terça-feira, 30 de setembro de 2008

Normalidade constitucional em risco?

Riscos à normalidade constitucional?

Segundo o jornalista Mino Carta, uma pretensa ameaça de crise institucional surgiu, deflagrada pela discussão da Lei da Anistia seguida da operação Satiagraha. A tese foi logo desfraldada pela oposição parlamentar e pela mídia, com a conspícua contribuição do presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, e do ministro da Defesa, Nelson Jobim.

A oposição parece fadada a tentar tirar leite de pedras, por não ter mais com que bater no governo. A fragilidade das armas com que bate em Lula somente faz com que ele cresça, cada vez mais. Daí, idéia de impeachment agradar tanto a tucanos e Demos.

A mídia brasileira a cada dia perde o rumo. Escasseia sua credibilidade pelo excesso de comportamento irresponsável no campo do jornalismo “denuncista”. Foi-se pelo ralo sua função histórica de formadora de opinião ou de representante da opinião pública.

O caso do ministro da Defesa, Nelson Jobim é mais uma questão de caráter. Ele foi flagrado em mentira sobre os falsos grampos da Abim, para favorecer a “crise da grampolândia”. Para Wálter Maierovitch, em Carta Capital, o ministro Jobim tem pautado suas ações pelo oportunismo político, sem compromisso social nem ético.

O caráter também não é o forte do comportamento nada republicano do ministro Gilmar Mendes, que vem tentando turbinar a tese da crise institucional. Vale lembrar o que previu Dalmo Dallari sobre a ida de Gilmar para o STF: “(correm) sério risco a proteção dos direitos no Brasil, o combate à corrupção e a normalidade constitucional”.


Interesses do agro-negócio no coração da floresta.

“Um dos cenários ficcionais divulgados, para ocultar ou disfarçar os interesses dominantes, consiste em afirmar ameaçada a soberania brasileira, em particular na fronteira com a Venezuela”. Quem diz é o jurista Walter Ceneviva, na Folha de S Paulo de 13/9. O foco é a discussão no STF sobre a terra indígena Raposa Serra do Sol, para ele “marcada por forte viés econômico”.

Ceneviva demonstra como nenhuma das diversas formas de soberania previstas na Carta Magna, como na competência para manter relações com Estados estrangeiros e com organizações internacionais, estaria ameaçada pela situação criada pelas demarcações das terras dos indígenas.

Do outro lado, a Carta Magna garante aos índios a preservação de sua organização social nas terras tradicionalmente ocupadas por eles em caráter permanente: "utilizadas para suas atividades produtivas, imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a suas reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições", diz a Constituição.

Surpreende, por inoportuna, beirando a paranóia, a posição do deputado Aldo Rebelo em rotular as diferentes manifestações das índias Joênia e Elielva como de escancarada natureza fratricida. Transforma-se em mais “uma fantasia maliciosa para fingir que existe um problema”, como expôs no mês passado, na Folha, o jurista Dalmo Dallari. Um lamentável equívoco do deputado.

O apelo fácil desse discurso falsamente nacionalista e a veemente condenação à política indigenista, como dizia Cavalcanti-Schiel em Le Monde Diplomatique, reforça uma teia de interesses econômicos, sobretudo fundiários, na região. Faz coro com os grileiros que desmatam a região.


A diplomacia abutre

José Miguel Vivanco, diretor da Human Rights Watch (HRW), foi expulso da Venezuela após a divulgação, dia 18/9, de um relatório que acusa o governo de debilitar as instituições democráticas e as garantias aos direitos humanos nos 10 anos de gestão de Hugo Chávez. O documento da HRW foi divulgado uma semana após a expulsão do embaixador dos Estados Unidos na Venezuela.

O ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Nicolas Maduro, disse que Vivanco violou a Constituição venezuelana ao "interferir ilegalmente nos assuntos internos" do seu país. Co-autor do relatório, o estadunidense Daniel Wilkinson também foi expulso.

A notícia da expulsão tomou conta da mídia internacional como um rastilho de pólvora. A mídia brasileira que já desaprovara a expulsão do embaixador dos EUA na Bolívia (“um grande negociador”, para a Globo) por articulações com os separatistas oposicionistas, agora tecia grandes elogios à HRW “a mais respeitada ONG de direitos humanos dos Estados Unidos”.

