-) para-presidente. [8]

BRINDE: MERCEDES SOSA [*] CANTA, NA SUIÇA, "DUERME, DUERME, NEGRITO" (BELÍSSIMA CANÇÃO DE NINAR). (Deixe alguns segundos na posição pausa para carregar).

O Manifesto