terça-feira, 24 de junho de 2008

Girândolas


Confiança sexual. Lula, Gisele Bündchen e Felipe Massa (a especulação global destoa).

Mais de um milhão de carteiras assinadas nos primeiros cinco meses de 2008, maior número desde pelo menos 1992, quando o Ministério do Trabalho começou a registrar. O fato não mobiliza muito a nossa imprensa, nem a oposição. Mas repercute com vigor em revistas e jornais especializados mundo afora, como a revista britânica The Economist, para quem o “Brasil começa a ser sério”. Mais recorde: o país tem atualmente 30 milhões de trabalhadores com carteira assinada. O ministro do Trabalho prevê a criação de quase dois milhões de vagas formais em todo o ano de 2008. [1] e [2]

Nesses tempos de “investment grade”, as notícias vão melhorando o ego dos brasileiros, enjoados da latomia – “Ó céus, ó vida, ó azar” – da grande mídia. Vejamos o que diz a BBC Brasil, nesta segunda-feira: Desigualdade entre salários de ricos e pobres cai 7% desde 2002. “A redução é conseqüência do crescimento econômico, da estabilidade monetária, e das políticas sociais”. E o que diz o jornal Valor? O investimento estrangeiro direto aumenta 33% no ano e atinge US$ 14 bi. Nos 12 meses até maio, ingressaram US$ 38,035 bilhões, ou 2,79% do Produto Interno Bruto. [3] e [4]

Felipe Massa colocou o Brasil (?) de volta à liderança da F-1, pela primeira vez desde Airton Sena (1993). E Gisele Bündchen? Continua deslumbrante. Nesta segunda-feira ela declarou, em todas as mídias, que o Brasil hoje é um país sério, naquilo que ela conhece bem, a moda. Mas, acho que não é o caso de se voltar a repetir a famosa frase de Lula, “nunca, antes, na história deste país...”, que tanto inferniza o humor da oposição e de fortes setores da nossa imprensa. Até porque o presidente já trocou o vinil quebrado, para um mais discreto: “O Brasil já começa a se encontrar consigo mesmo”.

Mais: o Brasil lidera em ranking de confiança sexual. Também. Uma pesquisa feita em 25 países indica que os brasileiros são os mais confiantes em relação a ter uma vida sexual plena, apesar de não serem os mais seguros no que concerne à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e a gravidez. Mas, mesmo nesses itens, estamos em quinto e quarto lugares, respectivamente. A pesquisa The Face of Global Sex 2008: Sexual Confidence foi promovida por fabricantes de preservativos. Leia mais. [5]


Quanto você ganha? Isso não é segredo na Escandinávia

Todo ano, a Suécia publica as declarações de imposto de renda de todos os seus cidadãos. Assim como a Finlândia e a Noruega. E ninguém liga muito para isso. Em contraste, a lei dos Estados Unidos proíbe divulgar as informações tributárias de qualquer pessoa. Imagine o barulho que haveria se a Receita Federal estadunidense colocasse online os dados do imposto de renda. Os estadunidenses provavelmente se sentiriam violados, diz Marc Rotenberg do Centro de Privacidade Eletrônica de Informações em Washington.

Os italianos não acharam o mesmo em abril, quando Vincenzo Visco, ministro da Economia que liderou a guerra contra a sonegação na Itália, publicou as declarações de imposto de renda no site do ministério. O gesto, disse Visco à imprensa italiana, era para encorajar mais "transparência e democracia". A informação foi rapidamente removida do site, mas ficou disponível por tempo suficiente para que os jornais a agarrassem e publicassem os números sobre os ricos. [6]

No Brasil, o país do “com recibo, ou sem recibo?”, a situação seria ainda mais complicada. Menos pela presença de contribuintes em eventuais listagens do que pelas suas ausências. Aqui, a sonegação começa pelos poderosos 60 dos 100 maiores pagadores de CPMF, flagrados pela Receita Federal como sonegadores habituais do Imposto de Renda. Por isso, antes de se pensar na desejável transparência sueca, continuemos a acompanhar as movimentações financeiras no combate à sonegação, ao crime organizado, à lavagem de dinheiro e ao tráfico de drogas. Mais pontos à CSS
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Especuladores estão causando a alta do custo de vida.

