sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Um arranjo virtuoso e raro


O pânico dos mercados induziu à pane na razão.

Dizia o professor Luiz Gonzaga Belluzzo, no dia 19 deste, na Folha de S Paulo, que a pedagogia truculenta da crise financeira ensinou como a paralisia no sistema de crédito causa fortes danos ao mundo “real”. Os bancos não emprestam, as empresas reduzem a produção e o emprego, a atividade econômica afunda e... As certezas dos analistas mais certeiros desmoronam.

Para Belluzzo, além do bloqueio do crédito, a crise planetária também ameaça paralisar os cérebros, até mesmo os bem-dotados. Atônitos, os sábios de ontem embarcam em hipóteses exóticas e peregrinas, como as que culpam os devedores (gente irresponsável) que aceitaram empréstimos oferecidos por bancos “generosos”. Ou os políticos que estimularam os créditos predatórios.

Segundo o professor, a pane cerebral afeta com particular virulência o pensamento imune à experiência histórica. Ele se refere à intolerância dos nossos “analistas” com uma era em que o capitalismo juntou prosperidade, avanço tecnológico, inovação institucional e redução das desigualdades. E... a mais baixa freqüência de crises financeiras e de crédito, desde o século 19.

Trata-se do “modelo” do pós-guerra cujo sucesso os crítico de hoje desconfiam ter nascido de um arranjo virtuoso entre a democracia e o capitalismo. Sucesso que deu 30 anos de progresso material, menos desigualdades nos países centrais e altas taxas de crescimento na América Latina e na Ásia.

“O ‘mal’, como sempre, é o ‘intervencionismo’ do Estado, o poder dos sindicatos, o controle dos mercados financeiros e do movimento de capitais. (...) E fundados receios de que o bote salva-vidas do Estado ‘populista’ seja baixado para resgatar a turma do ‘andar de baixo’”, finaliza Belluzzo.
Estados Unidos, Israel e... Palau contra o mundo.

A Assembléia Geral da ONU aprovou nesta quarta-feira uma resolução que pede o fim do embargo econômico e comercial declarado há quase meio século pelos Estados Unidos contra Cuba. Dos 192 países que integram a ONU, 185 países votaram a favor, apenas Estados Unidos, Israel e... Palau foram contra. Outros dois países (países?) se abstiveram: Ilhas Marshall e Micronésia.

Segundo Notícias UOL, esta é a 17ª vez consecutiva que a ONU aprova uma resolução que critica estas sanções unilaterais dos Estados Unidos e pede sua revogação. A resolução apresentada ao plenário pelo chanceler cubano, Felipe Pérez Roque, recebeu, nesta ocasião, um apoio superior ao do ano passado, quando foi respaldada por 184 países e rejeitada por quatro.

"Vocês estão sozinhos, completamente isolados", disse pouco antes da votação Pérez Roque, dirigindo-se à delegação americana. Em seu discurso, o chanceler cubano disse que "sete em cada dez cubanos passaram a vida sob esta política irracional e inútil". E que "o bloqueio é mais velho que o senhor Barack Obama e que toda minha geração".

Cidadãos brasileiros, por exemplo, não podem adquirir um computador portátil da DELL Brasil por meio de crédito se, ao preencher o cadastro, declarar que em tendo oportunidade gostaria de visitar Cuba. A empresa informou ao jornal O Globo que a restrição segue normas de Washington.

O embargo econômico à Cuba foi instituído pelos Estados Unidos em 1962, três anos após a deposição do ditador Fulgêncio Batista pela Junta Militar Revolucionária cubana. E antes da fracassada invasão da Baía dos Porcos, financiada pelos Estados Unidos.

As 25 notícias mais censuradas

1. Informe anual sobre violações de direitos sindicais. O primeiro informe Anual de Violações dos Direitos Sindicais, publicado no aniversário da Confederação Sindical Internacional (ITUC, sigla em inglês), documenta enormes desafios aos direitos dos trabalhadores ao redor do mundo.

A edição 2007 do informe que cobre 138 países revela um alarmante crescimento no número de pessoas assassinadas como resultado de suas atividades sindicais: de 115 em 2005 a 144 em 2006. Seqüestros ou “desaparecimentos”, prisões por participações em greve ou protesto, dispensas do emprego por se sindicalizar.

