quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Zumbi imortal

1. Como diz o poeta Éle Semog, "existem certas/Coisas/Que só os NEGROS/Entendem... existe uma/História/Que só os NEGROS/Sabem contar/... Que poucos podem/Entender."
2. Quando o leitor fica preso à agenda proposta pela imprensa, tem-se a impressão de que estamos envolvidos num diálogo de surdos que ignoram a linguagem de sinais.
3. Golpistas históricos apelam de novo para a violência e a ruptura da Democracia, quando esta não lhes serve mais, porque o povo passa a reconstruir democracias com alma social.
4. CPMF, uma matéria com esse grau de importância e complexidade não pode ser analisada em termos de situação e oposição, mas sob a ótica do interesse do país.


A imortalidade de Zumbi e a insanidade do racismo. (Cansada de responder a uma vizinha que insistia em perguntar se eu era enfermeira e se meu apartamento era alugado, registrei queixa na delegacia...). Celebro o 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, com um provérbio africano: "Até que os leões contem suas histórias, os contos de caça glorificarão sempre o caçador", que ressalta o crime do mandatário da capitania de Pernambuco, Caetano de Melo e Castro, que espetou a cabeça de Zumbi dos Palmares (1655-1695) para que apodrecesse na praça do Carmo, em Recife, conforme escreveu ao rei de Portugal.

Cansei! De tanto ouvir que o centro dos problemas dos negros no Brasil é a pobreza, radicalizei: "Quer ficar em meu lugar apenas por um dia?" Aprendi que "quando você se defrontar com argumentos cheios de remorso de que não existe discriminação racial no Brasil, que o preconceito contra o negro é social e que os negros são complexados, pergunte ao interlocutor cheio de culpas se ele já passou um dia de negro" (*). É ignorância achar que, superada a pobreza, adeus racismo! ... (...Disse-lhe N vezes que era médica e dona do apartamento, mas ela esquecia! Só parou quando registrei queixa na delegacia).
Leia o texto original da escritora Fátima Oliveira no Portal Vermelho.

A imprensa não estimula a inteligência. Há um desnível sensível entre a pauta da imprensa brasileira e latino-americana e a abordagem das demais instituições que influenciam ou informam os poderes e a opinião pública. Com clara desvantagem para a imprensa. Basta comparecer a qualquer evento promovido por universidades, institutos de estudos, instituições para se perceber como a imprensa se arrasta na retaguarda. (...) Da mesma forma, o tema da responsabilidade social apresenta uma dianteira inalcançável em outros foros em relação aos esforços da mídia.


Se levarmos em conta os estudos do Instituto Latinobarómetro, do Chile, os debates do Instituto de Estudos Avançados da USP e muitos outros a imprensa parece estacionada nas origens da Revolução Industrial. (...) Veja-se, por exemplo, a repercussão do "cala-boca" do rei da Espanha ao presidente Chávez. Embora o presidente Lula tenha levantado a questão da desigualdade de condições entre o monarca – que não depende de votos para se manter no poder – e um governante que precisa se submeter a eleições, a imprensa se desviou da questão e se ateve ao factóide em si.

Esse era um bom momento para pensar, por exemplo, na persistência das monarquias no mundo contemporâneo, com o anacronismo do conceito de direito divino ao poder. Na falta de abordagens menos convencionais, a opinião pública ficou atrelada ao que indica o viés ideológico de cada um, sem que se oferecesse a oportunidade para uma reflexão mais profunda sobre as relações entre a Espanha e suas antigas colônias, por exemplo.
Leia em Observatório da Imprensa
o texto integral de Luciano Martins Costa.

As oligarquias contra a democracia. É uma lei de ferro da história: as oligarquias dominantes lutam sempre desesperadamente para não perder o poder que controlam, a ferro e fogo, há séculos. Quando o povo e as forças populares ameaçam esse poder, elas apelam para a violência. Primeiro apelavam diretamente à intervenção militar dos EUA, depois, às forças armadas, formadas e coordenadas com os EUA. Agora seguem suas estratégias de violência e obstáculo aos processos de democratização no continente, onde quer que ele se dê, sob a forma que seja. Essas ações violentas são parte da história do nosso continente.

As mais recentes foram os golpes militares, que derrubaram governos eleitos legitimamente pelo povo, para substituí-los por ditaduras militares, demonstrando a tese enunciada acima: no Brasil, na Argentina, no Chile, no Uruguai, na Bolívia, a violência introduziu regimes de terror em todo o cone sul. São partidos políticos, personagens da política tradicional, grandes empresas privadas, corporações empresariais, que apoiaram e tiveram gigantescos benefícios durante as ditaduras militares, que hoje encarnam a direita latino-americana, disfarçados de democratas, opondo-se aos novos avanços populares.
Texto postado por Emir Sader no blog do Emir.


Brasil, país da despesa permanente e receita provisória. O principal desafio do governo neste mandato é aprovar a prorrogação da CPMF. É que o Brasil possui despesas permanentes e receitas provisórias, numa combinação extremamente preocupante. O debate sobre o tema, portanto, requer muita seriedade e responsabilidade de todos já que a eventual rejeição da PEC terá conseqüências imprevisíveis, tanto na regularidade dos investimentos e dos programas sociais, quanto na fiscalização do crime organizado.

O Brasil é um dos poucos países do mundo cuja transferência direta ultrapassa 60% da receita, montante destinado ao pagamento de pensionistas e servidores, ativos e inativos, de benefícios de prestação continuada, como previdência e assistência, de seguro-desemprego, bolsa-família, entre outros. Sem a receita proporcionada pela CPMF, a paz social corre risco. Além disto, o programa de investimento, cuja formulação levou em consideração essa previsão de receita e a flexibilização de gasto, também ficaria comprometido, com prejuízo para o crescimento econômico e para a geração de emprego e renda.