Reportagem especial da revista alemã Der Spiegel mostra que, após investir em ações de alta tecnologia e financiamento de imóveis por anos, legiões de especuladores agora descobriram commodities como petróleo e gás, trigo e arroz. "Seus bilhões estão pressionando os preços a níveis estratosféricos, com sérias conseqüências para a qualidade de vida das pessoas". Em busca de retornos seguros e de longo prazo, grandes investidores voltaram sua atenção para os índices de commodities, investimentos que prometiam retornos bem maiores do que o investimento no mercado de ações.

Segundo a publicação, quanto mais os fundos investiam, mais os preços subiam, especialmente devido ao mercado para contratos futuros especulativos de commodities ser muito pequeno. Mesmo pequenas mudanças nos portfólios de grandes fundos mútuos podem provocar rapidamente alta do preço do petróleo. Os aumentos de preço que afetaram o petróleo e o cacau se aplicam a quase todas as outras commodities. Uma saca de arroz agora custa quase três vezes mais do que em janeiro, o trigo, milho e soja já atingiram preços recordes neste ano.

Para Der Spiegel, o petróleo é o lubrificante de nossa economia. “À medida que vai se tornando mais caro, o motor da economia começa a parar. E o trigo e o arroz, como alimentos básicos, são realmente essenciais à vida humana. À medida que se tornam mais e mais caros, os pobres são forçados a comer menos ou, em alguns casos, a passar fome”. Esse é um dos mecanismos básicos da economia capitalista: o cassino das bolsas promovendo a fome e a miséria. Uma das formas perversas próprias do capital. [7]


BRINDE: O VÍDEO GIRÂNDOLAS, SENSÍVEL DOCUMENTÁRIO SOBRE A FESTA RELIGIOSA DO CÍRIO DE NAZARÉ, DO DIRETOR RONALDO DUQUE (CONSPIRAÇÃO DO SILÊNCIO). A FESTA É NO MÊS DE OUTUBRO, NO BRASIL, EM BELÉM DO PARÁ. (Clique em pausa para carregar e espere alguns segundos).

sexta-feira, 20 de junho de 2008


Uma bomba que ninguém quis escutar

O Observatório da Imprensa, de 28/09/2004, publicou matéria de seu editor-responsável, Alberto Dines, sob o título acima, que pode contribuir para a atual discussão da modalidade de tributo sobre movimentação financeira. Segundo Dines, não mereceu chamada na primeira página, mas a matéria do repórter Josias de Souza na Folha de S.Paulo de 19/9 é uma peça clássica de jornalismo investigativo. Uma "bomba" de alto teor: "Novo Presidente da FIESP é um ‘sem-indústria’".

Paulo Skaf, atual presidente da poderosíssima Federação das Indústrias do Estado de S.Paulo, é um empresário sem empresa, na tradição do velho peleguismo patronal dos tempos de Vargas. Skaf deve à Previdência, à Receita Federal e aos antigos funcionários. Sua fonte de renda é o aluguel do maquinário de antiga indústria têxtil. Dines acha a revelação estarrecedora: “Implacável radiografia da mais importante organização empresarial brasileira”, bastião da nossa “renovação política e econômica”.

Mais surpreendente do que a burla curricular sobre quem “deveria ser o industrial-modelo é a constatação de que o grosso da imprensa brasileira continua rigorosamente incapaz de investigar qualquer coisa que não venha empacotado como "dossiê" secreto, grampo ou disquete surrupiado”. Para Dines “esta dependência dos vazamentos retirou de nossos grandes veículos não apenas a sua curiosidade”, “mas a capacidade de satisfazer a curiosidade dos leitores”. Ou o interesse público. [1]

Recordemos texto do Boletim H S Liberal, de 19/11/2007, com informações de Mônica Bérgamo: “O ex-ministro da Saúde Adib Jatene ganhou mais notoriedade no debate sobre a CPMF, ao passar um pito no presidente da FIESP...” À frente da poderosa entidade... Skaf “está em campanha pelo fim da CPMF”. O médico Adib, ''pai'' da CPMF, falou alto e de dedo em riste: ''No dia em que a riqueza e a herança forem taxadas, nós concordamos com o fim da CPMF. (...) Os ricos não pagam imposto e por isso o Brasil é tão desigual. (...) Os ricos têm que pagar para distribuir renda''.

