segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Quem vem com tudo não cansa

por Luciano Rezende

Antes era o medo, agora o cansaço, outras propagandas derrotistas virão. O certo mesmo é que essa burguesia não se amedronta e tampouco se cansa em abusar dos trabalhadores. Em um país como o nosso, reconhecido mundialmente pela abissal e histórica concentração de renda, assistir aos ricos manifestarem “cansaço” é como levar um tapa na cara. Justamente essa que é uma das elites mais parasitárias e entreguistas do planeta.

Na linha de frente dessa campanha ganha destaque algumas atrizes e uma cantora que fazem papel de “garotas propaganda” dessa iniciativa da direita. Dizem que o movimento é apartidário, mas é difícil diferenciar o cartaz do “cansei” da capa da revista Caras do último mês, onde as mesmas aparecem como convidadas íntimas ao casamento de SoPHia, ao lado do pai Alckmin e sua esposa.

Recordemos a Comendadora da Torre no célebre Subterrâneos da Liberdade de Jorge Amado, em seus “ásperos tempos”, e veremos o retrato irretocável de Hebe Camargo e as outras “gracinhas” de sua estirpe. A mesma desfaçatez ao falar aos mais pobres no papel da mãezona que ama seus filhos bem comportados e subalternos, enquanto desfruta o glamour da aristocracia paulista, completamente desconectada do mundo real da grande maioria dos brasileiros.

Mas é nos bastidores desse movimento que figuram os “Costa Vale & Cia.” da atualidade. Aqueles que sempre se aliaram às forças mais reacionárias para impedir qualquer tipo de avanço democrático são os que hoje pregam o Movimento Cívico pelos Direitos dos Brasileiros (uma espécie de Marcha da Família com Deus pela Liberdade envergonhada). Embora apareça mais na mídia, João Dória Jr. é apenas uma figura emblemática de uma corja muito maior que sustenta essa orquestração golpista. Basta ver o espaço destinado aos “cansados” na grande imprensa, onde, para citar apenas um exemplo, ganha muito mais visibilidade uma manifestação com três mil pessoas na Praça da Sé e outra que logrou reunir 20 mil em Brasília contra a emenda 3.

Justamente essa “manifestação” dos ricos na Sé foi mais um espetáculo de deboche ao povo brasileiro. Quem passava pelo local na última sexta-feira na hora do almoço pode ver de perto as “madames enfadadas” citadas por Cláudio Lembo de perto. Uma espécie de gente muito exótica, realmente. Em cima do palanque o espaço era dividido entre atores, atrizes, cantores e os líderes da direita que usaram a dor dos parentes das vítimas do vôo da TAM para promover essa fanfarronice, embora esses não pudessem sequer subir ao palco.

É notório o mal-estar entre os “cansados” que evitam a pecha de elitista e anti-Lula conferida ao movimento. Nessa “sinuca de bico” se dividem entre aqueles que pateticamente imitam ser “povão” (uma inclusive relatou a um jornal que era do povo porque havia participado dos últimos dez carnavais no Rio!) e não permitem bandeiras do PSDB nas manifestações, daqueles que assumem sua posição de classe rebaixando todo o submundo dos analfabetos que votam em Lula. Parece que a revista Veja escolheu o segundo caminho ao endeusar o papel das elites, deturpando bizarramente a conceituação do termo (segundo Veja, milhões de brasileiros agora fazem parte da elite porque têm curso superior!).

Nada anormal para quem achincalha nosso povo e exalta os valores da burguesia. Da sua linha editorial exala o cheiro fétido da discriminação ao brasileiro em geral, que segundo um de seus principais colunistas, Diogo Mainardi, é o amálgama do degredado português, do negro insolente e do índio preguiçoso. Quem não se lembra do ódio despertado nesse semanário contra a campanha “Sou brasileiro e não desisto nunca” lançada tempos atrás pelo governo Lula?

Por nossa vez não cansamos de reafirmar nosso amor ao Brasil e a coragem para transformá-lo em uma grande e justa nação, socialista. Mais que nunca é importante evocar o trecho do hino da UNE que chama a juventude a atuar “sempre na vanguarda a trabalhar pelo Brasil”, sem cansaço ou desânimo. E é a isso mesmo que a União da Juventude Socialista responde com a campanha “Quem vem com tudo não cansa”. Milhões de jovens são chamados a não “virarem à direita” e perderem o rumo certo em direção ao Brasil de nossos sonhos.

Se muito já fizemos em apenas 507 anos de Brasil sabemos que muito ainda há por fazer. Mas todo esse desafio se apresenta de forma excitante, muito diferente do espírito derrotista das elites. A vitória de Lula foi apenas o início de outras conquistas que teremos mesmo entremeadas de algumas derrotas que virão.

O futuro nos pertence e não temos medo ou cansaço.

P.S.: Parabéns a toda Direção Estadual da UJS do Piauí pelo criativo protesto realizado contra a Philips, após o presidente dessa multinacional e integrante do movimento “cansei” ter insultado esse querido estado.

Esta coluna de Luciano Rezende, Engenheiro Agrônomo, mestre em Entomologia, membro da Direçao Nacional da UJS, foi publicada no VERMELHO em 22/08/2007.

Nenhum comentário:

O Manifesto