O PAC da Infra-Estrutura, da Ciência e Tecnologia e da Saúde correria o risco de perder o ritmo ou até de interrupção pela falta de recursos. A CPMF também é um instrumento fundamental para o combate à sonegação e, principalmente, ao crime organizado, a lavagem de dinheiro e ao tráfico de drogas. A simples eliminação desse mecanismo de fiscalização e arrecadação, sem garantia da continuidade da receita e dos meios para combate ao crime organizado, é uma atitude que ameaça a governabilidade.
Leia no Boletim do DIAP matéria completa do jornalista Antônio Augusto de Queiroz.


BRINDE: VEJA E OUÇA O MAGISTRAL POETA URUGUAIO EDUARDO GALEANO SOBRE A CONJUNTURA E O JOGO DO PODER, EM DEZ MINUTOS.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

O Islã e o fundamentalismo

1. É tempo de mudar o modelo de produzir, transformar, comercializar e consumir alimentos e produtos agrícolas, de forma que a soberania alimentar dos povos seja garantida.
2. O mercado de livros está cheio de obras sobre o diverso mundo árabe. Muitos no topo dos mais vendidos. Poucos cuidam de esclarecer a generalizada associação dele com o Islã.
3. Uma sonora ameaça aos interesses da sua economia, fez a Espanha correr a colocar panos-quentes na arrogante recaída colonial da realeza espanhola.
4. O governo colombiano, apoiado no narcotráfico e no banditismo paramilitar, vive num impasse com as guerrilhas, sem solução à vista.
5. A TV pública brasileira enfrenta o desafio de ajudar a democratizar a informação e a produção cultural brasileira, de modo a romper a hegemonia da “mídia de mercado”.


Pequenos produtores esfriam o planeta. O atual modelo global de produção, de consumo e de mercado causa destruição massiva do meio ambiente. Entre as conseqüências, o aquecimento global que coloca em risco os ecossistemas de nosso planeta. Este fato mostra o fracasso do modelo de desenvolvimento baseado no consumo de energia fóssil e na superprodução. Movimentos camponeses de todo o mundo unem seus esforços com os de outros movimentos sociais, organizações e comunidades em defesa de transformações sociais, econômicas e políticas radicais que permitam reverter essa perversa tendência atual.

(...) A Via Campesina, que congrega movimentos campesinos no mundo inteiro, acredita que uma agricultura sustentável em pequena escala e o consumo local de alimentos vai inverter a atual devastação e sustentar milhões de famílias camponesas. A agricultura pode contribuir para o esfriamento da terra utilizando práticas agrícolas que reduzam a emissão de CO2. E os camponeses também podem contribuir na produção de energia renovável.
Leia na íntegra a posição da Via Campesina.

Por que o Ocidente despreza o Islã? Nas simplificações grosseiras sobre o mundo árabe, a vítima oculta somos nós mesmos. Ao projetarmos sobre o outro nossa visão de atraso, de intolerância e de fundamentalismo, não enxergamos como estão sob ameaça os melhores valores de nossa civilização. Os conceitos religiosos, étnicos e de identidade nacional, que definem os muçulmanos, os árabes e afegãos, não são o forte da maioria da população que acaba identificando a todos, sem distinção, como seguidores do Islã.

Edward Said mostrou como a representação literária dos muçulmanos como bárbaros, primitivos, violentos, decadentes e irracionais legitimou os interesses dos grandes poderes da era colonial. No pós-11 de setembro, a mídia passa a demonizar os muçulmanos com vistas a iniciar um novo ciclo de dominação e subjugação, agora comandado pelos EUA. Qualquer indivíduo que ostente um turbante ou véu na cabeça é quase que automaticamente definido como fanático, fundamentalista, atrasado e... terrorista.

Assim, o cidadão médio constrói um Islã fundamentalista, pleno de explosivos Osamas e reprimidas mulheres sob véus; um povo que corta mãos de ladrões, que apedreja condenados até a morte e proíbe prazer e diversão. Não é a toa que esta representação do “mulçumano” logo vira best-seller e abastece o imaginário de milhões de cidadãos no Ocidente que se horrorizam e se deliciam. São projeções do “outro” que também servem para reforçar a nossa suposta normalidade em face de um contraponto tão bizarro.
Leia em Le Monde Diplomatique matéria completa de César de Souza e Sílvia Ferabolli.


Recaída colonial. Como na época da colônia, a metrópole não sobrevive de sua economia intrafronteira. E se hoje não manda mais nos países sul-americanos, precisa de seus mercados para expandir seus negócios. E que nenhuma bravata real se coloque no meio do caminho. O chanceler espanhol teve que participar de um café da manhã com os empresários do seu país para acalmá-los e pediu publicamente que a controvérsia da inconveniente atitude do rei fosse esquecida para não afetar os interesses empresariais na Venezuela.

A Repsol fica no país, mesmo com a mudança das regras na exploração do petróleo da bacia do rio Orinoco, e não quer mais turbulências em seu negócio. No mesmo barco, os bancos Santander e BBVA, com presença crescente no importante mercado venezuelano. A justa reação de Chávez, ao ameaçar fiscalizar as empresas espanholas, diminuiu o topete real.
Leia o texto completo do jornalista Mair Pena Neto.


Um simples telefonema do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, pôs fim à intermediação do presidente venezuelano Hugo Chávez com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). É curioso que a dispensa da ajuda ocorra um dia após o presidente venezuelano ter afirmado na França ao presidente Sarkosy que a FARC ofereceria provas de que está viva a ex-candidata presidencial franco-colombiana Ingrid Betancourt, seqüestrada desde 2002. Sarkosy e a família de Ingrid lamentaram a saída de Chávez.

Uribe, marionete do governo Bush, teme que o presidente venezuelano consiga a pretendida solução para o conflito e amplie sua liderança política, que tanto contraria os EUA, e desmoralize de vez o governo da Colômbia. Com a decisão de Uribe, volta tudo à estaca zero. Os 45 reféns que estão nas mãos da FARC que se danem.
blog do Mello


TV Brasil. A TV pública, veículo que, por definição, tem o papel de servir ao interesse público de forma independente dos projetos econômicos e políticos do mercado e dos governos, é uma velha conhecida dos telespectadores europeus. Tem desempenhado uma função extremamente relevante no universo midiático de países como Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Portugal, Holanda e outros, mas no Brasil o conceito é uma novidade que está lutando para fincar raízes entre produtores de conteúdo, telespectadores e políticos.

