terça-feira, 12 de junho de 2012

O SANGUE DOS MÁRTIRES


É mais que emblemática a charge de Miguel nas páginas de opinião do Jornal do Commercio, do Recife, neste domingo. O senador Humberto Costa travestido de robô, o sangue a lhe escorrer pela mão estendida para Eduardo Campos, um governador visivelmente constrangido. O sangue, para quem viveu os últimos meses e principalmente a última semana em Recife, não terá nenhuma dúvida: é do novo mártir midiático, o prefeito João da Costa. A charge equivale ao comportamento editorial do próprio jornal no processo que resultou na imposição pelo Diretório Nacional do PT da candidatura do senador a prefeito. Uma ação imediata do diretório que interrompeu uma arrastada desinteligência que vinha corroendo a estrutura partidária recifense. A versão do fato, manipulada cotidianamente pela mídia local, foi apresentada ao grande público como uma interferência indevida da direção nacional. 

Antes da intervenção, a expectativa dos jornais, como da fraca oposição à Frete Popular, era a de que, continuando a sangrar, o Partido dos Trabalhadores, que “reina” absoluto no Recife há quase 12 anos, finalmente seria apeado do poder e a prefeitura finalmente devolvida à velha oligarquia pernambucana. Face à situação de quase indigência da oposição local, a mídia nesta semana volta seu interesse para a possibilidade de esgarçadura da Frente Popular: “joguem suas fichas numa candidatura do PSB”, dizem seus “analistas”. Vem daí a nova palavra de ordem a tentar estimular Eduardo, presidente nacional do PSB: “o PT já esgotou seu prazo, é hora de o governador intervir no processo”, “não está descartada uma candidatura do PSB”. Nossa imprensa a trazer de volta o vezo golpista, udenista, de velhos carnavais.

A interferência editorial dos jornais locais, em especial o Jornal do Commercio, utiliza eficientes instrumentos de convencimento do seu público. Entre eles, a repetição em destaque de palavras de ordem de seguidores do prefeito, e de surradas lideranças da oposição, transformando em vítima, quase herói, o prefeito recusado pelo seu diretório. A linha editorial, as colunas, os “especialistas” a destilar o veneno e a cizânia. Fotografias de Humberto ganham ares de vampiro; as de João da Costa, de herói. Dezenas se seguidores do prefeito, no enquadramento fotográfico fechado, ganham contornos de grande massa manifestante. Domingo, finalmente, a imagem mais fiel do comportamento midiático: a mão ensanguentada do robô, do sangue do mártir, e a cara de nojo do governador. 

A postura golpista da imprensa pernambucana não difere do comportamento dos grandes jornais brasileiros. Folha, Estadão, O Globo, articuladamente, a esfregar as mãos, por verem atendidas suas pressões sobre o STF para apressar o julgamento do chamado mensalão. A pauta do Supremo caindo coincidentemente em hora de se fazer proselitismo político ante um processo eleitoral de amplitude nacional e de fazer sombra a uma CPMI mista que tem tudo para deixar mal na foto o tucanato paulista de alta plumagem. Em São Paulo a mídia também aposta em outra cizânia e também esquenta as mãos para evitar o crescimento da candidatura petista. Marta Suplicy é transformada, da noite para o dia, como João da Costa no Recife, em heroína do neo-udenismo midiático, na vã esperança de que ela rompa politicamente com o ex-presidente Lula e prejudique a candidatura de Jamil Haddad à prefeitura paulistana. Sem que a mídia precise sujar de sangue as mãos do candidato.

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