Nenhum jornal ou TV disse, porém, que o principal dos expulsos, o chileno José Miguel Vivanco, diretor da HRW, que tem sede em Nova Iorque, foi representante da ditadura Pinochet ante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Ao renascer a democracia em seu país, mudou-se para Washington e passou a atuar em organizações que atendem à política do governo dos EUA.

As atividades de Vivanco e da HRW estão sempre relacionadas com episódios que violentam a democracia e os interesses nacionais dos povos latino-americanos. A ONG foi criada em 1978, tempos de relações promíscuas de Washington com as ditaduras latino-americanas.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

O Americano Tranqüilo

Sabe por que não tem golpe de estado nos EUA?

“Porque lá não tem embaixada dos Estados Unidos”, perguntava e logo respondia o espirituoso Joel da Silveira. Sobre o assunto, é recomendável rever o filme de Philip Noyce “O Americano Tranqüilo”, belíssima adaptação do romance de Grahan Green. Melhor ainda: ler o livro.

Num resumo chulo da belíssima história de amor, diríamos que o sedutor estadunidense, diante de “nossa” eterna cumplicidade e submissão, apodera-se do coração da “nossa” linda amante. E ainda planta a semente do golpe que transferirá da França para os EUA o comando da força de ocupação no Vietnã. Mas, somente depois da vitória dos heróis Ho Chi Minh e Vo Giap sobre os franceses.

O presidente Lula esteve recentemente com Giap, na cidade de Ho Chi Minh (ex-Saigon), a maior do Vietnã. A visita ao herói nonagenário, que colocou primeiro a França e depois os Estados Unidos com o rabo entre as pernas, talvez tenha despertado em nosso presidente a lembrança de que não é de hoje que as embaixadas estadunidenses patrocinam essas visitas de “americanos tranqüilos”.

A referência é feita ao senhor embaixador Philip Goldberg, flagrado em articulações separatistas junto às lideranças fascistas de departamentos autonomistas na Bolívia. Elas vêm espalhando o terror e o ódio contra o estado de direito democrático do estado boliviano. Entre os atos de terrorismo, o assassinato racista de “índios sujos”, saque a prédios públicos e sabotagens de gasodutos.

O senhor Goldberg, sabe-se, é hoje o protótipo do americano tranqüilo de Grahan Green. Como embaixador dos EUA na Ex-Iugoslávia, orquestrou a crise separatista que resultou na independência unilateral do Kosovo, ainda não reconhecida por muitos.

Embaraços de um presidente

Pelo telefone, o candidato à presidência dos EUA, Barack Obama, disse ao presidente colombiano Álvaro Uribe que, se for eleito, não vai apoiar a ratificação do Tratado de Livre Comércio (TLC) entre Colômbia e EUA. “Até que Bogotá consiga reduzir a violência contra sindicalistas”.

A informação do Correio Braziliense deste sábado, 19/09, contraria a ansiedade de Uribe que há dois anos sofre com a paralisação do acordo assinado entre ele e o presidente Bush. "Temos esperança de que a qualquer momento o Congresso dos EUA aprove o acordo", disse Uribe.

Os sindicatos de trabalhadores estadunidenses pressionam e o Congresso dos EUA recusa ratificar o pacto comercial, segundo a agência Reuters, porque que “a Colômbia deve fazer mais para reduzir os assassinatos e outros tipos de violência contra sindicalistas”.

Em abril deste ano, segundo Eltiempo.Com, Obama já considerava “um atropelo” a pretensão de Uribe: “Ridicularizaria as mesmas proteções laborais que temos insistido se incluam nesse tipo de acordos”. Dados do próprio governo colombiano revelam que 265 sindicalistas foram mortos em um ano. Em 2007 foram mortos 26 líderes sindicais. Quase dois mil vivem sob proteção legal.

