sidnei pires
Vi essas cenas mais de uma vez. Soube depois que se tratava de uma rotina
quase semanal nos primeiros tempos. Senhores elegantes, às vezes senhoras, a
desembarcar das classes executivas e a sair pelas áreas vips do aeroporto
Juscelino Kubistchek. Três a quatro
carros pretos reluzentes, ladeados de batedores militares, em modernas Harley-Davidson.
Um tratamento de conforto e segurança digno dos grandes chefes de estado que,
naquele tempo muito menos, costumam nos visitar. A caravana não se dirigia ao
Supremo, tampouco ao Congresso Nacional, muito menos ao Itamarati ou ao
Planalto. O seu ansiado destino era muito mais importante, para eles e para a
época: o Ministério da Fazenda. A sua origem, Washington, D, C., onde fica a
sede do Fundo Monetário Internacional, o famigerado FMI.
Sobre o assunto, escrevi um texto
para o Portal Vermelho, em março de 2010, ano da disputa Dilma x Serra. Naquela
época, como nesta semana, na posse de Aécio Neves na presidência de PSDB, em
reunião do tucanato de alta plumagem, o partido discutia o que vem discutindo
desde 2002: qual a melhor forma de se apresentar ao eleitorado brasileiro, por
falta de um projeto para o Brasil. Ainda na dúvida se faz o velho discurso elitista
para as classes A e B ou se adquire algum cacoete para conseguir chegar e falar
às classes C e D.
Agora, o mais provável candidato traz uma vez mais a velha e
duvidosa proposta de mostrar o partido com a cara das realizações de FHC. E qual
seria esse discurso tão sedutor?
Seria do "grampo do
BNDES", as escutas telefônicas ilegais que mostravam FHC e ministros discutindo
o leilão da Telebrás? Seria o da venda da Vale do Rio Doce aos amigos do
tucanato, por cerca de um décimo do valor? Ou o de outras tantas privatarias, de
amplo domínio público? Ou, quem sabe, o da habilidosa conquista de um segundo
mandato mediante compra de votos parlamentares?
Voltemos ao Ministério da Fazenda e
aos agentes do FMI. Corria os fins dos anos 90 e esses agentes eram autorizados
a, sem a menor cerimônia, remexer gavetas, fichários e pastas, onde estivessem
as contas de Pedro Malan, o todo poderoso ministro da Fazenda de FHC. Eles
queriam saber se estávamos seguindo os rigores de suas normas de proteção para
os capitais e lucros dos seus não poucos investimentos no País. Precisavam
checar se estávamos aplicando rigorosamente o Plano Real, o plano econômico
criado por Rubem Ricupero durante o governo Itamar Franco.
Esse cuidado e essa movimentação
aumentaram muito, pouco antes da reeleição de FHC, como outro dia relembrou o
atento Delfim Neto. O Brasil estava prestes a quebrar pela terceira vez sob o
comando de FHC/Malan que insistiam em levar até as eleições a irresponsável
equivalência do dólar com o real. Falência que não se concretizou por
interferência direta de Bill Clinton, que, face o aumento do ‘perigo’ Lula, induziu
o FMI reforçar o caixa brasileiro em mais quase uma centena de bilhões de
dólares. Uma fortuna que, colocada em
mãos quebradeiras, exigia o olho do dono e a humilhante bisbilhotice dos elegantes
senhores e senhoras de Washington, D. C. Conhecemos o resto destaa história, desde
o momento imediato à reeleição: o valor do real passou a ter a responsabilidade
dos marcos e do espírito do Plano Real, sob as vistas estrangeiras constrangedoras,
a cuidar do seu rico dinheirinho.
Inda bem que, mesmo de forma
indireta e a custo de juros altíssimos, pagos pela economia do povo brasileiro,
teve alguém para cuidar de significativa parte do patrimônio nacional. Um
episódio da nossa história que barrou nosso caminho célere para as trevas em
que se meteram Espanha, Grécia, Portugal, Irlanda, presas indefesas da
voracidade do grande capital internacional.
A história dos mandatos tucanos,
pois, na presidência do País, seria um desastre para a construção de um
discurso com um mínimo de credibilidade e de sedução do eleitor.
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