Os questionamentos mais comuns sobre o projeto brasileiro de TV pública, a TV Brasil, referem-se: ao grau de interferência (ou de atrelamento) do Governo na sua gestão política e no seu conteúdo; à capacidade de responder ao desafio de produzir material de qualidade que atenda às expectativas de um público acostumado ao padrão dos canais privados e à capacidade de levar o sinal a todas as regiões do país.

No país não há acúmulo de conhecimento sobre este modelo de televisão, ao contrário da Europa, onde a radiodifusão nasceu pública na maioria dos casos. Lá, predomina o conceito de comunicação televisiva como um serviço público prestado (e concessível) pelo Estado. Para garantir a gestão da TV pública com foco exclusivo o interesse maior da população, sem interferência dos governos e das forças políticas que os ocupam.
Leia a matéria de Verena Glass para a Agência Carta Maior.


BRINDE: MILTON NASCIMENTO E CHICO CANTAM “O QUE SERÁ”, EM 1976 NA REDE BANDEIRANTES. IMPERDÍVEL.


segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Arrogância e realeza

1. O “porque não te calas” de Juan Carlos é uma dessas tentativas de desqualificar um ato de soberania. Uma manifestação multissecular de desprezo pela pauta do colonizado.
2. O Departamento de Estudos Técnicos da Unafisco revela que a tributação sobre o consumo e o incidente sobre os salários dos trabalhadores respondem por 65% dos tributos no Brasil.
3. Política bolivariana de Chávez e do aliado Evo Morales se mostra eficaz. Em estudo chileno, os dois países lideram a escala de satisfação popular com a distribuição de renda.
4. Ignacio Ramonet, Diretor de "Le Monde Diplomatique" diz que a reforma de Chávez dá poder à sociedade e defende observatórios para monitorar imprensa.


A arrogância da realeza espanhola é uma cultura de 500 anos. Juan Carlos de Bourbon é o exemplo mais emblemático da postura arrogante dos portadores do DNA dos nossos exploradores históricos, espanhóis e portugueses que, mancomunados, exterminaram, de forma impiedosa, numerosas nações que agrupavam nossos antepassados índios que bravamente reagiram à imposição do trabalho escravo. E o objetivo do alienígena não era outro senão extrair do nosso solo toda a riqueza que consolidou a soberania econômica da península ibérica. Agora, é nossa tentativa de soberania que começa a incomodar a antigos e novos impérios.

Nada incomoda mais aos EUA do que o fato de algum país do seu quintal não seguir sua receita e suas imposições comerciais, sua exploração. O que incomoda não é o fato de a Venezuela querer recriar a república bolivariana ou Cuba manter-se socialista. É a soberania desses paises que incomoda: por não querer aceitar os espertos tratados de livre comércio, que nada têm de livre. Por não aceitar a “democracia” estadunidense, que hoje é imposta por mais de 750 bases militares fora do seu território e centenas de acordos de “colaboração” espalhados pelo mundo. Quem não está no figurino do tio Sam, está no “eixo do mal”.

A franchising da dominação cria um conluio de nações que as redes de notícias denominam de “aliados”, termo usurpado da união de nações em luta contra o nazi-fascismo que assolou o mundo nos anos 30 e 40. Hoje banalizado, o termo tem servido ao mal, como a ilegal invasão do Iraque, a proteção de ditaduras como a da Arábia Saudita, do Paquistão e outras, e a irrestrita defesa do criminoso expansionismo israelense. Nesse jogo, José María Aznar, como Tony Blair e outros, é um pitboy de Bush. Todos contra o sonho de soberania de que a rejeição à ALCA e a tentativa de integração latino-americana são os primeiros passos.
Leia a matéria de Sidnei Liberal no Boletim HSLiberal.

O ex-ministro da Saúde Adib Jatene ganhou mais notoriedade no debate sobre a CPMF, ao passar um pito no presidente da Fiesp, Paulo Skaf, flagrado pela jornalista Mônica Bergamo. Skaf, à frente da poderosa entidade do capital industrial, está em campanha, pelo fim da CPMF. O cardiologista e ''pai'' da CPMF, segundo Mônica, falou alto e de dedo em riste ao empresário: ''No dia em que a riqueza e a herança forem taxadas, nós concordamos com o fim da CPMF. Enquanto vocês não toparem, não concordamos. Os ricos não pagam imposto e por isso o Brasil é tão desigual. Têm que pagar! Os ricos têm que pagar para distribuir renda''.

Skaf tenta rebater (sempre conforme a colunista da Folha de S.Paulo): ''Mas, doutor Jatene, a carga no Brasil é muito alta!''. E Jatene: ''Não é, não! É baixa. Têm que pagar mais. Por que vocês não combatem a Cofins (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social), que tem alíquota de 9% e arrecada R$ 100 bilhões? A CPMF tem alíquota de 0,38% e arrecada só R$ 30 bilhões''. Skaf desconversa: ''A Cofins não está em pauta. O que está em discussão é a CPMF''. E Jatene, certeiro: ''É que a CPMF não dá para sonegar!''. Estava coberto de razão em seu diálogo acalorado com Skaf. Ele pôs o dedo na ferida com precisão cirúrgica.
Leia no Boletim do DIAP matéria integral de Bernardo Joffily.

O presidente Lula sumiu. Cresceu 9 pontos em 2 anos, na América Latina, a confiança no Estado para a resolução de todos os problemas da sociedade, mostrou o Estudo Latinobarómetro 2007, com sede no Chile. O estudo abrange 18 países, onde foram feitas 20,2 mil entrevistas entre 7 de setembro e 9 de outubro últimos. A amostra representa 100% da população, e a margem de erro das respostas é de 3% para cima ou para baixo. O resultado é um amplo e consolidado retrato da percepção de democracia, Estado, economia e instituições na região onde 11 dos 18 países avaliados passaram por eleições presidenciais.