Na semana passada, na Bélgica, o Tribunal Internacional de Opinião condenou o governo da Colômbia por violação aos direitos humanos, por expulsar milhares de camponeses de suas terras, e por prática de genocídio, seqüestro e assassinato de lideranças populares. De outro lado, a Alta Corte Ocidental (Western High Court), com sede em Copenhague, recusou provas procedentes do judiciário colombiano. Por entender que foram obtidas mediante violência e tortura.

Informações para uma agenda brasileira positiva

Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgada ontem (22/9) indica que 13,8 milhões de brasileiros subiram de faixa social entre 2001 e 2007. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Para Ricardo Amorim, do Ipea, "o que mais chamou a atenção foi a movimentação de pessoas do nível mais baixo para estratos mais elevados... superou o crescimento da economia... mobilidade social que não se via desde os anos 80". Leia mais

Na edição da semana passada, a revista britânica The Economist destacou o crescimento da classe média no Brasil, que hoje ultrapassa metade da população. "O Brasil, antes notório por seus extremos, é agora um país de classe média", diz a reportagem, que cita dados da Fundação Getulio Vargas. "Esta escalada social é vista, principalmente, nos centros urbanos do país, revertendo duas décadas de estagnação econômica iniciada nos anos 80." Leia mais

A descoberta de petróleo na camada pré-sal pela Petrobras reforçou a necessidade de o Brasil melhorar a defesa de sua costa. O ministério da Defesa negocia com a França a construção de um submarino nuclear, e na semana passada as Forças Armadas iniciaram a chamada Operação Atlântico para mostrar a capacidade que o país tem de proteger a região onde estão os mega-campos do pré-sal. A Quarta Frota naval dos Estados Unidos começa a bisbilhotar. Leia mais

A Petrobras foi parcialmente vendida nos anos 90, no governo FHC, em meio a uma onda de privatizações na América Latina, que vivia uma crise econômica. Para o presidente Lula, foi um erro se desfazer do patrimônio público em momentos em que o Brasil tinha problemas de balanço de pagamentos: "Em uma crise, não se deve vender nada porque vai vender mais barato”. Leia mais

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Calcinhas brasileiras em Nova Iorque

Calcinhas brasileiras no The New York Times

Para escapar de sua existência precária em uma das regiões mais pobres do Brasil, Maria Benedita Sousa fez uso de um pequeno empréstimo há cinco anos para comprar máquinas de costura e iniciar seu próprio negócio. Hoje, ela emprega 25 pessoas em uma fábrica modesta, que produz 55 mil conjuntos de roupas íntimas por mês. A reportagem é do The New York Times. Leia mais

Brasil encerra safra 2007/2008 de grãos com volume recorde. São 143,8 milhões de toneladas, número 9% superior ao da safra anterior e o maior já registrado. O volume final recorde da safra vem em um momento em que os preços internacionais atingiram picos recentes. Leia mais

Exército tira transposição do Rio São Francisco do papel. A igrejinha branca e azul em Cabrobó (PE), onde o bispo Luiz Flávio Cappio, em 2005, fez a primeira greve de fome contra a transposição do Rio São Francisco, está fechada. Na região, não há mais manifestações contrárias à obra, e os tratores de esteira e as escavadeiras do Exército rasgam o sertão em ritmo acelerado. Leia mais

Pobreza diminui, número de ricos aumenta e classe média cresce, afirmam estudos do Ipea e da FGVD. Dois estudos divulgados no mês passado mostram mudanças nas classes sociais brasileiras. Redução de um terço no número de pobres. A classe média atinge mais de 50%. Leia mais

Emprego na indústria tem melhor semestre da história. A geração de emprego na indústria brasileira cresceu 2,7% no primeiro semestre de 2008 – a maior expansão da série histórica do IBGE. Nos confrontos mais amplos, os resultados de junho foram claramente positivos, com 6,7% de avanço frente ao mesmo mês de 2007 e 6,5% no acumulado do ano. Leia mais

Reviravolta conveniente

O jornalista Mair Pena Neto, no blog Direto da Redação, relembra uma operação da Polícia Federal (PF) deflagrada em julho que levou à prisão três figuras notórias, que já haviam freqüentado o noticiário policial: o banqueiro Daniel Dantas, o mega-investidor Naji Nahas e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta. “Será que alguém se lembra?” pergunta Pena Neto.

