(foto Apu Gomes/FSP)
POR AMOR?
“Numa sequência de escândalos, partidos perdem condições de usar o tema da corrupção em suas campanhas”, reclama o editorial da Folha de S Paulo desta sexta-feira (4/12). Sem dúvida, reflete a preocupação dos setores conservadores da mídia, e da anêmica oposição brasileira, com a perda do único discurso eleitoral que lhes sobrava para tentar deter a eleição de Dilma Rousseff, vale dizer a continuidade do governo Lula. “Não resta (...) nenhum discurso coerente” ante o espantoso noticiário cotidiano, diz a Folha.
Com efeito, ruiu, como um castelo de areia, a única base de comparação entre os governos FHC e Lula que a oposição ainda topava fazer com os governistas. Antes, eram as sobras do financiamento de campanha, ilegal ou não, apelidado de “caixa 2”, ou “mensalão” petista, que envolviam parte da base de apoio ao governo. Agora, o “mensalão” tucano do Azeredo e o “mensalão” da ex-Arena, ex-PDS, ex-PFL, hoje DEM, cuja sujeira também atinge fortemente setores do PSDB, do PPS e do PMDB.
Nomes como os de Gilberto Kassab, Aloysio Nunes Ferreira, Walter Feldman e Roberto Freire, todos ligados à távola redonda de Serra, além de Michel Temer, começam a aparecer entre os das cuecas e os das meias. Há fortes indícios de receptação de panetones do esquema de Arruda, de doações ilegais de empresas historicamente envolvidas com eleições. Sabe-se que políticos podem mudar leis que dificultam empreendimentos e ainda ajudam a ganhar concorrências, quase invariavelmente superfaturadas.
Tal é a gravidade da corrupção que até o senador José Sarney, isso mesmo, José Sarney, em artigo do JB online, desta sexta-feira, sentenciou: “Na história da humanidade e da civilização jamais foi encontrado antídoto algum contra a corrupção”. Sarney, talvez o mais esperto dos políticos em atividade no Brasil, define a corrupção política como “o uso ilegal do poder político e financeiro com objetivo de transferir renda pública ou privada de maneira criminosa para indivíduos ou grupos”. Nisso, tem razão.
O presidente do Senado acrescenta que a grande mobilização da sociedade brasileira frente à trágica crise moral não envolve a discussão sobre o que ele considera o grande responsável: nosso sistema eleitoral. “O voto uninominal proporcional que destrói a democracia, os partidos, a vida pública e a própria classe política”. De nada servem para as eleições os ideais, os programas e os princípios. Bonito discurso que, no entanto, deixa de lado a questão sempre esquecida da cumplicidade interativa entre corruptos e corruptores.
Quem se interessa em abrir a caixa de Pandora das empreiteiras, todas: OAS, Camargo Corrêa, Odebrecht, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão? Há mais de dois anos, o senador Pedro Simon declarava à Zero Hora: “as empreiteiras controlam o Orçamento da União, apresentando projetos diretamente nos ministérios e através de emendas individuais dos parlamentares”. E Simon questionava a participação milionária das empreiteiras em nosso sistema de poder: “Por amor?”
Inúmeras tentativas de se criar CPI para investigar os corruptores, vale dizer, as empreiteiras, foram impedidas pelo governo Fernando Henrique. Época de anões do orçamento. Uma blindagem tucana a proteger a sua base de apoio contra investidas da OAB e da oposição ao seu governo. Segundo o Estadão, na disputa municipal de 2008, a OAS distribuiu R$ 12,3 milhões a candidatos, enquanto a Camargo Corrêa gastou R$ 5,8 milhões. Só Gilberto Kassab, do DEM, o mesmo partido de Arruda, recebeu R$ 3 milhões.
No entanto, nada disso merece relevo na mídia, a principal responsável por pautar a discussão que interessaria à sociedade. Como não se quer discutir o sistema eleitoral, especialmente o financiamento de campanha, também não se discute o sistema corrupto/corruptor. À mídia conservadora – que é a grande maioria da mídia nacional – interessa apenas derramar suas lágrimas pela “perda do discurso”, o único trunfo oposicionista, jogado no ralo da mediocridade, que tem sido seu projeto político para o País.
