Ricos jogam fora mais de 30% da comida que compram
Famílias de países ricos jogam no lixo mais de 30% dos alimentos que compram, segundo um estudo apresentado na World Water Week, a conferência mundial sobre água que terminou na sexta-feira (17) em Estocolomo, na Suécia.
Esse desperdício coletivo significa também a perda de milhões de toneladas de água usadas para produzir os alimentos, disse o professor Jan Lundqvist, diretor do Comite Científico do Instituto Internacional da Água de Estocolmo (SIWI).
De acordo com o estudo, na Suécia, considerando-se apenas as famílias com crianças pequenas, 25% da comida comprada vai parar na cesta de lixo.
Nos Estados Unidos, os números mais recentes indicam que as famílias jogam fora cerca de meio quilo de comida por dia, o que equivale em media a 40% dos alimentos.
No Reino Unido, o desperdício é estimado entre 30% e 40%, num prejuízo avaliado em 20 bilhões de libras (cerca de R$ 82 bilhões) por ano.
"Comida é água"
"É preciso compreender que comida é água", afirma Lundqvist. "Nós bebemos um ou dois litros de água por dia, mas "comemos" toneladas de água todos os dias."
Segundo ele, a produção de um quilo de carne, por exemplo, exige de 10 a 15 toneladas de água. Para um quilo de arroz, são necessárias de uma a duas toneladas de água - ou mais, dependendo da região de cultivo.
Comer um prato de bife com batatas fritas significa "beber" de 1,5 a 2 toneladas de água, ou seja, a água usada para produzir esta porção de comida, diz o pesquisador.
O desperdício de alimentos e água ocorre tanto no mundo desenvolvido como nos países em desenvolvimento, afirma o cientista sueco. Mas, segundo ele, há uma distinção básica.
"Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, o problema do desperdício está mais concentrado no campo, com uma taxa média de 30% de perdas relacionadas ao armazenamento e transporte dos alimentos, especialmente nos países de clima mais quente e úmido. Na Europa e nos EUA, técnicas e mão-de-obra especializadas significam que o problema maior não está no campo, e sim nos lares."
Conforme o cientista, considerando-se o total jogado fora por consumidores, restaurantes e supermercados dos países ricos, assim como as perdas na cadeia de produção, a proporção do desperdício de alimentos no mundo desenvolvido é calculada entre 30% e 50%.
"Mudança de valores"
Ao ser questionado sobre o motivo desse desperdício, Lundqvist afirma que "é uma conjunção de fatores, que representa também uma mudança de valores em relação aos alimentos".
"Na nossa parte do mundo, ficou barato comprar comida. Os preços caíram, o poder de consumo aumentou. Os subsídios à agricultura significam que o preço da comida nas lojas é distorcido, e não reflete a realidade. As pessoas compram mais, e se não usam, simplesmente jogam fora. Minha geração foi ensinada a não desperdiçar comida, mas houve uma mudança de percepção nesse sentido", diz ele.
Segundo o cientista, outra razão do desperdício desnecessário de alimentos é a obediência cega aos rótulos dos fabricantes, que indicam na embalagem a data máxima aconselhada para o consumo.
"É ridiculo", afirma. "Se passar um dia da data indicada na embalagem para o consumo do leite, por exemplo, as pessoas dizem "oh, meu Deus" e jogam o leite fora. Ora, basta cheirar o leite para saber se de fato está estragado. No caso do leite, pode-se consumir mesmo uma semana após a data indicada na embalagem. É só cheirar para verificar. Com outros alimentos é a mesma coisa: basta provar."
Promoções do tipo "compre 2 e leve 3" também aumentam o volume do lixo doméstico. "As pessoas acabam comprando mais do que necessitam, e acabam jogando fora", diz o cientista. As pessoas também estão comendo demais, afirma o professor. "O mundo tem hoje 1,1 bilhão de pessoas obesas e acima do peso, de acordo com estatísticas da Organização Mundial de Saúde. Essas pessoas comem mais do que deveriam, e muitas delas tambémm jogam muita comida fora. É preciso lembrar que há 850 milhões de pessoas subnutridas no mundo. E que é também fundamental preservar a água do planeta."
matéria publicada em 18/08/2007 no Portal Vermelho
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