Pra ele, de lá para cá, o eixo da discussão mudou. Ninguém mais fala dos crimes de lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, evasão de divisas, formação de quadrilha e tráfico de influência de que os três foram acusados. Libertados pela celeridade surpreendente (temerária?) do Supremo Tribunal Federal (STF) de Gilmar Mendes, todos continuam suas atividades, fora do noticiário.

Segundo Pena Neto, o interesse de grande parte da mídia e da oposição, que curiosamente costumam andar juntas, está agora no “grampo” de que teria sido vítima o próprio presidente do STF. O réu passou a ser a Agência Brasileira de Inteligência, e por conseqüência o governo.

Seja como for, a mudança do foco político e midiático, trouxe a voz equilibrada do diretor da PF, Luiz Fernando Corrêa, a lembrar que "grampos" são autorizados pela Justiça. Eles somente denunciam a “nata da malandragem”, como diria Chico Buarque. Por isso, a chiadeira geral.

Vã lucidez de Corrêa. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) acaba de anular provas de gravações autorizadas e livrar dois foragidos empresários, envolvidos no caso Banestado dos tempos tucanos. E ninguém mais se lembra dos emissários de Daniel Dantas tentando subornar um delegado da PF com um milhão de dólares. Nem a mídia, nem a bancada parlamentar de Dantas, nem o STF.

Presidentes rechaçam golpe

Desde 2002, estamos diante de um novo tipo de comportamento da comunidade de nações latino-americanas. Naquele ano, a pronta resposta dos seus representantes, reunidos em assembléia da Organização dos Estados Americanos (OEA), rechaçou o golpe midiático e militar que, com apoio de Washington, retirou Hugo Chávez do poder por 48 horas.
Nesta segunda-feira, os presidentes das nações que constituem a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), reunidos na capital chilena, deram uma forte e unânime declaração de apoio ao governo do presidente Evo Morales e rechaçaram qualquer tentativa de golpe da oposição na Bolívia.

Na declaração, a Unasul "adverte que seus respectivos governos rechaçam energicamente e não reconhecerão qualquer situação que implique uma tentativa de golpe civil, de ruptura da ordem institucional ou que comprometa a integridade territorial da República da Bolívia".

A Unasul também condenou os ataques a instalações do governo na Bolívia e um massacre no departamento de Pando, em que morreram partidários do governo. E criou uma comissão, aberta a todos os seus membros, para acompanhar as conversações a serem conduzidas pelo legítimo governo da Bolívia com seus opositores.

A característica do novo perfil de comportamento dos países da Nossa América é sua autonomia em relação a Washington. A participação dos EUA traria um enorme contra-senso ao debate em face de sua mal disfarçada participação nos preparativos desses eventos não democráticos. O Império tenta recuperar, por vias oblíquas, a hegemonia que sucumbiu a um novo perfil de soberania.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A República no colo do banqueiro


Operação salva dantas

"É um momento triste na história da República: ele mostra que Dantas conseguiu uma ampla influência no Judiciário, em três partidos políticos e em grande parte da mídia". É o que afirma o jornalista Luis Nassif, em entrevista à IHU On-Line. Para ele, recente matéria bombástica da revista Veja ofereceu forte munição de apoio ao banqueiro Daniel Dantas, dono do Opportunity.

A Veja da semana passada denunciou, sem provas, um suposto esquema de escutas que visariam tanto o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) como integrantes do palácio do Planalto. A suspeita provocou imediata reunião do presidente Lula com o ministro Gilmar Mendes, presidente do STF, e a suspensão de parte da direção da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

Para Nassif, trata-se de uma mal-disfarçada operação para livrar Dantas do processo que lhe movem a Polícia Federal o Ministério Público, por formação de quadrilha e delitos afins. Os objetivos da operação seriam a Abin e o delegado Paulo Lacerda, justamente os atores mais atuantes contra o banqueiro. No lugar de Lacerda, foi nomeado Wilson Trezza, um ex-subordinado ao Opportunity.

O jornalista destaca que há outro aspecto a ser levado em conta: a Operação Satiagraha foi muito abrangente. Ela entrou no seio da corrupção brasileira e desnudou pesados esquemas com envolvimento de magistrados, políticos e empresas jornalísticas.

