O jornalista MARK WEISBROT é diretor do Centro de Pesquisas Econômicas e Políticas (www.cepr.net), de Washington. Seu artigo na Folha de S Paulo¹ deste domingo (21) representa um olhar realista, imune ao passional clima pré-eleitoral brasileiro. O assunto é a campanha dos Estados Unidos pela adoção de sansões contra o Irã, cuja recusa pelo Brasil é alvo de infundadas críticas dos opositores ao governo. Lula vem argumentando que a estratégia estadunidense de confrontos e ameaças é contraproducente.
Os argumentos contra Lula, segundo o analista, foram resumidos pelo oposicionista José Serra, na Folha de S Paulo² de 23/11/2009. Serra ataca Lula por ter recebido Ahmadinejad, cuja reeleição teria sido "notoriamente fraudulenta", pelo teor repressivo do governo e pela negação do Holocausto. Weisbrot argumenta que a primeira acusação é inaceitável por quem tenha examinado as evidências. A vitória de Ahmadinejad por uma diferença de 11 milhões de votos teve apuração testemunhada por centenas de milhares de pessoas. Mais: os resultados corresponderam às pesquisas de intenção de voto e também de boca de urna.
Por outro lado, articulista não tem dúvidas de que o governo do Irã é repressivo, embora também o sejam alguns aliados dos Estados Unidos na região. O Egito, a Arábia Saudita, Israel. Quanto à negação do Holocausto por parte de Ahmadinejad, Weisbrot relembra que “Lula a condenou fortemente”. No entanto, questiona se deveria Lula também recusar um encontro com Hillary Clinton, que apoiou a invasão e a ocupação do Iraque (Inútil guerra que já matou mais de 1 milhão de pessoas). Hillary também apóia as mortes de civis cometidas diariamente por forças dos EUA no Afeganistão.
Para o analista estadunidense, “Lula se reúne com todos os lados na disputa porque está tentando exercer um papel de mediador para impedir outra guerra desnecessária. É isso o que fazem os mediadores. A equipe de Obama, assim como a do ex-presidente Bush, tem dificuldade em compreender esse conceito. Ela prefere adotar uma abordagem do tipo "Poderoso Chefão" para as relações internacionais. A abordagem da equipe de Lula é oposta, algo que se deve à sua experiência sindical: ele procura o diálogo, as negociações e as concessões, visando solucionar conflitos.”
Na mesma linha arrogante de Obama, que não difere da de Bush, o ex-subsecretário de Estado de Bill Clinton, James Rubin, publica na "Newsweek³" desta segunda-feira (22) o artigo "Pressionando Lula". No subtítulo, "aliados que se negam a sancionar Irã também devem pagar". No texto, "Boa vontade e respeito nem sempre são o bastante. Algumas vezes, até países amigáveis precisam entender que vão pagar um preço por desafiar os EUA. Muito provavelmente, essa ação vai funcionar. O Brasil vai ajustar sua posição. E o resto do mundo vai perceber." Rubin parece não saber que o Brasil já não é mais quintal dos EUA.
Também parecem não saber (ou não querem saber) nossos eternos padecentes do complexo de vira-latas, como o ex-presidente FHC, que quer “para o Brasil uma relação mais estreita com os Estados Unidos, que desse espaço para o país se afirmar mais em sua área de influência." (Na Folha de S Paulo* desta sexta-feira, 19). Quinta-colunismo sem criatividade, pois repete um outro arrivista dos anos 60, Juracy Magalhães: “o que é bom para os EUA é bom para o Brasil”.
Alheio às prioridades de Washington que não se destinam aos interesses mais amplos, Lula, como disse Mark Weisbrot, “tornou-se um dos líderes mais respeitados do mundo e, por essa razão, possui potencial singular de ajudar a resolver alguns dos conflitos políticos mais sérios do planeta.” Satanizado por Washington e pelos vira-latas da mídia e da oposição brasileiras, nosso presidente, diz o analista, “vem assumindo uma atitude pautada por princípios e que atende aos interesses mais verdadeiros não apenas do Brasil, mas da humanidade. (...) O mundo precisa seriamente desse tipo de liderança.”
2 comentários:
Claro, preciso e absolutamente necessário. Conheci o texto pelo blog do Nassif e já adicionei ao meu reader.
Muito bom. Precisamos sim de mais lucidez neste país e menos paixões.
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