quarta-feira, 14 de novembro de 2007

A roda da História

1. Mais do que uma imprensa privada, a mídia é mercantilizada, o que fragiliza a Democracia. E o liberalismo escamoteado de "liberdades" reduziu os receptores das informações a simples consumidores.
2. “Si yo me callara gritarían las piedras de los pueblos de América Latina” (Hugo Chávez).
3. Com a deformação geral dos dados pelo prisma ideológico da grande mídia, torna-se necessário buscar nas fontes primárias de informação as bases da nossa análise.
4. As primeiras experiências mais duradouras do regime comunista no mundo mantêm surpreendente e significativa fidelidade no coração da Europa.


Pluralidade e pensamento crítico. Ao se proclamar formadora e porta-voz da "opinião pública", a mídia brasileira sufoca a pluralidade de visões e, na mão de poucos grupos familiares e políticos, suprime o pensamento crítico do debate nacional (Emir Sader e Marilena Chauí, ontem, 13/11, em Salvador). Um dos casos mais emblemáticos do desvario reinante na imprensa brasileira foi a afirmação de um graduado jornalista sobre os resultados das eleições de 2006: o povo, ao reeleger Lula, teria contrariado a opinião pública.

A mídia utiliza estratégias para impor à população um papel de agente passivo na construção social, política e econômica do país e no processo de supressão progressiva da Democracia. Pesquisa recente da Folha de S.Paulo constatou que seus leitores são, em absoluta maioria, integrantes das classes A e B, com grande poder aquisitivo e cultura de consumo. Daí, Emir Sader destacar que, por um lado, o jornal resume seu universo editorial em ser pautado e pautar a "opinião pública" de uma determinada classe. Por outro, busca ser o construtor e filtro do consenso e definindo "o quê, quando e sobre o quê se fala”.
Leia em Agência Carta Maior o texto de Verena Glass.


O presidente Hugo Chávez é descuidado e franco no que fala. Usa metáforas quase divertidas, como chamar Bush de diabo. Mas, não exagerou ao qualificar o ex-primeiro-ministro espanhol José Maria Aznar de fascista. Aznar, em 2002, atreveu-se a dar ordens ao presidente Eduardo Duhalde, da Argentina, para que cumprisse as exigências do FMI. No mesmo ano, conforme confessou o próprio chanceler espanhol, Aznar deu ordens para que apoiasse o golpe contra Chávez. E seu embaixador foi o primeiro a cumprimentar o líder do golpe, empresário Pedro Carmona, antes, até, do entusiasmado aplauso do representante dos EUA.

Não se pode pedir a Chávez que trate bem o ex-primeiro ministro espanhol. Mas, se Chávez, mestiço venezuelano, homem do povo, fugiu à linguagem diplomática, o rei Juan Carlos foi imperial e grosseiro, ao dizer-lhe que se calasse. O rei, criado por Franco, tem deixado a majestade de lado para intervir cada vez mais na política (e na economia) espanhola, cuja presença na América Latina tem causado crescente mal-estar.

Os dirigentes latino-americanos amenizarão diplomaticamente o estrago, mas o "cala a boca" de Juan Carlos doeu em todos os homens honrados do continente. O rei atuou com intolerável arrogância, como se fossem os tempos de Carlos V ou Filipe II. Durante os últimos anos de Franco, a oposição republicana espanhola se referia ao príncipe com certo desdém, considerando-o pouco inteligente. Na realidade, ele nada tinha de bobo, mas, sim, de astuto, vencendo outros pretendentes ao trono e assumindo a chefia do Estado. Agora, no entanto, merece que a América Latina lhe devolva, e com razão, a ofensa:
é melhor que se cale!
Leia em
Portal Vermelho texto completo de Mauro Santayana.


Para compreender a força de Lula. Está na PNAD, Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio, de 2006, a explicação para a popularidade do presidente, que intriga mídia, direita e parte da esquerda. O país tornou-se menos desigual, em múltiplos sentidos. E chamar os avanços alcançados de "assistencialismo" não ajuda a entender a realidade, nem a reivindicar mudanças mais profundas. É tempo de fazer as contas. Com a deformação geral dos dados pelo prisma ideológico da grande mídia, torna-se necessário buscar nas fontes primárias de informação, nos dados do IBGE, como andam as coisas.

A PNAD de 2006 explica não só os votos, como o caminho que temos pela frente. Destacam-se o aumento de 8,7 milhões de postos de trabalho no país e a elevação do nível de rendimentos dos trabalhadores em 7,2%. Tudo isso em 2006, quando, ademais, o salário mínimo teve um ganho real de 13,3%. Um fortíssimo salto para o trabalhador do “andar de baixo”. De outro lado, a Síntese de Indicadores Sociais 1996-2006 documenta amplos avanços no nível da educação. Pelos dados, fica evidente que a população mais desfavorecida do país votou no segundo turno não por desinformação, mas por sentir que a sua situação está melhorando.

Falar bem do governo parece até suspeito, mas, falar mal pode ser igualmente suspeito. Muito mais importante é entender o que está acontecendo. Por trás do palco da política oficial que a imprensa nos apresenta e que é o lado mais visível dos grandes discursos, há o imenso trabalho organizado de milhares de pessoas numa máquina de governo que, por herança histórica, foi estruturada para administrar privilégios, e não para prestar serviços.
Leia em Le Monde Diplomatique matéria de Ladislau Dowbor.

Alemães orientais preferem o comunismo. Para marcar a data da queda do Muro de Berlim, o Der Spiegel fez uma pesquisa, divulgada neste sábado (10/11), com mil alemães que cresceram nos dois lados do país, divididos até novembro de 1989. A conclusão, para desespero do semanário alemão, é que, mesmo depois de 18 anos da queda do muro, 92% dos germânicos orientais, de 35 a 50 anos, ainda preferem o regime comunista ao capitalista. Já 60% dos jovens, de 14 a 24 anos que moram no Leste, lamentam nada haver restado do comunismo.

O Der Spiegel fez a pesquisa com duas gerações distintas de alemães orientais e ocidentais com o objetivo de obter um retrato dos resultados da unificação na psique nacional. A conclusão é que o muro ideológico ainda permanece nas mentes alemãs, quase duas décadas após a reunificação. O método da pesquisa constatou que praticamente não há diferenças entre as gerações mais jovens e mais velhas na sua forma de pensar a reunificação.

(...) Quatro anos após o lançamento do filme “Adeus, Lênin!”, do diretor alemão Wolfgang Becker, que teve como pano de fundo o dilema da reunificação sob a égide capitalista, com o fim da Guerra Fria, a pesquisa reafirma que o ideal comunista não morrerá tão cedo nos corações dos alemães que viveram as primeiras experiências mais duradouras do regime no mundo. A manifestação com 50 mil pessoas em Moscou (Rússia), no último dia 7 de novembro, por ocasião das comemorações dos 90 anos da Revolução Russa, é apenas mais uma fotografia do quanto por lá esse sentimento continua extremamente vivo.
Leia aqui o texto completo de Carla Santos para o Portal Vermelho.


BRINDE: JULIO CORTÁZAR, EM ENTREVISTA CONCEDIDA À TVE (TELEVISÃO ESPANHOLA), EM 1977, FALA SOBRE SUA FAMÍLIA, PRIMEIROS ESCRITOS, A ARGENTINA E O EXÍLIO. O GENIAL ESCRITOR ARGENTINO AINDA REVELA DETALHES DO PROCESSO CRIATIVO DE SEUS CONTOS E QUAIS ERAM SEUS HÁBITOS DE ESCRITA (Divulgado pela Entrelivros)

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