No jornal argentino Página/12 deste sábado, o jornalista venezuelano Modesto Emilio Guerreiro analisou o contexto político da precoce movimentação conspirativa contra a o presidente paraguaio Fernando Lugo. Para o jornalista, o fato desnuda uma realidade dos novos dos tempos: “os donos do poder estão ansiosos, já não suportam tanto governo independente no hemisfério”.
Ele relembra que a primeira conspiração contra Hugo Chávez esperou por três anos do seu mandato, iniciado em março de 1999. Já os presidentes Evo Morales e Rafael Correa, cujos mandatos começaram em 2006 e 2007, respectivamente, tiveram uma “carência” de cerca de nove meses para colher suas conspirações. Ao sacerdote terceiro-mundista Lugo deram apenas três semanas.
Segundo Emilio, trata-se de uma ação dinâmica e complexa bem articulada “onde as conspirações militares são apenas parte de um cardápio que inclui sinuosas manipulações diplomáticas, pressões financeiras, ofertas de investimentos, pactos semi-secretos de tratados de livre comércio (TLC) e tudo o que possa conduzir a um re-ordenamento de poder no hemisfério”.
Emilio explica que o grau de fragilidade do Estado, no Paraguai, resulta em parte da ausência de um poderoso movimento social e político organizado. Com isso, o protagonismo mafioso plantado nas estruturas políticas, militares e sociais do país vem desafiando o novo governo desde o primeiro dia.
A velha oligarquia teme as transformações que começam a avançar na América Latina, no direito social à posse da terra, na recuperação dos recursos naturais pátrios e no crescente movimento de independência em relação aos EUA. E uma “insuportável” tendência a uma integração regional.
E não é exclusiva do conluio mafioso paraguaio a oposição a essa nova postura. Há um outro componente daquele cardápio de que falou Modesto Emilio. Trata-se de uma não declarada aliança entre a grande mídia e os setores políticos conservadores vinculados a antigos interesses.
Na Venezuela, em 2002, chegaram a retirar Hugo Chávez do poder por 48 horas. Na Bolívia, aliaram-se aos governadores separatistas e às agencias NED e Usaid, dos EUA e tentam, a todo custo, desestabilizar o governo de Evo Morales. Na Argentina, cuidam de enfraquecer Cristina Kirchner. No Brasil, uma carga permanente contra o Mercosul. E contra o governo Lula.
Agora, esse movimento conspirativo anda mais alvoroçado. É que o recém-empossado presidente do Paraguai prometeu retomar para o Estado um total de oito milhões de hectares, para depois dividi-los entre as cerca de 300 mil famílias que clamam por reforma agrária. Trata-se de terras do Estado que foram doadas pelo ex-eterno ditador Alfredo Stroessner aos seus amigos.
Há, ainda, a ansiedade dos ruralistas brasileiros, os maiores produtores de soja do vizinho país. Os movimentos sociais pedem a desapropriação das suas terras, sob alegação de que a prática do cultivo é feita de forma indiscriminada, com danos ambientais e sociais. Mais: grande parte dessas terras está em fronteiras internacionais, o que contraria as normas de segurança de qualquer país.
Nesse cenário, a oposição paraguaia cuida de sabotar os primeiros passos do novo governo que destronou a velha oligarquia encastelada nos mais de 60 anos de poder do Partido Colorado. Tenta-se esvaziar os recursos estatais para despojar de governabilidade o futuro do país.
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