Também cresceu o número de lideranças sindicais vítimas da brutalidade da polícia e assassinadas por serem vistas como opositores aos governos. Neste aspecto, a Colômbia segue sendo o país com maior mortalidade de sindicalistas do mundo: 78 pessoas em 2006, 8 a mais que no ano anterior.

2. Crueldade e morte em prisões juvenis dos EUA. Após ampla investigação nos Estados Unidos, os advogados de menores de idade condenaram asperamente as condições de detenção dos jovens delinqüentes em que ocorrem desde abusos sexuais e físicos até a morte de menores em seus alojamentos.

Uma investigação feita pela agência de notícias Associated Press nos centros de correção juvenis dos EUA confirmou mais de 13.000 demandas de abusos físicos e sexuais por parte dos servidores, entre 2004 e 2007. Pelo menos cinco jovens morreram por “técnicas agressivas de alojamento”.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Uma receita de Prêmio Nobel



É hora de gastar o dinheiro público

“Está politicamente na moda se queixar contra os gastos do governo e exigir responsabilidade fiscal. Mas, no momento maiores gastos do governo é exatamente o que o médico recomenda, e as preocupações com o déficit orçamentário devem esperar”. Quem afirma é o mais novo Prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman, colunista de The New York Times.

Segundo Krugman, “enquanto o mercado de ações maníaco-depressivo domina as manchetes, a história mais importante é a grave notícia sobre a economia real”. Para ele, o resgate aos bancos é apenas o começo: a economia não financeira também está precisando desesperadamente de ajuda.

O cenário do Nobel é o despencar das vendas no varejo e da produção industrial nos EUA, onde o nível de desemprego já aponta para uma recessão que será feia, brutal e longa. Seu temor é que se esteja a buscar soluções apenas superficiais como as que substituíram a recessão produzida pelo estouro da bolha da tecnologia do final dos anos 90 pela fatídica bolha imobiliária destes tempos.

A tese de Krugman parece incomodar nossos habituais economistas tupiniquins, apressados em identificar os sinais da crise que ainda não chegou. Que já chegou para aquelas empresas que, aconselhados por banqueiros/especuladores internacionais, embarcaram na loteria do dólar futuro.

E por que a tese incomoda? Porque ela é a antítese da surrada e patética catilinária dos editoriais dos nossos principais jornais. Nossos “especialistas” condenam os “gastos do governo”, que é como vêem os investimentos públicos. Gastar dinheiro público tem sido a vitamina da nossa economia interna, um dos fundamentos contra os efeitos da crise. Uma receita de Prêmio Nobel.


As 25 notícias mais censuradas

Vi o mundo, blog do jornalista Luiz Carlos Azenha, publicou o ranking anual das 25 notícias mais ocultadas pela grande imprensa dos EUA e do mundo em 2007/2008. São informações do Projeto Censurado da Universidade Sonoma State da Califórnia, reunidas no livro Censored 2009.

O livro reúne valiosos trabalhos acadêmicos sobre o jornalismo atual, como a concentração da propriedade dos meios de comunicação, a manipulação da informação e a liberdade de expressão nos EUA e no mundo. E informa sobre a luta pela democratização dos meios informativos.

O genocídio no Iraque, com 1,2 milhões de civis mortos pelas tropas dos EUA, desde que começou a invasão há cinco anos, é o tema que encabeça o ranking do projeto. A América Latina está presente em vários trabalhos que apontam para o ressurgimento das guerras sujas dos EUA que ameaçam as democracias da região. São esforços para resgatar a forte influência do passado.

Também consta do livro o funcionamento da Academia Internacional de Aplicação do Direito (ILEA), cuja sede no Peru ensina a torturar, a matar e demais matérias da mal-afamada Escola das Américas. E o ressurgimento da IV Frota que objetiva atemorizar os paises latino-americanos não alinhados ao expansionismo de Washington.

O documento também revela as inquietudes frente ao avanço das idéias progressistas na América Latina a partir da iminente vitória da esquerda em El Salvador. Mostra como a nova legislação migratória impõe o regime de semi-escravidão ao trabalhador hóspede. E divulga levantamentos que classifica o governo da Colômbia como líder mundial de assassinatos de sindicalistas.