Skaf tenta rebater: ''Mas, doutor Jatene, a carga no Brasil é muito alta!''. E Jatene: ''Não é, não! É baixa. Têm que pagar mais. Por que vocês não combatem a Cofins (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social), que tem alíquota de 9% e arrecada R$ 100 bilhões? A CPMF tem alíquota de 0,38% e arrecada só R$ 30 bilhões''. Skaf desconversa: ''A Cofins não está em pauta. O que está em discussão é a CPMF''. E Jatene, certeiro: ''É que a CPMF não dá para sonegar!''. Estava coberto de razão em seu diálogo acalorado com Skaf. Ele pôs o dedo na ferida com precisão cirúrgica. [2]

Mudando o Brasil, pra sempre.

Não é recomendável ter a mesma confiança do presidente Lula suficiente para tornar Delfim Netto seu conselheiro informal, embora concorde que ele tem uma mente lúcida a serviço do debate, conforme o classifica a Carta Capital da última semana. Na revista, Delfim considera ridículo se imaginar que FHC tenha produzido alguma política econômica. Esclarece que havia uma política econômica implícita no programa do real produzida por profissionais de alta qualidade, anda no governo Itamar.

Para Delfim, o resultado foi razoável do ponto de vista do combate à inflação, mas não evitou que o Brasil quebrasse em 1998, véspera do segundo mandato. E, sob a ótica do crescimento, o programa foi o pior de todos. Gerou uma situação externa insolúvel. Tanto que o Brasil teve de correr ao FMI e conseguir um empréstimo importante. Naquele momento, o Fundo salvou o País e a reeleição de FHC. Pressão de Bill Clinton, pelo perigo Lula. E quem passou a ditar as regras da nossa política econômica foi o FMI.

E segue Delfim: Era a política canônica que existe no mundo inteiro hoje: relativo equilíbrio fiscal, política de controle de inflação por meio de metas e câmbio flutuante. Hoje há uns 150 países que usam o mesmo tipo de política. O que Lula fez na verdade? Primeiro, radicalizou essa política canônica, porque em 2002 o Brasil estava falido de novo. Basta olhar o seguinte: entre 1998 e 2002, a dívida externa crescia a 6% ao ano e a exportação, a 4%. Não é preciso ser físico quântico para saber que estava quebrando.

(...) Na transmissão do cargo de FHC para Lula, a inflação rodava a 30% ao ano. E as reservas, excluídos os recursos do FMI, eram de apenas 17 bilhões de dólares. Era uma falência programada. O câmbio subiu porque o Brasil tinha quebrado. O presidente aumentou a taxa de juros, como as pessoas não imaginavam que ele fosse fazer, e elevou o superávit primário. É preciso dizer que, nos primeiros anos do governo FHC, o superávit primário foi zero. No segundo, foi de 3,8%, por exigência do FMI.

(...) A exportação no governo FHC crescia entre 4% e 4,5% anuais. No primeiro ano de Lula, aumentou 22% e continuou nesse ritmo até o ano passado. Foi isso que colocou o Brasil numa situação muito mais tranqüila e permitiu a acumulação das reservas internacionais. Nesta quinta-feira, o programa em rede nacional do PSDB era, como seu bordão, uma risível propaganda enganosa: “o partido que mudou o Brasil, pra sempre”. Leia o inteiro teor da entrevista de Delfim Neto na edição 500 da Carta Capital. [3]

A curiosa ética do Demo (ex-PFL).