O estudo mostra que os venezuelanos são os mais otimistas quanto ao futuro: 60% acham que a situação econômica do país melhorará nos próximos 12 meses. Os venezuelanos, como os Colombianos, também têm as melhores expectativas para a situação econômica familiar. Curiosidade: outro resultado da pesquisa, o de que pelo segundo ano consecutivo o presidente Lula é o governante mais bem avaliado (5,7 numa escala de 0 a 10), sumiu do conteúdo da matéria nas páginas internas da do jornal Folha de S.Paulo de 17/11.
Leia o texto completo da jornalista Luciana Coelho na Folha de S.Paulo de 17/11.

Renovação à esquerda. Diretor do "Le Monde Diplomatique", Ignacio Ramonet, em mais um périplo pela América Latina, falou no Salão Nacional do Jornalista Escritor (SP), promovido pela A.B.I. Ramonet vem defendendo o projeto de criação de observatórios destinados a monitorar a mídia, segundo ele "o único poder que não tem um contrapoder". Em entrevista à Folha de S.Paulo, ele defendeu com veemência o governo do venezuelano Hugo Chávez. Disse também que considera um alento o fato de esquerdas "muito diferentes" estarem surgindo na região, frente ao esgotamento dessa força ideológica no resto do mundo.

Para minha geração, nascida logo após a Segunda Guerra, o grande debate político foi a descolonização, a africana em particular, mas simultaneamente prestamos muita atenção ao que acontecia na América Latina com a Revolução Cubana, as guerrilhas, a repressão. Hoje o interesse é maior porque, quando todas as esquerdas internacionais parecem esgotadas, aqui surgem esquerdas muito diferentes entre si, mas com apoio popular forte em quase todos os países em que há eleições. (...) A tensão política em torno da Venezuela tem razão na rapidez e na força da transformação lá, que desestabiliza os poderes tradicionais.
Leia a íntegra da entrevista de Claudia Antunes, editora de Mundo, na Folha de s.Paulo.

BRINDE: A MARAVILHOSA EDITH PIAF: NON, JE NE REGRETTE RIEN (NÃO, EU NÃO ME ARREPENDO DE NADA).

sábado, 17 de novembro de 2007

Coração Valente

Sidnei Liberal

A arrogância da realeza espanhola é uma cultura de 500 anos. Juan Carlos de Bourbon é o exemplo mais emblemático da postura arrogante dos portadores do DNA dos nossos exploradores históricos, espanhóis e portugueses que, mancomunados, exterminaram, de forma impiedosa, numerosas nações que agrupavam nossos antepassados índios que bravamente reagiram à imposição do trabalho escravo. E o objetivo do alienígena não era outro senão extrair do nosso solo toda a riqueza que consolidou a soberania econômica da península ibérica. Agora, é nossa tentativa de soberania que começa a incomodar a antigos e novos impérios.

Nada incomoda mais aos EUA do que o fato de algum país do seu quintal não seguir sua receita e suas imposições comerciais, sua exploração. O que incomoda não é o fato de a Venezuela querer recriar a república bolivariana ou Cuba manter-se socialista. É a soberania desses paises que incomoda: por não querer aceitar os espertos tratados de livre comércio, que nada têm de livre. Por não aceitar a “democracia” estadunidense, que hoje é imposta por mais de 750 bases militares fora do seu território e centenas de acordos de “colaboração” espalhados pelo mundo. Quem não está no figurino do tio Sam, está no “eixo do mal”.

A franchising da dominação cria um conluio de nações que as redes de notícias denominam de “aliados”, termo usurpado da união de nações em luta contra o nazi-fascismo que assolou o mundo nos anos 30 e 40. Hoje banalizado, o termo tem servido ao mal, como a ilegal invasão do Iraque, a proteção de ditaduras como a da Arábia Saudita, do Paquistão e outras, e a irrestrita defesa do criminoso expansionismo israelense. Nesse jogo, José María Aznar, como Tony Blair e outros, é um pitboy de Bush. Todos contra o sonho de soberania de que a rejeição à ALCA e a tentativa de integração latino-americana são os primeiros passos.

Não podemos esquecer que Aznar perdeu o poder justamente por ter sido flagrado pelo eleitor espanhol, às vésperas do pleito nacional de 2004, em uma farsa montada com parte da mídia espanhola sobre a autoria do ataque terrorista ao trem madrileno. Confirmada a autoria de um grupo de origem árabe e não ação da esquerda ligada ao grupo separatista basco ETA, o pitbull fascista, desmascarado, perdeu as eleições. De bandeja, o poder ao insosso José Luiz Zapatero, que até hoje é refém do PP (o Demo de lá) e puxa-saco de El-Rey. Não nos esqueçamos que Juan Carlos é filhote de Franco, a quem traiu para manter o cetro.

É que Juan Carlos de Bourbon, hoje, é garoto-propaganda de grandes empresas espanholas. As mesmas empresas que foram arregimentadas pelas ordens de Aznar à sua embaixada em Caracas, em abril de 2002, conforme o próprio embaixador revelou 2 anos depois, para apoiar o golpe contra o governo legal e legitimamente constituído na Venezuela. Vitorioso o golpe midiático e militar, o embaixador e executivos empresariais foram os primeiros a participar do beija-mão do efêmero ditador Pedro Carmona, antes mesmo do entusiasmado aplauso do representante dos EUA, conforme revelou Mauro Santayana ao Jornal do Brasil.

O “porque não te calas” de Juan Carlos é uma dessas tentativas de desqualificar um ato de soberania. Uma manifestação multissecular de desprezo pela pauta do colonizado. Uma atitude que o próprio Chávez qualificou de explosão: “quando o Rei explode diante de expressões de um índio, está explodindo 500 anos de prepotência imperial...” Prepotência que permite a El-Rey não responder a uma incômoda pergunta do presidente venezuelano: se ele sabia do golpe de abril de 2002 contra o governo venezuelano democraticamente eleito. São muitas as razões para o sábio conselho de frei Pilato: “Chávez, não se cale!”

