sábado, 24 de abril de 2010

O bando da Via Amarela

1. As empresas Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e... Alstom constitui o consórcio Via Amarela. Cada uma dessas empresas, quando separada, já constitui historicamente uma grande dor de cabeça para quem se encarrega de fiscalizar a aplicação do dinheiro público. Especialmente no que se refere a sua relação com os políticos donos dos respectivos poderes. Imagine-se agindo em consórcio ou... em bando.

Ainda está pendente a responsabilização pelo desabamento da futura estação Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. O “buraco de Serra”, como ficou conhecido, matou sete pessoas e engoliu alguns veículos. Ainda hoje, governo do estado e consórcio Via Amarela se engalfinham na produção de perícias e laudos. Cada qual a querer “tirar o seu da reta”. Do mesmo modo, até hoje não se resolveu o problema da obra da linha 4-Amarela que, desde maio de 2007, durante o governo Serra, já danificou e/ou afundou mais de 300 casas no bairro de Butantã, também na zona oeste da capital paulistana.

2. Mas, como é que a internacionalmente mal afamada Alstom, multinacional francesa produtora de trens e metrôs veio parar na seara tucana? A história é herdada do governo Covas, que passou por Alckmin e chegou a Serra. Virou caso internacional de polícia, envolvendo grandes somas em paraísos fiscais. No entanto, o caso provavelmente pouco ou nada repercutirá nas tevês e nos jornais, ou nas instâncias políticas usuais. É que se trata de um fato que envolve a recente administração do candidato da oposição (e da mídia) à presidência da República. Além de envolver outros tucanos de alta plumagem.

Segundo matéria da Folha de S Paulo¹ desta quinta-feira (22 de abril), “o Ministério da Justiça vai encaminhar nos próximos dias à Suíça e à França pedidos de quebra do sigilo bancário de 19 pessoas. Elas são suspeitas de receber propinas da Alston para que a multinacional francesa vencesse concorrências do governo de São Paulo”. Entre os suspeitos, Robson Marinho, atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado e ex-chefe da Casa Civil do governo Mario Covas, e o engenheiro Jorge Fagali Neto, irmão do presidente do Metrô. Ano passado, a Suíça já havia bloqueado contas atribuídas a Marinho e a Fagali Neto.

Também na lista do Ministério da Justiça, o empresário Sabino Indelicato, ex-secretário de Obras de Robson Marinho, quando este foi prefeito de São José dos Campos. Segundo a folha, “investigadores suíços suspeitam que uma empresa de Indelicato, a Acqua Lux, recebeu recursos da Alstom sem prestar os serviços”. Outro da lista é o executivo francês Jean-Pierre Courtadon, que descolou para a Alstom um contrato de R$ 98 milhões com a Eletropaulo em 1998.

Nas suspeitosas burras da Alstom há histórias de propinas em contratos com o Metrô e a Eletropaulo, assinados nos governos de Mário Covas e Geraldo Alckmin. O foco passou para a gestão José Serra por indícios contidos em novos documentos produzidos na Suíça, que envolve ações ilícitas da Alstom no Brasil, Argentina, Indonésia, Inglaterra. Como registra a Folha, o Ministério Público da Suíça revelou que “a Alstom francesa enviava recursos para a sua filial suíça, que simulava contratos de consultoria para pagar comissões ilegais a políticos e funcionários públicos.” A relação promíscua também atinge os veículos leves sobre trilhos do governo Arruda, no Distrito Federal.

3. A Camargo Correa foi a responsável pela operação Castelos de Areia². Operações de superfaturamento de obras públicas para financiamentos ilegais de políticos. Outro bando foi constituído por Camargo Corrêa, OAS, Christiani Nielsen, Engeform e S/A Paulista. Suas obras para a prefeitura de São Paulo renderam R$ 6,8 milhões para o prefeito Gilberto Kassab gastar na eleição. A lista das falcatruas é grande. As entranhas da promiscuidade são quase impenetráveis, tal o poder das figuras envolvidas. CPIs e mais CPIs propostas durante os anos tucanos de São Paulo foram engavetadas, ou não saíram do papel. Quem sabe, agora, com repercussão internacional, ganha novo status na cobertura da mídia.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

A militância da Folha de S Paulo

A Folha de S Paulo continua seu papel de comitê político da candidatura tucana à Presidência da República. Nesta quinta-feira, 15 de março, um flagrante que revela sua combativa militância serrista. Militância pubicamente confessada pela Sra Judith Brito, diretora-superintendente da empresa que edita a Folha de S Paulo. Segundo Judith: "Na situação atual, em que os partidos de oposição estão muito fracos, cabe a nós dos jornais exercer o papel dos partidos. É o que estamos fazendo” (leia mais na postagem deste Boletim HSLiberal).