Um processo ético-disciplinar no mínimo curioso é movido pela alta cúpula nacional do Demo (ex-PFL) contra um dos seus pares, o vice-governador do Rio Grande do Sul, Paulo Feijó. O ato “anti-ético” do político gaúcho é ter revelado uma conversa gravada em que o chefe de gabinete da governadora tucana Yeda Crusius lhe expôs a caixa-preta da relação promíscua entre os caixas de campanha dos políticos aliados com as empresas estatais da governadora.

A curiosidade não é o fato de o Demo (ex- PFL) historicamente não ter afinidades com a Ética. Ou talvez seja esse um dos motivos pelos quais o camaleônico partido atabalhoe-se com o trato desse milenar bem da Humanidade e queira inverter seu conceito. Pois, em vez de tratar o uso de fundos públicos para suprir “caixinhas” de candidaturas, uma prática há décadas consagrada pela sua “classe” política, como o núcleo de sua preocupação ética, o Demo (ex-PFL) quer condenar apenas a revelação da falcatrua.

Já o demo-senador José Agripino quer punir seu aliado pela "forma como a denúncia foi feita" que "destrói o componente fundamental da relação política que é a confiança". Como é que o senador, um dos cardeais do Demo (ex-PFL), quer que se revele a delinqüência do tucanato gaúcho? Outra pérola da subversão do conceito de Ética partiu de outro demo-senador, Heráclito Fortes: o problema que lhe causou indignação foi o rompimento da “convivência civilizada” do seu correligionário com o governo Yeda. Ah, bom.

O BRINDE:
GUERNICA DE PICASSO EM 3D
O QUADRO MAIS FAMOSO DE PICASSO, GUERNICA, DE 1937, REPRESENTA O BOMBARDEIO SOFRIDO PELA CIDADE ESPANHOLA GUERNICA, EM 26 DE ABRIL DE 1937, POR AVIÕES ALEMÃES.
A ARTISTA NOVA-IORQUINA LENA GIESEKE CRIOU ESTA VERSÃO EM 3D, QUE MOSTRA TODOS OS DETALHES DO QUADRO COM REALISMO IMPRESSIONANTE.
(Clique em pausa para carregar e espere alguns segundos).

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Corra, Lula, corra

O filme alemão, de 1998, Corra, Lola, Corra, (Lola Rennt), dirigido pelo competente Tom Tykwer e protagonizado pela belíssima Franka Potente, encerra uma lição de vida de múltiplas facetas filosóficas, sendo, ao mesmo tempo, denso em ação e suspense. Quem não o viu, perdeu a oportunidade de curti-lo na telona. Resta o consolo de vê-lo no sofá de casa, em tela miúda, correndo o risco de ampliar aquele pneu que ronda a cintura. Leia mais sobre o filme. [1] e [2]

É como a corrida que se estabeleceu de uns tempos pra cá para fazer o Brasil se encontrar consigo mesmo. Nessa corrida, diferentes tropeços, a la Lola, iniciam com uma colossal dívida social acumulada em centenas de anos de hegemonia econômica exercida por uma oligarquia perversa, concentradora de riquezas. São gigantescas as desigualdades entre o topo e a base da pirâmide social. Nas últimas décadas, cada vez mais se “gastou” menos com as políticas públicas que possam imprimir algum padrão de dignidade ou que busque resgatar o poder de vida de milhões.

Os ventos neoliberais que o grande capital transnacional concebeu na década de 90, docilmente acolhidos por Carlos Menem, Alberto Fujimori e Fernando Henrique na América Latina, trouxeram a cultura de irresponsáveis privatizações e novos conceitos de liberdade de mercado que viriam a garantir o livre caminho à sanha concentradora das riquezas. Investir em políticas de interesse social passou a ser visto como “gastos do governo”. Até uma contribuição sobre movimentação financeira, como a CPMF, para “gastar” na saúde pública foi surrupiada para finalidades duvidosas.