Segundo Nassif, a estratégia jurídica do dono do Opportunity consiste em tentar comprovar que Paulo Lacerda havia interferido na Operação Satiagraha para poder anular o inquérito. Para ele, outro cacife de Dantas é a obcecada defesa assumida pelo ministro Gilmar Mendes.


Gilmar dá sempre um jeitinho

Para Fernando de Barros e Silva, na Folha de S Paulo de 1º de setembro, nem todos têm a OPPORTUNITY, como Gilmar Mendes, de ter uma conversa ilegalmente revelada, onde o conteúdo é conveniente para os dois grampeados. “É a primeira vez”, diz.

Diversos blogs políticos vêm divulgando um diálogo público em que o ministro Joaquim Barbosa flagra o seu colega Gilmar em constrangedor e habitual jeitinho. Foi esse mesmo talento para o jeitinho que rendeu ao atual presidente, como dizia o jurista Dalmo Dallari, o passaporte para o STF. Eram, então, anos tucanos.

Segundo Dalmo, Gilmar costumava "inventar" soluções jurídicas no interesse do governo FHC. Por isso, “não há exagero em afirmar que estarão correndo sério risco a proteção dos direitos no Brasil, o combate à corrupção e a normalidade constitucional”. Premonição? Para Nassif, Gilmar é obcecado na defesa do banqueiro Daniel Dantas.

Já no Supremo, o ministro causou grande polêmica com procuradores da República quando defendia seus ex-colegas de governo FHC, como o ex-ministro Raul Jungmann e outros, processados por lesão ao patrimônio público e à probidade administrativa.

Há poucos dias, membros do Ministério Público Federal e procuradores da República reafirmaram que “as instituições democráticas foram frontalmente atingidas pelas decisões liminares proferidas, em tempo recorde, pelo presidente do STF”. Eram liminares para soltar o famigerado banqueiro, dono do Opportunity. E do Brasil?



No jornal argentino Página/12 deste sábado, o jornalista venezuelano Modesto Emilio Guerreiro analisou o contexto político da precoce movimentação conspirativa contra a o presidente paraguaio Fernando Lugo. Para o jornalista, o fato desnuda uma realidade dos novos dos tempos: “os donos do poder estão ansiosos, já não suportam tanto governo independente no hemisfério”.

Ele relembra que a primeira conspiração contra Hugo Chávez esperou por três anos do seu mandato, iniciado em março de 1999. Já os presidentes Evo Morales e Rafael Correa, cujos mandatos começaram em 2006 e 2007, respectivamente, tiveram uma “carência” de cerca de nove meses para colher suas conspirações. Ao sacerdote terceiro-mundista Lugo deram apenas três semanas.

Segundo Emilio, trata-se de uma ação dinâmica e complexa bem articulada “onde as conspirações militares são apenas parte de um cardápio que inclui sinuosas manipulações diplomáticas, pressões financeiras, ofertas de investimentos, pactos semi-secretos de tratados de livre comércio (TLC) e tudo o que possa conduzir a um re-ordenamento de poder no hemisfério”.

Emilio explica que o grau de fragilidade do Estado, no Paraguai, resulta em parte da ausência de um poderoso movimento social e político organizado. Com isso, o protagonismo mafioso plantado nas estruturas políticas, militares e sociais do país vem desafiando o novo governo desde o primeiro dia.

A velha oligarquia teme as transformações que começam a avançar na América Latina, no direito social à posse da terra, na recuperação dos recursos naturais pátrios e no crescente movimento de independência em relação aos EUA. E uma “insuportável” tendência a uma integração regional.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Democracia acossada

No jornal argentino Página/12 deste sábado, o jornalista venezuelano Modesto Emilio Guerreiro analisou o contexto político da precoce movimentação conspirativa contra a o presidente paraguaio Fernando Lugo. Para o jornalista, o fato desnuda uma realidade dos novos dos tempos: “os donos do poder estão ansiosos, já não suportam tanto governo independente no hemisfério”.