Deste vez, a esperteza da Folha foi revelada pela assessoria da candidata oficial Dilma Rousseff, que o jornal foi obrigado a publicar em seu “Painel do Leitor”. Eis a nota:

"A ex-ministra Dilma Rousseff nunca disse a frase "eu não fugi da luta e não deixei o Brasil", publicada em parte dos exemplares da edição de domingo no texto "Dilma ataca rival e diz que não "fugiu" da luta na ditadura" (Brasil). A correção é necessária porque a informação errada deu margem a uma interpretação maliciosa do discurso da ex-ministra. Dilma Rousseff não se referiu em nenhum momento a pessoas que tiveram de deixar o país em qualquer circunstância. Segue a transcrição exata do trecho do discurso que foi deturpado: "Eu não fujo da situação quando ela fica difícil. Eu não tenho medo da luta. Eu posso apanhar, sofrer, ser maltratada, como já fui, mas eu estou sempre firme com as minhas convicções. Em cada época da minha vida, eu fiz o que fiz porque acreditei no que fazia. Fiz com o coração, com a minha alma e a minha paixão. Eu só mudei quando o Brasil mudou, mas eu nunca fugi da luta ou me submeti. E, sobretudo, nunca abandonei o barco".

É lamentável que a partir de um erro da própria Folha o jornal tenha dado curso, nas edições seguintes, a uma tentativa de manipulação política e eleitoral por parte dos adversários da ex-ministra. O discurso da ex-ministra está em www.youtube.com/watch?v=KpkBQ4GHPjI&feature=player-embedded"

OSWALDO BUARIM JÚNIOR , assessor de imprensa de Dilma Rousseff (Brasília, DF)

Repetimos: O discurso da ex-ministra está no vídeo a seguir (clique):

www.youtube.com/watch?v=KpkBQ4GHPjI&feature=player-embedded

A seca resposta da Folha é uma “Nota da Redação”: “Leia a seção ‘Erramos’".

Leiamos na seção “Erramos”:

“BRASIL (11.ABR, PÁG. A7) Em parte dos exemplares, foi publicado erroneamente que a pré-candidata do PT à Presidência disse, em evento em São Bernardo no último sábado: "Eu não fugi da luta e não deixei o Brasil". A declaração correta, publicada na maior parte dos exemplares, é: "Eu nunca fugi da luta ou me submeti. E, sobretudo, nunca abandonei o barco".

Assim, na maior cara-de-pau.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Para saber mais

Outro dia, o Brasil recebeu o presidente Shimon Peres, presidente de Israel. Um país que a cada dia acumula mais violações de resoluções da ONU. Que a cada dia usa de desproporcional força de agressão para evitar que o povo palestino tenha sua própria terra. Que usa muros para separar palestinos de palestinos. Que usa mísseis para manter um gueto em Gaza, com a população civil comendo o pão que o diabo amassou. Dias depois, o Brasil recebeu o presidente Mahmoud Ahmadinejad, acusado pelos Estados Unidos de querer fabricar armas atômicas, armas de destruição em massa. Armas inexistentes no Iraque, mas que justificaram a invasão/ocupação do país de Saddam Hussein.


Na oportunidade das visitas, a imprensa brasileira e a oposição, que cada vez mais se confundem, preferiram homenagear o presidente fascista/sionista e desqualificar o iraniano. O Irã é acusado de manter um regime autoritário, que persegue opositores. Mas, qual país do oriente médio é menos autocrático que o Irã? A diferença é que os outros são aliados ao ocidente. E o Ocidente não é autocrático? Que país mais usa a tortura contra seus opositores senão os Estados Unidos da América. Basta conferir Guantánamo e os centros de tortura fincados em países aliados, mundo afora.


Na última semana, a Shell, britânica, e a Total, francesa, fecharam acordo de exploração de petróleo no Iraque. Antes, a estadunidense Exxon Móbil e a britânica BP. O FinancialTimes¹ comemorou: “Iraque está prestes a se tornar o segundo na liga do petróleo". Já a revista Time da última semana alfineta, sutilmente: em reportagem sobre os novos contratos, relembrou que nas manifestações contra a invasão, em 2003, na Europa e nos EUA, a acusação era de que "a guerra servirá meramente à apropriação das vastas reservas de petróleo do país pelas companhias ocidentais". Os aliados garantiam que era para procurar as armas de Saddam.