Pressões da sociedade têm influências sobre a tragédia de Santo André

Convidado pelo Jornal Hoje, da Rede Globo, nesta segunda-feira, para debater questões levantadas pela trágica história de Eloá e Lindemberg, o psiquiatra e psicanalista Raul Gorayeb, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, contrariou visivelmente as expectativas da emissora. Um balde de água fria no clima de euforia com que a notícia vinha sendo tratada.

Perguntado se os diálogos gravados pela polícia revelam algum desvio de personalidade do jovem, o médico preferiu questionar o modo pelo qual a sociedade atual forma os jovens. Ela exige que eles aprendam a TER a qualquer custo, não importa o preço que se pague. Ele é instigado a não aceitar falhas, perdas, insucessos, e reagir às vezes de forma bombástica quando as coisas não vão bem.

“Onde ficou, no nosso processo educacional, o lugar para que as pessoas aceitem que a vida também é feita de insucessos e problemas? Eu não o coloco como vítima, mas todos nós somos frutos de uma sociedade, na medida em que somos por ela educados”, completa Gorayeb.

À pergunta do Jornal Hoje se 12 anos não é muito cedo para começar um namoro o psiquiatra diz não haver fórmulas. E que somos nós, a sociedade, que empurramos os jovens para uma maturidade precoce, para a atividade sexual, como se, sem isso, a pessoa não pudesse entrar no circulo das pessoas importantes. Para ele, a relação com alguém mais velho pode indicar dificuldade pessoal.

Sobre o papel dos pais no processo, Gorayeb relembra uma tragédia histórica e artística, a história de Romeu e Julieta, para afirmar que a influência dos pais pode ser boa, mas também pode ser catastrófica. Para a Rede Globo é melhor transformar a catástrofe em espetáculo fantástico.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

A linha do Equador

Túnel liga o Equador à estação de Pinheiros

Sobram razões ao governo do Equador para lastimar a reação do governo brasileiro na questão entre aquele país e a Odebrecht. O governo Lula, cada vez mais obsequioso com as pressões da mídia nacional, assume a defesa dos interesses de uma empresa que, ultimamente agindo em bando, tem sido protagonista de algumas lambanças e tragédias, no Brasil e no exterior.

Em resposta à expulsão da construtora Odebrecht do país andino, o governo brasileiro decidiu adiar compromissos diplomáticos com Quito. Ao nosso governo e à nossa mídia pouco interessa clarear as irregularidades cometidas pela empresa brasileira, aliada à mundialmente mal-afamada francesa Alstom, na construção de uma usina hidrelétrica que teve de ser fechada após um ano de uso.

As providenciais e firmes atitudes do governo do Equador, que inclui o combate a uma farta e usual distribuição de propinas pelas empresas envolvidas, conflitam com a passividade com que a mídia nacional e o governo de São Paulo vêm tratando as lambanças e tragédias dessas mesmas empresas.

A obra da linha 4-Amarela, tocada pelo bando de empresas que inclui as mesmas Odebrecht e a mundialmente mal-afamada francesa Alstom, desde maio de 2007 já danificou e/ou afundou mais de 300 casas no bairro de Butantã. Em janeiro de 2007, uma obra do mesmo bando na futura estação Pinheiros, também na zona oeste, cedeu. Matou sete pessoas e engoliu alguns veículos.

O consórcio de empresas atribuiu a tragédia a "surpresas" geológicas. O Instituto de Pesquisas Tecnológicas, por outro lado, deu como causa o descumprimento de parte do projeto pelas empreiteiras. Como no Equador, exceto pela complacência de Estado e Mídia.

Para deixar as coisas como estão

Presidente da mais alta corte do país, chefe de um dos três poderes da República, o ministro Gilmar Mendes confessa ser sócio de empresa que mantém contratos sem licitação com diversos órgãos do governo federal. Sua empresa foi aquinhoada com cerca de 2,4 milhões desde o ano de 2000. Mais: o ministro comprou por vias transversas terrenos de 2 milhões de reais por um quinto do valor.