Ele relembra que a primeira conspiração contra Hugo Chávez esperou por três anos do seu mandato, iniciado em março de 1999. Já os presidentes Evo Morales e Rafael Correa, cujos mandatos começaram em 2006 e 2007, respectivamente, tiveram uma “carência” de cerca de nove meses para colher suas conspirações. Ao sacerdote terceiro-mundista Lugo deram apenas três semanas.

Segundo Emilio, trata-se de uma ação dinâmica e complexa bem articulada “onde as conspirações militares são apenas parte de um cardápio que inclui sinuosas manipulações diplomáticas, pressões financeiras, ofertas de investimentos, pactos semi-secretos de tratados de livre comércio (TLC) e tudo o que possa conduzir a um re-ordenamento de poder no hemisfério”.

Emilio explica que o grau de fragilidade do Estado, no Paraguai, resulta em parte da ausência de um poderoso movimento social e político organizado. Com isso, o protagonismo mafioso plantado nas estruturas políticas, militares e sociais do país vem desafiando o novo governo desde o primeiro dia.

A velha oligarquia teme as transformações que começam a avançar na América Latina, no direito social à posse da terra, na recuperação dos recursos naturais pátrios e no crescente movimento de independência em relação aos EUA. E uma “insuportável” tendência a uma integração regional.

E não é exclusiva do conluio mafioso paraguaio a oposição a essa nova postura. Há um outro componente daquele cardápio de que falou Modesto Emilio. Trata-se de uma não declarada aliança entre a grande mídia e os setores políticos conservadores vinculados a antigos interesses.

Na Venezuela, em 2002, chegaram a retirar Hugo Chávez do poder por 48 horas. Na Bolívia, aliaram-se aos governadores separatistas e às agencias NED e Usaid, dos EUA e tentam, a todo custo, desestabilizar o governo de Evo Morales. Na Argentina, cuidam de enfraquecer Cristina Kirchner. No Brasil, uma carga permanente contra o Mercosul. E contra o governo Lula.

Agora, esse movimento conspirativo anda mais alvoroçado. É que o recém-empossado presidente do Paraguai prometeu retomar para o Estado um total de oito milhões de hectares, para depois dividi-los entre as cerca de 300 mil famílias que clamam por reforma agrária. Trata-se de terras do Estado que foram doadas pelo ex-eterno ditador Alfredo Stroessner aos seus amigos.

Há, ainda, a ansiedade dos ruralistas brasileiros, os maiores produtores de soja do vizinho país. Os movimentos sociais pedem a desapropriação das suas terras, sob alegação de que a prática do cultivo é feita de forma indiscriminada, com danos ambientais e sociais. Mais: grande parte dessas terras está em fronteiras internacionais, o que contraria as normas de segurança de qualquer país.

Nesse cenário, a oposição paraguaia cuida de sabotar os primeiros passos do novo governo que destronou a velha oligarquia encastelada nos mais de 60 anos de poder do Partido Colorado. Tenta-se esvaziar os recursos estatais para despojar de governabilidade o futuro do país.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Fantasmas

DOPS não escapará do juiz espanhol Garzón

No Correio do Brasil desta terça-feira, Rui Martins informa que o senador Romeu Tuma, do DEMO, está encrencado com o juiz espanhol Baltasar Garzón. O juiz é o intrépido caçador de crimes de lesa-humanidade que acabou com a velhice tranqüila do general Augusto Pinochet.

Segundo Martins, Garzón substitui as almas dos mortos, assassinados depois de torturados, a fazer assombração junto aos que vivem tranqüilos na hipocrisia de bons pais e avós de famílias. Mesmo com tantos crimes nas costas, nem todos os assassinos terminam atrás das grades. Já velhos ou doentes podem mesmo se beneficiar de uma tolerância que suas vítimas não tiveram.

Ele lembra o caso de Filinto Müller, chefe de polícia da ditadura Vargas e autor da entrega de Olga Benário aos carrascos de Hitler. Müller escapou de qualquer castigo humano e acabou líder de sustentação política, no Senado, de outra ditadura, a de 64. Morreu carbonizado em acidente da Varig, em Paris. Um “inferno ardente” é onde Garzón costuma jogar seus condenados.