Frei Pilato Pereira, frade capuchinho, de Santa Maria (RS), vai mais além: “Não há mais colônia espanhola por essas bandas. Ora, o rei esqueceu que deste povo latino americano nasceram José Martí, Simon Bolívar, Che Guevara e outros compatriotas da Pátria Grande que encorajaram o povo a lutar pela liberdade e não aceitar mais a opressão”. Sobram razões ao presidente brasileiro Lula para condenar os críticos da legitimidade democrática do mandato e dos atos de Chávez . Como sobram razões ao presidente da Venezuela para rever, como profundidade, as relações políticas econômicas e diplomáticas com a Espanha.

De novo, o ex-presidente Aznar, como revela o jornal argentino Página /12 desta sexta-feira, 16/11, é suspeito de mais um golpe em nossa América: o de financiar governadores, agentes sócio-políticos e imprensa com o objetivo de aprofundar os movimentos separatistas na Bolívia. O financiamento é de uma velha golpista, do Brasil de 1964, a USAID, agência de “cooperação” estadunidense. Há poucos dias, o presidente Evo Morales mostrou, na Cúpula Ibero-americana do Chile, a fotografia em que se vê o embaixador dos EUA em companhia de conhecido paramilitar colombiano, hoje preso na Bolívia.

Legítimo representante da sua gente e da cultura do seu país, herdeiro da bravura rebelde e heróica de 500 anos, coube ao índio-presidente uma frase lapidar: “Si yo me callara gritarían las piedras de los pueblos de América Latina”. Resposta perfeita à repercussão prenhe de euforia dada pela nossa mídia colonizada e por apressados operadores sócio-políticos, aqui e alhures, pretensos porta-vozes da opinião pública. “É o cala-boca que o mundo queria dizer”, dizem, com petulante e duvidosa criatividade. Referem-se a que ou a qual mundo? Ao mundo que tem a cabeça do eterno colonizado e ao mundo colonizador. Provavelmente.

A Escócia do século 13, os clãs divididos pelas disputas de territórios e poder político, tornara-se presa fácil. O Rei inglês, Edward "The Longshanks", invadiu a Escócia com seus exércitos impiedosos esmagando toda resistência. A tarefa de resistir foi deixada para um escocês comum, William Wallace, um fazendeiro livre. O Coração Valente. Conclamando milhares de escoceses para a sua causa, Wallace enfrenta imensas desvantagens para lutar pela liberdade do seu povo. A América de 1498 foi presa fácil natural à impiedosa invasão de El-Rey. O Coração Valente da América Latina é a consciência do seu povo.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

A roda da História

1. Mais do que uma imprensa privada, a mídia é mercantilizada, o que fragiliza a Democracia. E o liberalismo escamoteado de "liberdades" reduziu os receptores das informações a simples consumidores.
2. “Si yo me callara gritarían las piedras de los pueblos de América Latina” (Hugo Chávez).
3. Com a deformação geral dos dados pelo prisma ideológico da grande mídia, torna-se necessário buscar nas fontes primárias de informação as bases da nossa análise.
4. As primeiras experiências mais duradouras do regime comunista no mundo mantêm surpreendente e significativa fidelidade no coração da Europa.


Pluralidade e pensamento crítico. Ao se proclamar formadora e porta-voz da "opinião pública", a mídia brasileira sufoca a pluralidade de visões e, na mão de poucos grupos familiares e políticos, suprime o pensamento crítico do debate nacional (Emir Sader e Marilena Chauí, ontem, 13/11, em Salvador). Um dos casos mais emblemáticos do desvario reinante na imprensa brasileira foi a afirmação de um graduado jornalista sobre os resultados das eleições de 2006: o povo, ao reeleger Lula, teria contrariado a opinião pública.

A mídia utiliza estratégias para impor à população um papel de agente passivo na construção social, política e econômica do país e no processo de supressão progressiva da Democracia. Pesquisa recente da Folha de S.Paulo constatou que seus leitores são, em absoluta maioria, integrantes das classes A e B, com grande poder aquisitivo e cultura de consumo. Daí, Emir Sader destacar que, por um lado, o jornal resume seu universo editorial em ser pautado e pautar a "opinião pública" de uma determinada classe. Por outro, busca ser o construtor e filtro do consenso e definindo "o quê, quando e sobre o quê se fala”.
Leia em Agência Carta Maior o texto de Verena Glass.


O presidente Hugo Chávez é descuidado e franco no que fala. Usa metáforas quase divertidas, como chamar Bush de diabo. Mas, não exagerou ao qualificar o ex-primeiro-ministro espanhol José Maria Aznar de fascista. Aznar, em 2002, atreveu-se a dar ordens ao presidente Eduardo Duhalde, da Argentina, para que cumprisse as exigências do FMI. No mesmo ano, conforme confessou o próprio chanceler espanhol, Aznar deu ordens para que apoiasse o golpe contra Chávez. E seu embaixador foi o primeiro a cumprimentar o líder do golpe, empresário Pedro Carmona, antes, até, do entusiasmado aplauso do representante dos EUA.

Não se pode pedir a Chávez que trate bem o ex-primeiro ministro espanhol. Mas, se Chávez, mestiço venezuelano, homem do povo, fugiu à linguagem diplomática, o rei Juan Carlos foi imperial e grosseiro, ao dizer-lhe que se calasse. O rei, criado por Franco, tem deixado a majestade de lado para intervir cada vez mais na política (e na economia) espanhola, cuja presença na América Latina tem causado crescente mal-estar.

Os dirigentes latino-americanos amenizarão diplomaticamente o estrago, mas o "cala a boca" de Juan Carlos doeu em todos os homens honrados do continente. O rei atuou com intolerável arrogância, como se fossem os tempos de Carlos V ou Filipe II. Durante os últimos anos de Franco, a oposição republicana espanhola se referia ao príncipe com certo desdém, considerando-o pouco inteligente. Na realidade, ele nada tinha de bobo, mas, sim, de astuto, vencendo outros pretendentes ao trono e assumindo a chefia do Estado. Agora, no entanto, merece que a América Latina lhe devolva, e com razão, a ofensa:
é melhor que se cale!
Leia em
Portal Vermelho texto completo de Mauro Santayana.