A divulgação dessas práticas nada republicanas do ministro foi por feita pela revista Carta Capital e entendida por ele como uma “pistolagem jornalística”, que “não condiz com o Estado de Direito e de liberdade”. Interessante notar como a mídia prontamente repercutiu esta avaliação de Gilmar, embora não tenha demonstrado o menor interesse em repercutir as revelações da Carta Capital.

À mídia interessa divulgar Gilmar apenas quando se trata de alardear uma não comprovada gravação telefônica do ministro, cujo interesse é reforçar sua estranha tese sobre uma pretensa crise de governabilidade no país. Uma paranóia extemporânea e suspeita.

Sobre a prática empresarial de Gilmar, vale lembrar que em idênticas circunstâncias, salvo pelo cumprimento dos preceitos licitatórios legais, o filho do presidente Lula quase foi crucificado pela mídia nacional. Reação incomparável com a do silencioso socorro feito com dinheiro público ao banco Nacional, dos Magalhães Pinto, unidos por laços familiares a um dos filhos de FHC.

A suspeita cumplicidade entre mídia, Gilmar e cardeais oposicionistas tenta forjar um clima de “estado policialesco”. No real, uma provável cortina de fumaça a tentar encobrir fatos adversos ao corporativismo de poder, como diz o jornalista Mino Carta, “para deixar as coisas como estão”.

O novo livro de Leandro Fortes

Um livro ousado onde o jornalista baiano, carioca e, desde 1990, brasiliense, Leandro Fortes, não diz como a profissão de jornalista deveria ser. Isso já é dito nos principais textos adotados nas escolas de jornalismo. Leandro mostra a profissão como ela é. E não esconde as regras obscuras dentro das redações nem os chefes sem escrúpulos, subservientes e sem caráter.

O jornalista, formado pela Universidade Federal da Bahia e pela vida de foca nas ruas de Salvador, revela neste “Os segredos das redações: o que os jornalistas só descobrem no dia-a-dia” como o jornalismo, uma profissão apaixonante e corajosa, cheia de boas conseqüências para a sociedade, consegue congregar tantas “alminhas pequenas abertas ao suborno e ao achaque”.

Os bastidores de uma das profissões mais romantizadas do planeta, o jornalismo, seus segredos e mitos, são revelados neste livro. É uma leitura essencial para os estudantes de jornalismo, para jornalistas recém-formados e profissionais das redações.

Professor de jornalismo no Instituto de Educação Superior de Brasília, Iesb, Leandro é autor de Jornalismo investigativo e co-autor de O Brasil no contexto. Em linguagem simples e objetiva, seu novo trabalho, editado pela Editora Contexto, contém 110 páginas de segredos da vida nos jornais.

Em Brasília, Leandro atuou no Correio Braziliense, e nas sucursais de O Estado de S Paulo, Zero Hora, Jornal do Brasil, O Globo, revista Época e TV Globo. Também foi chefe da Agência Brasil e da Radiobrás. É um dos fundadores e dirigentes da Escola Livre de Jornalismo, em Brasília. Também é repórter da sucursal brasiliense de revista Carta Capital.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Rua do Bom Jesus, da Cruz, dos Mercadores


Os agiotas da rua do Bom Jesus

Até poucas décadas atrás, a rua do Bom Jesus, de frenético movimento dos comerciantes do atacado pernambucano, era mais conhecida como a rua da Putas. É que, no cenário noturno, o frenesi da rua era protagonizado por uma outra fauna bem definida: de um lado, maloqueiros, golpistas, jogadores, ladrões e agiotas e, do outro lado, estudantes de mesada parca e comerciários sonhadores. Os primeiros, em busca de negócios escusos, de dinheiro fácil. Todos, a procura de um aconchego carnal. Centenas de prostitutas faziam ponto nos andares de cima dos sobrados históricos, de arquitetura eclética e aparência festiva.

A rua já tivera outras denominações: da Cruz, dos Mercadores. Mas, ficaram firmadas no consciente coletivo da cidade suas denominações mais populares: rua da Putas e rua dos Judeus. Ali, a maioria dos comerciantes era de judeus, cuja presença histórica está fincada em um dos edifícios da rua, construído sobre os alicerces da primeira sinagoga erigida no Novo Mundo. Os pernambucanos aprenderam a questionar se houve benefício na expulsão dos holandeses. Como conseqüência, os judeus, expulsos daquela rua e do Brasil, fundaram Nova Amsterdã. A nova povoação foi depois capturada pelos ingleses e rebatizada com o nome de Nova Iorque.