Aliás, um efeito colateral do “imposto do cheque” revelava numerosas fortunas em mãos de pessoas que não costumavam pagar Imposto de Renda. Daí, a alegria dos defensores do “livre mercado”, na verdade a máfia da sonegação, ao sepultar um instrumento tanto fiscalizador quanto solidário e democrático. Com a CPMF, o brasileiro médio pagava, anualmente, menos que o preço de uma pizza para melhorar o padrão de vida dos menos favorecidos. Com um quarto desse valor, nova proposta está em discussão no Congresso Nacional. E tem o endereço certo para a Saúde, que lhe confere alto valor social. [3]

Por seu turno, os “gastos do governo”, do atual governo, têm ido às raias do “nunca na história deste país”. Nenhuma alíquota a mais de tributo foi criada e ainda foram desoneradas de impostos produtos de cesta básica de alimentos, material escolar e de construção, além de produtos de informática. Já está consagrado mundialmente o enorme benefício social do programa Bolsa Família e o financiamento popular que tem mudado o perfil aquisitivo da população, com algumas dezenas de milhões de brasileiros migrando para faixas de consumo que lhes permite maior dignidade.

Mas, a corrida frenética de Lola em busca dos cem mil marcos que poderão salvar a vida do seu amado, é repetida uma, duas, três vezes. Entre nós, pode ser três mil vezes.
Não basta o insuspeito Le Monde indicar aos Estados Unidos o remédio brasileiro que lhes poderá salvar da bancarrota. Não basta exibirmos com orgulho os índices progressivos e sustentáveis da condição da nossa produção a apontar melhor qualidade de vida aos brasileiros. Como nos tropeços de Lola, esbarramos sempre nos profetas do apocalipse de plantão, a prever dias piores, “se o governo não parar de gastar”. [4] e [5]

Os impostos e o princípio da solidariedade

O Brasil vem aliando várias dimensões de um amplo projeto de desenvolvimento integral e integrado: controle da inflação, crescimento econômico, as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) vêm reforçar a infra-estrutura, as políticas sociais alcançando êxito nacional de melhoria da qualidade de vida dos pobres e reconhecimento internacional. Manter, consolidar e ampliar essas conquistas é um esforço que exige recursos: É preciso garantir uma arrecadação consistente e em bases justas e equilibradas, que estimule e promova o crescimento.

Um sistema tributário justo e eficiente promove justiça social. Foi assim que os países escandinavos, por exemplo, fixaram condições de ampliar a capacidade de investimento do Estado, com clara opção pela promoção do bem-estar social e articulação do desenvolvimento em bases inclusivas. A fórmula adequada ao princípio da justiça tributária parece simples: quem pode mais paga mais, quem pode menos paga menos e quem não pode nada não paga nada; recebe agora para contribuir mais à frente. É o princípio da solidariedade, consagrado como um valor em nosso texto constitucional.

Mas precisamos aperfeiçoar nosso sistema tributário, de modo a aproximá-lo mais desse modelo. Nossa carga tributária (35,5%) está um pouco abaixo da média dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que é de 36,9%. Mas temos sérios problemas em sua composição e estrutura, havendo necessidade de estabelecer bases mais justas de taxação. Coloca-se, nessa discussão, a questão de impostos sobre lucros, sobre propriedades urbanas e rurais não produtivas, sobre grandes fortunas. Para taxar menos o consumo básico, o trabalho, a produção.

Na composição de nossa carga tributária, os impostos indiretos têm peso muito maior que os impostos diretos. Qual o problema? Os impostos indiretos – ISS, ICMS, IPI – promovem o repasse aos produtos, e os consumidores pagam indistintamente o mesmo imposto, independentemente da renda. Os impostos diretos, como o Imposto de Renda, como foi a CPMF, trazem o caráter progressivo, são mais justos, proporcionais à renda das pessoas. Outra vantagem é a transparência: os impostos diretos são mais visivelmente fiscalizados, o contribuinte sabe exatamente quanto está pagando.

Os impostos diretos são mais impopulares porque permitem uma maior eficiência e eficácia de fiscalização por parte do Estado e da Sociedade, que é outro valioso princípio de um sistema tributário justo. Além de saber exatamente quanto está pagando, o contribuinte tem o direito de saber como está sendo utilizado o recurso: para onde é destinado e que resultado tem.