“Numa sequência de escândalos, partidos perdem condições de usar o tema da corrupção em suas campanhas”, reclama o editorial da Folha de S Paulo desta sexta-feira (4/12). Sem dúvida, reflete a preocupação dos setores conservadores da mídia, e da anêmica oposição brasileira, com a perda do único discurso eleitoral que lhes sobrava para tentar deter a eleição de Dilma Rousseff, vale dizer a continuidade do governo Lula. “Não resta (...) nenhum discurso coerente” ante o espantoso noticiário cotidiano, diz a Folha.
Com efeito, ruiu, como um castelo de areia, a única base de comparação entre os governos FHC e Lula que a oposição ainda topava fazer com os governistas. Antes, eram as sobras do financiamento de campanha, ilegal ou não, apelidado de “caixa 2”, ou “mensalão” petista, que envolviam parte da base de apoio ao governo. Agora, o “mensalão” tucano do Azeredo e o “mensalão” da ex-Arena, ex-PDS, ex-PFL, hoje DEM, cuja sujeira também atinge fortemente setores do PSDB, do PPS e do PMDB.
Nomes como os de Gilberto Kassab, Aloysio Nunes Ferreira, Walter Feldman e Roberto Freire, todos ligados à távola redonda de Serra, além de Michel Temer, começam a aparecer entre os das cuecas e os das meias. Há fortes indícios de receptação de panetones do esquema de Arruda, de doações ilegais de empresas historicamente envolvidas com eleições. Sabe-se que políticos podem mudar leis que dificultam empreendimentos e ainda ajudam a ganhar concorrências, quase invariavelmente superfaturadas.
Tal é a gravidade da corrupção que até o senador José Sarney, isso mesmo, José Sarney, em artigo do JB online, desta sexta-feira, sentenciou: “Na história da humanidade e da civilização jamais foi encontrado antídoto algum contra a corrupção”. Sarney, talvez o mais esperto dos políticos em atividade no Brasil, define a corrupção política como “o uso ilegal do poder político e financeiro com objetivo de transferir renda pública ou privada de maneira criminosa para indivíduos ou grupos”. Nisso, tem razão.
O presidente do Senado acrescenta que a grande mobilização da sociedade brasileira frente à trágica crise moral não envolve a discussão sobre o que ele considera o grande responsável: nosso sistema eleitoral. “O voto uninominal proporcional que destrói a democracia, os partidos, a vida pública e a própria classe política”. De nada servem para as eleições os ideais, os programas e os princípios. Bonito discurso que, no entanto, deixa de lado a questão sempre esquecida da cumplicidade interativa entre corruptos e corruptores.
Quem se interessa em abrir a caixa de Pandora das empreiteiras, todas: OAS, Camargo Corrêa, Odebrecht, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão? Há mais de dois anos, o senador Pedro Simon declarava à Zero Hora: “as empreiteiras controlam o Orçamento da União, apresentando projetos diretamente nos ministérios e através de emendas individuais dos parlamentares”. E Simon questionava a participação milionária das empreiteiras em nosso sistema de poder: “Por amor?”
Inúmeras tentativas de se criar CPI para investigar os corruptores, vale dizer, as empreiteiras, foram impedidas pelo governo Fernando Henrique. Época de anões do orçamento. Uma blindagem tucana a proteger a sua base de apoio contra investidas da OAB e da oposição ao seu governo. Segundo o Estadão, na disputa municipal de 2008, a OAS distribuiu R$ 12,3 milhões a candidatos, enquanto a Camargo Corrêa gastou R$ 5,8 milhões. Só Gilberto Kassab, do DEM, o mesmo partido de Arruda, recebeu R$ 3 milhões.