Para compreender a força de Lula. Está na PNAD, Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio, de 2006, a explicação para a popularidade do presidente, que intriga mídia, direita e parte da esquerda. O país tornou-se menos desigual, em múltiplos sentidos. E chamar os avanços alcançados de "assistencialismo" não ajuda a entender a realidade, nem a reivindicar mudanças mais profundas. É tempo de fazer as contas. Com a deformação geral dos dados pelo prisma ideológico da grande mídia, torna-se necessário buscar nas fontes primárias de informação, nos dados do IBGE, como andam as coisas.

A PNAD de 2006 explica não só os votos, como o caminho que temos pela frente. Destacam-se o aumento de 8,7 milhões de postos de trabalho no país e a elevação do nível de rendimentos dos trabalhadores em 7,2%. Tudo isso em 2006, quando, ademais, o salário mínimo teve um ganho real de 13,3%. Um fortíssimo salto para o trabalhador do “andar de baixo”. De outro lado, a Síntese de Indicadores Sociais 1996-2006 documenta amplos avanços no nível da educação. Pelos dados, fica evidente que a população mais desfavorecida do país votou no segundo turno não por desinformação, mas por sentir que a sua situação está melhorando.

Falar bem do governo parece até suspeito, mas, falar mal pode ser igualmente suspeito. Muito mais importante é entender o que está acontecendo. Por trás do palco da política oficial que a imprensa nos apresenta e que é o lado mais visível dos grandes discursos, há o imenso trabalho organizado de milhares de pessoas numa máquina de governo que, por herança histórica, foi estruturada para administrar privilégios, e não para prestar serviços.
Leia em Le Monde Diplomatique matéria de Ladislau Dowbor.

Alemães orientais preferem o comunismo. Para marcar a data da queda do Muro de Berlim, o Der Spiegel fez uma pesquisa, divulgada neste sábado (10/11), com mil alemães que cresceram nos dois lados do país, divididos até novembro de 1989. A conclusão, para desespero do semanário alemão, é que, mesmo depois de 18 anos da queda do muro, 92% dos germânicos orientais, de 35 a 50 anos, ainda preferem o regime comunista ao capitalista. Já 60% dos jovens, de 14 a 24 anos que moram no Leste, lamentam nada haver restado do comunismo.

O Der Spiegel fez a pesquisa com duas gerações distintas de alemães orientais e ocidentais com o objetivo de obter um retrato dos resultados da unificação na psique nacional. A conclusão é que o muro ideológico ainda permanece nas mentes alemãs, quase duas décadas após a reunificação. O método da pesquisa constatou que praticamente não há diferenças entre as gerações mais jovens e mais velhas na sua forma de pensar a reunificação.

(...) Quatro anos após o lançamento do filme “Adeus, Lênin!”, do diretor alemão Wolfgang Becker, que teve como pano de fundo o dilema da reunificação sob a égide capitalista, com o fim da Guerra Fria, a pesquisa reafirma que o ideal comunista não morrerá tão cedo nos corações dos alemães que viveram as primeiras experiências mais duradouras do regime no mundo. A manifestação com 50 mil pessoas em Moscou (Rússia), no último dia 7 de novembro, por ocasião das comemorações dos 90 anos da Revolução Russa, é apenas mais uma fotografia do quanto por lá esse sentimento continua extremamente vivo.
Leia aqui o texto completo de Carla Santos para o Portal Vermelho.


BRINDE: JULIO CORTÁZAR, EM ENTREVISTA CONCEDIDA À TVE (TELEVISÃO ESPANHOLA), EM 1977, FALA SOBRE SUA FAMÍLIA, PRIMEIROS ESCRITOS, A ARGENTINA E O EXÍLIO. O GENIAL ESCRITOR ARGENTINO AINDA REVELA DETALHES DO PROCESSO CRIATIVO DE SEUS CONTOS E QUAIS ERAM SEUS HÁBITOS DE ESCRITA (Divulgado pela Entrelivros)

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

A hierarquia do poder

1. “Basta analisar os programas dos principais candidatos às eleições presidenciais de 2008, para perceber que a “velha” estratégia imperial se mantém de pé, integralmente” (José Luís Fiori).
2. “O dever constitucional da função social da propriedade e o respeito aos direitos coletivos são ameaçados pela pressão dos países ricos e seus conglomerados econômicos” (Carol Proner).
3. “Desde as priscas eras, o problema do mundo é mesmo um só - uma luta de classes cruel e sem fim” (Zeca Baleiro).
4. As redes privadas, sempre arredias ao controle público, querem, coléricas, normatizar a TV pública no molde dos seus interesses comerciais.


As eleições e a doutrina estratégica imperial. É comum atribuir à eleição de George W. Bush e aos atentados de setembro de 2001 a definição da atual doutrina estratégica imperial dos EUA. Mas, foi seu pai, George H. W. Bush, quem propôs, em primeiro lugar, desde 1990, logo depois da queda do Muro de Berlim, que os Estados Unidos adotassem uma política internacional preventiva, de contenção universal, para impedir o aparecimento de novas potências capazes de rivalizar com os EUA, depois do desaparecimento da União Soviética.

Por isto, o bombardeio “teleguiado” Bagdad, em 1991, cumpriu um papel semelhante ao do bombardeio atômico de Hiroshima e de Nagasaki, em 1945: apresentou ao mundo o novo arsenal, e a nova estratégia estadunidense, e definiu a nova hierarquia de poder, dentro do sistema mundial pós Guerra Fria. Com a diferença que, neste caso, não houve uma “rendição” explícita dos derrotados, nem um “acordo de paz” entre os vitoriosos, que consagrasse uma nova ordem mundial, como aconteceu logo depois da Segunda Guerra.

A ausência deste pacto foi encoberta pela comemoração coletiva da vitória e, durante a “era Clinton”, pela envolvente força da utopia da globalização, com sua crença no fim das fronteiras, das guerras, e da própria história. Mas, mesmo assim, à sombra da “globalização”, durante os anos do governo Clinton, os EUA aprofundaram a doutrina estratégica, proposta pelo presidente Bush (pai), apesar da retórica liberal e multilateralista do presidente Clinton.

