segunda-feira, 22 de junho de 2009

Laboratório iraniano da CIA


Operação Ajax

A notícia de uma suposta fraude eleitoral espalhou-se em Teerã como um rastilho de pólvora e levou às ruas os partidários do aiatolá Rafsanjani contra os do aiatolá Khamenei. Este caos foi ardilosamente tramado pela CIA (1) e resulta da inundação de mensagens SMS (2) contraditórias entre os iranianos. O analista político Thierry Meyssan relata de Paris essa nova experiência de guerra psicológica no Iran.

Não é a primeira vez, lembra Meyssan, que a CIA transforma o Iran em campo de experimentação de métodos inovadores de subversão. Agora tem uma nova arma: o domínio dos telefones móveis. Em março de 2000 a Secretária de Estado Madeleine Albright admitiu que em 1953 a mudança de regime no Iran teve o patrocínio do governo Eisenhower. Fato também reconhecido por Obama semanas atrás no Cairo.

O fato referido por Albright e por Obama foi a Operação Ajax, tramada pela CIA com apoio britânico, que resultou na destituição do governo do nacionalista do primeiro-ministro Mohammad Mossadegh que, com a ajuda do aiatolá Abou Kachani, havia nacionalizado os recursos petrolíferos do Iran. Na operação, a CIA forja um cenário que simula um levante popular quando se trata de uma operação bem planejada e secreta.

Desta vez, não foi diferente. Após a reeleição de Mahmoud Ahmadinejad, por previsível maioria, vastas manifestações opõem nas ruas de Teerã os partidários de Ahmadinejad e do aiatolá Khamenei, de um lado, aos partidários do candidato perdedor Hossein Mousavi e do ex-presidente aiatolá Rafsanjani, do outro. O fato traduz uma profunda divisão entre ampla maioria proletária nacionalista e uma pequena e média burguesia pró-ocidental.

Não é sem razão o apoio ostensivo dos EUA, França, Reino Unido e da grande imprensa ocidental, a “comunidade internacional”, à nova Operação Ájax que tenta pesar nos acontecimentos para remover o presidente reeleito e tentar acabar com a revolução islâmica. Uma interferência nos assuntos internos de um país soberano como não se viu nem de longe quando do massacre de milhares de palestinos indefesos na Faixa de Gaza pelo exército de Israel.

Pela rede de imprensa não alinhada VoltaireNet.org o leitor poderá ler inteiro teor do artigo de Thierry Meyssan sob o título “De Mossadegh a Ahmadinejad, a CIA e o laboratório iraniano”. O analista internacional demonstra a eficácia do SMS, moderno e prático instrumental de comunicação; como ele vem sendo utilizado na ocupação do Iraque, Afeganistão e Paquistão. E como a CIA acaba de aplicá-lo no processo iraniano.

(1) Central Intelligence Agency (CIA), em português Agência Central de Inteligência, é um serviço de inteligência (serviço de informações) dos Estados Unidos da América.

(2) Serviço de Mensagens Curtas ou Short Message Service (SMS) é um serviço disponível em telefones celulares digitais que permite o envio de mensagens curtas entre estes equipamentos e outros dispositivos de mão ou mesmo telefones fixos.


A coisa Berlusconi (*)

“Não vejo que outro nome lhe poderia dar. Uma coisa perigosamente parecida a um ser humano, uma coisa que dá festas, organiza orgias e manda em um país chamado Itália. Essa coisa, essa enfermidade, esse vírus ameaça ser a causa da morte moral do país de Verdi se um vômito profundo não consegue arrancá-lo da consciência dos italianos antes que o veneno acabe corroendo as veias e destroçando o coração de uma das mais ricas culturas europeias”.

“Os valores básicos da convivência humana são pisoteados todos os dias pelas patas viscosas da coisa Berlusconi que, entre seus múltiplos talentos, tem uma habilidade funambulesca (excêntrica, extravagante) para abusar das palavras, pervertendo-lhes a intenção e o sentido, como no caso do “Pólo da Liberdade”, que assim se chama o partido com que assaltou o poder”.

“Chamei delinquente a esta coisa e não me arrependo. Por razões de natureza semântica e social que outros poderão explicar melhor que eu, o termo delinquente tem na Itália uma carga negativa muito mais forte que em qualquer outro idioma falado na Europa. Foi para traduzir de forma clara e contundente o que penso da coisa Berlusconi que utilizei o termo na acepção (sentido) que a língua de Dante lhe vem dando habitualmente, embora seja mais do que duvidoso que Dante o tenha utilizado alguma vez”.

“Delinquência, no meu português, significa, de acordo com os dicionários e a prática corrente da comunicação, ‘ato de cometer delitos, desobedecer a leis ou a padrões morais’. A definição assenta na coisa Berlusconi sem uma prega, sem uma ruga, a ponto de se parecer mais a uma segunda pele que à roupa que se põe em cima”.

“Há anos a coisa Berlusconi vem cometendo delitos de variável mas sempre demonstrada gravidade. Para cúmulo, não só tem desobedecido a leis como, pior ainda, as tem mandado fabricar para salvaguarda dos seus interesses públicos e privados, de político, empresário e acompanhante de menores, e quanto aos padrões morais, nem vale a pena falar, não há quem não saiba em Itália e no mundo que a coisa Berlusconi há muito tempo que caiu na mais completa abjeção (baixeza, aviltamento, degradação)”.

“Este é o primeiro-ministro italiano, esta é a coisa que o povo italiano por duas vezes elegeu para que lhe servisse de modelo, este é o caminho da ruína para onde estão a ser arrastados os valores de liberdade e dignidade que impregnaram a música de Verdi e a ação política de Garibaldi, que fizeram da Itália do século XIX, durante a luta pela unificação, um guia espiritual da Europa e dos europeus. É isso que a coisa Berlusconi quer lançar para a cesta de lixo da História. Permitirão os italianos?”

(*) Texto do escritor português JOSÉ SARAMAGO, Nobel de Literatura, divulgado no jornal espanhol El País do último dia 6 de junho.

Um comentário:

Remindo disse...

Para um país que teve um jornalista chamado Benito Mussuline, o Berlusconi é um santo. Não sei porque o mestre Saramago quis livrar o da Itália, país exportador de mafiosos, do facismo e ressentemente anticomunista.

O Manifesto