Há muito de Don Quixote nos caminhares do oitentão Alberto Dines. São muitos os moinhos de vento forjados em reinos alienígenas, trazidos em tempos de trevas pelas forças do mal, nativas, encasteladas onde possam se apoderar e usufruir. A comunicação brasileira é certamente um desses gigantes, “...de braços tão compridos que alguns têm quase duas léguas”, diria o engenhoso fidalgo de La Mancha. São tentáculos multifacetados de mídia em poder de uns poucos apaniguados, de ontem, de hoje, de sempre.
Incansáveis andanças de Dines demonstram perseguir um projeto que vai mais além do seu Observatório da Imprensa. Há pouco, em três aparições públicas, ele pôde manifestar, do seu jeito tímido, inquietações à luz da atual indigência dos nossos grandes jornais. Mais que indigência, se comparado à vibração dos tempos áureos do Jornal do Brasil e da Folha de S. Paulo dos anos 60/70. Jornais comandados, coincidente e respectivamente, por Dines e Abramo. Talvez por isso possa afirmar que “a Folha de S. Paulo foi responsável pela morte de Claudio Abramo, o último dos grandes jornalistas deste país”, como afirmou a ouvidos surdos no Roda Viva da TV Cultura, ela própria sucumbida a interesses pouco claros.
Dines vem dizendo que todos os jornais são iguais, que não produzem mais notícias. Também não precisa, pois ela já vem pronta, de qualquer parte do mundo. Pronta e com o perfil bem comportado das cartilhas elaboradas pelo Departamento de Estado. O modelo? A “civilização ocidental cristã”, a “comunidade internacional”, qualquer instituição que use a OTAN como braço armado, com direito a matanças de civis. Aqui mais perto, as entrelinhas de Dines estão roucas de dizer que nas querelas entre as grandes mídias e os governos populares da Venezuela, Argentina, Equador, Brasil, os donos da comunicação tem se mostrado os personagens menos vestais. Que a “liberdade de imprensa” da nossa mídia está a necessitar de algum controle. E que a censura à imprensa hoje passa pelos donos da comunicação.
Por tudo isso, é fácil reconhecer que a frase sobre Abramo, dita daquela forma, para aquele público, parece querer dizer que foi o próprio jornal quem morreu. E é por isso que Dines se traveste hoje de Don Quixote. Nos alforjes, conforme ele próprio revela, um esboço de jornal, já registrado, com título, formato e tudo mais. Fruto e alternativa à indigência, vez que todos os jornais estão iguais, quase mortos, a vibração ilhada em pequenas colunas de pouca ou nenhuma visibilidade. “Cadê a vibração no corpo da notícia, o debate, a visão plural?” Indagado à sua maneira, um misto de matreirice e ingenuidade, com o cuidado de quem conhece muito bem as sombras à espreita. Precauções que aprendeu em longa militância na juventude sionista socialista.
Sairá do esboço este jornal do Dines, um novo alento com fulcro no seu antigo Jornal dos Jornais, a primeira coluna de crítica à imprensa no Brasil? Quem bancará o debate plural, do quotidiano tupiniquim aos grandes temas da conjuntura internacional; desde a banalização da cultura nacional, pelo lamentável conteúdo da mídia, até a ruína moral da ideologia política na Europa e alhures, uma vez mais bancada pelo poder econômico? Quem ousará mudar o viés da discussão sobre a liberdade de imprensa fora dos padrões impostos pela ANJ, os donos de jornal? Ou do conceito de terrorismo internacional fora do modelo impingido por Washington? Que grupo econômico permitirá o aprofundamento de questões como meio ambiente; ou deixará que se apontem os caminhos da paz desmascarando os fazedores de guerra?
São muitos os moinhos de vento nos caminhos de Dines.
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