É mais que emblemática a charge de Miguel nas páginas de
opinião do Jornal do Commercio, do Recife, neste domingo. O senador Humberto
Costa travestido de robô, o sangue a lhe escorrer pela mão estendida para Eduardo
Campos, um governador visivelmente constrangido. O sangue, para quem viveu os
últimos meses e principalmente a última semana em Recife, não terá nenhuma dúvida:
é do novo mártir midiático, o prefeito João da Costa. A charge equivale ao comportamento
editorial do próprio jornal no processo que resultou na imposição pelo
Diretório Nacional do PT da candidatura do senador a prefeito. Uma ação
imediata do diretório que interrompeu uma arrastada desinteligência que vinha
corroendo a estrutura partidária recifense. A versão do fato, manipulada cotidianamente
pela mídia local, foi apresentada ao grande público como uma interferência
indevida da direção nacional.
Antes da intervenção, a expectativa dos jornais, como da fraca
oposição à Frete Popular, era a de que, continuando a sangrar, o Partido dos Trabalhadores,
que “reina” absoluto no Recife há quase 12 anos, finalmente seria apeado do
poder e a prefeitura finalmente devolvida à velha oligarquia pernambucana. Face
à situação de quase indigência da oposição local, a mídia nesta semana volta
seu interesse para a possibilidade de esgarçadura da Frente Popular: “joguem
suas fichas numa candidatura do PSB”, dizem seus “analistas”. Vem daí a nova
palavra de ordem a tentar estimular Eduardo, presidente nacional do PSB: “o PT
já esgotou seu prazo, é hora de o governador intervir no processo”, “não está
descartada uma candidatura do PSB”. Nossa imprensa a trazer de volta o vezo
golpista, udenista, de velhos carnavais.
A interferência editorial dos jornais locais, em especial o
Jornal do Commercio, utiliza eficientes instrumentos de convencimento do seu
público. Entre eles, a repetição em destaque de palavras de ordem de seguidores
do prefeito, e de surradas lideranças da oposição, transformando em vítima,
quase herói, o prefeito recusado pelo seu diretório. A linha editorial, as
colunas, os “especialistas” a destilar o veneno e a cizânia. Fotografias de
Humberto ganham ares de vampiro; as de João da Costa, de herói. Dezenas se
seguidores do prefeito, no enquadramento fotográfico fechado, ganham contornos
de grande massa manifestante. Domingo, finalmente, a imagem mais fiel do comportamento
midiático: a mão ensanguentada do robô, do sangue do mártir, e a cara de nojo
do governador.
A postura golpista da imprensa pernambucana não difere do
comportamento dos grandes jornais brasileiros. Folha, Estadão, O Globo, articuladamente,
a esfregar as mãos, por verem atendidas suas pressões sobre o STF para apressar
o julgamento do chamado mensalão. A pauta do Supremo caindo coincidentemente em
hora de se fazer proselitismo político ante um processo eleitoral de amplitude
nacional e de fazer sombra a uma CPMI mista que tem tudo para deixar mal na
foto o tucanato paulista de alta plumagem. Em São Paulo a mídia também aposta
em outra cizânia e também esquenta as mãos para evitar o crescimento da
candidatura petista. Marta Suplicy é transformada, da noite para o dia, como
João da Costa no Recife, em heroína do neo-udenismo midiático, na vã esperança
de que ela rompa politicamente com o ex-presidente Lula e prejudique a
candidatura de Jamil Haddad à prefeitura paulistana. Sem que a mídia precise
sujar de sangue as mãos do candidato.
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