Uma sociedade construída com base em um conceito de justiça tributária que produza justiça social rende benefício a todos, porque promove coesão social e gera vínculos de segurança, diminuindo a marginalidade e a violência. É um modelo que também estimula o dinamismo econômico, porque amplia o mercado interno. Assim, possibilitará uma vida mais rica e mais plena para todos. Leia o texto original do ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, publicado pela Folha de S. Paulo de 01 de junho de 2008. [6]

BRINDE: A MAGNÍFICA MÚSICA CANTADA POR PIAF E THEO SARAPÓ (SEU ÚLTIMO MARIDO) GANHA UM VÍDEO DE ANIMAÇÃO ELEGANTE E DIVERTIDO, FEITO PELO ESTÚDIO FRANCÊS CUBE CREATIVE. O CURTA FOI FEITO USANDO APENAS DUAS TONALIDADES, COM TRAÇOS QUE REMETEM À RUSTICIDADE DAS TÉCNICAS DE ANIMAÇÃO ANTIGAS. Clique em pausa para carregar e espere alguns segundos.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Feridas abertas na floresta

Cumplicidade contra a vida.

“Nos últimos 40 anos, a Aracuz construiu um império no Espírito Santo. Nesse período desmatou florestas, ocupou áreas indígenas, represou rios e chegou a inverter o curso de um outro para abastecer uma de suas fábricas. Tudo com a conivência do poder público. A empresa sempre manteve fortes ligações com políticos. Somente nas três últimas eleições, doou R$ 6,5 milhões a candidatos do estado”. Este texto subscreve uma grande foto colorida de um flagrante de devastação florestal, na capa do Correio Braziliense do último domingo. Encerra o texto uma chamada para a reportagem que ocupa as três páginas seguintes, com o sugestivo título de “Feridas abertas na floresta”. [1]

O CB abre a reportagem com o subtítulo “Empresa de celulose represa e inverte curso de rios, seca nascentes e destrói mata nativa para plantar eucalipto no Espírito Santo e na Bahia, com a conivência do poder público”. A matéria de Lúcio Vaz, enviada de Aracruz (ES), revela as entranhas da construção do império empresarial que fez da Aracruz Celulose a maior produtora mundial de celulose de eucalipto. Vaz mostra a ligação da empresa, desde os anos 60, com o mundo político, a quem doou cerca de R$ 6,5 milhões só nas últimas eleições. E exibe o efeito devastador da Aracruz sobre o que ali resta da Mata Atlântica, sobre os rios e sobre as terras de índios e quilombolas.

O trabalho de Vaz amplia o que já se sabe da ação da Aracruz e outras no Rio Grande do Sul. Ali, a expansão das plantações de eucalipto e a implantação de novas fábricas de celulose vêm produzindo extensas áreas desertificadas. Hoje, a empresa mantém 203 mil hectares de plantio no Espírito Santo e na Bahia, onde se apropria de recursos hídricos, causando fortes danos ambientais. Estudo da Associação de Geógrafos do Espírito Santo revela que a quantidade de água consumida por dia pela Aracruz da Barra do Riacho, no processamento e branqueamento da celulose, ronda os 250 mil metros cúbicos, o que equivale ao consumo diário de uma cidade de 2,5 milhões de habitantes.

E o que se vê? Destruição de matas nativas, assoreamento dos cursos d’água, contaminação das águas por produtos químicos e por despejos sem tratamento (pelos povoamentos desordenados), represamento de águas, obstrução dos leitos por estradas de transporte de eucalipto, eliminação da vida. E nada disso é novo, desde a denúncia inicial do biólogo Augusto Ruschi em 1971, renovada anos a fio, por entidades de defesa do meio ambiente, publicações especializadas e diversos movimentos sociais. Desgraçadamente, não há nenhuma repercussão institucional ou midiática de peso. As barreiras, parece, estão nos financiamentos de campanha e nas verbas publicitárias.