(...) Como conseqüência, ao terminar a década de 90, os EUA já haviam construído um verdadeiro “cinturão sanitário”, separando a Alemanha da Rússia, e a Rússia da China. E consolidado uma infra-estrutura mundial de poder, com cerca de 750 bases e meio milhão de soldados fora do seu território, com controle quase absoluto dos oceanos e do espaço, e com uma rede de acordos de defesa e ajuda militar, com cerca de 130 países.
Leia integralmente o texto de José Luís Fiori escrito para a Agência Carta maior.


Função social para a propriedade. O debate sobre a propriedade do conhecimento vem ganhando crescente importância nos fóruns internacionais. Em especial na Organização Mundial do Comércio (OMC) onde o tema da propriedade intelectual industrial tornou-se alvo de acirrada disputa. O assunto ainda é relativamente desconhecido da maioria da população, embora diga respeito a vários aspectos do nosso cotidiano. Os medicamentos genéricos são, provavelmente, a ponta mais conhecida desse debate, constituindo hoje um sério ponto de divergências entre o seleto clube das nações mais ricas do mundo e o resto dos mortais.

O debate é marcado por uma forte pressão dos países ricos pela liberalização do comércio e por maior proteção jurídica à propriedade intelectual, incluído as mais diversas áreas do conhecimento. A liberalização acrítica avança em todos os setores do comércio, trazendo conseqüências desastrosas às economias que não possuem estrutura para suportar a concorrência de produtos e serviços. Neste cenário de subdesenvolvimento e subordinação tecnológica, a propriedade intelectual industrial cumpre um papel fundamental no sentido de aprofundar as desigualdades tecnológicas.

“Além disso, esse debate está relacionado ao direito de comunidades tradicionais e indígenas, detentoras de rica biodiversidade e conhecimentos tradicionais. Vivendo, na maioria das vezes, em condição de pobreza, essas comunidades não são capazes de defender seus direitos, e sofrem a ameaça do patenteamento desse conhecimento por parte de grandes grupos transnacionais”. É o que sustenta Carol Proner, Doutora em Direito Internacional, pesquisadora da UniBrasil e da Universidade Pablo de Olavide, de Sevilha (Espanha), em entrevista a Marco Aurélio Weissheimer, de Carta Maior.
Leia a entrevista completa publicada na Agência carta Maior.

Um sumário de Zeca Baleiro: No início de outubro, o apresentador Luciano Huck escreveu sobre o roubo de seu Rolex. O artigo gerou uma avalanche de cartas ao jornal, uma delas escrita por mim. Há momentos em que me parece necessário botar a boca no trombone, nem que seja para não poluir o fígado com rancores inúteis. Foi o que fiz. Foi o que fez Huck, revoltado ao ver lesado seu patrimônio, sentimento, aliás, legítimo. Eu também reclamaria caso roubassem algo comprado com o suor do rosto. Reclamaria na mesa de bar, em família, na roda de amigos. Nunca num jornal.

Por que um cidadão vem a público mostrar sua revolta com a situação do país, alardeando senso de justiça social, só quando é roubado? Lançando mão de privilégio dado a personalidades, utiliza um espaço de debates políticos e adultos para reclamações pessoais (sim, não fez mais que isso), escorado em argumentos quase infantis, como: "sou cidadão, pago meus impostos".

A surpreendente repercussão do fato revela que a disparidade social é um calo no pé de nossa sociedade - desfilaram intolerância e ódio à flor da pele, a destacar o espantoso texto de Reinaldo Azevedo, colunista da revista Veja, notório reduto da ultradireita caricata, perigosa. (...) A exclusão social não justifica o pendor ao crime, mas ninguém poderá negar que alguém sem direito à escola está mais vulnerável aos apelos da vida bandida. Por seu turno, pessoas públicas não são blindadas e estão sujeitas a roubos, violências ou à desaprovação de leitores, especialmente se cometem textos fúteis sobre questões tão críticas.
Texto completo de Zeca Baleiro publicado no Portal Vermelho .

No bastidor, redes agem contra TV pública. Preocupadas com a eventual perda de publicidade oficial, as principais redes do país deflagraram uma campanha nos bastidores políticos para modificar a medida provisória (MP) que criou a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) _a futura rede pública do governo federal. Integrantes da Abert (a associação das TVs), Globo, Record e SBT decidiram pedir a parlamentares para que apresentem emendas definindo o que é publicidade institucional e apoio cultural. A idéia é limitar o financiamento da TV pública com publicidade.

A MP proíbe na EBC "anúncios de produtos e serviços", mas libera a captação de "publicidade institucional de entidades de direito público e privado, a título de apoio cultural, admitindo-se o patrocínio de programas, eventos e projetos". A EBC terá R$ 350 milhões do Orçamento da União e pretende arrecadar R$ 60 milhões com publicidade. "Isso é um desvirtuamento", protesta Daniel Pimentel, presidente da Abert.
Original de Daniel Castro na Folha de S. Paulo de 29.10.2007.


BRINDE: CONHEÇA A NOVA ESCALADA ENERGÉTICA DO BRASIL NO RANKING MUNDIAL. AUSPICIOSA NOTÍCIA PUBLICADA NO UOL, EM 08/11/2007, AS 17H37.

domingo, 4 de novembro de 2007

Internacionalismo solidário

1. Nenhum filme da época de criança, dos sessentões de hoje, marcou mais que “Por quem os sinos dobram?” Do livro de Hemingway, o lindíssimo filme de Sam Wood, com Gary Cooper e Ingrid Bergman, retrata o internacionalismo solidário da guerra civil na Espanha.
2. Os tucanos, que fizeram a farra das concessões, a influente bancada parlamentar dos radiodifusores e o Demo têm mais um objetivo comum: o combate à TV pública.
3. Neste dia 3 de novembro, o Paquistão, um dos muitos paises de ditadores apoiados pelos EUA, destituiu a Corte Suprema e prendeu a oposição. Manchetes do dia seguinte: “Chávez quer perpetuar-se no poder”. Detalhe: em 17 países da união européia a reeleição é ilimitada.
4. Somente EUA e Israel, com apoio de Ilhas Marshall, Palau e Micronésia, votam contra a liberdade de comércio e de navegação. Um silêncio ensurdecedor da mídia pelo 16º ano consecutivo.