A ligação quase umbilical das ilhas de Manhattan e do Recife antigo, permite ao inconsciente do antigo adolescente pernambucano uma incontornável analogia entre a rua do Bom Jesus e a rua que se tornou o centro mundial do capitalismo moderno: Wall Street. A rua dos negócios dos papéis, das mercadorias, da especulação, da cobiça sem limite e sem regras. Atividades eticamente comparáveis às dos maloqueiros da rua das Putas, da agiotagem e do jogo de fazer dinheiro fácil.


The brazilian bad-boys of Wall Street

Diariamente, ouve-se no Bom-dia, Brasil! muita coisa sobre a crise gerada pelos especuladores de Wall Street e sobre seus desdobramentos no mundo e no Brasil. Mas, deve-se precaver com a leitura das entrelinhas e a interpretação daquilo que mais se assemelha uma torcida contra o Brasil, como parece mostrar os textos matutinos da Rede Globo de Televisão.

Tudo sob o aval da esperta Míriam Leitão ou de um ou outro “especialista” na área, quase sempre os mesmos. Colonizados e submissos, não fazem nenhuma avaliação crítica marcante sobre o banditismo financeiro que gerou a atual crise.

Preferem fazer coro com manjados executivos das finanças, os especuladores locais, a alardear sobre a chegada da crise ao Brasil e sobre as medidas que o governo deveria tomar. Consideram sempre “insuficientes” ou “atrasadas”. Mesmo conscientes de que o pânico na bolsa de São Paulo decorre da debandada do capital especulativo, que saiu a tapar buracos financeiros em suas origens.

Mesmo sabendo que o Brasil está preparado com reservas para enfrentar os dias difíceis que se anunciam. Diferentemente de outras épocas, recentes, em que a economia do Brasil sofria interferência do FMI e era movida pelo aumento da dívida com credores internacionais.

Hoje, além de uma confortável reserva em dólares, o Brasil tem, como avalia a economista Maria da Conceição Tavares, “algumas vantagens para enfrentar a crise, entre elas a existência de três fortes bancos estatais e algumas empresas públicas de peso, salvas das privatizações desfechadas pelo governo FHC. Isso dá ao governo instrumentos para intervir no mercado”.


Como funciona o “livre” mercado

Debra Anderson administra uma agência imobiliária em sua cidade natal de McCloud, um pequeno vilarejo turístico situado nos contrafortes do majestoso monte Shasta, no norte da Califórnia. Hoje, Debra dedica seu tempo e sua energia para lutar contra o grupo Nestlé.

Em 2003, Debra ficou sabendo de uma reunião de informação do conselho do distrito sobre um projeto de construção, pela Nestlé, de um complexo industrial que captará a água do rio McCloud na sua fonte. O recurso será engarrafado e comercializado pela multinacional.

"Os funcionários da Nestlé nos apresentaram um projeto enorme, eu pensava que aquela era uma simples reunião preliminar". Não era: no dia seguinte, a cidade se depara com a informação de que, logo depois do encerramento da reunião, o conselho assinou sem mais nem menos o contrato proposto pela Nestlé. Chocada diante desta precipitação, Debra obteve uma cópia do documento.

"A Nestlé havia conseguido obter condições inacreditáveis: não seria realizado nenhum estudo prévio de impacto ambiental; tratava-se de um contrato exclusivo de cem anos, pelo qual a companhia teria o direito de bombear até 4.700 litros de água por minuto - inclusive em detrimento dos habitantes durante os períodos de seca -; o preço de compra da área de captação era irrisório”.

O acordo dava à Nestlé o direito de demolir por completo a antiga usina da cidade onde existe um projeto de transformação destas construções numa zona de atividades alternativas. . . "Em troca, a Nestlé se comprometia a criar 240 empregos, e a pagar diversas taxas e impostos”. A multinacional acabaria ainda se beneficiando de reduções de encargos fiscais. Leia mais em Le Monde.

O Manifesto