No entanto, nada disso merece relevo na mídia, a principal responsável por pautar a discussão que interessaria à sociedade. Como não se quer discutir o sistema eleitoral, especialmente o financiamento de campanha, também não se discute o sistema corrupto/corruptor. À mídia conservadora – que é a grande maioria da mídia nacional – interessa apenas derramar suas lágrimas pela “perda do discurso”, o único trunfo oposicionista, jogado no ralo da mediocridade, que tem sido seu projeto político para o País.
5 comentários:
Oportunas suas colocações sobre o tema, corrupção. Infelizmente
nosso povo não possui qualificação, tradição e conhecimentos sobre o que
significa a verdadeira política, ética, respeito a causa pública e,
sobretudo, HONESTIDADE. Os denominados "homens públicos" da nossa era
desconhecem, ou melhor, não aprenderam o que herdamos dos nossos pais, o
que é HONRADEZ. A NOSSA JUSTIÇA é uma farsa. Num país serio esses
senhores seriam julgados em RITO SUMARISSIMO e condenados a pagar por
esses escândalos na prisão, sem direito às medidas recursais nem a
responder em liberdade por seus delitos. Teriam que restituir, sob
confisco e bens particulares, tudo que afanaram dos cofres públicos,
inclusive, com a perda definitiva dos direitos políticos.
resspeitosamente, Solimar G. Leitão.
Muito bom, parabens
Valeu
Abras
Vera
prezado Hércules,
parabens pelo excelente texto; pegou na veia.
Acho que esse é o ponto: nada adianta lamentar a perda de um discurso moralista, que se revelou hipócrita, frente à necessidade de reformas políticas urgentes, que tragam para a esfera pública o verdadeiro posicionamento da sociedade. Está claro que os partidos políticos - com raras exceções - nem de longe representam os anseios da comunidade, num mundo que rapidamente se transforma.
abs,
geniberto
Bacana Sidnei.Aprecio muito seus E-mails.Sendo você um Ex-Presidente do Conselho Regional de Medicina-DF e um Ex-Secretário Geral do Conselho Federal de Medicina,sua leitura é muito interessante em todos os seus E-mails.Conecta-se oportunamente na análise da conjuntura política Brasileira. Os Historiadores da Associação Médica de Brasília no livro lançado há 2 dias conecta a construção da Medicina com a conjuntora brasileira e internacional. Vale a pena conferir.
Fui conselheiro do CRM-DF com você e aprendi a admirar sua inteligência rara, sua maneira de argumentar de maneira coerente, justa e forte, e por isso faz parte da História de Brasília e da História da Medicina ajudando a construir o Sindicato, a Associação Médica e do Conselho Regional de Medicina do DF.
Com a minha admiração eterna. Mande sempre seus E-mails, pois servem para analisarmos pontos de vistas distintos, e o seu é do mais alto nível.
Estamos juntos.
Saudações Conselhais,
Dênis Marinho da Silva Brandão.
Cumprmentos pela exposição de múltiplas verdades, desde a corrupção tupiniquim ao nazizionismo. Um mundo que hoje é dominado, controlado pelos illuminati, pelos clãs, ou seja, pelo império americano.
Um exemplo de domínio e destruição é a cidade de PAlegre que tem um plano diretor de destruição ambiental, elaborado na gestão do atual ministro da Justiça e que hoje hipocritamente sofreu "revisão" e continua tudo na mesma. O capital internacional fruto da droga, da corrupção, devidamente lavado nos bancos helvéticos, chega até nós via bolsa de NYork, bovespa. A destruição,a reconstrução da cidade sorriso segue SPaulo. O caós se instalando; infraestrutura subdimensionada e o "mar de lata" aumentando. Todas as montadoras do mundo aqui estão. Carroças do "portinho" disputando as pistas de rolamento da cidade, quer sejam as vias principais como as secundárias...Para onde vamos? O neoliberalismo é satânico e lendo o deuteronômio 15, 11 tudo esta justificado e as consciências das elites tranquilizadas. "Pois nunca deixará de haver pobres na terra...Escrito por quem? Segundo a versão oficial da tribo eleita pelo Senhor, por Moisés (por amor?)! Até breve e + uma vez cumprimentos pelos artigos, como sempre extremamente consistentes.
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