Agora, a Espanha está no encalço do gentil senador Romeu Tuma. O motivo? O ressurgimento, 35 anos depois, dos ossos e do fantasma de uma das tantas vítimas da repressão brasileira, o espanhol Miguel Sabat Nuet, assassinado no DOPS, em outubro de 1973. Naquela época, o então delegado Tuma dava formato “legal” às ações policiais que torturavam e “suicidavam” presos políticos.

Matéria da Folha de S Paulo, de outubro de 2000, revelou que o corpo do espanhol foi mais um de tantos indigentes e vítimas da ditadura lançados em vala no cemitério de Perus. Para Rui Martins, Garzón não deixará o fato ficar mais tempo encoberto e, mais ou menos dias, tudo virá a público.

Muito além dos grampos

Em sua coluna semanal, na Folha de S Paulo, nesta segunda-feira, Fernando de Barros e Silva, imitando Nelson Rodrigues, acerta bem na mosca ao desconfiar muito dos veementes. Ele se refere aos que estufam o peito para alardear que o Estado de Direito está sob ameaça, o que tem ocorrido sempre que alguém da turma da cobertura vai preso.

“Quantos condenados existem hoje no país que já cumpriram sentença, mas seguem em cana? Alguns milhares. E quantos mofam no xilindró à espera de julgamento, em prisão temporária ou preventiva? Estima-se que 30% da população carcerária, algo como 150 mil pessoas. Quem se escandaliza?” Pergunta Barros e Silva.

Com ironia rodriguiana, o colunista esclarece que nem todos têm a mesma OPORTUNITY perante o STF. E que “foi preciso que os arbítrios da polícia chegassem ao topo do edifício social para que os arautos da legalidade começassem a se movimentar, veementes, indignados”.

Ele dá razão ao ministro Joaquim Barbosa quando diz que certa elite monopoliza a agenda do Supremo. E considera grave, gravíssimo, o grampo contra Gilmar Mendes. Mas, acha estranho, muito estranho, o fato de, pela primeira vez, a revelação do conteúdo de uma escuta telefônica ilegal ser conveniente para os dois grampeados.

Para o colunista, muito se falará ainda desse caso porque há muitas coisas nebulosas e interesses em jogo. A Abin terá de se explicar. É provável que rolem cabeças. Ele espera, no entanto, que não se permita aos veementes invocar uma hipotética ameaça institucional só para preservar privilégios.

Um fantasma ronda o Ocidente

O sistema internacional de poder passa por importante transformação geoestratégica provocada por um ator que muitos consideravam coadjuvante. Para o professor Flávio Saraiva, da Universidade de Brasília, há uma releitura obrigatória a ser feita nas relações da Rússia, tanto com os países que se alinhavam à antiga URSS quanto com os Estados Unidos e com os países da Europa Ocidental.

Não há mais a bipolaridade da antiga Guerra Fria. O que temos hoje é um mundo multipolar onde não somente EUA, a Federação Russa e a comunidade Européia participam. Há a China, a Índia, a América Latina. Uma nova geografia, complexa, com evidentes candidatos à ocupação dos espaços em fronteiras mal resolvidas, em países insatisfeitos com sua inserção geopolítica.

Errou que apostou que a Rússia não reagiria contra a movimentação de tropas da Geórgia, treinadas pelos EUA, nas franjas do seu território. Erra quem pensa que os Russos estão passivos ante o cerco que sofre pela instalação de bases na Europa. Ou ante a expansão das influências do Ocidente para a Polônia, Bulgária, Hungria, República Checa, România. Foram-se os ébrios tempos de Yeltsin.

Para El País, deste domingo, a nova postura da Rússia busca redefinir as regras de sua relação com o Ocidente. Como sinal de força, o reconhecimento da independência da Ossétia do Sul e da Abkházia e a suspensão do tratado de armas convencionais na Europa.

Na bagagem estratégica da Rússia, um invejável arsenal bélico, uma dinâmica situação econômica e o controle energético do crescimento de grande parte da Europa. Como espelho de ação, as licenças no Direito Internacional que Washington se concedeu. Nos Bálcãs, no Iraque, no Paquistão.

O Manifesto