Mais revelador e menos sutil foi a declaração de Tony Blair à BBC² de que sem as "armas de destruição em massa", buscaria outro motivo para derrubar Saddam Hussein. Parece que estamos diante de uma questão de credibilidade a envolver os principais atores globais. Aqueles que não comprariam um carro usado por ter pertencido a Ahmadinejad é bom terem cuidado nos carros que foram de Bush, Obama, Tony Blair, Netanyahu, Sarkozy. É bom lembrar que o Irã tem bastante petróleo e que vem sendo acusado pelos senhores do ocidente de estar preparando suas “armas de destruição em massa”. O mesmo script do Iraque.


A propósito. Para saber mais sobre o Brasil e o mundo é melhor ler os jornais do exterior. Eles informam, nesta segunda-feira (12/04), (veja nos links abaixo), que: Em véspera da chegada ao Brasil do presidente chinês, Hu Jintao, a Academia de Ciências Sociais da China quer mais representação para os emergentes, como o Brasil, “por serem indispensáveis”. A tese apóia a “governança global equilibrada”, proposta pelo presidente Lula. (China Daily). É a mesma posição da Rússia, de Dmitri Medvedev, que também chega aqui. Como Lula, ele quer "uma nova ordem policêntrica" no mundo. (PTI). Na chegada do primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, mais apelos às questões globais. (Times of Índia).


No mais, o Times of India trata o presidente brasileiro de "herói em casa e estadista no palco global", "o homem do momento". El País destaca a crítica brasileira ao mundo dividido entre os armados "até os dentes" e os sem armas nucleares. A longa análise do Yale Global sobre o Brasil: "garoto propaganda da globalização, que mapeia seu próprio caminho", que rompeu a aliança automática e submissa com os EUA. E que “surfou a onda da globalização para se tornar uma potência econômica e diplomática". O Yale Global destaca a recusa crítica brasileira de apoio às sanções ao Irã. Nos jornais brasileiros, em editoriais e colunas, cada vez mais ativos comitês da candidatura tucana.


(1) http://br.noticias.yahoo.com/s/09042010/40/politica-bush-sabia-havia-presos-inocentes.html

(2) http://www.ft.com/cms/s/0/0352857e-e644-11de-bcbe-00144feab49a.html?nclick_check=1

(3) http://www.chinadaily.com.cn/china/2010bfa/2010-04/09/content_9707421.htm

(4) http://www.zeenews.com/news617488.html

(5) http://toi.timesofindia.indiatimes.com/india/In-a-first-IBSA-BRIC-nations-to-dwell-on-world-affairs-/articleshow/5779582.cms

(6) http://timesofindia.indiatimes.com/home/opinion/edit-page/Why-Lula-Is-The-Man/articleshow/5775158.cms

(7) http://www.elpais.com/articulo/internacional/Lula/podemos/admitir/paises/armados/dientes/otros/desarmados/elpepuint/20100411elpepiint_10/Tes

(8) http://yaleglobal.yale.edu/content/brazil-charts-own-course

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Maniqueísmo

O texto abaixo foi encaminhado ao “Painel do Leitor” da Folha de S Paulo. Diz respeito à coluna de Ruy Castro (que vem assumindo o papel de comensal daquele jornal, como o Jabor assumiu o de comensal da Globo), publicada no dia de hoje. (link para assinantes: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0204201005.htm).

Big Bang

É lamentável ver o maniqueísmo de um Ruy Castro que, qual um Arnaldo Jabor qualquer, vez por outra, descarrega suas baterias contra Cuba, por seus presos políticos, contra as Farc, por seus prisioneiros da selva, e contra o Irã, por suposta execução em massa de opositores. Bem ao agrado dos EUA, que utilizaram o mesmo argumento para arrasar territórios bem distantes do seu. Também ao agrado da linha editorial desta Folha. Nada contra um protesto que se paute em informações bem apuradas, uma boa arma do jornalismo. O que se lamenta é que não se dê a mesma dimensão para o despejar diuturno de bombas sobre a população civil palestina e do Paquistão. Esquece-se o volume de artefatos nucleares, não controlados, de Israel. Faz-se cego aos assassinatos de lideranças sindicais e populares pelo governo da Colômbia e para os centros de tortura que os EUA mantêm em várias partes do mundo.

O Manifesto