terça-feira, 13 de maio de 2008

A Távola Redonda

Mercadores da morte
São 17% os deputados ligados ao "lobby da cerveja", revela pesquisa da Folha de S. Paulo divulgada neste sábado. Realizada a partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral, a pesquisa mostra que quase um em cada cinco deputados – são 87 deputados federais – tem concessão de rádio e televisão e/ou receberam em 2006, da indústria de bebidas e de comunicação, mais de 2 milhões de reais em doações de campanha. Na semana passada, o projeto que restringe a propaganda de bebidas com baixo teor alcoólico, inclusive a cerveja, entre 6 e 21 horas em rádio e televisão, foi retirado da pauta de votações. Como são poderosos os mercadores da morte. [1]


Há mais de um mês, finórios membros da indústria de cerveja e de emissoras de rádio e TV, vão ao Congresso quase diariamente para fazer lobby contra o projeto de regulamentação. Ou seja, para manter a terra de ninguém em que se tornou a questão da propaganda de bebidas alcoólicas, que favorece o lucro de quem fabrica e de quem divulga. E, confirma-se agora, engorda o caixa de deputados. Este lucro com a cerveja deixa sempre capenga qualquer possibilidade da mídia de discutir com seriedade a principal causa de acidentes e mortes no trânsito. Como enfrentar Brahma, Skol, Kaiser, Antártica, Globo, Record, SBT, Band e o bando dos deputados?

Trava-se, pois, uma verdadeira batalha entre o Ministério da Saúde, de um lado, e o Congresso Nacional, a indústria de bebidas e a “indústria” da mídia, do outro. Nessa, conforme revela surpreendente matéria de capa do Jornal do Brasil desta segunda-feira: “o Brasil gasta mais de R$ 33 bilhões anuais com problemas decorrentes do álcool. Somam-se aí as despesas com acidentes rodoviários e assistência às vítimas, além dos custos do SUS com o tratamento direto a pacientes de alcoolismo. Segundo o governo federal, faltam dados mais precisos sobre casos que chegam às áreas de cardiologia e neurologia nos hospitais públicos”. [2]

Tucanos ainda menores
Morreu Artur da Távola, rara figura de homem público. Ex-senador, jornalista e escritor, Paulo Alberto Monteiro de Barros, faleceu no Rio aos 72 anos, nesta sexta-feira. O mínimo que se pode dizer dele foi dito pelo governador de Minas, Aécio Neves, para quem Artur foi uma referência, um formulador consistente. Um homem público diferenciado, que soube conciliar uma militância política expressiva com uma densa e profunda atividade cultural. Para a Direção do PSDB, seu partido, o Brasil perde um homem digno, um patriota, que soube conciliar política, honra e verdade. Nada mais correto. No entanto, talvez tenha sido Artur o último dos tucanos com essa plumagem.


Um outro viés: o senador também tucano Marconi Perillo e o governador Alcides Rodrigues (PP) foram mentores e principais beneficiários de um esquema de captação ilícita de recursos, utilização de notas fiscais frias, pagamento de despesas de campanha por meio de laranjas e outras fraudes eleitorais. É o que diz a denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernandes de Souza, oferecida ao ministro Ricardo Lewandowski do STJ. O documento do Ministério Público indicia os dois políticos goianos por formação de quadrilha, fraude processual e crime eleitoral. Esta matéria, da Agência Estado, de 09/05, não foi repercutida nos mais atentos jornalões. Por que será? [3]

Tampouco repercutiu o envolvimento do governo tucano de Yeda Crusius, do RS, com fraudes no Detran da ordem de R$ 5 bilhões. Já há 13 pessoas presas e outras 39 indiciadas pela Polícia Federal, revela a revista Carta Capital desta semana. [4] Outro assunto de corrupção que envolve dezenas de milhões de euros que parece não ser do agrado e interesse da grande mídia, embora interesse a todos os paulistanos. Trata-se da investigação internacional sobre pagamentos de propinas pela Alstom, a gigante empresa francesa de infra-estrutura. O esquema envolve licitações para o Metrô de São Paulo durante os governos tucanos Mário Covas e Geraldo Alckmin. [5]

EUA estimulam a divisão da Bolívia
O presidente boliviano, Evo Morales, acusou neste sábado os EUA de apoiar a divisão do seu país, atitude que ficou evidente na reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA), semana passada, quando o representante de Washington foi o único a não denunciar como inconstitucional a autonomia pretendida pelo departamento de Santa Cruz. Todos os demais países-membros da OEA manifestaram formalmente o entendimento de que o estatuto sobre a autonomia atenta contra a legalidade. [6] Por seu turno, não sem razão, o presidente Chávez, da Venezuela, acusa seu colega da Colômbia, de preparar uma guerra entre os dois vizinhos, estimulado pelo governo dos EUA. [7]


São fatos sem conexão? Vejamos mais um: Foi revelado pelo jornal gaúcho Zero Hora deste domingo, 11/05, que a equipe de informação do consulado dos EUA, em São Paulo, produziu um dossiê, com o carimbo de “sensível”, sobre a ministra Dilma Rousseff, da casa Civil, quando da sua investidura no cargo, em junho de 2005. Enviado ao banco de dados do Departamento de Estado, em Washington, o texto tem oito tópicos com a ministra sendo virada do avesso. Trechos do documento consignam que Dilma foi capturada e presa pela ditadura por três anos. Segundo o dossiê, ela padeceu 22 dias de brutal tortura de eletro-choque. [8]

Mais: Em 1º de julho os EUA aumentarão sua força militar na América Latina e Caribe com a reativação da IV Frota, encarregada de patrulhar os mares da região, informa a BBC. O pretexto de Washington desta vez não é nenhuma novidade: combater o terrorismo e o narcotráfico. A IV Frota foi criada, durante a 2ª Guerra Mundial, para combater os alemães nas águas da América do Sul. Volta agora, segundo o Pentágono, pelo “compromisso dos EUA com seus aliados da região”. Há aí um recado direto ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e, indiretamente, a todos os governos populares que não se alinham com a política externa de Washington. A maioria. [9]

Pelo visto, sobram razões ao governo brasileiro de não permitir que a IV Frota navegue livre por nossas águas territoriais. “Aqui não entra", disse o ministro da Defesa, Jobim, após encontro com militares, no Rio, nesta sexta-feira. Em pauta a acusação do subsecretário do Departamento de Estado, Thomas Shannon, de que o Irã tenta influenciar a América Latina. Seria essa acusação sugestiva da existência de armas de destruição em massa, desta vez em nossa região? Seria o Irã uma influência pior para a América Latina que nossa velha conhecida influência de Washington? É bom acharmos conexões para os fatos acima narrados. Em comum, o fantasma do tio Sam. [10]

BRINDE: PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE FLORES. GERALDO VANDRÉ COMEMORA CONOSCO OS 40 ANOS DO ANO QUE NÃO TERMINOU

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