Lei "limpa" passado de guerra civil e ditadura fascista na Espanha. A Câmara dos Deputados da Espanha aprovou uma lei que pretende enterrar o legado da Guerra Civil Espanhola (1936-39) e da ditadura fascista de Francisco Franco, encerrada com sua morte, em 1975. A chamada Lei da Memória Histórica foi aprovada depois de muita polêmica e debate, e prevê indenizações às vítimas tanto da guerra como da ditadura, entre outros pontos. Um dos principais pontos da nova lei é o que torna "ilegítimos" todos os julgamentos militares feitos por motivos políticos, ideológicos ou de crença religiosa durante a ditadura franquista.

A medida abre a via para a anulação desses julgamentos nos tribunais e os pedidos de reparação. Outro ponto é a eliminação dos símbolos do fascismo e de Francisco Franco dos locais públicos, que poderá provocar tensões, pois há uma minoria no país que ainda é franquista. A lei foi defendida pelo premiê espanhol José Luis Rodríguez Zapatero, neto de um capitão republicano fuzilado pelas tropas de Franco. “Mas é também um sinal da normalização de um assunto doloroso na Espanha, que se arrasta há várias décadas", explica de Paris o historiador Luiz Felipe de Alencastro.
Leia mais em: UOL News Internacional

Quem são os inimigos da TV Brasil? Três notícias recentes, publicadas sem qualquer alarde, revelam quem são os principais inimigos da TV pública, que deve entrar no ar em dezembro. 1. “O presidente do PSDB, Tasso Jereissati, fez ao ministro Guido Mantega uma exigência adicional para que os tucanos concordem em votar a favor da CPMF”. “Querem que o governo, ‘para mostrar que está mesmo disposto a cortar seus gastos correntes’, arquive a idéia ou, pelo menos, adie a implementação da Empresa Brasil de Comunicação”. 2. “o DEM (Demo), ex-PFL, deve questionar na Justiça a medida provisória que criou a TV Pública".

As poderosas redes de televisão reforçam o movimento da oposição de direita: Segundo notícia publicada na coluna Outro Canal, do jornal Folha de S.Paulo, elas agem nos bastidores para sabotar a iniciativa. “Globo, Record e SBT decidiram pedir aos parlamentares que apresentem emendas definindo o que é publicidade institucional e apoio cultural. A idéia é limitar o financiamento da TV pública com publicidade...” A pressão da mídia terá o apoio explícito ou enrustido da influente bancada parlamentar dos radiodifusores – a mesma que sabota a instalação da CPI para averiguar a sinistra venda da TVA, da Abril, para a Telefônica.

A mesma bancada que renova, sem critérios ou transparência, as concessões públicas. Acostumada a usufruir sozinha dos milionários recursos em publicidade e manipulando as consciências, ela teme a concorrência de uma rede pública de qualidade, mais plural e democrática. A ditadura da mídia, que sofreu forte desgaste na sucessão presidencial e que teme os efeitos da convergência digital, sabe que a TV Brasil, com subsídios e competência, pode comer importantes fatias da audiência. Neste sentido, a Empresa Brasil de Comunicação, gestora da nova rede pública, representa um abalo no poder hegemônico da mídia privada.
Leia no boletim DIAP o texto completo de Altamiro Borges.

Venezuelanos apóiam reforma constitucional. Uma pesquisa de âmbito nacional divulgada dia18 de outubro mostra que a maioria dos venezuelanos apóia a reforma constitucional proposta pelo presidente Hugo Chávez. O levantamento foi feito pela empresa Alemica Estadísticos Consultores e seu objetivo básico foi ouvir a população a respeito de cinco itens: avaliação do governo, aceitação da reforma proposta, expectativas sobre esse processo, opinião sobre o debate feito até o momento e a questão da reeleição presidencial. No total, foram ouvidas 1250 pessoas, de 22 dos 24 estados venezuelanos.

O resultado do levantamento foi enviado à imprensa nacional e internacional. A margem de erro para o trabalho é 1,6% a 2,7%. Os dados mostram que se o referendo que dará sim ou não à reforma fosse hoje, cerca de 65% da população ficaria ao lado do presidente. A votação está marcada para o dia 2 de dezembro. Segundo os dados, 58,1% dos entrevistados acreditam que a nova Constituição dará mais poder ao povo; 73% disseram que irão às urnas em 2 de dezembro (o voto é facultativo na Venezuela); e 65% aprovam o governo de Hugo Chávez. Apesar de amplo domínio sobre a mídia, a oposição não consegue mudar a tendência.
Mais informações sobre a pesquisa no Portal Vermelho

Pela 16ºano consecutivo a ONU pede o fim do bloqueio a Cuba. Nova resolução aprovada nesta terça-feira pela Organização das Nações Unidas pede que EUA suspendam embargo que já dura quatro décadas e fere Carta da ONU e direito internacional. Intitulada de “necessidade de encerrar o embargo econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos da América a Cuba”, a resolução foi aprovada com 184 votos a favor, quatro contra e uma abstenção. Como ocorreu em 2006, além dos EUA, Israel, Palau e Ilhas Marshall votaram contra a resolução. Já a abstenção ficou por conta da Micronésia.

O relator especial de Direito à Alimentação da ONU, Jean Ziegler, qualificou o embargo como uma “arrogância unilateral” e um ataque à ordem internacional. Em função do bloqueio, Cuba não pode, entre outras restrições, exportar nenhum produto para o mercado norte-americano, nem receber turistas vindos dos EUA. Não tem acesso a créditos e nem pode utilizar o dólar em suas transações com o exterior. Os navios e aviões cubanos estão proibidos de tocar portos e aeroportos dos EUA. Essa política impede importações de subsidiárias norte-americanas instaladas em outros países e sanciona investimentos estrangeiros em Cuba.
Matéria completa de Marco Aurélio Weissheimer em Agência Carta Maior

BRINDE: LEVE CHICO BUARQUE PARA SEU COMPUTADOR (UM PRESENTINHO DO MEU PROVEDOR UOL).

O Manifesto