A oposição e o seqüestro do futuro

Quando lemos que "Índio da Costa pedirá indiciamento de Dilma e Aparecido" ou que o "DEM fecha questão contra CSS" não estamos, apenas, diante de chamadas que expõem a agenda eleitoreira da grande imprensa para as próximas eleições presidenciais. O momento é demais expressivo para não fazermos outras reflexões. Retroagirmos a tempos recentes e extrairmos lições que precisam ficar vivas na memória é um exercício obrigatório. O que assusta a direita sem programa é um futuro que se anuncia demais promissor para que seja efetivado. O triste é saber que quem a acompanha nessa marcha se julga vanguarda quando, na verdade, faz papel de coro para a tragédia do atraso.

O que estamos presenciando no Brasil sinaliza uma dinâmica que esboça o desenho do país nos próximos anos. Os ineditismos apontam para mudanças que sedimentam novas bases para o capitalismo brasileiro. Apurar a visão para compreender que só lograremos a hegemonia se não a concebermos como sistema formal fechado, totalmente articulado e homogêneo é um belo primeiro passo. Distribuições específicas de poder, hierarquia e influência não ocorrem em um cenário vazio de contradições e processos difusos. Perscrutar mudanças moleculares é fundamental para não perdermos o foco do que desespera o conservadorismo brasileiro.

Como ignorar que a alta no preço dos alimentos no Brasil foi inferior à registrada em outros países do mundo por contas de políticas públicas de apoio à agricultura familiar? Em matéria publicada no Globo (1/6), dois agricultores são precisos: “A situação hoje é mais confortável do que há seis, sete anos. Naquele tempo, pobre não entrava em banco. Quando entrava, a liberação demorava tanto, que quando saía já havíamos colhido. Agora o dinheiro sai na época certa". Do que falam os homens do campo? Que a inflação está sendo combatida com garantia de abastecimento para o mercado interno. Isso é irrelevante? Para quem?

E o que dizer de uma economia estabilizada, com inflação baixa e contas externas minimamente ajustadas? Em abril, 4,18 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo tinham carteira assinada no setor privado. Isso equivale a 46,5% do total de ocupados, a maior taxa de empregos formais desde abril de 1992. Diante de tais dados, atribuir a popularidade do presidente e os índices de aprovação ao seu governo exclusivamente a uma liderança carismática não revela uma indigência analítica que mescla reducionismo e má-fé? (...) (...) Leia a análise completa, original, do sociólogo Gilson Caroni Filho em Carta Maior. [2]

Fim da Cofins tiraria 6,4 milhões de cidadãos da miséria

Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) a ser apresentado nesta quinta-feira, em audiência no Senado, revela que a eliminação da Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) resultaria em um ganho de renda para as camadas mais pobres da população. Com isso, ao menos 6,4 milhões de brasileiros deixariam a linha de pobreza. O levantamento mostra que uma transferência dos tributos chamados indiretos – embutidos nos bens de consumo – para uma cobrança direta, como o Imposto de Renda, reduziria a pobreza.

''O combate a desigualdade passa pela Justiça tributária. É uma experiência internacional. Todos os países que reduziram a pobreza ajustaram sua tributação'', afirma o economista Márcio Pochmann, presidente do Ipea. De acordo com o estudo, 32,5% dos brasileiros estão abaixo da linha da pobreza e têm renda de até meio salário mínimo per capita por mês. Sem a cobrança da Cofins, embutida em bens de consumo, a porcentagem desse grupo cairia para 29%, o que resultaria em 6,4 milhões de brasileiros superando a linha da pobreza.

A explicação para a diferença entre o peso dos impostos está na forma de cobrança. A base da arrecadação no Brasil é mais forte na chamada tributação indireta, ou seja, embutida em alimentos ou bens de consumo. Como o brasileiro mais pobre gasta a maior parte de sua renda nesses itens, paga mais impostos proporcionalmente. Portanto, a extinção da Cofins tornaria o consumo mais barato. (Nota do Boletim HSLiberal: o governo já propôs este caminho. A oposição torceu o nariz). (...) (...) Leia a matéria completa, com dados da Folha Online, no Portal Vermelho. [3]

BRINDE: HISTÓRICA GRAVAÇÃO DE TRAVESSIA, DE MILTON NASCIMENTO E FERNADO BRANT. (Clique em pausa para carregar e espere alguns segundos)

O Manifesto